McLaren vs Alpine: Quem vence o “título” do segundo pelotão?

Por a 8 Novembro 2022 15:42

Com a Red Bull a monopolizar a questão dos títulos de construtores e pilotos, já definidos, o campeonato de Fórmula 1 continua com motivos de interesse. Um deles, é a luta pelo título virtual do segundo pelotão, disputado este ano entre a McLaren e a Alpine. Quem leva a melhor?

O mundo da Fórmula 1 é feito de desafios constantes, novas metas a cruzar e novos motivos de interesse. Max Verstappen sagrou-se campeão no GP do Japão, com ainda quatro jornadas por realizar e a Red Bull seguiu o exemplo na jornada seguinte, selando o título de construtores que escapava desde 2013. Significa isto que a F1 deixou de ter interesse? Não, há ainda muito a discutir.

Podemos dizer que, neste momento, o campeonato é feito de duelos. Com a Red Bull apenas a tentar adicionar mais recordes à sua lista, o resto do pelotão tenta garantir as melhores posições possíveis, pois isso implica mais dinheiro e prestígio.

Temos a luta pelo vice-campeonato e, ao contrário do que possa parecer, há ainda margem para termos uma batalha interessante. A Ferrari lidera com 487 pontos e está bem encaminhada para garantir o segundo posto, o que não acontece desde 2019. Mas a Mercedes está a 40 pontos e com ainda duas corridas pela frente, pelo que não devemos descartar os Flechas de Prata. O favoritismo está do lado da Scuderia, mas analisando o que aconteceu em Austin e no México, a Mercedes pode ter ainda uma palavra a dizer.

Matematicamente, a luta pelo sexto lugar acontece a quatro, com a Alfa Romeo, Aston Martin, Alpha Tauri e Haas. Mas na realidade, o equilíbrio de forças diz-nos que temos uma luta pelo sexto entre a Alfa Romeo e a Aston Martin (separadas por quatro pontos) e uma luta pelo oitavo entre a Alpha Tauri e a Haas (separadas por um ponto). A Williams já assegurou o último lugar da tabela.

Mas uma das lutas mais renhidas do ano, que decorre desde a primeira jornada, é a luta pelo título de melhor equipa do segundo pelotão. Um título virtual, é certo, mas com a sua importância para as equipas protagonistas; McLaren e Alpine. Se no papel, a Alpine teria vantagem (olhando para o ritmo em pista), na prática, a McLaren tem conseguido maximizar os seus recursos e a luta pelo quarto lugar está bem acesa.

Para entender a dimensão deste duelo é preciso recuar até ao início da época, no já longínquo mês de fevereiro.

Fernando Alonso (ESP) Alpine F1 Team A522. Bahrain Grand Prix, Sunday 20th March 2022. Sakhir, Bahrain.

Como tudo começou

2022 trazia consigo a aurora de uma nova era. Os tão esperados novos regulamentos técnicos traziam consigo novos carros, baseados numa nova filosofia e, por conseguinte, novos desafios.

O primeiro teste, em Barcelona, deu-nos uma McLaren muito forte, ainda mais forte do que nos anos anteriores. A equipa de Woking tinha conquistado o quarto lugar em 2019, o terceiro em 2020 e o quarto em 2021, lutando contra uma Ferrari em recuperação e com mais argumentos no final da época. A McLaren estabeleceu-se como quarta força no paddock da F1, tendo destronado a Renault, que em 2020 se transformou em Alpine. Com Red Bull, Mercedes e Ferrari um furo acima da equipa britânica, estes resultados davam ânimo e preparavam a equipa para as lutas do futuro, com os primeiros lugares como meta. A McLaren cresceu de forma clara, afastando-se inequivocamente dos piores anos que motivaram quase uma década sem vitórias, comprovando o bom trabalho do CEO Zak Brown, do diretor da equipa Andreas Seidl e do diretor técnico James Key na equipa, uma estrutura que trabalha em conjunto há três anos.

Do lado da Alpine, o primeiro teste em Barcelona não deu grandes motivos para entusiasmo. O segundo ano com o nome Alpine, depois de cinco anos com o nome Renault, começava um pouco como todas as épocas anteriores desde o regresso à competição, em 2016: com muitas promessas e poucos resultados práticos. Em 2018, a Renault conseguiu ser a melhor do segundo pelotão, lugar que acreditava ser seu a partir dessa altura, cumprindo-se a “profecia” de Cyril Abiteboul que a Renault se iria estabelecer entre as melhores e usaria a nova era de 2021 (depois 2022) para dar o salto para os primeiros lugares. A profecia não se cumpriu, a McLaren (em 2019 e 2020 com motores Renault) superiorizou-se aos franceses, que andaram de reestruturação em reestruturação, em busca do melhor compromisso. Tivemos a mudança para a Alpine e a saída de toda a espinha dorsal do projeto Renault para a entrada de Laurent Rossi (com o beneplácito do chefe da marca, Luca de Meo), que operou nova reestruturação, com novas chefias e Otmar Szafnauer à cabeça, vindo da Aston Martin para assumir o leme da equipa (num corte radical com a estrutura do passado). O plano tornou-se menos ambicioso, mas mais realista, de evolução até ao topo em cinco anos.

