Tony Brise: Afinal a esperança também morre

Por a 17 Março 2023 14:42

Tony Brise tinha apenas 23 anos e era a maior esperança que os ingleses tinham em encontrar um digno sucessor de Stirling Moss, Jim Clark, Graham Hill ou, mais perto ainda, Jackie Stewart. Mas, provando que não há regra sem exceção, Brise tornou-se no reflexo vivo de que a esperança também morre.

Tony Brise era mais novo três anos que Tom Pryce e mais velho ano e meio que Nigel Mansell – que, nessa altura, ainda nem sequer corria na F1. Na realidade, e para que se perceba a ansiedade que o ‘tifo’ britânico tinha de encontrar um campeão e para que se perceba também todo o seu inato e enorme talento, Brise recebeu a melhor homenagem possível no livro escrito elo jornalista Nigel Roebuck e que foi publicado sob o título: ‘Tony Brise, o campeão britânico perdido’. Mais palavras para quê?

Ganhar desde o berço… ou quase

Para, simplesmente, descrever um pouco da breve biografia de uma vida curta, mas desde cedo bafejada pelo êxito – e pela certeza de voos cada vez mais altos.

Filho de peixe (John Brise, que foi piloto de Fórmula Junior/500 cc e de F3), Tony começou a ‘nadar’ muito cedo. Nasceu em Dartford, no Kent britânico e começou a correr em ‘karts’ aos oito anos de idade. Primeiro, lentamente, sem pressas. Mas, de repente, sequioso de sucesso, conquistando o primeiro dos seus vários títulos na modalidade aos 12 anos. Em 1969 sagrou-se Campeão britânico, no ano seguinte, com 18 anos, iniciou-se nos automóveis. Ao mesmo tempo, estudava, até se graduar com distinção em Administração de empresas, na Universidade de Aston, Birmingham.

Assim, em 1970, Tony Brise fez o campeonato de FF1600, primeiro com um medíocre Elden, depois com um Merlyn, que manteve no na seguinte, em que foi ‘vice’ no campeonato BOAC. Em 1972, subiu para a F3, com um Brabham semi-oficial, mas os resultados forma desanimadores, até se decidir a trocar o carro por um mais competitivo GRD. Então, fez o suficiente para garantir o lugar de piloto oficial da GRD em 1973, ano em que, apesar de alguns acidentes espetaculares, ganhou dois dos campeonatos britânicos de F3 – o John Player Championship e o Lombard Championship. Nesse ano, terminou em 2º lugar o prestigiado GP do Mónaco de F3.

Todavia, apesar do inegável talento e do sucesso alcançado, em 1974 a carreira de Brise quase parou. Sem dinheiro, falhou a passagem para o Europeu de F2 e teve que se concentrar em ganhar experiência na Fórmula Atlantic… de forma quase artesanal a princípio. Foi quando montou um velho motor FA preparado na Holbay num chassis March de F3 em segunda mão, apenas para o destruir num violento acidente em Snetterton, logo a seguir. Mas já tinha dado nas vistas o suficiente para a Modus Atlantic o chamar para piloto de fábrica. Infelizmente, o Modus não passava de um F3 reconvertido e, além disso, apenas tinha à sua disposição velhos pneus de F3. E é aqui e nestas condições que o enorme talento de Tony Brise veio ao de cima: muitas vezes, assinou provas notáveis e até conseguiu vencer uma delas, com este carro de competitividade mais que improvável!

Pelo meio, ainda arranjou para se casar com Janet, uma fã das corridas de automóveis e desde longos anos a sua principal apoiante.

