Henrique Chaves: O balanço de 2019 e o futuro

Por a 31 Março 2020 15:15

Henrique Chaves foi um dos destaques de 2019. O jovem piloto mudou-se dos protótipos do ELMS para os GT, no GT Open, onde lutou pelo título até ao fim.

Chaves falou com o AutoSport sobre o presente e o futuro, começando por fazer o balanço da época 2019:

“Faço um balanço positivo, porque não podemos esquecer foi o meu primeiro ano de GT’s. Acho que me adaptei bem, tive bons resultados, fui regular e alcancei um 3º lugar num campeonato supercompetitivo em igualdade pontual com o 2º classificado. Obviamente que houve pontos negativos mas esses servem para aprender e evoluir.”

Chaves, que teve uma excelente adaptação nos LMP2, mostrando muito potencial, parece agora 100% focado nos GT´s:

Cada carro tem os seus desafios e adoro os carros de GT3. São muito giros de conduzir e o facto de haver um BoP ajuda a nivelar as máquinas para que o parafuso atrás do volante tenha um papel mais preponderante e quanto a isso sou muito a favor. Obviamente que os monolugares e os protótipos são sempre bem vindos, mas acredito que para já não é por aí o caminho. Talvez nos protótipos, mas GT’s são prioridade para já.

Cada máquina tem os seus segredos e Chaves vinha de uma realidade completamente diferente que exigiu mudanças:

A maior adaptação foi à travagem, pois os GT3 têm ABS, algo que nem os monolugares nem os protótipos tinham e por isso tive de “reaprender” como travar. Mas a teoria não foge muito da dos protótipos ou monolugares. A abordagem às curvas é também ligeiramente diferente porque mesmo os GT3 tendo muito downforce, têm menos que os protótipos, então a forma como entrava e saia da curva também tiveram de ser ligeiramente alteradas.”

O físico é uma parte fundamental do trabalho do piloto. Apesar da exigência física ser diferente, o jovem piloto não mudou muito a sua preparação:

“Em 2018 fiz corridas de 4h e em 2019 eram de sprint e por isso a exigência é diferente. Mas acredito que 4h de GT ou de protótipos são ambas bastante exigentes fisicamente. Em relação ao plano de treinos, não mudei muito, pois quando me preparo, preparo sempre para mais pois quanto mais perto do limite se anda, mais erros cometemos e tento evitar isso ao máximo no que diz respeito ao aspecto físico.”

Apesar do mundo do automobilismo estar em suspenso, quisemos saber quais eram os planos de Henrique Chaves:

Infelizmente é nessa situação que estamos, mas os planos passariam por lutar pelo título do GT Open e de participar nas 24h de Spa. Fazer mais algumas rondas do GT World Challenge Endurance também estava em cima da mesa, mas apenas isso, em cima da mesa.”

Com este período de quarentena os atletas de alta competição têm de se manter em forma como podem:

“Tento treinar em casa. A varanda não permite muitas aventuras mas dentro de casa há sempre espaço para treinar um pouco. Tenho feito bastantes horas de simulador também, o que ajuda a treinar o foco, reflexos e mantém também algum ritmo de competitividade. Mas a verdade é que desde a última prova do último ano que não me sento num carro de competição e quando voltar as corridas vai ser um pouco complicado mas fazemos o que é possível.”

Chaves esteve aos comandos de um McLaren da Teo Martin Motorsport, que tem ligação privilegiada com a McLaren. A porta da equipa de Woking parece abrir-se aos poucos:

“Há contactos. Se é possível ou não só futuro o dirá. Da minha parte irei dar tudo o que tenho em pista para mostrar o meu valor.”

