Fórmula E: Regresso dramático à competição

Por a 1 Março 2021 14:51

A Fórmula E congratula-se por ser uma das competições mais imprevisíveis do desporto motorizado. No arranque da época na Arábia Saudita, fez questão de confirmar isso, com um fim de semana repleto de emoção e drama.

O pelotão de 12 equipas e 24 pilotos seguiu para Diriyah, para as primeiras duas corridas do ano, ambas à noite, uma estreia neste campeonato. Seiscentos aparelhos de iluminação LED de alta potência rodearam a pista com cada um dos projectores LED a ter um consumo de energia total de energia de 900.000W. Um sistema de iluminação semelhante utilizando lâmpadas de halogeneto metálico, teria um consumo de energia de cerca de 1.500.000W, o que signifioua uma poupança de energia de aproximadamente 600.000W ou 40%.

Mas a novidade mas ansiada era o regresso da competição, com António Félix da Costa (DS Techeetah) a defender o título conquistado em 2020. O piloto português seguiu com a missão de começar a defesa do título da melhor forma, apesar da DS Techeetah apenas introduzir o novo carro para este época na próxima jornada. Como se tratou de uma jornada dupla, o formato foi diferente do habitual, com um treino na quinta seguindo-se treino, qualificação e corrida na sexta, tal como aconteceu no sábado.

Mercedes dominadora na sexta-feira

Os treinos livres de quinta e sexta indicavam uma tendência clara. A Mercedes estava forte e Nyck de Vries era o piloto em destaque, tendo liderado as duas sessões, onde os homens da DS Techeetah estiveram muito discretos.

De Vries manteve a toada na qualificação e conseguiu uma fantástica pole para a primeira corrida do ano. Os grupos de qualificação ficaram definidos pela ordem final do campeonato do ano passado. Ou seja António Félix da Costa estava no primeiro grupo (o menos desejado), e a estratégia da equipa não foi a melhor, com os dois carros da DS Thecheetah a saírem muito tarde e muito juntos o que prejudicou a performance dos pilotos. Oliver Rowland ( Nissan e.dams) foi o melhor do grupo 1 e o único a ter um tempo competitivo suficiente para almejar a Superpole.

Os pilotos do Grupo 2 colocaram tempos bem mais rápidos. Robin Frijns (Envision Virgin Racing) não foi para a pista, com o seu monolugar a não ser reparado a tempo, depois do acidente no segundo treino livre. Nyck de Vries fez uma volta espantosa e garantiu o melhor tempo, enquanto os restantes pilotos deste grupo ganharam lugar no top 6. Do grupo 1, apenas Rowland se mantinha com vaga nos seis primeiros, com Max Gunther ( BMW i Andretti Motorsport) , André Lotterer (TAG Heuer Porsche Formula E Team), Mitch Evans e Sam Bird (Jaguar Racing) a ficarem no topo da tabela.

A cada ida para a pista novas caras surgiam no top6, menos no primeiro lugar onde De Vries se mantinha. Assim, para a Super Pole tínhamos De Vries, Edoardo Mortara (ROKiT Venturi Racing), Pascal Wehrlein (TAG Heuer Porsche Formula E Team), René Rast (Audi Sport ABT Schaeffler), Alex Lynn (Mahindra Racing) e Mitch Evans que teve de se preparar à pressa para ir para a pista, ele que já não contava ir para a Superpole. Nico Muller (Dragon / Penske Autosport), Tom Blomqvist (NIO 333 FE Team) e Nick Cassidy (Envision Virgin Racing) foram penalizados por terem melhorado o seu registo com bandeiras amarelas em pista e apesar de terem conseguido um lugar no top seis, ficaram fora da Superpole depois das penalizações atribuídas.

Na segunda fase da qualificação, Evans foi o primeiro a ir para a pista, mas um toque no muro complicou a tarefa do piloto da Jaguar. Lynn, Rast e Wehrlein ocuparam temporariamente o primeiro lugar, mas de Vries com uma volta espetacular fez a pole e deixou a concorrência a mais de 0.6 seg. Félix da Costa tinha de largar de 18º.

De Vries imperial

De Vries era o favorito e materializou o potencial demonstrado com uma excelente vitória. O piloto Mercedes largou bem e ficou logo com vantagem, seguido de Wehrlein e Rast . Félix da Costa caiu para 20º lugar nos primeiros metros da prova.

Wehrlein foi-se aproximando de De Vries com Rast a ver a luta à distância, ao mesmo tempo que Bird dava nas vistas no Jaguar, ao aproximar-se do top6.

