VITÓRIAS SURPRESA NA FÓRMULA 1: PORSCHE GP DE FRANÇA 1962


Apesar de ao longo da sua história a Porsche se ter dedicado sobretudo às corridas de resistência e de ter apenas pontualmente competido nas provas de monolugares, ao olhar para as tabelas de vitórias não será sem surpresa que se verificará que os alemães têm apenas uma vitória na Fórmula 1 como construtores. Com um carro que pouco mais era que um 718 apenas com um lugar, as primeiras experiências da marca de Zuffenhausen no mundo dos Grandes Prémios não foram muito bem-sucedidas, até por que os 1.5 litros do seu automóvel pouco podiam fazer contra os 2.5 litros da maior parte da concorrência.

No entanto, quando em 1961 o regulamento técnico da Fórmula 1 passou a limitar os motores a 1.5 litros, a Porsche passaria a estar no mesmo plano que as suas rivais. Ainda assim, e numa época em que ambas poderiam ser consideradas marcas do mesmo gabarito, a marca alemã viu a Ferrari dominar inapelavelmente a concorrência sem que nada pudesse fazer devido a um carro ultrapassado e que era ainda uma evolução do 718, um bilugar, que apesar de tudo lhe garantiu o terceiro lugar no Campeonato de Construtores.

Os alemães, contudo, para 1962 criaram um carro completamente novo, concebido segundo o novo regulamento, tendo por base um chassis tubular, ao qual era acoplado um motor de oito cilindros opostos.

Leve – o motor era arrefecido a ar, dispensando os pesados radiadores – e baixo, o 804 parecia destinado ao sucesso, mas rapidamente ficou claro que era pouco potente face à concorrência, causando igualmente problemas de comportamento a Dan Gurney e a Jo Bonnier, os pilotos da equipa.

No entanto, o único verdadeiro monolugar de Fórmula 1 construído pela Porsche haveria de assegurar o triunfo singular do construtor.

No Grande Prémio de França, disputado em Rouen-Les-Essarts, a qualificação correu melhor que o habitual aos pilotos da Porsche, tendo o americano se qualificado no sexto posto, a 1,7s de Jim Clark, o autor da pole-position, que deixara Graham Hill, no segundo lugar, a dois décimos.

Dificilmente Gurney era apontado como um favorito à vitória, recaindo essa condição nos britânicos. Na verdade, o piloto da Porsche, depois de ter passado pelo quarto lugar, caiu para quinto, rodando, por esta ordem, atrás do inglês, John Surtees, do escocês, de Bruce McLaren e de Jack Brabham.

Porém, a partir da 10ª volta a corrida começou a ir ao encontro do americano. Primeiro foi o australiano e o neozelandês a terem problemas, tendo o primeiro abandonado com problemas na suspensão traseira.

O piloto da Porsche continuava ‘apenas’ no quarto posto a trinta e cinco segundos do líder, subindo a terceiro na 12ª graças aos problemas de motor de Surtees. O Porsche parecia condenado à terceira posição, mas na 33ª passagem pela meta o americano estava já no segundo lugar, beneficiando da entrada nas boxes de Clark, que abandonaria com problemas de direção.

Faltava ainda Hill, que, apesar de ter sido abalroado por um retardatário desgovernado sem travões, liderava confortavelmente, com trinta segundos de vantagem para Gurney.

Porém, a sorte, nesse longínquo dia quente de 8 de julho de 62, estava definitivamente do lado da Porsche, que veria o americano herdar a liderança e a vitória com os problemas de injeção no motor do BRM de Hill.

Estava assim consumada a primeira vitória da marca de Zuffenhausen na Fórmula 1, e para já a única, curiosa e precisamente quando a Ferrari não pôde tomar parte no Grande Prémio devido às greves do setor industrial italiano. No final da temporada a Porsche abandonaria a categoria.

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