WEC : Le Mans sem portugueses em 2024?

Por a 5 Novembro 2023 10:06

Não foi uma notícia dramática, mas foi certamente uma notícia negativa para o desporto nacional e para António Félix da Costa. O piloto português terá de fazer uma pausa na sua carreira nas corridas de longa duração para se focar a 100% na Fórmula E. E torna-se assim em mais uma baixa do contigente luso para o WEC em 2024.

A notícia foi avançada na semana passada e esta semana foi confirmada pelo próprio piloto. Félix da Costa não estará nas pistas de Endurance em 2024, para se focar completamente na Fórmula E. Uma notícia que se torna ainda pior, pois poderemos ter uma edição das 24h de Le Mans sem qualquer português a competir.

A Porsche tem investido muito na Fórmula E e este ano entendeu que tem, finalmente, carro e dupla de pilotos para lutar pelo título. Pascal Wehrlein mantém-se focado a 100% na Fórmula E, mas Félix da Costa foi-se dividindo entre a competição 100% elétrica e o endurance. Quem conhece AFC, sabe que este é o cenário ideal para ele. A velocidade que mostra dentro de pista é refletida na velocidade a que vive o seu dia a dia e o piloto de Cascais odeia ficar muito tempo parado. Este calendário dividido era do seu agrado, apesar de por vezes exigente e difícil de conciliar. Mas a Porsche está determinada a conquistar o título na Fórmula E e terá decidido colocar as fichas todas na mesa. A Porsche terminou o campeonato em quarto lugar, a 62 pontos dos campeões (Envision Racing). A certa altura do ano, a Porsche foi a melhor equipa e não aproveitou como poderia essa vantagem.

Wehrlein terminou o ano com 149 pontos (quarto lugar), Félix da Costa com 93 pontos (nono). A frieza dos números diz que o piloto que esteve apenas focado na Fórmula E teve melhores resultados. Mas a história não é bem assim e AFC teve um início de caminhada difícil na equipa. Enquanto Wehrlein estava no topo da tabela, conhecendo a equipa como a palma das mãos, o português ainda procurava referências e tentava entender a dinâmica da sua nova equipa. À quarta corrida, conseguiu um pódio e na quinta corrida pela Porsche, Félix da Costa venceu. E depois do português se “enturmar”, a diferença de andamentos entre os dois pilotos Porsche não foi substancial. Será que a Porsche considera mesmo que é essencial foco total na competição? Não sabemos ao certo. Mas se for o caso, parece-nos injusto, pois AFC já provou várias vezes a sua versatilidade e o facto de pilotar duas máquinas tão diferentes nunca foi problema. Resta-nos esperar que a Porsche tenha sucesso este ano e que permita o regresso do piloto luso às corridas de longa duração em 2025. 

Mas é uma pena que isso aconteça, pois corremos o risco de não ter pilotos na grelha de partida para as 24h de Le Mans. Félix da Costa não tinha hipótese de ser campeão do mundo de endurance na próxima época. A sobreposição de calendários dita que a Fórmula E e o WEC tenham corridas no mesmo fim de semana de maio (11), com a primeira corrida de Berlim a sobrepor-se à prova belga de Spa. Sendo AFC piloto Porsche para a Fórmula E, teria sempre de abdicar da participação no WEC, independentemente da sua posição no mundial de endurance. Terá isso também pesado na decisão? Se sim, mais uma vez fica demonstrado o pouco esforço entre as duas competições em evitar este tipo de cenário, complicando a vida de equipas e pilotos. Mas para AFC haveria sempre a motivação de Le Mans. E em 2024, poderemos não ter nenhum representante. Félix da Costa não corre no endurance, Filipe Albuquerque não tem um Hypercar para correr e os LMP2 saem este ano de cena e nos GT resta esperar que Henrique Chaves ou até Guilherme Oliveira (que tão boa conta deu de si) consigam arranjar vaga. 

