‘Estórias do Rali de Portugal: O DIA DE ANTÓNIO RODRIGUES


Para António Rodrigues, o dia 7 de Março de 1984 terá certamente um lugar especial nas suas memórias. O piloto português, acompanhado por José Cotter, realizou durante a etapa inicial do Rali de Portugal, em plena Serra de Sintra, uma das mais brilhantes atuações da sua carreira. Dias antes da prova,

Rodrigues foi levantar o seu novo brinquedo a Alfragide: um Lancia 037. Fez um primeiro teste na Lagoa Azul, ficando logo aí entusiasmado com o potencial do carro. Na primeira passagem pela Lagoa Azul, fez o nono tempo, atrás dos pilotos oficiais e, a partir daí foi ganhando confiança, dando a todos os espetadores presentes, a alegria de ver um português intrometer-se nas disputas dos pilotos de fábrica. Rodrigues chegou a fazer um segundo tempo à geral, terminando a primeira etapa no 7º lugar atrás dos pilotos da Lancia, da Audi e do piloto do Renault 5, Jean Ragnotti. A falta de material levou o piloto a abdicar de disputar as restantes etapas em terra, pondo termo a uma promissora prestação.

Esta é talvez a história mais conhecida – e reescrita – da vida de piloto de António Rodrigues. Passou-se durante a primeira etapa do Rallye de Portugal/Vinho do Porto de 1984 e bem que pode resumir-se de uma forma muito simples: ‘Ele e os outros… Lancia’: “Fui buscar o carro na véspera. Era um ‘Evo 1’, que tinha sido o carro de treinos do [Markku] Alen. Nunca tinha feito uma prova. Consegui-o por intermédio do Domingos [Piedade], que intercedeu junto do [Giorgio] Pianta [diretor da equipa Lancia no WRC]. Mal andei com o carro antes do rali, apenas umas voltas com o Pianta ao lado, que me explicou um pouco do que era o carro.”

Mas, final, que carro era este? “Era um Lancia 037 Rallye, talvez o carro mais fabuloso que alguma vez guiei. O Pianta disse-me logo que era um verdadeiro carro de corridas, uma espécie de ‘fórmula’ e que tinha que ser tratado com muito cuidado e muita precisão. Nada de exageros.”

Porém, na manhã daquele dia 7 de março de 1984, logo nas classificativas de Sintra, António Rodrigues não quis saber para nada dessas recomendações… e tratou de andar a fundo “pelo meio do público, que ia abrindo passagem à minha aproximação. Parecia que estávamos a rodar dentro de um funil. Nem tínhamos a verdadeira noção do nossos andamento e só no final, ao compararmos com os temos dos outros Lancia, percebemos que estávamos a andar ao mesmo nível deles. Mas, para isso, tinha que passar sempre a fundo!”

Quem eram os ‘outros Lancia’? Eram, antes de mais. “Evo 2, ao contrário do nosso, que era um ‘Evo 1’.” E tinham ao volante nomes do calibre de Markku Alen, Henri Toivonen, Attilio Bettega e Miki Biasion, este da Jolly Club: “Cheguei a fazer o 2º tempo, atrás do Alen [Lagoa Azul, 2m16s contra 2m15s] e cheguei a empatar com o [Hannu] Mikkola e o [Walter] Röhrl [que corriam com o potente Audi Quattro S2].” De tal forma Rodrigues deu nas vistas dos responsáveis pela Lancia que, a certa altura, em especial depois do abandono de Toivonen, “vieram ter comigo, a perguntar-me aquilo de que eu precisava. E o que mais precisava eram pneus decentes, de perfil mais baixo, para ter maior velocidade de ponta. Não hesitaram e deram-me então os pneus, mal eram retirados dos seus carros, pois eles usavam um jogo por cada classificativa.”

Mas o destino de António Rodrigues nesse Rallye de Portugal/Vinho do Porto estava traçado desde a partida: “Nunca foi nossa intenção fazer o rali todo. Apenas a primeira etapa, para mostrar o carro e os nossos patrocinadores.” Por isso, na chegada à Póvoa do Varzim, a dupla Rodrigues/José Cotter decidiu deixar a prova, apesar do brilharete que vinha fazendo: “Esta foi a melhor opção. Não estávamos preparados para continuar.”

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