De Vries queixava-se que estava a gastar muita energia embora mantivesse a toada atacante. Rast aproximou-se da frente e tratou de passar por Wehrlein, subindo ao segundo posto, mas na frente o Mercedes parecia estar um furo acima da concorrência. Mais atrás, Félix da Costa aproveitava da melhor maneira o Attack Mode (AM) tendo subido para a 17ª posição, iniciando uma espetacular recuperação.

Rast começava a evidenciar-se e chegava-se cada vez mais perto do Mercedes do líder, enquanto Wehrlein (com um ritmo pouco competitivo) ficava à mercê de Evans, com Mortara e Alex Lynn por perto. Mortara aproveitou o AM para ganhar duas posições, passando Evans e Wehrlein numa manobra espetacular, a melhor da prova.

O primeiro incidente aconteceu a 25 minutos do fim da corrida com Bird e Lynn a envolverem-se num incidente, que atirou ambos para fora de corrida, depois de Lynn ter “fechado a porta” a Bird, o que levou a entrada do Safety Car, com Bruno Correia a entrar em pista pela primeira vez este ano. Nesta fase Félix da Costa era 15º.

A 14 minutos do fim da prova, o Safety Car saiu, com de Vries a arrancar bem e a ganhar logo mais de um segundo a Rast, que tinha Mortara por perto. Da Costa ganhou mais uma posição, fixando-se no 14º posto. 

De Vries ia ao AM para assegurar o primeiro lugar, na mesma altura que Gunther não evitou um toque no muro, que levou à segunda entrada do Safety Car, ficando fora de prova. Félix da Costa ficava cada vez mais perto do top10, subindo ao 13º posto. Mortara aproveitou o andamento superior nesta fase, ganhando a posição a Rast e ficava assim com via aberta para atacar o líder.

A seis minutos do fim, o Safety Car saiu de pista e De Vries largou bem novamente, com Mortara sempre por perto. As posições na frente não se alteraram mais e De Vries selou a vitória, com relativa facilidade, seguido de Mortara e Evans fechou o pódio. Félix da Costa fez uma grande prova e subiu do 18º para o 11º lugar.

Sábado sorriu à Virgin… e à Jaguar

Se o dia de sexta foi da Mercedes, sábado foi completamente diferente com muito drama à mistura. Robin Frijns foi o mais rápido da sessão de treinos e António Félix da Costa ficou no top5.

A sessão ficou marcada por dois incidentes, um de André Lotterer perder o controlo do carro e bateu de forma violenta nas proteções com o seu Porsche e outro de Mortara, que teve uma saída de pista no final da sessão, já numa fase em que os pilotos treinavam as largadas, numa falha do sistema de travagem. Essa falha levou a uma investigação da FIA e à proibição dos carros com unidade motriz Mercedes (Mercedes e Venturi) de irem para a pista na qualificação, até ser encontrada a causa, problema que foi resolvido a tempo da corrida, mas que atirou os pilotos das duas equipas para o fim da grelha.

Depois do melhor tempo no treino, Robin Frijns, fez a pole para a corrida 2 em Diriyah. Com os Mercedes e Venturi fora de prova (Mortara foi ao hospital mas teve alta), tal como o Lotterer, apenas 19 lugares estavam em disputa. O grupo 1 apenas deu um potencial candidato a Superpole, pois Mitch Evans e René Rast, quando iniciaram a sua volta rápida já tinham visto a bandeira de xadrez, depois de uma volta de preparação demasiado lenta (as equipas arriscaram muito e os carros foram muito tarde para a pista). Oliver Rowland que liderava este “comboio”, passou a tempo, por uma nesga, e fez o melhor tempo.

No Grupo 2, onde estava António Félix da Costa, tudo decorreu dentro da normalidade. Oliver Turvey (NIO 333 FE Team) surpreendeu e fez o melhor registo, seguido de Félix da Costa, que errou no fim da volta, perdendo algum tempo. Alex Sims (Mahindra Racing), Lucas di Grassi (Audi Sport ABT Schaeffler), também subiam ao top6 enquanto Jack Dennis (BMW i Andretti Motorsport) ficou fora da dos seis melhores.

No Grupo 3, Sebastien Buemi (Nissan e.dams), Jean-Éric Vergne (DS Techeetah), Frijns e Blomqvist conseguiram lugares no top6, numa altura em que Félix da Costa ainda tinha vaga para a Superpole, mas seria difícil manter o lugar.

