Fórmula 1: O estranho caso do colapso da negociações Andretti/Sauber

Por a 11 Novembro 2021 08:40

Como se costuma dizer, o acordo entre a Sauber e a Andretti ‘ardeu’. De um dos lados aponta-se para um motivo, do outro para outro, devendo a verdade ficar no meio, mas algumas queixas do lado dos americanos não deixam de ser curiosas e intrigantes.

Tudo parecia encaminhado para que um dos mais famosos nomes do automobilismo americano, senão o mais famoso, assumisse a identidade da formação helvética, havendo até rumores de que Colton Herta, protegido de Michael Andretti, estaria presente na primeira sessão de treinos-livres do Grande Prémio dos Estados Unidos da América e, para isso, ter-se-ia deslocado à Suíça para realizar trabalho de simulador com o intuito de se adaptar ao Alfa Romeo C41 da melhor forma possível.

Estes rumores não foram desmentidos por nenhum dos lados envolvidos…

No entanto, nos dias que antecederam a prova de Austin, começaram a surgir notícias de que o acordo que chegou a estar a horas de ser assinado teria caído por terra e o piloto americano, cujo possível ingresso na Fórmula 1 criara grande entusiasmo em diversos quadrantes, não estaria em pista no Grande Prémio dos Estados Unidos da América.

É estranho que se tenha chegado tão longe nas negociações – Herta terá mesmo estado em Hinwil – para depois todo um acordo que levou semanas a ser gizado sucumbir de forma clamorosa.

Antes de mais é preciso ter em conta que a Sauber não está em dificuldades financeiras e nos últimos anos, desde que Finn Rausing adquiriu a estrutura, tem sido alvo de investimento, tanto nas estruturas e ferramentas, como a nível humano.

Para além disso, o bilionário sueco, que tem uma fortuna avaliada em mais de treze mil milhões de euros, não está aflito por realizar dinheiro e, com o tecto orçamental e com o novo Acordo da Concórdia, as equipas poderão tornar-se em centros de lucro, ao invés dos sorvedouros financeiros que eram até há um ano.

Michael Andretti não estavam, assim, numa posição negocial de força, não tendo a capacidade para ditar leis nas reuniões, como aconteceu, por exemplo, quando a Dorilton adquiriu a Williams, que devido às dificuldades pelas quais passava a equipa britânica, poderia fazer prevalecer a sua vontade face à família Williams.

Segundo o que transpirou no “Blick”, bem versado quanto ao que se passa na Sauber, Rausing pretendia manter os postos de trabalho e assegurar o futuro da equipa nos próximos cinco anos.

A formação helvética tem um acordo com a Alfa Romeo que se crê válido até ao final de 2024, o que lhe permite operar financeiramente na zona do tecto orçamental, mas a parceria é revista anualmente, podendo ser terminada pelo construtor transalpino no final de cada ano.

Com uma possível mudança de donos, Jean-Philippe Imparato, o CEO da Alfa Romeo, poderá não estar interessado em continuar, ou Andretti ter outros planos para a equipa, e o apoio da marca de Arese desaparecer.

Para precaver esta situação, segundo o “Blick”, Raush exigiu que os americanos aparecessem com 250 milhões de euros para financiar a equipa nos próximos cinco anos – ou seja cinquenta milhões por ano.

Do lado da Sauber, esta foi a justificação para o colapso do acordo, surgindo notícias na imprensa helvética de que tinha sido acordado o preço que os americanos pagariam por 80% das acções da Islero Investments, a entidade que gere a formação suíça, 350 milhões de euros, mas que a quantia exigida por Raush para garantir o futuro do grupo não foi aceite.

Porém, Michael Andretti negou esta teoria. “Não acreditem nos rumores sobre o porquê de não ter acontecido (n.d.r.: o acordo)”, disse, continuando “Não teve nada a ver com finanças ou algo do género. Teve mais a ver com questões de controlo. Infelizmente, à 11ª hora, as questões de controlo alteraram-se e foi um acordo do qual tivemos de nos afastar porque não podíamos aceitá-lo. Eu sempre disse que só o faríamos se fosse o melhor para nós e, no final, não era certo para nós”.

