Henrique Chaves: O balanço de 2020

Por a 17 Novembro 2020 12:00

Henrique Chaves fez uma das melhores épocas da sua carreira e garantiu o título do GT Open, ao lado de Miguel Ramos. O jovem piloto fez o balanço da época em que trouxe para Portugal mais um título.

Uma conquista brilhante. Henrique Chaves mostrou ao mundo a sua qualidade e velocidade que, aliada à experiência de Miguel Ramos, resultou numa fórmula invencível que rendeu o título absoluto no competitivo GT Open.

Chaves recordou o início da dupla lusa, que dominou durante toda a época:

“O primeiro contacto com o Miguel foi nos FIA Motorsport Games. Naquela altura ele contactou-me para fazer a prova e fui com todo o gosto. Creio que fizemos uma boa prestação, apesar de alguns azares que tivemos. Mas tudo correu bem entre nós e o Miguel ia para o trigésimo ano de carreira, queria ganhar o GT Open e sabia que a estrutura da Teo Martin dava todas as condições para tal. Ele gostou de trabalhar comigo eu gostei de trabalhar com ele e achamos que poderia ser uma combinação vencedora. No inicio, apesar do Miguel ser um piloto muito experiente, ainda não tinha conduzido o McLaren, Fizemos quatro dias de testes, dois em Portimão e dois no Estoril e isso permitiu que ele se ambientasse ao carro. Mas desde início que o objetivo passava por lutar pelo título. Sabíamos que ia ser difícil e a prova é que as duas formações pro com que lutamos até ao fim são estruturas muito fortes, Sabíamos que tínhamos tudo para ser campeões mas que não ia ser fácil.”

Não foi um título fácil de conquistar e foi preciso esperar pela última prova do ano para saber quem seria coroado campeão. Infelizmente a última prova ficou marcada por um comportamento reprovável da equipa adversária, que fez de tudo para evitar a vitória lusa. Um incidente entre Miguel Ramos e Vincent Abril acabou por atirar Ramos para fora de pista, o que levou a penalização a Abril. Um desfecho inglório para a dupla lusa:

“Foi um comportamento reprovável a todos os níveis por parte dos nossos adversários. Todos devemos saber perder, uns sabem melhor que outros. Mas ao mesmo tempo foi o momento mais alto da época, porque saibamos que íamos ser campeões. A corrida estava sob controlo, o Miguel já tinha aguentado um ataque e tínhamos o campeonato na mão. No final fez-se justiça e só foi pena não termos ido ao pódio, pois assim o Miguel tornava-se no piloto com mais vitórias no GT Open. Estragaram-nos a festa. Obviamente que ficamos um pouco irritados com a situação, mas sabíamos que na maioria dos campeonatos onde este tipo de incidentes acontece as penalizações são pesadas por isso fiquei tranquilo dentro do possível, mas custou-me não estar no pódio pois sabia que merecíamos estar ali. Tivemos de ser pacientes e esperar pela decisão. Claro que ainda há o recurso, mas não acredito que o desfecho seja diferente até porque eles usaram o carro #48 para nos travar em grande parte da corrida e isso não se faz.”

“Infelizmente estávamos à espera disso e montamos uma estratégia a contar com isso. Normalmente quando a dupla de pilotos está com andamentos equilibrados paramos sempre no início da janela para a troca de pilotos, pois pode haver situação de Safety Car que pode prejudicar. Quando há um piloto ligeiramente mais rápido que o outro tentamos sempre ir até ao fim da janela para troca. Neste caso eu estava ligeiramente mais rápido que o Miguel, mas decidimos parar logo no início da janela, porque temíamos que a equipa adversária criasse um Safety Car depois do carro #18 parar, o que nos prejudicaria. Creio que os apanhamos de surpresa e eles passaram a usar então o #48 para nos atrasar. Apesar destas jogadas fez-se justiça.”

