Bruce McLaren: Fado de campeão

Por a 10 Fevereiro 2023 14:30

Bruce McLaren foi eternizado com uma estátua na sede da McLaren, em Woking, tendo sido a sua filha, Amanda McLaren, a desvendar a estátua. Bruce McLaren foi um dos raros casos de piloto e construtor, que conseguiram sucesso. Fundador da McLaren, não teve tempo para festejar títulos e muitas alegrias. Morreu num acidente banal, durante um teste particular, na infame pista de Goodwood, tinha 32 anos.

Bruce Leslie McLaren nasceu fadado para ser piloto de automóveis. O seu pai, Les, era dono de uma estação de serviço e oficina de mecânica de automóveis, nos arredores da cidadezinha de Remuera, onde o pequeno Bruce gastava todas as horas livres da sua infância. Além disso, Les foi o principal responsável pela sua entrada no mundo das corridas e o seu primeiro e maior impulsionador e fã. Porém, não foi uma entrada fácil: aos nove anos, contraiu a doença de Perthes, que o levou ao hospital, onde permaneceu em tração durante vários meses. Em consequência, a sua perna esquerda ficou mais curta que a direita – mas nem isso o impediu de se tornar um dos melhores pilotos de automóveis do Mundo. E, também, o fundador da McLaren e construtor de renome, com experiência não apenas na F1, mas também na Fórmula Indy e nas séries norte-americanas de ‘sport’ e protótipos, como a Can-Am. Uma paixão que lhe foi fatal, aos 32 anos apenas e com ainda tanto para dar.

Talento precoce

Bruce McLaren tinha recuperado havia pouco da doença, quando o pai lhe fez uma surpresa: ofereceu-lhe um velho Austin 7 Ulster, totalmente recuperado e preparado para as corridas. O jovem imberbe tinha apenas 14 anos, quando participou na sua primeira prova, uma rampa. Dois anos mais tarde, oficializou essa paixão, em mais uma rampa, onde mostrou qualidades insuspeitas. Traçou-se então o seu futuro.

Até 1958, ano em que viajou para Inglaterra, com uma espécie de bolsa de estudo, Bruce McLaren ganhou tudo o que havia para ganhar no seu pequeno país. Depressa passou do velho Austin 7 para um Ford 10 Special e, logo de seguida, para um mais competente Austin-Healey. A sua estreia em monolugares, com um Cooper-Climax de F2, foi notável: em 1957 e 1958, lutou pelo título no campeonato local.

Depois, foi a emancipação: a sua prestação no Grande Prémio da Nova Zelândia de 1958 não passou despercebida a um tal Jack Brabham, piloto que viria a ser Campeão do Mundo de F1 nos dois anos seguintes e que, de imediato, chamou a atenção da Cooper, equipa onde corria na Europa, para o indiscutível talento daquele jovem franzino e de ar simpático. Aliás, foi a sua performance nessa prova que o levou até ao outro lado do Mundo: os organizadores da prova selecionaram-no como vencedor da sua iniciativa ‘Drivers for Europe’ e que consistia em patrocinar um jovem de talento, lançando-o nas corridas internacionais, onde elas aconteciam de facto: no Reino Unido.

Piloto e construtor

Bruce McLaren chegou assim à Europa e, quase de seguida, inscreveu-se no Grande Prémio da Alemanha de F1, que se realizava então no velho Nurburgring e permitia que os F2 corressem ao mesmo tempo que os F1. McLaren alinhou com um F2 – e fê-lo de tal forma bem que terminou em 5º da geral, vencendo a categoria de F2! Foi o abrir das portas da Cooper, formação onde se manteve a correr durante os sete anos seguintes, mesmo depois de ter fundado a sua própria equipa, em 1963: a Bruce McLaren Motor Racing, Ltd.

