24h de Le Mans: Brilhou a geração de ouro

Por a 13 Junho 2022 15:29

A geração de ouro é uma expressão que ficou celebrizada no futebol, referindo-se à seleção nacional que se destacou no mundial sub-20 de 89 e 91. Mas é tempo de começarmos a falar da geração de ouro do desporto motorizado português. Ver dois pilotos portugueses a venceram as classes mais renhidas da 90ª edição das 24h de Le Mans e ouvir a portuguesa graças à vitória da Algarve Pro Racing deve fazer-nos pensar que de facto o talento português não pode nem deve ser menosprezado.

Foram vitórias “à portuguesa”, daquelas que parecem fáceis, mas que exigem muita garra, determinação e vontade. Isso nunca terá faltado a todos os nossos representantes lusos em Le Mans, que já nos deram alegrias no passado, nem tão pouco talento. Mas agora os nossos pilotos já não escondem a vontade de vencer as grandes provas. Vão de peito feito, cientes que têm talento para isso e que estão inseridos em estruturas que lhes permitem assumir essa vontade. Mas o caminho para lá chegarem foi demorado.

O caso de Filipe Albuquerque. Nona participação em Le Mans, onde se estreou pela Audi, nos LMP1. O futuro de Albuquerque na Audi parecia risonho, pois deu nas vistas nas primeiras visitas a La Sarthe, apesar da sorte não querer nada com ele e o projeto Audi parecia perfeito… até terminar. O piloto de Coimbra teve de apostar nos LMP2 e começar novamente a mostrar o seu valor. Conseguiu-o com máquinas inferiores e pouco serão os que se lembram dos pequenos milagres que foi fazendo com o Ligier. Até que chegou finalmente o Oreca e as vitórias sucederam, até conquistar o título LMP2 no WEC ao que juntou as 24h de Le Mans em 2020. Foi uma caminhada longa, por vezes ingrata, mas Albuquerque conseguiu juntar o seu nome à lista dos vencedores. Foi em LMP2, classe secundária, mas naquele momento (e ainda agora) era a classe rainha ao nível da competitividade, qualidade da grelha (equipas e pilotos) e lutas em pista. Este ano o azar abateu-se sobre o seu carro nos primeiros segundos da corrida, uma forma de Le Mans nos lembrar que o erro está à espreita a qualquer altura e que não poupa nem sequer os melhores. Albuquerque foi sempre dos mais rápidos e provou que era, de facto um dos favoritos.

A história de Henrique Chaves é diferente. Mas nem por isso sem provações e dificuldades. Nos Fórmulas demorou a encontrar um lugar onde podia realmente mostrar todo o seu talento. Quando finalmente mostrou o que realmente valia na World Series Formula V8 3.5, o campeonato terminou e Chaves foi obrigado a partir em busca de novas conquistas. Mas apostou bem, chegou ao ELMS onde conseguiu mostrar que “tinha pinta” de piloto de endurance, ao volante de um Dallara da AVF by Adrián Vallés. Mas repensou a sua estratégia e apostou nos GTs onde sentia que podia ter mais hipóteses de convencer as grandes marcas e desde que o fez só tem acumulado vitórias. GT Open, GT World Challenge foram conquistados. Seguia-se o regresso ao endurance, desta vez nos GTs. A entrada no WEC aconteceu em cima da hora, uma vaga que surgiu e que foi preenchida pelo português, depois das boas indicações no ALMS e ELMS. Venceu em Spa e venceu em Le Mans. São muito poucos os que podem dizer isto, no ano da sua estreia no WEC, mas Chaves conseguiu-o com todo o mérito. Foi sempre dos mais rápidos e o seu ritmo nada ficou a dever ao de Marco Sorensen, campeão do Mundo de GT e seu colega de equipa. Se Chaves procurava destacar-se no mundo dos GT, essa tarefa tem sido feita com enorme sucesso. Soube reinventar-se, apostar as fichas nos campeonatos certos e tem feito uma trajetória ascendente digna de nota. É jovem e tem ainda muito tempo pela frente para nos dar alegrias.

António Félix da Costa também teve de enfrentar os típicos altos e baixos da competição automóvel. Era visto como o mais provável candidato à uma vaga na Toro Rosso em 2014, mas essa vaga foi entregue a Daniil Kvyat. O sonho da F1 caiu por terra e Félix da Costa teve de encontrar a motivação para continuar a provar o seu valor. Passou pelo DTM, apostou na Fórmula E, onde se estabeleceu e foi campeão, arriscou no Endurance onde descobriu a paixão pelas corridas de longa duração e por Le Mans. A duas primeiras participções nos GTE foram infrutíferas, mas a primeira visita nos protótipos deu um segundo lugar em LMP2, no ano em que Albuquerque venceu. No ano passado foi uma das estrelas, mas a sorte nada quis com ele. Este ano a sorte esteve do seu lado e fez, juntamente com a JOTA, uma corrida perfeita. As lágrimas no final foram as mesmas das de Albuquerque em 2020… Lágrimas de campeões que tiveram de lutar para conseguirem ser bem sucedidos num dos maiores palcos do mundo. Lágrimas de justiça por verem o seu talento devidamente reconhecido com um dos troféus mais desejados.

A juntar a isso tivemos a Algarve Pro Racing, equipa sediada no sul de Portugal que, apesar das dificuldades no inicio do ano, conseguiu montar um programa competitivo que permitiu à equipa festejar nos Pro AM. Apesar dos donos da equipa não serem portugueses, o espirito lusitano está lá, no desenrasque, na forma como encontram soluções e como conseguem fazer tanto, por vezes com menos recursos. Ouvir A Portuguesa em Le Mans foi um momento especial e foi graças à APR que pudemos ver a bandeira no topo do pódio em Le Mans

Albuquerque, Chaves e Félix da Costa fizeram-nos vibrar e mostraram-nos que esta talvez seja a geração de ouro do desporto motorizado nacional. Já vencemos Le Mans no passado, já fomos campeões no passado, mas nunca vimos tanta bandeira portuguesa no pódio de Le Mans como este ano e nunca vimos os nossos pilotos ganharem tanto em tão pouco tempo. São dos melhores do mundo e provam-no a cada corrida. São eles que nos mostram que o talento nacional chega longe, se apostarmos devidamente no desporto motorizado nacional. São eles que nos mostram que sermos portugueses já não é um handicap, mas sim um selo de qualidade. Graças a eles, o orgulho nacional cresce a cada corrida. São eles que vão inspirar novas gerações, tal como fizeram as várias gerações de ouro de outras modalidades que serviram de trampolim para que essas modalidades crescessem. São eles que nos ensinam que não temos nada a temer face aos outros, que se fizermos por isso, podemos chegar longe. Talvez seja aqui um ponto de viragem, talvez seja agora que olhemos para as corridas em Portugal com o devido cuidado. Porquê? Porque temos talentos que pertencem ao lado dos melhores do mundo. Esta geração de ouro provou-nos isso ontem.

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1 Comentário
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917/30
1 ano atrás

Estão de parabéns! 👏

Last edited 1 ano atrás by Haters...coisa mais estúpida não há!
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