No final da primeira parte, os seis melhores que passaram à próxima fase foram Turvey, Muller , Bird, Blomqvist, Sérgio Sette Câmara (Dragon / Penske Autosport) e Frijns.

Na Superpole Muller ficou cedo fora das contas, com um erro a custar muito tempo, Bird também errou no setor 2 e não fez o tempo que gostaria. A discussão da pole foi entre Sette Câmara e Frijns, com o homem da Virgin a levar a melhor e a ficar com a pole. Félix da Costa largaria de nono.

Bird vence, Lynn apanha o susto de uma vida

Se Frijns parecia o favorito à vitória, a louca corrida 2 deu-nos Sam Bird como vencedor. Frijns largou bem, tal como Bird que passou Sette Câmara, instalando-se no segundo lugar. Félix da Costa manteve a posição depois de muita luta nas primeiras curvas e no final da primeira volta passou Sebastien Buemi, subindo para o oitavo lugar.

Na frente, Frijns ficava sob pressão de Bird, seguindo-se os homens da NIO e da Dragon Penske, com a dupla da DS Techeetah no seu encalço.

Frijns e Bird, antigos colegas de equipa, distanciavam-se da concorrência enquanto a “dança do Attack Mode” permitiu que Félix da Costa subisse ao sexto lugar, que pouco depois teve de ceder ao colega de equipa que com mais potência foi galgando posições até ao quarto lugar, com Félix da Costa ainda em sétimo.

Depois das primeiras idas ao AM, a luta na frente manteve-se, com Frijns e Bird na frente e Sette Câmara a gerir o andamento, sem capacidade para manter o ritmo, com o seu monolugar a não ser tão eficiente quanto o resto da concorrência. Vergne passou o brasileiro, subindo ao top 3, com Félix da Costa a fazer a segunda passagem pelo AM, numa altura em que eram mostradas bandeiras amarelas, com Jake Dennis a envolver-se num incidente com Pascal Wehrlein (que seria penalizado). Pouco depois tivemos Full Course Yellow (FCY) e nesta altura tínhamos Bird, Frijns, Vergne e Félix da Costa (novamente excelente recuperação) nos lugares da frente. No recomeço, Félix da Costa aproveitava o AM e passava para terceiro e colando-se à dupla da frente.

Frijns voltava a passar por Bird, numa grande luta a dois, com a dupla da Techeetah logo atrás.  Bird tentou nova ultrapassagem a Frijns, sem sucesso, ficando à mercê do piloto português e de Vergne, que não conseguiram passar pelo britânico.

Pouco depois, Félix da Costa pareceu demasiado otimista numa travagem e a luta com Vergne aqueceu muito, havendo até um toque entre ambos, sem consequência, mas o francês ficou mesmo com o terceiro lugar, perdendo tempo para os homens da frente.

A luta na frente continuava ao rubro, com Bird a passar de novo Frijns (manobra que acabaria por ser determinante) enquanto atrás, Félix da Costa se defendia de Sette Câmara que estava com AM. 

A 11 minutos do fim, Buemi teve um toque nas proteções da pista, pouco antes de um acidente entre Mitch Evans, Max Gunther e Alex Lynn, que levou à entrada do Safety Car. A corrida foi terminada prematuramente, com bandeiras vermelhas e o motivo ficou a saber-se pouco depois, com Lynn a aparecer com o carro de rodas para o ar, tendo sido levado para o hospital.

Com o final antecipado, Bird venceu, com Frijns e Vergne no top3. Félix da Costa foi quarto, mas como JEV não cumpriu o segundo Attack Mode obrigatório, foi penalizado sendo o português promovido a terceiro.

Foi um bom dia para a Jaguar e a Virgin que conseguiram suplantar a concorrência. A NIO e a Dragon estiveram muito bem, começando da melhor forma o ano, ao contrário da Porsche e principalmente da BMW que teve um fim de semana para esquecer. Para a Mercedes e Venturi foi um fim de semana de altos e baixos, com um primeiro dia fantástico e um segundo negro com a falha no software de travagem. Para a Audi foi também um fim de semana de sensações mistas apesar de René Rast ter mostrado muito potencial. A próxima prova será em Roma no dia 10 de abril.

