1º Figueira da Foz/Lisboa foi em 1902: O desporto automóvel em Portugal cumpriu este ano 120 anos.

Por a 28 Dezembro 2022 19:15

O desporto automóvel em Portugal cumpriu este ano 120 anos. Primeiro realizou-se em pista, depois na estrada. A história do automóvel deve ser dada a conhecer às gerações atuais, a história do automóvel através do desporto, que foi o melhor meio de propaganda desse extraordinário veículo que tantos dos nossos avós receavam e de que outros rejeitavam, enquanto só uns poucos nele confiavam. Ganharam estes últimos!

Há quarenta anos, para assinalar os 80 anos do desporto automóvel nas estradas de Portugal, realizou-se pela primeira vez o Raid Figueira da Foz-Lisboa, que “ficou” no calendário desportivo da modalidade, embora com uma ou outra “avaria” de permeio.

Nessa altura, e a convite da Direcção de então do Clube Português de Automóveis Antigos, o organizador da saudosa prova, confiou a Vasco Callixto a elaboração do respectivo ‘Relatório’. Oitenta anos antes, foi o seu avô a elaborar o primeiro relatório de uma prova automobilística disputada no nosso País.

Três automóveis na ‘pista’ de Belém

O desporto automóvel entre nós “nasceu” em Belém, levado à histórica e pitoresca zona de Lisboa palas motos e pelas bicicletas, que já então alinhavam em pistas improvisadas. O primeiro automóvel entrara em Portugal em 1895. E, no começo do século XX, eram poucos os possuidores dessas estranhas e bizarras viaturas que andavam “sem cavalos”, como então se dizia.

Mas os entusiastas do automóvel lançaram-lhe um primeiro arranque vitorioso e o automóvel triunfou nas primeiras manifestações desportivas em que participou.

Foi no dia 17 de Agosto de 1902, no Hipódromo de Belém, que se realizou a primeira corrida de automóveis, integrada num festival de futebol, ciclismo e motociclismo, organizado pelo Sport Clube. É certo que a presença de “quatro rodas” foi escassa na pista de Belém, pois somente alinharam três carros. Mas o vencedor, o americano H. S. Abbot, em “Locomobile”, “causou o assombro de todos os espectadores”, recebendo “aplausos estrepitosos”.

Albert Beauvalet, em “Panhard & Levassor”, foi o segundo classificado e, na terceira e última posição, cortou a meta Alfredo Vieira, em “Darracq”.

Dois meses depois, em 27 de Outubro de 1902, teve lugar a corrida que abriu as estradas de Portugal ao desporto automóvel e levaria, no ano seguinte, à fundação do Real Automóvel Clube de Portugal. A ideia de fundar um clube de automobilistas e organizar uma prova, como ponto de partida para essa fundação, ficou a dever-se a António Zeferino Cândido, director do jornal “A Época”. Outros entusiastas do automóvel, também jornalistas, se lhe juntaram: Anselmo de Sousa, Álvaro de Lacerda, Carlos Callixto, Júlio de Oliveira, Henrique Anacoreta e Eduardo Noronha. Foram estes sete pioneiros que lançaram o desporto automóvel em Portugal.

Dez ‘corredores’ na estrada

Pretendendo-se realizar “uma grande prova”, escolheram os organizadores o percurso Figueira da Foz – Lisboa, via Coimbra, com partida do largo fronteiro ao Ginásio Clube Figueirense e chegada ao Campo Grande, frente à Igreja Matriz.

Concordou-se em reunir automóveis e motos e o número de inscritos foi de 14, sendo os automóveis de diversas marcas, tais como “Bolide”, “Locomobile”, “Fiat”, “Richard”, “Darracq” e “Clement” e motos “Werner”, “Buchet” e “Heresta”. À partida, porém, só se apresentaram dez concorrentes.

A fiscalização foi confiada à União Velocipédica Portuguesa e a Colonial Oil Company, antecessora da Mobil, assegurou o abastecimento. A largada verificou-se às primeiras horas da manhã.

Apesar do êxito alcançado pela histórica corrida, esta registou um incidente com o concorrente nº 12, José Caetano Tavares de Melo, que pretendia conduzir o veículo do concorrente nº 14, o francês Edmond, que faltara.

Não podendo o júri atender a pretensão, resolveu Tavares de Melo correr “por fora”. Mas, em Coimbra, aparecendo-lhe Edmond, passou este para o volante e foi o primeiro a chegar a Lisboa. Mas, por ter havido “mudança de chauffeurs”, Edmond não foi classificado.

O vencedor da histórica corrida veio a ser o italiano Giuseppe Bordino, num Fiat do Infante D. Afonso, que ligou a Figueira da Foz a Lisboa em 7 horas, 29 minutos e 25 segundos.

Em segundo lugar, com cerca de uma hora e meia de diferença, chegou Afonso de Barros, em Darracq, surgindo dentro em pouco António Paula de Oliveira, numa moto Buchet.

Quando aos restantes concorrentes, ou não completaram a prova ou alcançaram o Campo Grande depois de expirado o prazo regulamentar.

O americano Abbot, um dos favoritos, por se ter distinguido em Belém, chegou cerca das oito horas da noite.

Curioso será registar um apontamento do ‘Relatório Oficial’ desta célebre corrida: “Quanto a acidente, apenas alguns cães mortos e um ou dois abalroamentos sem importância.”

Após a realização da corrida Figueira da Foz – Lisboa, surgiu um novo grupo de entusiastas do automóvel, animado pelo mesmo propósito de fundar uma associação de automobilistas.

Não hesitou este grupo em contactar com os organizadores da primeira corrida de automóveis disputada nas estradas de Portugal – e da Península Ibérica – e os dois grupos, uma vez reunidos, trabalharam em conjunto para o mesmo fim, levando à fundação do ACP, que para o ano completará 100 anos de existência.

As décadas seguintes

No historial do desporto automóvel em Portugal, relativamente à primeira década do século XX, destacaram-se outras organizações, como o Circuito das Beiras (1903), as Gincanas de Cascais (190-1905-1909), Lisboa – Caldas da Rainha – Lisboa (1905), Quilómetro da Valada (1906), Lisboa – Coimbra – Lisboa (1906) e Rampa da Pimenteira (1910).

Principalmente a partir dos anos 20, o desporto automóvel firmou-se em Portugal, de Norte a Sul do País, culminando em 1957 com a participação de Juan Manuel Fangio no Circuito de Monsanto, em Lisboa e, em 1958, com a primeira prova do Campeonato Mundial de Condutores, disputada no Circuito da Boavista, no Porto.

Por Vasco Callixto

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