F1: Faz bem a McLaren trocar de motor em 2021?

Por a 24 Março 2020 18:15

A McLaren terá um 2021 mais complicado que a maioria das restantes equipas do grid. A troca de motores na próxima época será certamente exigente. Mas será esta uma boa solução por parte da McLaren?

A F1 está neste momento paralisada, tal como o resto do desporto motorizado. O novo Coronavírus entrou brutalmente na vida de todos à escala global e a F1 não escapou. Têm-se sucedido os adiamentos e cancelamentos de provas, e os responsáveis tomaram medidas para minimizar o tanto quanto possível o impacto desta crise. O adiamento da entrada em cena dos novos regulamentos, a juntar à proibição de modificações nos chassis de 2020, que serão homologados para 2021, permitirão uma poupança no investimento das equipas. No fundo trata-se de adiar as mudanças, para as equipas absorverem o impacto que esta crise irá provocar.

Mas a McLaren está numa situação diferente. A equipa tinha assinado um acordo com a Mercedes para o fornecimento de motores a partir de 2021. A equipa de Woking considerou que para chegar ao topo precisava de outra unidade motriz, que não a Renault, e decidiu voltar a juntar-se à marca germânica no regresso de uma parceira que existiu de 1996 a 2014. Mesmo com tudo o que tem acontecido a mudança de fornecedor de motores irá acontecer em 2021.

Será que esta mudança faz sentido, nesta fase em que vivemos?

Não vamos entrar nos pormenores dos acordos feitos nos contratos que deverão ser difíceis de contornar nesta fase, embora não impossíveis pois trata-se de uma situação que ninguém esperava. Iremos apenas pela lógica do desafio técnico e do que o futuro trás.

O desafio de integrar o motor Mercedes no chassis de 2020 será grande. O MCL 35 foi pensado para receber o motor Renault, que estruturalmente tem diferenças quanto ao motor Mercedes. Um exemplo, os sistemas de refrigeração no chassis da Mercedes e da Racing Point são colocados de lado enquanto que o motor Renault privilegia a montagem deste sistema na zona da entrada de ar superior do carro. A Williams fez alterações e embora tenha motores Mercedes, a colocação do sistema de refrigeração é feita de forma semelhante à do motor Renault. O que mostra que há alguma flexibilidade neste aspeto. Mas não é só a arquitetura do motor que muda, também os pontos de montagem, a geometria da suspensão traseira sofre alterações, sem falar da caixa de velocidades.

Não é uma tarefa fácil integrar uma filosofia diferente num chassis pensado para outro motor. Mais ainda, estas mudanças terão de ter a luz verde da FIA e com o congelamento de mudanças nos chassis para 2021, as restantes equipas estarão muito atentas a mudanças que possam conferir vantagem competitivas. Será um processo analisado ao pormenor.

Assim, por um lado a McLaren teria a vida mais facilitada se usasse o motor Renault em 2021. Um motor que já conhece, que lhe permitiria lutar pelos objetivos propostos, sem gastos extra no desenvolvimento de soluções para a integração de uma unidade completamente nova, focando-se no desenvolvimento do chassis para 2022, ano em que a equipa quer dar mais um salto qualitativo.

Mas na verdade a McLaren olha para os novos regulamentos como uma nova oportunidade de chegar ao topo e se puder testar os motores Mercedes num ano em que tem pouco a perder, tal pode tornar-se num ponto a favor para a troca imediata. Um ano a testar a unidade motriz germânica permitiria chegar a 2022 com um conhecimento mais profundo da mecânica do motor alemão, das dificuldades de integração e da exigência a nível de refrigeração, caixa de velocidades e suspensão traseira.

Pode dar-se o caso de em 2021 a McLaren ter um abaixamento de rendimento, por necessidade de adaptar um conceito que talvez não “receba” da melhor forma uma unidade motriz diferente. Mas parece razoável arriscar numa época em que pouco há a perder para estar 100% preparada para o primeiro ano dos novos regulamentos e assim tentar o assalto aos primeiros lugares.

Assim, entende-se o risco que a McLaren pretende tomar em 2021, mesmo com as dificuldades económicas que se avizinham. A McLaren tem de arriscar, e preparar-se o melhor possível para que em 2022 esteja pronta para o grande desafio de chegar ao top3. Andreas Seidl é um homem inteligente e terá pesado todos os prós e contras desta decisão, que à primeira vista, parece acertada.

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