Geral do campeonato por pilotos:

1 Nyck de Vries 32

2 Sam Bird 25

3 Robin Frijns 22

4 Edoardo Mortara 18

5 Antonio Felix da Costa 15

Geral do campeonato por equipas:

1 Jaguar Racing 40

2 Mercedes-EQ Formula E Team 36

3 Envision Virgin Racing 22

4 Dragon / Penske Autosport 22

5 Audi Sport ABT Schaeffler 19

António Félix da Costa – “Juntos e vamos lutar por trazer novamente este campeonato para Portugal!”

Foi um fim de semana sempre a evoluir para Félix da Costa. O piloto luso começou o fim de semana com pouco andamento e o carro precisava de melhorar. O português nunca perdeu o otimismo mostrando sempre que a equipa sabia onde estava a falhar. O final de sexta certamente obrigou a uma reflexão profunda, com a estratégia na qualificação a revelar-se errada. Mas no sábado tudo correu melhor e o veio o primeiro pódio. Duas corridas de recuperação, com um excelente andamento, grandes ultrapassagens e a esperança de mais e melhor:

” Conseguimos mostrar que estamos competitivos e impor um bom ritmo em corrida. Senti mesmo que poderia chegar ao 2º lugar, caso a corrida não tivesse sido interrompida, mas faz parte e o mais importante é que o Alex Lynn está bem e foi apenas um susto. Do meu lado, amealhámos bons pontos, num fim-de-semana que sabíamos que não ia ser fácil, visto que trouxemos o carro do ano passado mas em Roma, na próxima prova, vamos com toda a força com o nosso novo carro.”, referiu o piloto que fez questão de agradecer a todos os Portugueses os votos no fanboost, que lhe valeram potência extra nas duas corridas da Arábia Saudita: “é incrível, nos últimos dois anos venci sempre o fanboost, agradeço do coração este apoio dos portugueses. Acreditem que sinto não só com a potência extra em pista, mas também a força e apoio de tanta gente, que está comigo nos bons e maus momentos. Estamos juntos e vamos lutar por trazer novamente este campeonato para Portugal!”

Uma rivalidade cada vez mais acesa

Era inevitável que as duas estrelas da DS Techeetah se encontrassem em pista e que esse encontro desse faísca. Não se esperava que fosse logo à segunda corrida.

António Félix da Costa perdeu tempo numa travagem quando ocupava a terceira posição, ficando à mercê do ataque de Jean-Éric Vergne. A luta entre os dois foi acesa e resultou num toque. No final, as declarações de ambos mostravam que a conversa no debrief não será fácil.

Vergne disse:” Quando ele estava em Attack Mode deixei-o passar porque somos uma equipa e estamos a tentar ser o mais eficientes e não estávamos no mesmo modo de energia. Depois eu estava com mais energia pensei que ele me ia deixar passar , mas depois houve o toque e na última curva ele não travou, apenas tentou meter o carro e batemos. Precisamos de falar internamente e ver o que aconteceu. Acho que ele pensa que a culpa não é dele. Acho que a culpa não é minha, como disse, vamos discutir isto como adultos”.

Félix da Costa não estava contente também e fez questão de frisar que quando está errado é o primeiro a admitir:

Não vou dizer nada sobre isso e vamos falar internamente. Normalmente admito quando estou errado, olhei rapidamente para as imagens… vamos falar sobre isto e se estiver errado irei admitir, mas neste caso não estou convencido que esteja errado.”

O director da equipa da DS Techeetah, Mark Preston, descreveu as discussões no final da prova como “animadas mas construtivas”.

A situação na pista tornou-se confusa com o calor do momento”, disse ele. “Eles estavam obviamente em luta um contra o outro, o que não era o ideal, e não conseguiram ir atrás dos rapazes da frente de forma adequada”. Preston disse que Techeetah precisa de “reagir mais depressa” em tais situações, quando os dois, que já tiveram mais toques em pista no passado, estão a lutar juntos na pista. Sempre que há um novo cenário, é possível ver ambos os lados da história pelos pilotos”, disse ele. “Toda essa situação aconteceu em menos de uma volta, muito rapidamente. Tenho a certeza de que podemos reagir mais rapidamente. Mas a estrutura está lá para otimizar e isso é um bom exemplo do que teremos de melhorar nas próximas corridas, se voltarmos a ter essa situação”.

A Falha que custou caro à Mercedes

A Mercedes e a Venturi ficaram impedidas de ir para a pista na qualificação, por uma falha no sistema de travagem da unidade motriz Mercedes no Venturi de Edoardo Mortara, estrela da corrida 1.

Mortara sofreu uma falha nos travões no final da terceira sessão de treinos, numa altura em que se treinavam arranques. Mortara foi em frente na curva um, sem sinais de abrandar, suspeitando-se logo de uma falha de travões.

