Opinião – Desporto Motorizado perde com o fim do WTCR

Por a 28 Novembro 2022 13:25

Pudemos ver ontem a última corrida do WTCR, que marcou o fim de uma era que chegou a ser de ouro, mas que acabou (mais uma vez) com o suspiro de quem já suspeitava o inevitável fim. 

Foi com um sentimento ainda mais amargo que vimos pela segunda vez em cinco anos o fim abrupto de um ciclo no mundo dos turismos. Em 2017, último ano do WTCC, os TC1 despediram-se com um excelente espetáculo e uma festa do título que nos manteve interessados até ao fim. Este ano, o fim do WTCR veio sem entusiasmo, sem chama, sem paixão. 

Em 2017 terminava uma era interessante, com carros velozes, agressivos e… caros. Foi o preço proibitivo dos TC1 que levou ao fim dessa era que durou quatro épocas. Os custos afastavam os privados, a espinha dorsal deste campeonato (que foi menosprezada) e as marcas não se interessaram muito pelo formato. Foi curto, mas, no geral, foi bom.

Em 2018 entramos na era WTCR. Com os TCR a serem as máquinas da moda no mundo dos turismos, com variedade de marcas e campeonatos interessantes por todo o lado, pensou-se numa taça do mundo, dedicada aos privados. Com os campeonatos nacionais TCR um pouco por todo o mundo, o WTCR era o topo da pirâmide que parecia bem montada e com potencial para se manter por muito tempo.  E começou com um fulgor raramente visto. No primeiro teste conjunto, em Barcelona, vimos um entusiasmo como há muito não se via, com estruturas privadas apoiadas por marcas, pilotos de renome internacional e um calendário interessante. Uma era de ouro que permitiu ter grelhas de 26 ou até mesmo 28 carros em pista, com qualidade, variedade e emoção. 

Essa era de ouro durou duas épocas. 2018 e 2019 foram temporadas muito boas, mas em 2020 a chegada da COVID 19 colocou um forte travão ao crescimento da competição. Durante duas épocas o WTCR sobreviveu, e quando teve de dar um passo forte rumo à normalidade… tropeçou. 

Não houve capacidade de atrair novos investimentos, não houve capacidade de reinventar o conceito e não houve capacidade de colocar todos a rumar para o mesmo lado. Os jogos políticos, primeiro da Hyundai e depois da Lynk & Co, com o ping pong do descontentamento do BoP, nunca teve uma voz forte que impedisse o falatório de chegar aos níveis que chegou. As marcas e as equipas deram um tiro no pé, deixando no ar a ideia que a competição não existia e que o BoP definia resultados. O BoP tornou-se tema central nas conversas e nas estratégias. A fórmula que tão bem tem resultado noutros campeonatos, em que máquinas diferentes proporcionam boas corridas, não teve a força necessária no WTCR para se impor. No IMSA, por exemplo, o BoP foi criticado numa primeira fase, mas deixou de ser tema de conversa, pois chegou-se a um bom compromisso… e talvez todos os intervenientes tenham entendido que era má publicidade referir esse tema constantemente.

No WTCR tínhamos uma luta Hyundai vs Lynk & Co dura dentro e fora de pista, com as restantes marcas resignadas. Faltou dar um murro na mesa. 

Faltou também jogo de cintura nos responsáveis da competição. A questão da falta de definição do calendário para esta época é sintomática do desnorte que poderá ter assomado as altas patentes da competição. Faltou uma liderança forte, num promotor que pareceu apostar as fichas todas no ETCR, competição que demora a convencer. A aposta no campeonato elétrico terá levado a um desleixo que custou caro ao WTCR. Faltou substituir as marcas que saíram ou reduziram o investimento por outras interessadas. Faltou um pouco de tudo para salvar uma competição que sofreu sobremaneira com a pandemia.

O que perde o desporto motorizado com o fim da competição? Perde uma taça do mundo onde tínhamos variedade e boas corridas, com um formato de qualificação interessante. Perde o palco principal para algumas estrelas acarinhadas do público. Perde a montra mundial das típicas lutas entre turismos. Claro que quem não gosta deste tipo de corridas, e são muitas pessoas, não vê necessidade da sua existência, mas havia muita coisa boa no WTCR que foi desaproveitada.

Segue-se um novo formato, ainda pouco claro, mas perdeu-se uma competição que foi interessante no seu arranque. A pandemia, os efeitos no investimento nas marcas e a falta de visão para evitar um final tão cinzento, motivaram o fim inglório de uma competição que tinha ainda algo para dar. 

Caro leitor, esta é uma mensagem importante.
Já não é mais possível o Autosport continuar a disponibilizar todos os seus artigos gratuitamente.
Para que os leitores possam contribuir para a existência e evolução da qualidade do seu site preferido, criámos o Clube Autosport com inúmeras vantagens e descontos que permitirá a cada membro aceder a todos os artigos do site Autosport e ainda recuperar (varias vezes) o custo de ser membro.
Os membros do Clube Autosport receberão um cartão de membro com validade de 1 ano, que apresentarão junto das empresas parceiras como identificação.
Lista de Vantagens:
-Acesso a todos os conteúdos no site Autosport sem ter que ver a publicidade
-Oferta de um carro telecomandado da Shell Motorsport Collection (promoção de lançamento)
-Desconto nos combustíveis Shell
-Acesso a seguros especialmente desenvolvidos pela Vitorinos seguros a preços imbatíveis
-Descontos em oficinas, lojas e serviços auto
-Acesso exclusivo a eventos especialmente organizados para membros
Saiba mais AQUI
Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas VELOCIDADE
últimas Autosport
velocidade
últimas Automais
velocidade
Ativar notificações? Sim Não, obrigado