WEC, António Félix da Costa: “Ainda há muito por conquistar”

Por a 19 Novembro 2022 12:03

António Félix da Costa venceu o título mundial de LMP2 no WEC da época de 2022. A competição mais intensa e renhida do mundo do endurance sorriu ao piloto português. Um título conquistado de forma merecida, numa época em que a regularidade foi chave.

Colocado assim, poderá parecer que foi fácil, tal a qualidade que a tripulação do #38 da JOTA mostrou ao longo do ano, mas o trabalho de bastidores foi intenso, num ano que marcava o fim de um ciclo. Com a entrada da JOTA nos Hypercars e a saída de Roberto González da equipa, era o tudo ou nada para equipa conquistar o título nos LMP2.

O título veio na hora certa, para se fecharem alguns capítulos. Félix da Costa não escondeu o sentimento de felicidade e de orgulho pela conquista:

“A sensação de ter conquistado o título mundial continua a ser ótima. Com a idade e com a experiência, começo a dar mais valores a estes momentos. Mas aprendi também a desfrutar os dias antes. A tensão que se vivia, pois nós todos queríamos muito  isto. Já eram alguns anos a ficar em segundo, no ano que o Filipe [Albuquerque] ganhou, no ano passado também. Fiz sempre questão de não mudar de equipa e não mudar de colegas de equipa, sempre a pensar neste objetivo final. Mas a sensação é excelente, mais  ainda porque seria o último ano do Roberto  [González] a correr  e sabia que esta oportunidade assim não se voltaria a repetir. Concretizar tudo, Le Mans, o campeonato, tudo no mesmo ano, quando tinha mesmo de ser, com essa pressão extra, é uma sensação incrível.”

Foram dois segundos lugares, pelo que o sucesso nunca esteve longe. Mas este ano, deu-se um clique que permitiu chegar ao topo. Félix da Costa falou das mudanças, mas recordou quem esteve no passado e foi importante na conquista:

“Acho que acima de tudo tem havido mais igualdade nesta categoria. Obviamente há uma guerra grande dos pilotos ´silver´. O Roberto acaba por ser um homem que vai para o escritório de segunda a sexta, trabalha e não tem o mesmo tempo para treinar, pois tem outras preocupações na vida e corremos contra alguns pilotos ´silver´, miúdos que vêm da F3 ou dos LMP3, que aspiram ser pilotos profissionais e por isso se dedicam a 100%. Isso torna a tarefa complicada, mas soubemos trabalhar à volta desse problema. Outro pormenor é que agora os pneus são iguais para todos, o ano passado já era e já aí ficamos muito perto dos objetivos. No ano passado o problema técnico que tivemos retirou-nos da luta pela vitória em Le Mans que nos poderia ter dado o título. Era muita bagagem acumulada e a sensação de finalmente conseguir foi inacreditável. Não foi por não ser o Anthony Davidson que vencemos o título. O Anthony tinha todas as condições para fazer o que fizemos este ano. Fiz questão de dizer no discurso final para a equipa, e o Anthony estava lá, foi dizer que ele era também muito responsável pelos resultados deste ano, por ter afinado connosco.  O Will foi uma transição muito fácil, pois já tinha corrido na JOTA, conhecia bem os engenheiros, eu também já o conheço e fomos colegas de equipa no passado. Queríamos que fosse uma mudança fácil e quase transparente e foi o que conseguimos com o Will. Ele tem um grande espírito de endurance, é picuinhas na afinação do carro, mas não é egoísta e era alguém assim que nós precisávamos, tal como o Anthony era e foi uma adição muito fácil. Acho que ganhamos Le Mans muito por culpa dele, pois à uma e meia da manhã sentou-se com os engenheiros a seguir ao treino livre da noite e não saiu de lá enquanto não colocasse o carro como ele achava que devia estar e, na verdade, a ideia final da afinação foi dele e o carro estava inacreditável de guiar. São estas pequenas coisas que às vezes não passam para fora, mas cada um tem a sua responsabilidade nos resultados.”