Este era o cenário no primeiro teste de Barcelona, que mudou radicalmente no segundo teste, no Bahrein. A Alpine evoluiu e mostrou argumentos interessantes no seu A521, enquanto a McLaren entendeu que a época ia ser longa e que o seu MCL36 tinha nascido mal, com um problema de travões que motivou mudanças na frente do carro que, por conseguinte, comprometeram o conceito do monolugar. A primeira corrida deixou tudo claro. A McLaren não era competitiva e além dos problemas de travões, tinha falta de apoio aerodinâmico e ficou a zeros, enquanto a Alpine começava com dois carros nos pontos.

McLaren eficiente, Alpine a desperdiçar

Mas na corrida seguinte começamos a ver um pouco do que seria a tendência do resto da época. Depois do Bahrein, a F1 foi para a Arábia Saudita, onde a Alpine voltou a ser melhor, mas a McLaren também pontuou. Fernando Alonso teve o primeiro abandono com problemas de motor, Ocon foi sexto, Daniel Ricciardo desistiu (problemas de embraiagem) e Lando Norris foi sétimo. Seguiu-se a Austrália, em que Alonso voltou a ter problemas no seu monolugar (desta vez na qualificação) e onde a McLaren se superiorizou à Alpine, apesar de a equipa francesa ter mostrado muito potencial nos treinos. Em Imola, a McLaren fez um pódio com Norris e a Alpine ficou a zeros. A luta nas três corridas seguintes foi renhida, mas desde o GP do Canadá (jornada 9) até ao GP dos Países Baixos (jornada 15), a Alpine foi fazendo sempre mais pontos que a McLaren. No fim da prova neerlandesa, a vantagem da Alpine sobre a McLaren era de 25 pontos. Mas veio a Itália e Singapura em que a Alpine ficou a zero e a McLaren ganhou muitos pontos. O GP do Japão sorriu aos franceses, mas Austin e México renderam mais aos britânicos. Agora, a Alpine lidera com 153 pontos, com a McLaren a sete pontos do quarto posto.

Em teoria, o carro da Alpine tem sido mais rápido. Nos treinos e nas qualificações isso é claro, mas em corrida, a McLaren tem sabido maximizar o potencial do monolugar, enquanto a Alpine tem desperdiçado muito, também devido à sua falta de fiabilidade. Com o abandono no México, Alonso já ficou apeado por cinco vezes este ano com problemas na unidade motriz. Em comparação, Ocon apenas desistiu por duas vezes com problemas mecânicos. São sete desistências por falhas da unidade motriz, enquanto a McLaren tem apenas duas. No total (contando com falhas técnicas e incidentes), a Alpine tem oito abandonos contra apenas 3 da McLaren.

Fernando Alonso (ESP) Alpine F1 Team. Bahrain Grand Prix, Saturday 19th March 2022. Sakhir, Bahrain.

A prestação dos pilotos

Claro que a forma dos pilotos é muito importante em toda esta equação. E neste ponto, a Alpine leva também alguma vantagem. Se do lado dos franceses a pontuação entre os dois pilotos é equilibrada (oitavo para Esteban Ocon, com 82 pontos e nono para Fernando Alonso, com 71 pontos) do lado da McLaren, a fraca época de Daniel Ricciardo faz mossa. Ricciardo tem 35 pontos, contra os 111 de Lando Norris.

Analisando a Alpine, pode parecer uma luta equilibrada, mas olhando ao número de desistências, vemos que Alonso poderia ter muitos mais pontos. Talvez a falta de fiabilidade tenha sido um dos motivos que levou o espanhol a trocar a Alpine pela Aston Martin, que representará na próxima época. No GP da Áustria, a meio da época, o espanhol referiu que “este ano, sinto que estou provavelmente ao meu nível, graças à experiência também. Talvez ao nível de 2012 e tenho 20 pontos ou algo do género, por isso é inacreditável. Talvez tenhamos perdido 70 pontos, se contarmos todas as desistências, má sorte e fiabilidade. É uma época muito estranha. Mas estou muito orgulhoso do meu próprio trabalho até agora.” Este tema tem-se mantido ao longo da época e na desistência no México, Alonso exclamou no rádio “incrível esta época”, em desespero. Alonso tem evidenciado uma grande forma, mas os números estão longe do que tem feito. Esteban Ocon tem tido menos azar e dado o que se espera dele. Alonso está numa forma superior, mas o azar equilibra a balança, pelo que a Alpine não se pode queixar muito dos seus pilotos, apenas da falta de fiabilidade e de não aproveitar as oportunidades.