Com a sessão de qualificação a decorrer uma hora e meia após o treino, não houve tempo para a FIA e os engenheiros da Mercedes reverem o que aconteceu e por segurança, nenhum dos carros com as unidades motrizes da Mercedes foram para a pista (Mercedes e Venturi).

A travagem dos carros de Fórmula E ocorre através de sistemas complexos (que misturam travagem com sistema hidráulico e travagem regenerativa) que incluem puxar a patilha de regeneração para ativar a travagem regenerativa apenas no eixo traseiro. As patilhas que vemos no volante dos carros são acionadas pelos pilotos para que a travagem regenerativa ocorra (apenas no eixo traseiro). Quando um piloto trava com o pedal, além da travagem regenerativa, tem também a ajuda do sistema hidráulico de travagem no eixo dianteiro. É este sistema complexo que tem de ser gerido por software especializado. Além disso, as equipas realizam uma simulação extensa para elaborar uma estratégia de travagem para cada curva, baseada em objetivos energéticos, no tipo de curva que está a ser feita e na forma como essa travagem pode ser feita para recuperar o máximo de energia possível (algo que está regulamentado).

Antes da corrida 2, a Mercedes lançou um curto comunicado que dizia o seguinte:

“Primeiro e mais importante, estamos satisfeitos por Edo estar seguro e bem, após o seu acidente no FP3. A nossa análise desde então permitiu-nos compreender o que ocorreu e pôr em prática medidas adequadas. O sistema de travagem nos carros de Fórmula E é concebido de modo a que, se os travões dianteiros falharem, o sistema de travagem traseiro seja ativado como um sistema de segurança contra falhas. Neste caso, um parâmetro de software incorreto significou que o sistema de travagem traseiro não foi ativado como pretendido e que o sistema de travagem à prova de falhas não funcionou.

Corrigimos agora o problema de software e demonstrámos que o assunto foi resolvido. Como resultado, a FIA vai permitir que todos os carros com unidades Mercedes corram esta noite.”

Depois de um começo fantástico a Mercedes teve um grande susto, mas certamente não voltará a falhar neste capítulo e o potencial da unidade germânica foi claro.

FÓRMULA E: SAUDITAS REPELIRAM ATAQUE DE MÍSSEIS

Diz quem lá esteve que se ouviram barulhos de explosões no céu, por cima da zona onde se realizaram as duas corridas da Fórmula E, e segundo se sabe agora tudo teve a ver com um ataque de mísseis, que foram intercetados pelos sauditas. Notícias locais referem que uma casa ficou danificada devido aos detritos resultantes da explosão, ou explosões, mas não há notícias de alguém ter ficado ferido.

A Arábia Saudita tem mísseis Patriot, que se tornaram ‘famosos’ na primeira invasão do Iraque. Pelo que se percebe, o sistema de defesa funcionou como devido e ninguém esteve em perigo, mas esta situação revela muito do que é a constante situação de guerra em que o país se encontra. Um dos generais sauditas disse à Al Jazeera que o movimento rebelde iemenita Houthis foi responsável por este ataque. São muçulmanos xiitas e, portanto, arqui-inimigos da Arábia Saudita, que é sunita.

Não se pode deixar de dizer que a Arábia Saudita tem sido criticada internacionalmente pela sua abordagem aos Houthis no Iémen, pois há muito que bombardeia o país. Logicamente, não é possível saber se o ataque foi dirigido diretamente à Fórmula E, ou se tratou de uma coincidência.

O susto de Lynn

O acidente de Alex Lynn que motivou o fim prematuro da corrida surpreendeu pela espetacularidade das poucas imagens que foram tornadas públicas.

Mas Mitch Evans, também envolvido no incidente, explicou o que se passou. O piloto da Jaguar foi o primeiro a chegar a Lynn e deu a sua visão do que aconteceu:

Foi um acidente feio. Basicamente, eu estava a defender-me do Alex para a curva 18 e ele estava perto do muro. Ele não levantou o pé. Havia espaço? Não tenho a certeza, preciso de ver a repetição. Espero que houvesse e que eu não tenha nada de mau. Mas ele tocou na minha roda traseira e o carro levantou. Eu falei com ele. Ele parece estar bem, mas foi ao hospital por precaução para se certificar de que não há nada depois de o choque ter passado. Não foi um momento agradável. A certa altura, consegui vê-lo acima de mim. Vi-o bater na proteção e fui ter com ele para me certificar que ele estava bem. Nunca se quer ver esse tipo de coisas. Ele é um amigo.”

