GP Grã-Bretanha F1: Muitos mais e poucos menos

Por a 2 Agosto 2020 18:06

A quarta corrida da temporada de 2020 chegou depois de um sólido domínio da Mercedes no “triple header” inicial. Uma forte sessão de qualificação levou os monolugares da equipa germânica a fecharem a primeira fila na grelha de partida, com Lewis Hamilton uma corrida atípica no primeiro lugar e a superar o recorde de Alain Prost de maior número de vitórias em casa, levando agora 7 no traçado de Silverstone.

Lewis Hamilton

Estava quase previsto e era difícil não vermos Lewis Hamilton a vencer o GP da Grã-Bretanha. É já a sétima vez que o britânico conquista o GP em que ‘joga’ em casa, e sejamos honestos; o mais certo é que vejamos uma repetição do que aconteceu hoje em Silverstone já daqui a uma semana. Mesmo depois de dois Safety Car, Hamilton foi capaz de manter a postura e deixar para trás, e a larga distância, os ataques de Valtteri Bottas, quase levando no bolso um Grand Slam, não fosse Max Vertappen a ‘estragar’ a festa com a volta mais rápida do dia. Como se não bastasse, Hamilton fez a última volta com um pneu furado, ficando vulnerável ao ataque de holandês, que acabou por não surtir efeito. Mais um ou dois minutos e tudo seria diferente. Tudo isto pode quase parecer bastante fácil com o monolugar que a Mercedes conseguiu desenvolver este ano, mas, acima de tudo, importa recordar que Valtteri Bottas é um dos melhores pilotos que vimos nos últimos anos. Mas é só Lewis Hamilton quem está num planeta diferente.

Charles Leclerc

É quase estranho podermos falar de um Ferrari que se qualificou em quarto lugar e conseguiu subir um lugar até ao final da corrida. Não, não foi uma exibição brilhante. Foi um dia em que Leclerc não conseguiu incomodar Verstappen, naquilo que poderia ter sido uma repetição da brilhante batalha entre os dois em 2019, nem sequer foi incomodado pelos McLaren que o perseguiram durante grande parte da corrida. Foi um belo passeio de domingo, sem incidentes, sem brilharete, sem nada de muito relevante a reportar. Mas foi um terceiro lugar e são 15 pontos. 15 pontos que vão fazer toda a diferença no final e que elevam a moral na garagem da Ferrari. Dentro de uma semana há uma nova oportunidade para melhorar e, ao que tudo indica, Leclerc parece que tentará agarrar tudo o que conseguir.

Max Verstappen

Muito se tem falado na frustração de Max Verstappen. Muito se tem dito sobre a falta de ritmo dos monolugares da Red Bull e da falta de estabilidade dos mesmos. Mas olhando para isto de uma forma mais pragmática, e comparando Verstappen com Albon – considerando que usam o mesmo carro – percebemos rapidamente que Verstappen está numa liga dele mesmo. Se não olharmos a um muito, muito feliz segundo lugar, foquemos-nos então no facto de ter deixado Leclerc a mais de 18 segundos, contando ainda com mais uma paragem nas boxes do que o monegasco. Bastava ignorar os Mercedes e estaríamos a falar de um campeão do mundo. Mas a Fórmula 1 é mesmo assim, Max. É só saber lidar.

Daniil Kvyat

Tinha tudo para ser um dia brilhante. Tudo. Começar a corrida em 18º e ganhar 7 lugares em 12 voltas não é para todos, mas foi traído por uma rajada de vento à entrada da curva Copse o que o levou a embater violentamente na barreira de pneus. Poderia ser uma história bonita para o piloto russo, mas ficou por não ser contada na totalidade. Ainda assim, vemos capacidades nos pilotos da AlphaTauri para ganhar lugares no meio do pelotão e impor-se contra a oposição. Mas importa muito acabar as corridas, não?

Romain Grosjean

Tirou partido de dois safety car para estender o seu stint em pneus médios, tendo conseguido defender-se dos ataques de Carlos Sainz, tendo até sido acusado pelo espanhol de condução perigosa. Acabaram por não ser apenas acusações, tendo o francês visto a bandeira preta e branca. Eventualmente a realidade atacou e Grosjean caiu para a 16ª posição. Verdadeiramente, acabamos por não estranhar a posição final, mas é sempre bom ver que uma boa estratégia, caso fosse aliada a um bom carro, poderia ver os pilotos da HAAS a incomodar mais afincadamente o meio do terreno.

Lance Stroll

Um início nada brilhante viu o canadiano perder dois lugares, tendo provado do mesmo veneno que Lando Norris contra Ricciardo e Sainz. Uma corrida desinspirada viu Stroll acabar na 9ª posição e há certamente alguma desilusão em ver o único monolugar cor de rosa a não lutar por um lugar mais cimeiro na tabela. Tendo em conta as prestações que vimos até este quarto GP do ano, queremos dizer que vemos a Racing Point a chegar longe, mas tudo parece remar numa maré muito contrária, seja por queixas, seja por doenças. Ainda assim, são mais dois pontos e a consolidação do quarto lugar no campeonato de construtores. Se olharmos para aquilo que aconteceu no ano passado, são estes quem mais progrediu em todos os sentidos. Se isso trouxer emoção à competição, quem somos nós para ficar chateados?

Nico Hulkenberg

Se havia alguma coisa que o mundo pedia era um pódio para Nico Hulkenberg, naquele que parece quase ser o retorno à F1 mais surpreendente dos últimos anos. Mas, tão depressa as vozes se levantaram, com tão depressa caíram, com a unidade motriz da Mercedes a ter problemas no arranque, o que levaram à retirada do alemão, mesmo antes do início da corrida. É, de facto, uma pena, porque não sabemos se veremos o “Hulk” a correr novamente esta temporada. Mas, se o universo for justo, voltaremos a vê-lo na grelha, usando as cores que usar.

