F1: Michael Masi foi vítima ou réu?

Por a 14 Dezembro 2021 16:45

Michael Masi tem sido o nome mais referido desde o final da corrida de domingo, a última do ano que decidiu o título. As decisões de Masi não agradaram a todos e a atuação do australiano está agora a ser fortemente questionada.

A polémica instalou-se nas últimas voltas da corrida, quando o Safety Car foi para a pista, após o incidente de Nicholas Latifi. A forma como a direção de corrida quis apressar a saída do SC, para permitir uma última volta levantou muitas questões (pode ler mais sobre o tema AQUI e AQUI). A Mercedes colocou dois protestos, ambos rejeitados pelos comissários, mas a festa ficou estragada pelo episódio que continua a dar muito que falar.

A Mercedes apresentou dois protestos, um alegando que Max Verstappen ultrapassou Lewis Hamilton com o SC em pista, o que foi prontamente rejeitado. Mas o segundo protesto foi mais pertinente. A Mercedes queixa-se que o Diretor de Corrida não respeitou o regulamento que diz que o SC deve fazer pelo menos mais uma volta à pista, depois dos retardatários terem ultrapassado os carros e o SC, regressando à volta do líder, como explicado no Artigo 48.12, do Código Desportivo. Ora com apenas este artigo, o protesto teria de ser aceite, mas há mais artigos que, na visão dos comissários, se sobrepõem, nomeadamente o artigo 48.13 que diz que uma vez que a mensagem “Safety Car in this lap” é enviada, o SC tem de sair e o artigo 15.3 que, resumindo, foi interpretado como dizendo que o diretor de corrida gere a atuação do Safety Car e que a sua autoridade pode sobrepor-se quando o SC está em pista. No fundo o que os comissários disseram é que o Diretor de corrida faz o que quiser com o SC, apesar de haver regulamentação para a sua atuação em pista.

Ora isto vem piorar ainda mais a imagem que os fãs têm dos comissários esta época. Afinal parece que o diretor faz o que lhe convém. Por um lado faz sentido pois no automobilismo cada caso deve ser avaliado segundo as circunstâncias à vista. Mas por outro lado, abre a possibilidade de algumas pessoas suspeitarem que quem manda tem uma agenda e que não precisa de seguir regras, num desporto altamente regulamentado. Houve demasiada dualidade de critérios durante o ano, o que provocou uma confusão desnecessária. O caso do Brasil é sintomático. Lewis Hamilton foi atirado para fora de pista por Max Verstappen e nada aconteceu e por isso Hamilton aproveitou a escapatória na primeira volta da corrida em Yas Marina para ir em frente depois da manobra dentro das leis de Verstappen e em Jidá as várias saídas de pista foram potenciadas pela decisão tomada em Interlagos. Aconteceu o mesmo com os limites de pista que foram demasiadas vezes alterados. A tudo isto, junta-se a postura de Masi, mais aberta e por conseguinte mais exposta à crítica (a transmissão das comunicações entre as equipas e Masi ajudam ainda mais).

Masi tem dois anos à frente da F1, tendo assumido a liderança quando Charlie Withing morreu subitamente no arranque da época de 2019. Não falta experiência a Masi, mas faltará mais ajuda e apoio.

Martin Brundle falou disso mesmo na sua coluna na Sky Sports:

“As últimas voltas em Abu Dhabi, quando os olhos do mundo estavam sobre nós em números espantosos, não foram o nosso melhor momento e algumas coisas têm de mudar este Inverno”, escreveu Brundle. “Certamente confundimos os nossos fãs no domingo. Michael Masi é o director da corrida, substituindo o nosso querido amigo Charlie Whiting que infelizmente morreu no seu quarto de hotel em Melbourne, literalmente na véspera da época de F1 de 2019. Michael tem uma forte história a dirigir os V8 australianos, o que não é exatamente um trabalho sonolento pelo que eu imagino, mas nada como os holofotes e a pressão de multi-biliões de dólares globais de F1. Agora, se Michael quer continuar, e a F1 e o corpo dirigente da FIA querem mantê-lo, então as coisas têm de mudar. O director da corrida precisa agora de um braço direito de confiança e experiente, especialmente na maratona de 23 corridas do próximo ano, incluindo um novo local em Miami. E as equipas devem ser muito limitadas no número de vezes que podem desafiar o Race Control a meio da época, para que sejam utilizadas mais estrategicamente quando há um ponto justo e relevante a fazer. Não podemos simplesmente ter o árbitro a ser intimidado dessa forma”.

