Fórmula 1: Como abordam as equipas a pandemia?

Por a 21 Março 2020 16:40

Por Jorge Girão

O Campeonato do Mundo de Fórmula 1 está parado e sem uma ideia clara de quando poderá ser iniciado, mas as equipas só foram parando a pouco e pouco, depois da Ferrari ter sido a primeira a fechar a sua fábrica de Maranello, o que poderá criar uma situação de desequilíbrio que, porém, poderá anulada. Entretanto, a F1 antecipou o período de paragem de verão para março e abril, alargando-o de 14 para 21 dias.

Depois de um membro da McLaren ter sido contagiado com o novo coronavírus, o Grande Prémio da Austrália foi cancelado, ao passo que as provas do Bahrein e do Vietname foram adiadas, juntando-se à da China, o que criou, na melhor das hipóteses, e se o Grande Prémio da Holanda for avante na sua data, uma extensão do defeso em mais sete semanas.

O início da temporada em Melbourne implica um esforço logístico gigantesco por parte das equipas, que têm de enviar para a Austrália dois carros, um chassis, diversas unidades de potência, todo o equipamento necessário para colocar em funcionamento e manter dois monolugares de Fórmula 1, para além dos cerca de cem membros operacionais, num momento em que estão ainda a conhecer e a produzir peças suplentes para as suas novas máquinas.

Este hercúleo esforço foi em vão, com cancelamento da corrida de abertura da época, mas segundo a Ferrari ninguém saiu a ganhar, sublinhando que a maior perda foi a sofrida pelos fãs. “Fomos tão afectados como todos os outros, equipas, Fórmula 1, FIA e Australian Grand Prix Corperation. Foi a decisão certa, mas claro que estamos tristes pelos adeptos que foram até ao circuito para ver uma corrida e esta não aconteceu”, afirmou ao AutoSport uma responsável da equipa.

Se rumar da Europa a Austrália foi uma operação logística gigantesca, o regresso das equipas às respectivas bases não foi um desafio menor, até porque a ameaça do COVID-19 se intensificara, tendo todas elas de planear a viagem de volta de material e colaboradores.

A preocupação em manter as equipas ao abrigo da infecção pelo novo coronavírus foi prioritária, tendo a maior parte delas privilegiado um retorno faseado para evitar um potencial contágio. “Deixámos o país por grupos, tendo o último deixado (n.d.r.: Melbourne) na segunda-feira à noite. Ficámos o máximo possível no nosso hotel, também como uma forma de respeito pelos locais”, afirmou a mesma fonte da “Scuderia”, equipa originária do país europeu mais afligido pelo novo coronavírus.

A vida nas fábricas

Mesmo quando não há corridas, as equipas não param, estando constantemente a trabalhar no desenvolvimento das suas máquinas de modo a poderem chegar à corrida seguinte o mais bem preparadas possível.

Por isso mesmo, foram criadas duas pausas regulamentares – uma no verão e outra no final do ano junto à época natalícia – com o objectivo de permitir conter custos e assegurar algum descanso aos membros das estruturas que em alguns casos ultrapassam o milhar de funcionários.

Ainda assim, todas as equipas enviaram para casa todos os colaboradores que estiveram em Melbourne, o que diz bem do respeito como abordam a situação da pandemia que atravessamos, prevenindo assim uma contaminação das pessoas das fábricas. “Até agora, não temos nenhum caso do COVID-19 nas nossas fábricas ou equipa de corridas, mas membros da estrutura que regressam de Melbourne trabalharão a partir de casa nas próximas duas semanas”, afirmou-nos um responsável da Mercedes, numa decisão semelhante à tomada pela Racing Point, como nos foi avançado por um membro da equipa: “Todos os que regressaram da Austrália foram aconselhados a não regressar à fábrica, pelo menos, durante catorze dias como precaução”, acrescentando, ainda, que “não existem casos confirmados de COVID-19 no seio da equipa, de momento. Vamos monitorizar a situação diariamente”.

No entanto, como é habitual numa equipa de Fórmula 1, a busca do último décimo de segundo não para e a maior parte das fábricas continuam a laborar, ainda que com algumas limitações de modo a proteger a saúde dos colaboradores.

Na Mercedes os procedimentos de produção permanecem intactos, ainda que algumas limitações em funções acessórias. “As nossas operações normais na fábrica continuarão, mas com restrições quanto a viagens de trabalho e a visitas externas às nossas instalações”, afirmou ao Autosport um responsável da formação que monopolizou todos os títulos desde 2014, inclusive.

A Racing Point confirmou-nos uma abordagem semelhante: “As nossas instalações continuam operacionais, seguindo o conselho do governo para manter uma boa higiene das mãos. Se alguém apresentar sintomas será rapidamente isolado”.

A Ferrari acaba por estar numa situação mais difícil, uma vez que anunciou no sábado passado que parou toda a sua produção – tanto na fábrica de carros de estrada como na de Fórmula 1 – ao passo que as actividades não directamente envolvidas com construção e montagem serão mantidas pelos respectivos funcionários a partir de casa, mas isso significa, pelo menos, uma pausa no desenvolvimento aerodinâmico em túnel de vento do SF1000, o que a poderá deixar em desvantagem face às suas rivais.

Também a AlphaTauri, com base em Itália, passa por uma situação mais complicada, dado que existe uma limitação à deslocação de pessoas por todo o país transalpino

Poderá então existir um plano de desigualdade entre as equipas que operam a partir de Itália, o país europeu mais afectado pelo COVID-19, e as restantes. Uma forma de anular este desequilíbrio foi introduzir já as férias de verão, obrigando todas as estruturas a desactivar as suas fábricas.

Este período foi alargado de catorze para vinte e um dias e será aplicado em Março e/ou Abril, sendo as equipas obrigadas a realizá-lo em dias consecutivos.

Isto permitirá, ainda, libertar o verão para colocar Grandes Prémios em Agosto e até na época natalícia, o que poderia assegurar mais datas praticamente até ao início do próximo ano.

Para já, no que diz respeito ao desenho desta temporada, estas são apenas hipóteses, mas as equipas estão em contacto permanente com as entidades competentes para encontrar uma solução capaz, como nos confidenciou um responsável da Mercedes: “Vamos continuar a trabalhar intensamente com a FIA e a Fórmula 1 para, assim que seja possível, determinar um calendário revisto para este ano”.

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