Filipe Albuquerque tem lugar cativo na estrutura da Acura. A estrela da WTR aguarda pacientemente que a Honda perceba que tem uma máquina com potencial para vencer no WEC, o que já esteve mais longe de acontecer. A Honda operou uma reestruturação nas suas divisões de competição e a HPD (Honda Performance Development) responsável pelo desenvolvimento dos projetos nos EUA irá passar a estar integrada na HRC (Honda Racing Corporation). O objetivo principal desta reestruturação é usar todo o conhecimento à disposição da Honda, para a marca enfrentar este regresso à F1 com a Aston Martin. A antiga HPD vai também ter um papel no desenvolvimento das novas unidades motrizes para 2026. Mas tão importante quanto isso, a antiga HPD, que está na base do programa de resistência da Acura no campeonato IMSA, poderá ter uma via mais facilitada para a entrada no WEC. Dado o potencial que o ARX-06 tem demonstrado nas corridas de resistência dos EUA e a vontade da Wayne Taylor Racing e da  Andretti Global em entrar no mundial de resistência da FIA, este passo pode abrir uma porta para que esse sonho se torne realidade. Albuquerque tem feito de tudo para que isso aconteça, mostrando o potencial do carro em pista. E se a Honda apostar na ida para o WEC, um cenário sem o piloto de Coimbra na equipa é deveras difícil de imaginar, dada a sua experiência e qualidade. 

Não falta talento a nível nacional. Albuquerque tem demonstrado ano após ano, que é um dos melhores do mundo e no IMSA é respeitado por colegas de equipa e adversários. É um piloto completo, rápido, inteligente, agressivo, adjetivos que podem igualmente ser usados com AFC, que também já conquistou o seu lugar na elite das corridas de longa duração. Henrique Chaves ganhou Le Mans à primeira tentativa e só não foi campeão no primeiro ano porque chegou uma corrida “atrasado”. Depois de uma primeira época de sonho para Chaves no WEC, o piloto viu a sua categorização subir para Gold, o que lhe fechou algumas portas. O piloto de Torres Vedras já provou que pode ser rápido, ao lado de Ben Keating e Marco Sorenson, que dispensam apresentações. 

Já Guilherme Oliveira tem impressionado pela sua qualidade e maturidade, apesar da tenra idade. Começou a época M-Racing, mas foi chamado de surpresa para correr em Portimão no Porsche GTE da Project 1- AO. Assinou uma prestação sem mácula, que lhe valeu novo convite da equipa para Monza. Correu também em Daytona e Indianápolis no IMSA onde também deu cartas. Um talento que já provou estar à altura do desafio e que este ano foi chamado para enfrentar desafios bem distintos, passando os testes com boa nota.

 Há também os jovens, Manuel Espírito Santo, que mostrou velocidade no ELMS e na Ultimate Cup, e Pedro Perino, que terminou o ano com dois pódios consecutivos no ELMS e também mostrou qualidade na Ultimate Cup. Estes dois jovens mostram-se nos LMP3 e estão ainda no começo da sua aventura. Mas não falta qualidade. 

Parecem, sim, faltar vagas e o cenário de não termos pilotos lusos em Le Mans ainda não está confirmado, mas pode ser uma realidade. Quando falamos com Miguel Ramos em Portimão, o experiente piloto luso disse que poderia interessar-se por uma ida a Le Mans, ele que conhece a grande maioria das máquinas GT3, que começarão a ser usadas na próxima época do WEC, em detrimento dos GTE. Uma hipótese para a representação portuguesa? Esperemos que sim. Esperemos ter representantes lusos na corrida de endurance mais prestigiante e mais exigente e que este receio de não termos pilotos à partida para a grande prova seja apenas isso. É que as classes onde os pilotos lusos se destacaram terminam este ano (LMP2 e GTE), classes que deram espetáculo e onde vibramos com as lutas dos nossos compatriotas. Fica o desejo de o voltar a fazer em breve.

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