A sua primeira temporada completa na F1 foi a de 1959 – nesse ano, tornou-se o piloto mais jovem de sempre (sem contarmos com Troy Ruttman, que tinha ganho as Indy 500 com uma idade ainda mais “tenra”), a vencer uma corrida de F1 pontuável para o Campeonato do Mundo: o Grande Prémio dos Estados Unidos, com 22 anos e 80 dias. Provando que essa não tinha sido uma vitória de sorte, McLaren ganhou logo de seguida a primeira prova da temporada de 1960, o Grande Prémio da Argentina, lutando pelo título até ao final com… Jack Brabham, o seu protetor!

A terceira vez que McLaren triunfou num Grande Prémio de F1 foi no Mónaco, em 1962 – e, nesse ano, acabou num magnífico terceiro lugar do Mundial. No ano seguinte, fundou a sua própria equipa, que no entanto apenas chegou à F1 em 1966, com ele e outro neo-zelandês, Chris Amon, como pilotos. Até então, McLaren tinha continuado a correr com a Cooper, ganhando uma magnífica coroa de glória com a vitória no “seu” Grande Prémio da Nova Zelândia, em 1964.

Na McLaren, Bruce contratou para o lugar de Amon, que acabara de assinar pela Ferrari, outro compatriota: nada mais nada menos que Denny Hulme, que em 1967 tinha ganho o título mundial, com a Brabham. Estava-se em 1968 e, nesse ano, a McLaren conquistou a sua primeira vitória na F1, no Grande Prémio da Bélgica, com Bruce Leslie ao volante! Outro momento inesquecível – num ano também ele inesquecível, até porque Hulme ganhou outras duas provas de F1 (a equipa McLaren terminou em segundo o Mundial com o carro cor de laranja – onde, depois da temporada de 1969, que a equipa acabou em quarto lugar, mesmo sem nenhuma vitória, Bruce gravou o “Kiwi corredor”, em homenagem à sua terra.

Bruce McLaren venceu quatro Grandes Prémios de F1 e as 24 Horas de Le Mans. Mas não conseguiu ser Campeão do Mundo de Pilotos. Porém, deixou um legado notável: a “sua” equipa.

Curiosamente, porém, depois de ter ganho cinco títulos e 56 corridas (algumas delas com Bruce ao volante) na América do Norte; depois das vitórias em Le Mans, Sebring e nas 500 Milhas de Indianapolis; depois de 12 títulos de Construtores e oito de Pilotos e de 165 triunfos, na F1, hoje a McLaren – depois de ter reeditado uma das mais lendárias parcerias, com a Honda – está a atravessar um dos seus períodos mais negros. Imensos problemas têm evitado que Fernando Alonso e Jenson Button consigam, sequer, chegar ao fim das corridas, onde se limitam a lutar com as do terceiro pelotão… Melhores dias virão.

Goodwood, 2 de junho de 1970: A morte súbita do herói americano

O ano de 1970, que prometia ser de glória, acabou por ser de tragédia. Bruce McLaren tinha descoberto o mundo das corridas americanas, que escolheu por serem mais competitivas, mais permissivas em relação às regras e terem motores realmente potentes, bem como os inevitáveis e apelativos chorudos prémios monetários. Por isso, em 1967, depois de ter ganho no ano anterior as 24 Horas de Le Mans, com um Ford GT40 e fazendo equipa com o seu amigo Chris Amon, Bruce cruzou mais um oceano, desta feita o Atlântico e, com as suas próprias criações, depressa se tornou num símbolo das corridas dos “States”.

Aqui, era bem aceite e mimado pelos fãs. Desenhador e engenheiro tão talentoso quanto bom piloto, McLaren foi criando carros vencedores atrás de carros vencedores. Em cinco anos, ganhou tudo o que havia para ganhar – sucesso previsto desde o início, quando subiu sempre ao pódio nas primeiras seis corridas de Can-Am que disputou! Neste campeonato, ele, Denny Hulme e, mais tarde, Dan Gurney, ocupavam sempre os três lugares do pódio, não deixando espaço para mais ninguém; felizmente, nessa altura ainda não havia a mania de se alterarem as regras a meio do jogo, como depois aconteceu e, ainda hoje, sucede, sempre que um mesmo carro ou piloto se afirmam como dominadores nas provas em terras do Tio Sam!