Tendo corrido ao lado a lado com o Verstappen e o Leclerc, fica claro que as oportunidades para os pilotos portugueses não são as mesmas, com uma aposta demasiado forte no futebol:

Há muito talento em Portugal no desporto automóvel e se houvesse um apoio mais forte para o nosso desporto acredito que teríamos muitos mais pilotos a provar aquilo que valem. “

E quanto a mudanças para alterar esta situação, Chaves deixa algumas ideias:

“As televisões e em especial os canais dedicados ao desporto podiam transmitir mais corridas. Estou cansado de passar em canais de desporto e ver programas que estão a repetir e isso para mim não me faz sentido. Por vezes o problema de algumas pessoas é acharem que o nosso desporto não e mais que dar voltas a uma pista, mas é muito mais que isso e se isso fosse explicado e mostrado em programas dedicados ao automobilismo tenho a certeza que mais pessoas iriam aderir. “

Um dos assuntos que poderiam ser abordados nos ditos programas são as diferenças entre corridas sprint e endurance, duas realidade que o piloto conhece bem:

Sim são corridas muito diferentes. No endurance tens de pensar mais à frente, pois pode aparecer um carro para dobrar e caso estejas com dificuldade em ultrapassar o teu adversário direto, pois o ritmo é muito parecido ao nosso, podemos usar essa dobragem a nosso favor. É aí que a inteligência conta. Na poupança de combustível também, porque se a fizermos bem, podemos parar uma volta mais tarde ou até mesmo ganhar a posição na box, porque estamos menos tempo parados para atestar. O contacto com os engenheiros tem uma preponderância maior e é a capacidade de aplicar o que nos é pedido que se ganham ou perdem corridas.”

Outras das competições em que a estratégia é importante é a Fórmula E, campeonato que Chaves conhece bem, servindo de comentador televisivo:

“Há vários aspectos que podem influenciar uma corrida de Formula E. Uma delas é a gestão da temperatura das baterias e mesmo da bateria durante a corrida. Ainda este ano o António Félix da Costa, depois de fazer uma corrida espectacular e chegar à primeira posição teve de abrandar por excesso de temperatura nas baterias. Não por erro dele, mas sim por informação errada que lhe foi passada pela equipa.”

Têm de ativar o “atack mode” 2 ou 3 vezes (houve uma corrida este ano que tiveram de fazer a ativação 3 vezes) e aí sim joga-se muito da estratégia. Quando atacar ou quando defender. Estas zonas estão geralmente fora de trajetória e perder tempo é inevitável pelo que ir no momento certo pode ter um papel fundamental. Depois ainda há a estratégia dentro da própria equipa. E um exemplo claro é a DS Techeetah, que tem 2 pilotos quase sempre ao mesmo nível e decidir que fica a frente de quem é complicado, mas tem de haver essa decisão. No México vimos desentendimentos e a meu ver podiam ter ficado ambos no pódio se não tivessem perdido tanto tempo com indecisões.”

Na F1, Chaves acredita que Max Verstappen tem capacidade para levar a melhor sobre Lewis Hamilton… mas apenas em corrida:

“Em corrida acredito que sim. Com pista molhada também acho que sim. Em qualificação o Max, só mesmo nos seus melhores dias.”

Quanto a Charles Leclerc, acredita que pode ser campeão mas…:

“Leclerc pode ser campeão sim, mas primeiro que o Verstappen não acredito.”

Quanto ao sucessor de Hamilton, Verstappen parece ser o candidato mais provável, sendo apontado por muitos como futuro multicampeão. Chaves acredita nesse cenário:

“Infelizmente neste desporto dependemos muito da máquina, mas acredito que vai ser múltiplo campeão do mundo sim. Se são seguidos não sei, mas eu preferia que não. Gosto de incerteza e de corridas ao estilo de São Paulo 2019.”

Chaves tem de esperar que a competição regresse mas quando voltar às pistas, se mantiver o nível evidenciado nas duas últimas épocas conseguirá certamente conquistar pódios e vitórias. Mais um talento português a dar cartas lá fora.

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas Autosport Exclusivo
últimas Autosport
autosport-exclusivo
últimas Automais
autosport-exclusivo