Valtteri Bottas

Parecia um daqueles GP em que tudo ia correr bem e, na pior das hipóteses, o segundo lugar estava garantido, mas o facto é que uma estratégia de pneus talvez demasiado ambiciosa, levou a que um furo nas voltas derradeiras abrisse as portas a uma corrida desastrosa para Valtteri Bottas. Durante 49 voltas fez o seu papel a nunca estar a uma distância demasiado considerável de Lewis Hamilton, mas um furo fez com que caísse para a 12ª posição, tendo ainda recuperando um lugar, terminando em 11º. Assim, um dia que tinha tudo para ser minimamente normal viu o finlandês a terminar fora dos pontos e a carregar um enorme peso para o próximo GP, mais uma vez em Silverstone.

Alex Albon

Não é fácil fazer uma análise à prestação de Alex Albon, sem que possa soar um tanto ou nada demasiado ‘bruta’. A verdade é que, mais uma vez, o piloto tailandês tem um fim de semana muito negativo, cometendo erros fulcrais, que lhe custam qualquer possibilidade de brilhar. Na primeira volta da corrida, um toque em Kevin Magnussen ditou o destino que teria a corrida de Albon. Mais uma corrida de ultrapassagens quase desesperadas, com o objetivo de remendar os erros cometidos em situações anteriores. Não é a primeira vez que vemos esta história e não seria a primeira vez que veríamos um piloto da Red Bull a ser despromovido. Seja por erros próprios, seja por erros de outros, Albon não terminou ainda acima de Max Verstappen, numa corrida em que ambos tenham cruzado a meta e isso deve, cada vez mais, ecoar na cabeça do tailandês, bem como nos corredores de Milton Keynes. Deixa pena, Albon. Muita pena.

Red Bull

Se há alguma situação em que se pode sentir um belo misto de emoções, hoje é esse dia para a Red Bull. Facto é que Max Verstappen apenas leva o segundo lugar para casa porque Bottas ficou sem pneus demasiado cedo. Mas a preocupação vem quando se olha para Alex Albon. Não é que não lhe sejam reconhecidas todas as qualidades que um bom piloto deve ter. De todo! É mais que a falta de experiência tem custado demasiados pontos à equipa de Milton Keynes e isso, normalmente, não cai bem junto dos manda-chuva da Red Bull. Vimos isso com Pierre Gasly e algo nos faz prever que Albon irá caminhar o mesmo trilho. Muito graças a Verstappen, a Red Bull está agora na segunda posição do campeonato de construtores, mas sabe a pouco. Especialmente no ano em que se alegava que iam finalmente levar a luta com a Mercedes até ao fim, mas o fosso é já de 66 pontos. Quem sabe se 2021 não trará uma melhor maré àquela que foi já tetra-campeã.

Ferrari

Se Leclerc leva pontos para casa, Vettel deixa a desejar. E aparentemente o contrário também acontece, embora a balança penda para o lado do monegasco. Tem sido muito disto o campeonato da Ferrari até agora. Embora já tenham assumido que não esperam qualquer vitória até 2022, ficamos sempre à espera de mais dos monolugares vermelhos. Desta vez, e mais uma vez muito fortuitamente, Charles Leclerc conseguiu um belo punhado de pontos que deixam a Ferrari num nada apelativo 5º lugar. Mas Vettel terminou, mais uma vez, numa posição em que não o reconhecemos, sem brilho, sem vontade e sem qualquer ponta de entusiasmo. Percebe-se cada vez mais que as decisões “políticas” de Maranello têm um grande impacto, mas queremos é ver os monolugares vermelhos competitivos e a lutar pelos lugares da frente, onde estamos habituados a vê-los. Talvez haja muito que mudar, e talvez demore o seu tempo. Mas confiem, é pelo melhor.

Mercedes

Poderia ter sido mais um daqueles fins de semana em que se aparece para a corrida, levam-se o máximo de pontos e se segue para a próxima. “Poderia”, é mesmo essa a palavra. Talvez uma jogada demasiada ambiciosa, ou um certo adormecimento de uma liderança demasiado confortável, levou a que se cometesse um erro que, em circunstâncias normais, poderia custar um campeonato. Mas estamos a falar da Mercedes e parece que nesta temporada não há nada que os possa abalar. Pelo menos, deu para um fim de corrida entusiasmante em que todos os espectadores adormecidos se ergueram para as derradeiras voltas em Silverstone. Para a semana há mais e, sem favoritismos, que apareçam mais destes imprevistos. É que um campeonato isolado não tem piada nenhuma. Pelo menos para nós.

Daniel Ricciardo

Bem-vindo de volta, Ricciardo. É bom voltar a vê-lo numa posição que realmente merece e que valoriza (a léguas!) a equipa que tem suportado até hoje. Depois de ter previsto um sexto lugar, tendo até apostado com o jornalista da Sky um belo de um relógio, poucos acreditavam nele. A verdade é que foi mesmo a quarta posição que lhe sorriu e foi bonito ver o seu sorriso novamente, não antes de um GP, mas no fim. Toda a gente sabe que não tem sido uma luta nada fácil depois da sua saída da Red Bull e é quase unânime dizer que merece mais do que o meio do pelotão, mas a verdade é que a McLaren está cada vez melhor e, finalmente, parece que vai ter uma equipa competitiva, desde que saiu da Red Bull. Para o ano cá estaremos para o ver brilhar e é bom que possa usar esse novo relógio. Foi merecido.

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