GT Open/Chaves e Ramos Campeões: “Escreveu-se direito por linhas tortas!”

Por a 2 Novembro 2020 13:04

Henrique Chaves e Miguel Ramos conquistaram título europeu no International GT Open, depois de um fim de semana em que o desespero dos adversários diretos os levou a cometer um ilegalidade que os levou à desclassificação.

“Escreveu-se direito por linhas tortas!” Que sirva de lição aos homens da AF Corse APM Monaco. É muito bonito mostrarmos aos outros que o nosso trabalho resultou numa vitória e num título, mas quando se tenta fazê-lo por meios errados, o tiro sai quase sempre pela culatra e foi o que aconteceu este fim de semana em Barcelona.

Henrique Chaves e Miguel Ramos, sagraram-se Campeões do International GT Open de 2020, depois do seu McLaren 720 S GT3 ter terminado plantado na gravilha duma escapatória, quando o seu piloto, Miguel Ramos, liderava a corrida a pouco mais de minuto e meio do seu final. Se este tivesse sido apenas um infeliz incidente de corrida, a dupla lusa poderia estar agora a lamentar a falta de sorte, mas a verdade é que se tratou apena e só de um daqueles momento que os verdadeiros adeptos de automobilismo detestam ver. Quando alguém quer ganhar, seja de que maneira fora, atirando as urtigas todo o bom senso.

Há muito gente no automobilismo que devia perceber que vencer é também nunca desistir de tentar, mas vencer nunca será passar por cima de tudo e todos para o conseguir. Quem anda em pista tem lá muita gente que se esforça na mesma medida para as conquistas. Alguns conseguem, outros não. É a lei da vida. A história conta-se em poucas linhas.

À chegada a Barcelona, na discussão do título estavam duas duplas com hipóteses muito semelhantes e um outsider ligeiramente atrasado, mas ainda com hipótese de chegar ao primeiro lugar. Miguel Ramos e Henrique Chaves chegaram a Espanha como líderes do campeonato, e a dupla portuguesa da Teo Martín Motorsport tinha uma vantagem de 8 pontos sobre Louis Prette-Vincent Abril, ao volante dum Ferrari 488 da AF Corse. Esta dupla monegasca podia deitar fora o pior resultado do ano (‘0’ que tiveram logo na primeira corrida da temporada) enquanto Ramos e Chaves, que pontuaram em todas as corridas, tinham de deitar fora a pior pontuação. Para além das duas duplas protagonistas, havia ainda Salih Yoluç e Charlie Eastwood, que tripularam o Aston Martin Vantage da TF Sport, que tinham 20 pontos de atraso. Com um máximo de 30 pontos a serem atribuídos no fim de semana, tinham de ser considerados na corrida para o título.

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Na primeira corrida do fim de semana, Miguel Ramos, assegurou o sexto lugar na grelha de partida e na corrida a festa do desespero começou logo ali.

A meio da corrida, já depois da troca de pilotos, Henrique Chaves viu o seu rival na luta pelo título dar-lhe um toque para ganhar uma posição, atitude que acabaria por ser penalizada, já após a prova, o que relegou a dupla Louis Prette/Vincent Abril para a quarta posição final. A dupla portuguesa terminava no sexto posto, resultado que deixava as duas equipas empatadas na liderança com 108 pontos, quando faltava disputar apenas uma corrida. “Foi uma prova difícil com muitas lutas, estratégia e até um toque com o nosso rival na batalha pelo título. Sobrevivemos a todos os incidentes, os nossos adversários foram penalizados, e garantimos um resultado que deixa tudo por decidir na última corrida da temporada”, afirmou Henrique Chaves no final.

esta primeira corrida foi ganha pelo McLaren de Nick Moss e Joe Osborn, tendo nas restantes posições do pódio ficado outro carro de Woking, pilotado por Marcelo Hahn e Allam Kodhair, e o Ferrari de Louis Prette e Vincent Abril.

Para a segunda corrida, Henrique Chaves colocou o McLaren 720 S GT3 na terceira posição da grelha de partida, mas depois duma excelente partida, na aproximação à primeira curva estava já a pressionar o seu adversário na luta pelo título. Este não aguentou a pressão, e errou, permitindo que o piloto de Torres Vedras ascendesse ao comando da corrida. Henrique Chaves passou então a imprimir um bom andamento, que lhe permitiu abrir uma vantagem superior a cinco segundos para o seu rival na batalha pelo campeonato, isto quando começaram as trocas de pilotos.

Miguel Ramos foi para a pista, e com a vantagem que tinham no handicap, conseguiu uma margem de cerca de 15 segundos na liderança, e tudo parecia encaminhado para que o duo luso pudesse caminhar decididamente para o ceptro deste ano do International GT Open. Porém, o outro carro da equipa, dos rivais na luta pelo campeonato, que já tinha uma volta de atraso, que não conseguimos explicar como ali chegou, se pela ordem natural das coisas, ou por outro motivo qualquer, tudo fez para que o McLaren 720S GT3 da Teo Martín Motorsport perdesse o máximo de tempo possível, não respeitando as bandeiras azuis que lhe eram mostradas. Isto permitiu que Vincent Abril, que divide o Ferrari 488 GT3 com Louis Prette, encostasse ao carro dos portugueses, isto depois de ter passado o carro dos colegas de equipa num ‘abrir e fechar de olhos’.