Em 1975, Tony Brise continuou a correr na Fórmula Atlantic, como piloto oficial da Modus, mas agora com um verdadeiro carro de Fórmula Atlantic – o que resultou em seis vitórias consecutivas, ainda na primeira metade da temporada. E foi neste contexto de enorme brilho que a oportunidade de Brise na F2 apareceu – quase por acaso. Logo houve quem garantisse que, quando Frank Williams e, a seguir, Graham Hill, o foram buscar, estavam muito longe de saber o diamante em bruto em que estavam a tocar. Talvez isso seja verdade, embora muito improvável. Pelo menos, que diz respeito ao mentor da Embassy Hill. Porém, no coração dos britânicos, palpitava a certeza de que todas as esperanças de um futuro Campeão do Mundo nascido em Terras de Sua majestade apontavam numa única direção: Tony Brise.

O final de uma era

O dia 29 de Novembro de 1975 é uma data que ficou na História da F1. Foi nesse dia húmido e com nevoeiro que terminou uma era – e uma equipa que mal tinha ainda começado. A equipa chamava-se Embassy Hill Racing e tinha sido criada por Graham Hill, o ‘gentleman’ britânico por duas Campeão do Mundo de F1 (1962 e 1968) e que, quatro meses antes, tinha anunciado ao mundo a sua retirada das pistas, por não se sentir em forma suficiente para continuar a rodar ao mais alto nível.

Nesse dia, perdeu-se no nevoeiro que escondia o pequeno aeródromo de Eistree, nos arredores de Londres e caiu no meio das árvores do campo de golfe de Arkley, logo ali ao lado, um pequeno avião Piper A 23-250 Turbo-Aztec, com a matrícula N6645Y. Não houve sobreviventes, entre as seis pessoas que nele viajavam.

Aos comandos, estava Graham Hill, que insistiu em voar desde Paul Ricard, onde tinha estado em testes, com a sua nova equipa, a Embassy Hill, apesar das más condições atmosféricas à chegada o desaconselharem. Lá dentro, viajava todo o ‘staff’ da equipa – além de Hill, o ‘team manager’ Ray Brimble, que tinha vindo dos Estados Unidos, onde trabalhava na Can-Am, para a Europa, para tratar dos carros de Graham Hill, primeiro na Shadow, depois na Embassy Hill; o desenhador Andy Smallman, que estava com a equipa há seis meses e era o responsável pelo novo GH2, que tinham estado a testar em França; os mecânicos Tony Alcock e Terry Richards; e o piloto Tony Brise.

Da Embassy Hill, restaram apenas dois mecânicos e Mike Young, assistente de Brimble, que tinham ficado na pequena fábrica de Hanworth, Middlesex. Foi o fim de uma era.

E em Andestorp brilhou uma estrela…

Neste dia, 8 de junho de 1975, brilhou uma estrela. Em Anderstorp, palco do GP da Suécia e no firmamento tantas vezes cruel da F1 – em especial, nesses anos 60 a 80 do século passado, em que a segurança era uma palavra ainda pouco praticada nas pistas. Essa estrela chamava-se Tony Brise – mas teve pouco tempo para brilhar.

Para Tony Brise, este era somente o seu terceiro GP de F1. A sua estreia tinha acontecido em Espanha, quando foi convidado por Frank Williams para substituir o francês Jacques Laffite. Brise agradeceu com um magnífico 7º lugar, na perigosa pista de Montjuich – precisamente no mesmo GP em que Rolf Stommelen, em estreia ao volante de um Hill GH1, teve o seu terrível acidente, que provocou quatro mortos entre os espetadores, ficando o piloto com graves ferimentos.

Na prova seguinte, o GP do Mónaco, se ter encontrado quem substituísse Stommelen, foi o próprio Graham Hill que se sentou ao volante – para, no final dos treinos, em que não conseguiu a qualificação para a prova, anunciar oficialmente o seu abandono das pistas, no mesmo palco onde, anos antes, tinha conhecido a glória maior, subindo por cinco vezes ao lugar mais alto do pódio, ele que, por isso, foi chamado Príncipe do Mónaco (até ser destronado por Ayrton Senna, anos mais tarde…). Logo de seguida, foi ter com Tony Brise e contratou-o para a sua equipa.

