Opinião: George Russell não foi vilão em Ímola

Por a 20 Abril 2021 15:45

Ímola começa a ser um destino pouco apreciado por George Russell. As duas visitas ao traçado italiano redundaram em dois dos episódios mais negativos da sua carreira na F1.

Se recordarmos a primeira passagem de Russell por Ímola, é impossível não nos lembrarmos da imagem do britânico sentado, de capacete colocado, a lamentar o grave erro, cometido sozinho, que resultou na desistência quando era décimo.

Russell admitiu na antevisão da prova que aquele tinha sido o momento mais baixo da sua carreira até então e que faria tudo para apagar a má imagem deixada. Mal sabia o que lhe estava reservado.

Russell voltou a destacar-se, quer no sábado quer no domingo, tendo conseguido subir ao décimo lugar. O britânico estava a fazer uma excelente corrida até que chegou o momento que virou a prova do avesso. Russell tentou passar por um demasiado lento Valtteri Bottas que seguiu a trajetória normal, “apertando” o piloto da Williams, o que o levou para a zona húmida da pista. A aderência era significativamente menor, o que resultou num pião que atirou ambos os pilotos para fora de pista. O que se seguiu foram momentos de que Russell não se orgulhará, indo confrontar um colega de profissão depois de um acidente grave.

Também pouco motivo de orgulho trarão as declarações depois da corrida, atirando as culpas para Bottas, por não ter “respeitado as condições da pista” provocando o incidente. A partir daí foi uma espiral descendente para o jovem britânico, que ontem colocou um ponto final no assunto, com um pedido de desculpas público.

A sondagem feita pelo AutoSport deixa bem claro que os leitores consideraram Russell culpado pelo acidente. 44% dos votos acusam o #63 de ser o principal responsável pelo acidente. Mas a minha opinião é ligeiramente diferente.

O que Russell fez, faria outro piloto com sede de vitórias. Russell estava já nos pontos mas queria mais. Com um Mercedes à sua frente não se atemorizou e arriscou. Talvez tenha pensado que era uma oportunidade de se afastar de Bottas, para aguentar um possível contra-ataque do finlandês quando a pista secasse mais. Talvez tenha sido apenas o impulso de passar um carro mais lento. O que é certo é que Russell não quis saber da sua situação contratual, de quem ia à sua frente. Apenas tentou uma manobra, aproveitando a oportunidade. Bottas fez a sua parte e defendeu a posição, sendo justo (como sempre é) e dando espaço suficiente. Incidente de corrida, algo confirmado pelos comissários.

O que se seguiu depois poderá ter levado a críticas, mas eu vi um pouco mais do que um piloto a tentar justificar da pior forma o que aconteceu. Vi um jovem que está farto de andar nas últimas posições, que tentou o seu momento de glória e que respondeu de cabeça quente. Perdeu a razão, mas mostrou a emoção de um piloto que quer mais. Teria sido muito mais fácil para ele não incomodar os “patrões” e ficar atrás de Bottas. Mas tentou defender a sua equipa, tentou mostrar a sua valia. Mas mais que isso, mostrou que é um verdadeiro piloto de F1. Alguém disse uma vez que “se não se ataca um espaço que existe, não se é um piloto de competição”… Russell foi um verdadeiro piloto.

Para piorar a situação, Toto Wolff apontou o dedo a Russell de uma forma pouco elegante. São raras as vezes que podemos olhar para as reações de Wolff e questionar a sua postura, mas Ímola foi também um ponto baixo para o austríaco. A sua futura estrela fez o que qualquer piloto digno desse nome faria, mas ele afirmou que Russell tem ainda muito a aprender, deixando no ar que devia ter mais cuidado ao ultrapassar um Mercedes. É certo que a frustração de perder a corrida e ver um carro destruído terá falado mais alto, mas ficou a ideia de que Wolff pretendia que Russell levantasse o pé, numa equipa onde sempre se defendeu a liberdade para os pilotos lutarem entre si.

Russell já provou que tem tudo para ser uma estrela no futuro. Tem talento, velocidade, inteligência e uma sede tremenda de vencer. Tem também uma postura exemplar, defendendo a sua equipa dentro e fora de pista, com um discurso eloquente, com uma classe tipicamente britânica. Perdeu a cabeça em Ímola mas retratou-se de forma correta. Não será este episódio que vai manchar o que é até agora uma passagem exemplar pela F1.

Apenas um reparo. Já não é a primeira vez que Russell claudica num momento crucial. Algumas vezes por culpa própria, outras vezes por azar puro, o britânico tem tropeçado em momentos importantes. Não me parece que tenha falta de capacidade para gerir a pressão. Será antes o caso de ir com demasiada “sede ao pote”, de querer muito ter sucesso. Não será fácil para um piloto que “limpou tudo” nas categorias de iniciação, contentar-se com migalhas.

Em resumo, o que vi de Russell em Ímola fez-me ter mais respeito por ele. Arriscou, tentou ser feliz, mas não se deu bem como tantas vezes acontece nas corridas. Reagiu mal, mas merece “o desconto” tendo em conta a forma como se tem comportado até agora. E, sendo totalmente honesto, gostei de ver a reação. Não defendo aquele tipo de comportamento, mas ao menos vimos que Russell tem sangue na guelra, o que é fundamental para ser campeão. Não foi o melhor dia do britânico, mas na minha opinião, o erro não foi tão grave quanto se pintou. Russell não foi vilão. Mostrou o lado mais puro das corridas o que é cada vez mais raro de acontecer.