O que falhou em Abu Dhabi? Falhou a falta de consistência nas decisões que vimos durante o ano e que foi cozinhando em lume brando uma polémica que a certo ponto parecia inevitável. Falharam as decisões de Masi nas últimas corridas do ano e as decisões dos comissários durante a época toda. Falhou Masi, que ao tentar dar um final épico, esqueceu o bom senso e fez um uso seletivo do que os regulamentos dizem, acabando por prejudicar os pilotos que não puderam anular a volta de atraso e no final, ensombrar a festa. Falhou a forma como Masi foi exposto, sem lhe dar outro tipo de ferramentas ou proteção. Terá falhado a pressão extra de proporcionar um “Grand Finale” aos fãs? Provavelmente. Fica agora a questão. Será que Masi vai continuar? Será necessária uma mudança na liderança das corridas? Dá a sensação que a FIA aburguesou-se nos anos de domínio da Mercedes, que reduziu consideravelmente a pressão na direção de corrida. Não foram feitos esforços para evitar erros que não são novos e que este ano foram exacerbados por uma luta intensa. A Liberty Media fez um trabalho tremendo para colocar a F1 de novo no Topo e esta luta foi o culminar do trabalho desenvolvido. Foi pena que o organismo que mais deveria zelar pela competição tenha metido os pés pelas mãos e estragado a final.

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AdolfoDias
AdolfoDias
2 anos atrás

Independentemente de alguem achar que os regulamentos permitirem ao Masi ter o poder discricionário sobre o uso do SC (E não concordo com essa interpretação, é só para justificar o injustificável. ) o que não é de todo admissivel é aplicar regras diferentes a alguns pilotos. Mas foi o que aconteceu. E assim o árbitro decidiu o jogo, o que não devia ter acontecido. Não querendo alinhar com teorias conspirativas diria que o Masi deu prioridade ao espectáculo e marimbou-se para a parte desportiva (e para os regulamentos). Esteve muito mal.A sua continuidade será a confirmação que a Liberty transformou… Ler mais »

JP INAU
JP INAU
Reply to  AdolfoDias
2 anos atrás

A F1 há muito que é mais negócio que desporto. Masi fez o que tinha a fazer para não haver mais uma corrida a terminar atrás do SC, como aliás deve ser (Spa foi uma vergonha maior que Indianapolis com 6 carros á partida). Tudo foi feito “By the Book”, o problema é que o “Book” é uma Bíblia, e como tal presta-se a diferentes interpretações. Isto acontece há mais ou menos 40 anos, quando advogados foram chamados a fazer regulamentos e também a “desfazer” esses regulamentos. De quem é a culpa? Para mim é da FIA, e se a… Ler mais »

AdolfoDias
AdolfoDias
Reply to  JP INAU
2 anos atrás

Percebe-se, e concordo, que tivesse feito tudo para a corrida terminar em bandeira verde. Mas o que ele fez foi mais que isso, e nada “By the Book”: Quis arranjar forma de ter luta entre os 2 candidatos, e para isso teve de inventar e acabou a ser ele a decidir o titulo. (Usou o book da Liberty e não o da FIA). Não se esqueça que bastava ter mantido a decisão de não permitir que os carros atrasados se desdobrassem e a corrida teria terminado ainda assim com 1 volta em bandeira verde! E sem polémicas porque estaria tudo… Ler mais »

Last edited 2 anos atrás by AdolfoDias
Scb2
Scb2
2 anos atrás

Nunca o trabalho de diretor de corrida foi tão difícil como este ano porque nunca existiu um campeonato tão disputado, tão mediático e com tantas pressões. Falhou, mais do que no Abu Dhabi, antes quando foi vacilante e não seguiu sempre a mesma trajetória. Falhou estrondosamente em Spa. No Abu Dhabi, foi mais uma vez incoerente (ou titubeante) a lidar com o safety car, e embora no fim a derradeira decisão tenha sido a correta-corrida terminou em bandeira verde, a maneira como lá chegou traz esta toda polémica. Por fim, se está desde inicio de 2019, são 3 anos e… Ler mais »