Félix da Costa adaptou-se bem desde início, mas demorou algum tempo até chegar ao nível que pretendia. Foi esse tempo e essa estabilidade que o ajudaram a ser agora um dos melhores do endurance:

“Algo que certas equipas não entendem é que é necessário tempo para que as coisas aconteçam, principalmente a este nível. Quando eu entro nos LMP2, vou contra especialistas deste tipo de carros como o Will, o Filipe, que só correm em protótipos. Não é fácil e há pessoas que esperam que sejamos competitivos logo de início, mesmo caindo de paraquedas num mundo diferente. Estes três ou quatro anos permitiram que eu crescesse. O Roberto apostou em mim, acreditou no meu potencial, pois não nos conhecíamos bem quando começamos a trabalhar juntos e eu dou muito valor a essa confiança que ele depositou em mim. Sempre fui muito aberto e admiti que precisava de tempo. Não era lento, mas não era também o mais rápido e para ser o mais rápido demora tempo, principalmente a fazer dois campeonatos diferentes. Tive um grande apoio da JOTA com pequenos pormenores como, às vezes, um conjunto de pneus novos aqui ou mais apoio ali, para me tornar agora num dos mais rápidos e completos da categoria. Mas isso demora tempo e precisas de ter a equipa ao teu lado como foi o caso do Roberto e da JOTA.”

Félix da Costa ainda é um jovem, com muitos anos de corridas pela frente e o seu objetivo é continuar a conquistar sucessos e bater recordes:

“O objetivo passa por bater recordes e adicionar corridas grandes ao meu currículo. Mais campeonatos, mais vitórias. Daytona não faz parte dos planos no imediato, mas era uma corrida que eu adorava ganhar e agora no WEC, as portas começaram-se a abrir no final do ano passado para propostas com os Hypercars, que foram bastantes. Não podia falar antes, mas agora com a Porsche, muitas caíram, pois não são compatíveis. Mas outras portas se abriram. A minha intenção é ficar no WEC, subir à categoria principal, se for com a JOTA e com a Porsche melhor ainda. Estamos a acabar de alinhavar alguns pormenores. Não é fácil fechar estes contratos, há quem queira e quem não queira, por estranho que pareça. Mas é mesmo assim. Estamos a tentar alinhar tudo para finalizar o contrato e espero que aconteça, pois competir à geral no WEC e na Fórmula E é excelente e o objetivo é ser campeão nos dois no mesmo ano.”

Desafiado a falar de um dos momentos mais marcantes, a noite de Le Mans foi a escolhida por Félix da Costa. Foi na noite de Le Mans que a vitória do #38 passou a ser uma forte possibilidade:

“Um dos momentos mais importantes do ano tem de ser Le Mans. Aqueles stints às quatro da manhã, são uma selva. A sobrevivência e, ao mesmo tempo, manter a velocidade. Mas eram três da manhã e apareceu-me um LMP2 na frente e estava a ganhar-lhe tempo, mas sabia que eu era o líder. Passado pouco tempo disseram-me na rádio que era o [Robert] Kubica, da Prema. Perguntei em que lugar eles estavam e responderam-me que eram os segundos classificados. E às três e meia da manhã estou a dar uma volta de avanço ao Kubica, o segundo classificado e foi aí que eu pensei ´agora não podemos perder isto´. Depois de o passar perguntei se devíamos poupar um pouco mais o carro, pisando menos corretores, ou poupar o motor. A resposta que tive do outro lado foi ´sempre a fundo, a dar o máximo´. Adorei a resposta da minha equipa e a confiança com que preparam os carros . Andamos sempre a fundo até ao final e ainda bem, pois tivemos algum azar com umas amarelas e eles acabaram por regressar à volta do líder, mas nunca chegaram a ameaçar o nosso lugar.”

O que é mais difícil e, em simultâneo, mais saboroso de conquistar? Um título da Fórmula E ou no WEC? Uma pergunta difícil, mas que Félix da Costa respondeu honestamente:

“São mesmo sensações diferentes. No WEC dependes de outros pilotos para conseguires ter sucesso e isso tem coisas boas e más. A camaradagem é inacreditável, não sentes em mais lado nenhum. Na Fórmula E, é mesmo muito trabalhoso. É uma competitividade altíssima. É um sentimento um bocadinho maior na Fórmula E, mas acima de tudo muito diferente.” 

Félix da Costa está já no topo há alguns anos, mas vai cimentando o seu lugar. O respeito que conquistou por parte da comunidade mundial do automobilismo é evidente, mas há ainda muito pela frente:

“Não podia pedir mais, consegui alcançar dois objetivos enormes nos últimos anos, com a Fórmula E e agora com o WEC e a entrada na Porsche. No outro dia, quando fui à F1, todos os pilotos vieram falar comigo com respeito. Não alcançamos o sonho final, mas faço o que mais gosto na vida a competir pela melhor marca do mundo e ainda há muito por conquistar. O livro está aberto, os objetivos estão traçados.”

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