Esta declaração do ex-piloto americano é no mínimo curiosa, dado que o seu objectivo era controlar as operações da equipa, o que lhe era facultado pelos 80% das acções que compraria, com o acordo que foi alcançado, portanto, não haveria dúvidas de que seriam os responsáveis por tomar as decisões.

No entanto, durante o período das discussões surgiram notícias na Suíça que apontavam para o interesse dos americanos em despedir centenas de funcionários da Sauber, que seriam substituídos por outros da sua confiança.

Esta poderá ser a verdadeira razão para que o acordo tenha implodido – Raush queria garantias de que Andretti e os seus investidores não despediam massivamente a força de trabalho da Sauber, ao passo que os americanos pretendiam ter a liberdade necessária para poder colocar na equipa quem bem entendia.

Porém, Michael Andretti proferiu ainda outra declaração mais curiosa e intrigante. “Penso que eles (n.d.r.: a FOM) gostariam (n.d.r.: que a Andretti tomasse conta da Sauber), obviamente, porque estão a pressionar o mercado americano, mas não fizeram nada para nos ajudar. Teria sido uma grande história. É uma pena que não tenha dado certo, mas não desisto”, afirmou o americano.

É sabido que a FOM está determinada em aumentar a penetração da Fórmula 1 nos Estados Unidos da América, tendo já garantido dois Grandes Prémios em terras do “Tio Sam” na próxima temporada e estando à procura de uma terceira prova para um futuro próximo, devendo a escolha recair em Las Vegas.

Ora, uma equipa com o nome de umas famílias mais conhecidas do automobilismo americano, ainda por cima, com um piloto local cuja carreira foi feita do outro lado do Atlântico, o que cairia muito bem no mercado daquele país, seria ouro sobre azul para a FOM e para a Fórmula 1, daí estranhar-se que, no mínimo, a estrutura que gere os destinos comerciais da categoria não tenha agido como negociador de modo a que as duas partes tivessem chegado a um acordo que terminasse com venda da Sauber à Andretti…

Mas talvez Stefano Domenicali e os seus homens não vissem nesta ofensiva de Michael Andretti um projecto capaz de brotar na Fórmula 1…

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4 Comentários
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can-am
can-am
2 anos atrás

Hoje comprar uma equipa é uma dificuldade,tantos são os interesses e pormenores em jogo. Imagine-se o que será uma equipa nova vir para a F1. Por isso é que o campeonato tem apenas 20 pilotos e 10 equipas desde há muitos anos, quando nos anos 70 e 80 chegou a 36 inscritos em cada GP,com pre-qualificações onde dos 36 ficavam 30, treinos onde dos 30 ficavam os 26 que formavam a grelha. E equipes eram perto de 20 …com carros que eram diferentes uns dos outros. Claro que os regulamentos eram bem menos apertados e permitiam várias opções e caminhos… Ler mais »

Last edited 2 anos atrás by Speedway
Scuderia Fast Turtle
Scuderia Fast Turtle
2 anos atrás

Girão. Tenho cá estado para criticar mas hoje elogio.

Pity
Pity
2 anos atrás

Acredito que o fim do negócio, foi mesmo a questão dos despedimentos.
A FIA / FOM que acabe com a estupidez de obrigar as pretendentes a novas equipas a pagarem 200 milhões, e aceite candidaturas credíveis, para aumentar o número de equipas, porque é disso que a F1 precisa.

garantia4
garantia4
2 anos atrás

Faz sentido a exigência de garantias fortes para participar na F1 e acabar com paraquedistas e aventureiros que só lá estão se e enquanto os regulamentos lhes derem jeito- e não é por acaso que dão 38% do bolo das equipas à Ferrari – mas não parece q o factor $ tenha sido o decisivo para o “colosso” team Andretti, já presente na Formula E, IndyCar, campeonato IMSA, Supercars austarliano e em 2022 na Extreme E. Isto cheira mais a “decido eu com o teu dinheiro”, típico comportamento dos nórdicos e suíços.

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