“O carro está destruído”, disse Dilbagh Gill, chefe da Mahindra . “A monocoque ficou esmagada, o roll hoop danificado e o Halo profundamente danificado e arranhado. O acidente não foi capturado na televisão, pelo que havia alguma incerteza quanto ao que tinha acontecido ao Alex”, disse Gill. “Ele respondeu no rádio que estava bem. Ele bateu com as pernas no volante, por isso as patilhas de regeneração estavam partidas e ele tinha os joelhos doridos”.

“Ele está menos dorido do que o que esperava”, disse Gill. “Ele não teve de tomar analgésicos e embarcou no avião de volta para Inglaterra, por isso as coisas parecem bem”.

Os melhores e os piores

Alta Voltagem

Mercedes – Podia ter sido um fim de semana em grande, com um passo importante na luta pelo título. A Mercedes começou o ano da melhor maneira com uma sexta-feira fortíssima onde dominou as operações por completo, graças à boa forma de Nyck de Vries. Uma exibição que fez lembrar a Mercedes da F1 mas que não pôde ser repetida no sábado devido ao incidente de Edoardo Mortara. Mas ficou o aviso à concorrência… a Mercedes tem muito potencial.

DS Techeetah – Os campeões não começaram, muito bem na sexta, com um andamento não muito forte, em relação ao que se espera da melhor equipa da Fórmula E. Mas no sábado subiram o nível e encontraram as soluções para tornar o carro mais competitivo, conquistando assim o primeiro pódio do ano. Excelente recuperação da equipa, que se despediu assim do carro de 2020. Se a máquina antiga dá para ir ao pódio, estamos ansiosos por ver a nova em ação.

Virgin – Seguindo o mesmo raciocínio usado com a DS, temos de destacar a Virgin que na sexta feira não foi competitiva, conseguindo encontrar soluções para melhorar e lutar pela vitória no sábado. Um salto qualitativo tremendo que permitiu acumular muitos pontos depois de um primeiro dia a zeros.

NIO / Dragon – A Dragon tinha sido das mais rápidas no teste em Valência, mas não se esperava que mantivessem a toada no arranque do campeonato. Mas tanto a Dragon como a NIO surpreenderam pela positiva com um bom andamento, em especial no segundo dia. Se até as equipa menos fortes têm capacidade para andar na frente, está garantida uma época em grande.

Nyck de Vries – Excelente sexta, dominada por completo pelo piloto holandês que saiu de Diriyah lider do campeonato.

Sam Bird – o único a vencer em todas as épocas de Fórmula E. Começa da melhor forma a parceria com a Jaguar e mostrou que não perdeu a qualidade e a garra que o caracterizam.

Robin Frijns – Boa corrida no sábado, depois de uma brilhante qualificação. Frijns mostrou que a Virgin continua a ser uma equipa a ter em conta.

Edoardo Mortara – Apesar de ter apanhado um grande susto e ter ficado dorido no sábado, foi uma das estrelas de sexta com uma excelente corrida e uma ultrapassagem fenomenal, provando que a Venturi pode também ser uma ameaça.

António Félix da Costa / Jean-Éric Vergne – Não é à toa que são campeões e mostraram que estão em forma. A luta entre ambos vai ser um dos pratos fortes deste campeonato.

Curto Circuito

BMW – Duas corridas, zero pontos. Desistências, andamento não muito vistoso e no geral um mau fim de semana para a equipa que supostamente se quer despedir em grande.

Mercedes – Dos dois lados da moeda. Nunca é bom quando uma equipa é impedida de ir para a pista por motivos de segurança. A Mercedes mostrou potencial, mas esta falha foi grave.

DS Techeetah – Também dos dois lados da moeda. Depois da experiência do ano passado seria de supor que as regras dentro da equipa estivessem esclarecidas e não fosse preciso ver novamente a sua dupla aos empurrões em pista. O espetáculo agradece.

Porsche / André Lotterer – Uma prestação fraca da equipa alemã, de quem se esperava mais este fim de semana. Lotterer ficou a zeros e valeu Wehrlein para trazer alguns pontos.

Dois acidentes graves – Dois sustos grandes, com dois pilotos a visitarem o hospital, felizmente apenas por precaução. Falhas nos sistemas de travagem e carros pelo ar não são habituais nestas competições. Que se tirem as devidas lições.

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