A primeira prova de Brise com a Embassy Hill foi em Zolder, no GP da Bélgica. O primeiro brilho foi os treinos, onde conseguiu o 7º lugar ara a grelha de partida. Mas, na corrida, abandonou com problemas de motor após 17 voltas. Chegou então o dia 8 de junho.

As cosias começaram mal, com o piloto a não conseguir o melhor acerto para o Hill GH1, alcançando somente o 17º tempo. Cauteloso nas primeiras voltas, limitou-se a acompanhar o andamento de Jochen Mass, que estava ao volante de um mais competitivo McLaren M23 e, quando o alemão desistiu, dando-lhe o 11º lugar, lançou-se atrás dos pilotos mais rápidos e que estavam a dominar a corrida. Lutou que nem um veterano com… veteranos como Emerson Fittipaldi, em McLaren, ou Ronnie Peterson, que estava com um Lotus e que ele superou de forma magistral, já deois de se ter desembaraço de Mark Donohue (Penske). Estava-se na volta 44 e, na 55, passou John Watsn (Surtees), chegando ao 6º lugar. Mas Tony Brise não estava satisfeito e partiu no encalço de Fittialdi. O duelo entre os dois foi brilhante, Brise não se impressionou com o ‘pedigree’ do campeão em título – e, na volta 59, ultrapassou-o e instalou-se no quinto lugar.

No muro das boxes, Graham Hill exultava de alegria – a sua equipa estava dentro dos pontos! Mas, então, num reflexo de inteligência superior, Brise deixou de correr riscos: tinha alcançado aquilo que sabia ser possível, pontuar. Donohue aproveitou-se disso e roubou o quito lugar ao jovem britânico que, até final, ‘apenas’ teve que preocupar em manter à distância… Fittipaldi. O que conseguiu com sucesso, dando as garantias de que Hill precisava para ficar com a certeza de que a sua recente aposta no jovem piloto tinha tudo para ser uma parceria de sucesso. O destino não quis assim…

TONY BRISE (GB)

Nome: Anthony William “Tony” Brise

Nascimento: Erith, Kent, 28 de março de 1952

Falecimento: Arkley, London, 29 de novembro de 1975 (23 anos)

Causa da morte: acidente aéreo

Atividade na F1: 27/04/1975-05/10/1975

Primeiro GP F1: GP Espanha 1975

Último GP F1: GP Estados Unidos 1975

GP disputados: 10

Vitórias: –

“Pole positions”: –

Melhores voltas em corrida: –

Pódios: 1

Pontos: –

Melhor resultado CM F1: 19º CM 1975 (1 ponto)

Marcas/Equipas: Williams (1975); Hill (1975)

PALMARÉS (F1)

1975 – Williams: 1 GP. Não pontuou. Hill: 9 GP, 1 ponto. 19º CM F1

Os 10 GP da sua vida

27 de abril – GP Espanha (Williams FW03/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 18º/7º

25 de maio – GP Bélgica (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 7º/abandono (motor)

8 de junho – GP Suécia (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 17º/6º

22 de junho – GP Holanda (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 7º/7º

6 de julho – GP França (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 12º/7º

19 de julho – GP Grã-Bretanha (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 13º/15º (acidente a três voltas do fim)

3 de agosto – GP Alemanha (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 17º/abandono (acidente)

17 de agosto – GP Áustria (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 16º/15º

7 de setembro – GP Itália (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 6º/abandono (acidente)

5 de outubro – GP Estados Unidos (Hill GH1/Ford Cosworth 3.5 V8 DFV) – 17º/abandono (adidente)

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can-am
can-am
3 anos atrás

Fez parte da geração perdida de grandes pilotos ingleses da déxada de 70, (Roger Williamson, Tony Brise, Tom Pryce) todos com potêncial para serem campeões, mas todos vitimas de acidentes em corrida ou de acidentes de avião como foi o caso do Brise.
Total responsabilidade nisso de um sr chamado Graham Hill que matou- se ele e levou uma mão cheia de outros com ele, entre os quais o grande Brise.

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