Se já no ano passado, a aposta nos GT se tinha revelado acertada, este ano ficou claro que o caminho escolhido por Chaves foi o ideal e a mudança de mentalidade do piloto trouxe frutos:

“Estou a gostar muito desta minha passagem pelos GT e acredito que é uma aposta ganha. Gostei muito do meu ano nos LMP2, mas não temos as marcas envolvidas diretamente e era necessário explorar isso e os GT têm muitas marcas associadas. Creio que foi a escolha acertada. O primeiro ano não correu muito bem e embora tenha encarado inicialmente este desafio com cautela, com a mentalidade de aprender um mundo novo, depois da primeira corrida, mudei logo o foco e disse que queria ser campeão. Lutamos por isso, não conseguimos, e este ano mudei a minha mentalidade para poder ter mais hipóteses ainda. Mudei o meu mindset no geral, não só em pista, mas também na gestão do fim de semana no geral, que me permitiu estar muito mais forte dentro e fora de pista. Trata-se de ter confiança na equipa, no meu engenheiro e confiar que tudo vai correr bem. Sei o que fazer para estar rápido, sem ter a necessidade daquela volta extra para ganhar a confiança ou de um jogo de pneus extra para entender onde está a aderência na pista. A pole que consegui foi apenas com um jogo de pneus. E o GT Open tem a particularidade de quem qualifica, faz o arranque e o outro piloto apenas entra no carro na corrida. Esta mudança ajudou-me a estar logo no topo nessa situação. Tenho 100% de confiança na equipa e só tenho de aplicar o feedback do dia anterior. Sinto- me mais confiante no geral.”

Quanto ao futuro, Chaves ainda não tem certezas:

“Eu ainda não sei o que vou fazer no próximo ano. Não sei se vou correr, tudo indica que sim mas não sei onde vou competir ainda e com quem. Os próximos meses vão ser decisivos e estamos em conversações com a TeoMartin e a McLaren. A aposta passa sem dúvida por manter-me nos GTs. Apesar desta situação com a pandemia e a economia não estar no melhor momento, tenho tudo para me manter a correr e estou confiante que para o ano estarei nas pistas a lutar por vitórias.”

A pandemia exigiu cuidados extra ao piloto, que continua a estar vigilante pois nunca se sabe que convite pode surgir:

“É algo que afeta sempre. Apesar dos ginásios terem voltado a abrir não voltei lá pelo facto de não poder arriscar apanhar o vírus, Estar com os amigos é também algo muito controlado, mas deu para conciliar tudo. Tive de fazer os testes todos os fins de semana antes das corridas o que se tornou algo chato. Agora é continuar com os mesmos cuidados pois podem surgir oportunidades de ultima hora e quero estar preparado para elas. “

Henrique Chaves acredita estar na melhor forma de sempre, apesar de sentir que tanto ele como Ramos poderiam ter alcançado mais vitórias:

“Em termos pessoais creio que nunca estive tão bem. Claro que gostava de ter feito mais poles, mas as pistas onde vamos permitem que se corte mais. Eu prefiro pistas em que temos a gravilha logo depois da linha e creio que aí conseguiria destacar-me mais. Fiquei muito contente com a minha pole em Monza e com a minha volta em Spa, que foi apagada por ter pisado a linha. Mostrei aos comissários que todos tinham feito o mesmo e que na volta seguinte melhorei uma décima naquele setor mesmo tento transposto a linha e não me tiraram essa volta, só tiraram a que dava a pole. Houve alguma incoerência nesse aspeto e parece que tal aconteceu só com o nosso carro, pois os outros também ultrapassaram os limites de pista e nada aconteceu mas no final tudo correu bem e isso sim é o mais importante. Conseguimos duas vitórias o que foi ótimo mas creio que poderíamos ter tido mais, até logo na primeira corrida, não fosse aquele Safety Car. Também em Monza podíamos ter vencido não fosse outra vez o Safety Car entrar de forma algo questionável. Conquistamos duas mas creio que podíamos ter cinco vitórias este ano, o que seria fantástico. Tentamos também aproveitar as paragens nas boxes para fazer o famoso undercut, impondo um ritmo forte nas primeiras voltas, aproveitando assim para passar carros e consegui fazer isso com sucesso. Tudo junto ajudou a conquistar o título.”

Num ano de ouro para o automobilismo nacional, Chaves sente orgulho e satisfação por poder juntar a sua conquista à de Filipe Albuquerque e António Félix da Costa:

“É sem duvida motivo de orgulho ter conquistado o titulo este ano. Apesar de ser um ano considerado mau, foi um ótimo para o desporto motorizado nacional. As vitórias do António Félix da Costa e o do Filipe Albuquerque e as boas prestações do Álvaro Parente estão à vista. Eu venci um campeonato, não com a mesma visibilidade claro, mas estou numa fase diferente e estou a começar o meu percurso e este resultado da-me ânimo e motivação para tentar chegar ao patamar onde eles estão.”

Uma época brilhante de um jovem piloto que já mostrou versatilidade, talento e velocidade. Há mais e melhor para vir por parte de Henrique Chaves.

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