Já a McLaren, nem sempre tão rápida quanto a Alpine em qualificação, tem em Lando Norris o “abono de família”. Norris apenas não pontuou em quatro corridas e é o mais regular do quarteto de pilotos referidos nesta peça. Mais uma época de grande nível, conseguindo um pódio inesperado em Imola e com um andamento muito forte durante toda a época. Já Daniel Ricciardo é a desilusão do ano e a sua saída anunciada da McLaren para dar lugar ao estreante Oscar Piastri é um sinal claro que a sua passagem por Woking foi falhada. Sim, deu a primeira vitória à equipa na época passada em quase dez anos, mas foi um oásis, num deserto de maus resultados e exibições. Ricciardo nunca se adaptou ao estilo de condução do McLaren em 2021, em 2022 começou com Covid, perdeu os testes do Bahrein e iniciou com o mesmo registo de 2021. Nessa altura, a parte mental terá pesado. A descrença foi-se espalhando e o resultado acabou por ser o final prematuro de uma parceria que todos pensavam ser a ideal. Mas a McLaren perdeu muito com Ricciardo. No ano passado Norris fez 160 pontos, Ricciardo 115. Este ano a diferença é ainda mais clara e Norris com 111 pontos, está à frente do seu colega por 76 pontos. Se Ricciardo tivesse feito 50% dos pontos que Norris fez, a McLaren teria agora 167 contra 153 da Alpine. Se Ricciardo tivesse prestações ao nível de Norris, a McLaren tinha a questão do quarto lugar praticamente resolvida, mesmo com os problemas do arranque da época.

A meio da temporada, Lando Norris resumia o que se passou este ano com a McLaren e com Ricciardo: “Penso que as características dos nossos carros ao longo dos últimos anos, até mesmo o Carlos [Sainz] o disse, são bastante específicas e únicas, por isso temos de nos adaptar um pouco. Especialmente este ano, o carro é muito diferente, algumas das características do ano passado desapareceram e introduzimos outras, pelo que tive de mudar o meu estilo de condução. Tive dificuldades no início da temporada, provavelmente um pouco mais do que o Daniel nos primeiros testes, e sinto que tive de me adaptar bastante. Como conduzimos os carros é também ligeiramente diferente. Não me importo tanto com a instabilidade do carro e com uma afinação em que se pode puxar mais pelo eixo da frente, e ele prefere um carro que seja um pouco mais estável e afinado com um pouco mais de subviragem”. Terá sido este compromisso que Norris entendeu melhor e Ricciardo não conseguiu resolver. Mais ainda, tal como Alonso, Norris cometeu poucos erros este ano, algo enaltecido por Zak Brown que afirmou “a parte que mais me impressiona com o Lando é que comete poucos erros e os seus erros são pequenos, um limite de pista, um pneu bloqueado; não o vemos muitas vezes colocar o carro nas proteções da pista, ou ir largo numa curva sob pressão e cometer um erro”.

Quem leva a melhor?

Quem fica na frente no final da época? Essa é a pergunta para um milhão. É verdade que a Alpine tem um carro que aparenta ser mais rápido (especialmente em qualificação, pois na corrida as diferenças esbatem-se), apesar de menos fiável e tem uma dupla de pilotos mais equilibrada (e em forma). No entanto, a McLaren tem argumentos para superar a Alpine. A distância é curta no campeonato de construtores. Há uma ligeira vantagem do lado da Alpine, por estar à frente, mas tudo vai depender da fiabilidade dos monolugares franceses e da forma como conseguem aproveitar o seu potencial em corrida, algo que nem sempre acontece, talvez devido às inúmeras reestruturações e mudanças. Do lado da McLaren há um carro ligeiramente menos capaz, mas uma equipa bem mais oleada, que tem sido das mais rápidas nas trocas de pneus, conseguindo maximizar as oportunidades, com boas opções estratégicas na maioria das vezes, fruto da experiência e da estabilidade, sendo esta a quarta época com esta estrutura. A McLaren é claramente a equipa mais forte, mas o ponto de interrogação está do lado de Daniel Ricciardo. Se conseguir aproximar-se de Norris e fazer como fez no México ou em Singapura, a candidatura ao quarto lugar ganha força. Mas se virmos prestações como as de Austin, será difícil a McLaren levar a melhor, lutando com apenas “um braço”.

Do lado do campeonato de pilotos, Lando Norris tem tudo para ser coroado o “rei do segundo pelotão”, um título pouco apelativo, mas que mostra a qualidade do jovem britânico. A dupla da Alpine está logo atrás do #4, mas Ocon está a 29 pontos e Alonso a 40 a uma distância considerável. Daniel Ricciardo, em 12º, está longe destas lutas.

Os dados estão lançado e poderemos ter aqui uma bela luta até ao final. O entusiasmo, obviamente, não é o mesmo, mas na F1 ninguém gosta de ficar atrás de ninguém. Há ainda boas batalhas para ver nas duas últimas corridas do ano e a melhor talvez seja mesmo esta, entre a Alpine e a McLaren. Cada lado tem pontos fortes e fracos e no geral, as forças equilibram-se. Em Abu Dhabi saberemos quem levou a melhor.

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