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can-am
can-am
2 anos atrás

A manobra teria alguma lógica se a pista estivesse seca.
Agora com a margem do asfalto com aderência, limitada a uma estreita faixa central,era arriscar muito.Too much. A culpa é do jovem mas isso faz parte das corridas. Aprende-se. Só talvez um Vestappen ou um Hamilton tivessem mãozinhas para segurar uma máquina naquelas circunstâncias

no-team
2 anos atrás

O problema, na minha opinião, foi ver o Russell tentar tornar o Bottas num vilão. O incidente pareceu-me natural, penso que o Russell foi traído pelas especificidades do traçado, imola é bastante estreito, no momento da ultrapassagem a alta velocidade virou demais para a esquerda e pisou a relva, o que automaticamente o levou a perder o carro. Acontece aos melhores. Já a forma como lidou com a situação é que foi bastante pobre. Primeiro a quente ainda na pista, depois através das redes sociais já a corrida tinha terminado há algum tempo, só no dia seguinte surgiu a retratar-se… Ler mais »

no-team
Reply to  no-team
2 anos atrás

*virou demais para a direita, assim é que é

831ABO
831ABO
2 anos atrás

Não, de facto o erro não foi grave. Com um tecto orçamental limitado, duas equipas ficaram com os carros destruídos, sem possibilidade de recuperação, por causa da precipitação de um piloto. Uma das equipas está na penúria, a outra ficou com o programa de desenvolvimento para esta época comprometido. Nada de grave. Como diziam os meus séniores, «pimenta no ** dos outros é refresco».

Last edited 2 anos atrás by 831AB0
Scb2
Scb2
2 anos atrás

Concordo em grande parte com o texto: é um erro de quem tem vontade de ganhar, viu a oportunidade e tentou. Com mais experiência vai evitar erros destes. A reação dele é que foi desproporcionada. Mesmo que tivesse razão, após um acidente daquele impacto, não é altura de tirar satisfações. Esteve mal aí muito mal. Mas tinha a cabeça quente, coisa que Toto Wolf não tinha. Tinha era azia e não tinha nada que descarregar e ameaçar outro piloto, da sua escola de pilotos ou não.

*RPMS*™
2 anos atrás

Mas mesmo que seja vilão, é um vilão muito rápido.
Errar todos erram, Hamilton errou nesta corrida, Verstappen já errou noutras, acontece.
Agora o que nunca é demais lembrar é que Russell num Williams estava a tentar ultrapassar um piloto que estava num…Mercedes!

Cumprimentos

bravojohny
bravojohny
2 anos atrás

Concordo com a opinião.

@00@
@00@
2 anos atrás

A manobra tem sempre lógica. Estes novos observadores de corridas sejam lá elas quais forem (não apenas F1), não têm memória. Acho muito estranho um tipo que se diz “exemplar” e ético, estar sempre a reclamar em surdina, sempre que as coisas não lhe correm de feição. Do Bottas não falarei, não é preciso. Simplesmente não devia estar naquele carro. Falo do Hamilton, que ainda outro dia ao ser ultrapassado pelo Verstappen, disse de imediato via rádio, “ingenuamente” que ele tinha ultrapassado os limites da pista. Graças a Deus que na Fórmula 1 actual ainda há Verstappen… Leclerc… e George… Ler mais »

Scuderia Fast Turtle
Scuderia Fast Turtle
Reply to  @00@
2 anos atrás

Mas alguém ultrapassa o Hamilton e o o Hamilton diz que ele foi melhor?

O fez batota ou é o carro que é batoteiro ou é a Mercedes que não ta com o carro a cem por cento.

Mea culpa, jaimé.

Scuderia Fast Turtle
Scuderia Fast Turtle
2 anos atrás

Mas qual defesa do bottas??

Ninguém faz aquela curva sempre rentinho a linha. Vejam os vídeos on-board do Hamilton por exemplo. Ultrapassou por ali e todos fizeram igual.

Aquela semicurva é feita como o bottas fez. Aliás há um vídeo do Hamilton a ultrapassar já não sei quem e o Hamilton ficou com muito menos espaco e não se espetou sozinho.

Russel pela sua falta de experiência assustou se sozinho e fez asneira.

manuel moita
manuel moita
Reply to  Scuderia Fast Turtle
2 anos atrás

Anda tudo cego com o Russel e o Verstappen vamos a ver daqui a 6 meses o 2 ia ficando de fora sozinho rápidos são mas cabeça acho que teem pouca não comento mais
os entendidos o Bottas não mexeu um milímetro ponto final

Last edited 2 anos atrás by manuel moita
josemj
josemj
2 anos atrás

Concordo plenamente. O automobilismo exige garra, vontade, espírito de luta, e é extremamente exigente em intensidade e emoção. Todos os grandes, mostraram essa característica de arriscar próximo ou além dos limites. Estar numa Williams, com todas suas limitações, lutando lado a lado com uma poderosa Mercedes, já mostra bem, de que tipo de talento estamos falando. O outro piloto, pode até sair do episódio com mais razão. Mas sai morno, sem emoção, e mais uma vez derrotado numa disputa roda a roda entre os dois, pois tecnicamente era uma disputa desigual . Erros, todos cometem. Talento acima do padrão são… Ler mais »

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