Portanto, no início de junho de 1970, em plena senda vitoriosa, Bruce McLaren deslocou-se até à pista de Goodwood, para testar mais um novo monolugar da Can-Am, o revolucionário M8D, com o enorme motor Chevy, que seria o dominador da série americana na temporada seguinte. Numa das voltas, quando seguia em plena reta a mais de 250 km/h, saltou o “capot” traseiro do carro. Sem apoio aerodinâmico, o M8D levantou voo e, em pleno ar, começou a derivar para a direita, saindo, sempre em voo, dos limites da pista. Sem o poder controlar, Bruce viu aproximar-se um posto de comissários, onde o carro embateu sem a velocidade ter diminuído. O choque foi terrível, desintegrando-se a frágil construção, bem como o M8D; o piloto morreu de imediato. Ainda não tinha cumprido 33 anos de idade. Foi aqui que começou o início da lenda – e do sucesso, que ainda hoje continua.

Nome: BRUCE Leslie McLAREN

Nascimento: Auckland, Nova Zelândia, 30 de agosto de 1937

Morte: Goodwood, 2 de junho de 1970 (32 anos)

Causas da morte: Acidente durante sessão de treinos, no circuito de Goodwood, Inglaterra

Estreia: 1952 (Austin A7 Ulster, numa rampa)

Atividade na F1: 03/08/1958-10/05/1970

GP F1 disputados: 104 (100 largadas)

1º GP F1: GP Alemanha 1958

Último GP F1: GP Mónaco 1970

Vitórias: 4

1ª vitória F1: GP Estados Unidos 1959

Última vitória F1: GP Bélgica 1968

“Pole positions”: –

Voltas mais rápidas: 3

Pódios: 27

Pontos: 188,5 (196,5)

Melhor classificação CM F1: 2º, 1960 (34/37 pontos)

Marcas: Cooper (1958-65); McLaren (1966-70); Eagle (1967)

PALMARÉS NA F1

1958 – Cooper: 2 GP; Não pontuou

1959 – Cooper: 7 GP; 1 vitória (GP Estados Unidos); 3º GP GB; 6º CM, 16,5 pontos

1960 – Cooper: 8 GP; 1 vitória (GP Argentina); 2º GP Mónaco, Bélgica e Portugal; 3º GP França e USA; 2º CM, 34 (37) pontos

1961 – Cooper: 8 GP; 3º GP Itália; 8º CM, 11 pontos

1962 – Cooper: 9 GP; 1 vitória (GP Mónaco); 2º GP África do Sul; 3º GP GB, Itália, USA; 3º CM, 27 (32) pontos

1963 – Cooper: 10 GP; 2º GP Bélgica; 3º GP Mónaco e Itália; 6º CM, 17 pontos

1964 – Cooper: 10 GP; 2º GP Bélgica e Itália; 7º CM, 13 pontos

1965 – Cooper: 10 GP; 3º GP Bélgica; 9º CM, 10 pontos

1966 – McLaren: 6 GP; 2 NP; 16º CM, 3 pontos

1967 – McLaren: 6 GP; Eagle: 3 GP; 14º CM, 3 pontos

1968 – McLaren: 11 GP; 1 vitória (GP Bélgica); 2º GP Canadá e México; 5º CM, 22 pontos

1969 – McLaren: 11 GP; 2 NP; 2º GP Espanha; 3º GP GB e Alemanha; 3º CM, 26 pontos

1970 – McLaren: 3 GP; 2º GP Espanha; 14º CM, 6 pontos

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