Miguel Ramos foi repelindo todos os ataques, mas a cerca de três minutos da bandeirada de xadrez, o adversário dos lusos na batalha pelo ceptro, deu um toque na traseira do carro do português, numa zona em que é impossível em condições normais trocar de posição, a menos que o piloto que vai à frente erre, o que não foi o caso, e o resultado foi o McLaren 720 S GT3 de Ramos plantado na gravilha da escapatória, onde ficou atascado.

As imagens mostravam que o desespero de Abril para passar Ramos era grande, o português esperava essa enorme pressão, mas a forma como Abril deu o toque no McLaren não deixou dúvidas a ninguém da sua ilegalidade. Até pode não ter sido uma manobra premeditada, mas que foi feita ninguém duvidou.

A corrida terminou pouco depois com Vincent Abril a ver a bandeira de xadrez e o piloto de Vila Nova de Gaia ainda terminaria em 11º, resultado insuficiente para que os portugueses pudessem assegurar o título, que, desta forma, ficava nas mãos de Vincent Abril e Louis Prette.

Contudo, no final da corrida, os Comissários Desportivos consideraram a manobra do piloto do Ferrari antidesportiva, castigando-o com uma penalização de dez lugares na classificação final. Falta aqui dizer que a dupla do Ferrari tinha anteriormente cometido outro erro, pois na troca de pilotos não tinham cumprido todo o handicap, e veriam dois segundos ser acrescentados ao seu registo final. E Ramos sabia disso. Portanto, mesmo que o português fosse passado nos menos de três minutos que faltavam para o final da corrida, Abril teria ainda de lhe ganhar dois segundos. Doutra forma, seriam os portugueses a vencer a corrida.

Com esta decisão, que pode ainda ser protestada, Henrique Chaves e Miguel Ramos conquistaram o título de Campeões do International GT Open de 2020, com 114 pontos, duas vitórias, e seis pódios em doze corridas. “Foi uma prova intensa! O meu turno correu muito bem e tudo parecia estar encaminhado para o nosso sucesso. Mas então, com o Miguel já no carro, começaram as manobras estranhas e antidesportivas dos nossos adversários. Foram momentos de muita tensão, mas no final foi feita justiça e conquistámos o Campeonato”, afirmou o jovem de Torres Vedras.

Já a Miguel Ramos, foi quase impossível arrancar algumas palavras, tal era a ‘raiva’ pelo facto dos adversários terem sido capazes de ser tão batoteiros: “Não pode valer tudo na vida e nas corridas também não. Já ganhei muitas, já perdi muitas, já tive lutas muito duras, mas o que se passou este fim de semana aqui em Barcelona é lamentável. Primeiro foi o Ortelli, no segundo carro da AF Corse que me bloqueou durante metade do meu stint e depois quando finalmente com caminho livre, pensava eu que ia ter uma luta muito dura, mas leal, como sempre sou, com o Abril pela vitória, eis que sem nenhum sentido ele tenta passar onde não há a mínima hipótese. Eu fiz a minha trajetória normal, estou a tocar no corretor interno e de repente levei uma pancada na traseira esquerda, ficando sem a mínima hipótese de me manter em pista. Infelizmente parei na caixa de gravilha e por isso era impossível continuar. Se eles fossem mais fortes, haveriam de conseguir passar em pista e não precisariam deste tipo de golpes sujos. Entendo que estivessem desesperados, mas assim não”, disse Miguel Ramos que teve de esperar algum tempo, pela reunião do Colégio de Comissários, onde foi realizada justiça, com Miguel Ramos e Henrique Chaves a serem declarados Campeões: “A justiça por vezes tarda, mas desta feita não faltou. Fizemos uma época fantástica, liderando desde o primeiro fim de semana até ao último, pelo que acho que somos uns justos vencedores. Muitos parabéns a toda a estrutura da Teo Martín Motorsport, ao Teo e ao meu parceiro, o Henrique, que esteve sempre a muito alto nível toda a temporada”, disse Miguel Ramos.

O jovem Henrique Chaves, que este ano completou o seu segundo ano no mundo dos GT, era o espelho da felicidade após todas as decisões tomadas. “Foi uma temporada comprimida em poucos meses e em que tivemos de estar sempre no nosso melhor. Penso que fomos os mais fortes ao longo da época, mostrando sempre rapidez e consistência. Este título é o prémio pelo trabalho que desenvolvemos durante todo o ano. Quero dar os parabéns à Teo Martín Motorsport e ao Miguel e agradecer todo o apoio dos patrocinadores, familiares e amigos. Agora temos de celebrar”, concluiu o português.

O que fica por dizer é muito simples. É vergonhoso que equipas e pessoas sejam capazes de artimanhas com esta que parece ter sido montada na segunda corrida do GT Open no Circuito de Barcelona. Não podemos provar que este foi um plano arquitetado, porque não assistimos à sua ‘montagem’.

Mas assistimos à corrida e por isso, pense connosco: são batidos na partida, a equipa portuguesa ganha vantagem. A AF Corse APM Monaco erra nas boxes ao não cumprir a totalidade do handicap. Os portugueses destacam-se, o segundo carro da AF Corse APM Monaco atrasa-se, ao ponto de perder uma volta, e depois vê bandeiras azuis durante seis voltas, impedindo a progressão de Ramos. Por fim, a cereja no topo do bolo. O toque no carro de Ramos atirando-o para a gravilha. Pensamos que não é preciso ser um grande detetive para perceber o que se passou. O CCD percebeu facilmente. Terminamos o texto como o começámos: “Escreveu-se direito por linhas tortas!”

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