JP INAU
JP INAU
Reply to  Scb2
2 anos atrás

Já houve outros campeonatos igualmente disputados, mas foi numa altura em que Jean-Marie Ballestre pegava o boi pelos cornos e assumia a sua responsabilidade nas decisões tomadas, não é como esse “viscoso” aldrabão Jean Todt que tira o rabinho de fora, e nunca foi um dirigente digno, nem na FIA nem por onde passou antes, onde sempre juntou compadres tão trafulhas como ele, um verdadeiro mafioso, a gerir influências.

Scb2
Scb2
Reply to  JP INAU
2 anos atrás

Campeonato disputado, mediático e com tantas pressões.
O Balestre sim é um exemplo a citar.

pintinha
pintinha
2 anos atrás

MICHAEL MASI FOI VÍTIMA OU RÉU? …nem um coisa nem outra…M.M. foi incompetente ou mafioso?

pintinha
pintinha
2 anos atrás

Excelente e calrificador resumo das conversas pilotos-engenheiros nas ultimas 5 voltas …a MASIconfusão instalada nos pilotos em pistas
https://www.youtube.com/watch?v=K469WuoDJTw

NOTEAM1
NOTEAM1
Reply to  pintinha
2 anos atrás

O que espelha bem o erro do Michael Masi, nunca esteve em questão deixar que os carros mais lentos passassem o SC e se colocassem na volta do líder, o bizarro foi permitir que o fizessem tão tarde, quando claramente houve tempo para o fazer de forma normal e correcta. Em última análise, acho que o termo usado por si é feliz, acabou por uma MASIconfusão, mas acabou por fazer o que tinha de ser feito, se não na sua totalidade, pelo menos em relação á luta pelo título. Mas o Masi, de facto, não tem condições para continuar no… Ler mais »

Last edited 2 anos atrás by NOTEAM1 NOTEAM1
AdolfoDias
AdolfoDias
Reply to  NOTEAM1
2 anos atrás

acabou por fazer o que tinha de ser feito, se não na sua totalidade, pelo menos em relação á luta pelo título.” ??????!!!!!!
Por esta ordem de ideias o Masi deveria ter feito entrar o SC mesmo sem o acidente do Latifi, e juntar os 2 na ultima volta só para o espectáculo?

Last edited 2 anos atrás by AdolfoDias
NOTEAM1
NOTEAM1
Reply to  AdolfoDias
2 anos atrás

Não. Não acertou totalmente porque não permitiu que o Stroll e Ricciardo ultrapassassem o SC tal como todos os restantes retardatários, como indica a lei. Porque não o fez passa-me ao lado, não encontro (ainda) lógica na decisão. Contudo, estes pilotos estavam entre Max e Sainz, ou seja, não tiveram influência na luta pelo título propriamente dita, apenas impediram, isso sim, que o Sainz se envolvesse na luta pela vitória. Começa a chegar a altura de um artigo isento e sensato aqui no Autosport, que aborde os momentos finais da corrida de Abu Dhabi, porque se estão a a dizer… Ler mais »

jcm
jcm
2 anos atrás

têm que explicar como a três ou mais voltas do fim, em bandeiras amarelas, o Hamilton ia com +/-13 seg de avanço, não tendo entrado em boxes, e o Max, entrando em box (+/-30 seg) assim – 43seg consegue antes da ultima volta estar colado ao Hamilton !!! …

NOTEAM1
NOTEAM1
Reply to  jcm
2 anos atrás

Amigo, entrou o SC em pista, ou seja, todos se juntaram atrás dele. Os pilotos que estavam na mesma volta, como era caso do Max e do Lewis ficaram colados, os que não estavam na mesma volta, ultrapassaram o SC para se juntar à volta do líder. É assim que normalmente as coisas funcionam sempre que um SC entra em pista!

Last edited 2 anos atrás by NOTEAM1 NOTEAM1
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