Entrevista AutoSport: Ivan Domingues – Balanço do primeiro passo, rumo ao sonho

Por a 11 Dezembro 2025 10:03

Ivan Domingues encerrou 2025 com um sentimento de orgulho, apesar das dificuldades encontradas: a época de estreia na FIA Fórmula 3 foi marcada por limitações claras de preparação face aos rivais, mas também por momentos históricos como a vitória em Barcelona, que o colocou no radar internacional e na história recente do automobilismo português. Entre pontos altos e uma luta constante contra a falta de quilómetros, o balanço é assumidamente positivo, mas com a noção de que “havia mais para ir buscar”.

A história de 2026

Ivan Domingues deu um passo importante na sua carreira em 2025. Estreou-se na Fórmula 3 pela equipa Van Amersfoort Racing (VAR), o primeiro passo em buscar de um sonho ainda maior. Foi uma época de aprendizagem, exigente, que terminou com o 20.º lugar no campeonato, com 18 pontos. Mas a estatística não conta a história toda. A consistência foi o maior desafio, fruto da adaptação e da descoberta de uma nova realidade. No entanto, provando o seu talento, teve um momento de glória em Barcelona, onde conquistou uma vitória histórica na Corrida Sprint. Foi o seu melhor fim de semana, onde mostrou o seu potencial. Houve outros momentos positivos, com o ritmo evidenciado no Mónaco e em Monza, que acabaram por não serem capitalizados. Mas fica clara a curva ascendente do piloto de Leiria que foi evoluindo a cada ida para a pista.

Um ano de aprendizagem acelerada

Logo à partida, Ivan sabia que entrava na F3 em desvantagem estrutural. Enquanto muitos adversários acumulavam entre 20 e 30 dias de testes privados antes do arranque do campeonato – o equivalente a “três épocas” de quilómetros – o português contou apenas dois dias de preparação real com o carro. Apesar desse handicap logo à partida, o balanço do piloto luso é positivo:

“Foi um ano com pontos muitos positivos, com outros pontos que podiam ter sido melhores, mas algumas coisas também não estavam nas minhas mãos, por isso no geral, foi um ano positivo. Especialmente olhando à preparação prévia que fizemos no início da temporada, comparado com outros pilotos”.

“Sabíamos desde o início do ano que ia ser complicado e que teríamos de correr atrás do prejuízo. Refiro-me ao número de dias de testes que outros pilotos fizeram e que eu simplesmente não pude fazer. Estamos a falar de pilotos que fazem 20 a 30 dias de testes, eu fiz dois. Num dia de teste fazes 400 km; num fim de semana de corrida fazes 250. Quem testa mais, chega ao campeonato já com três campeonatos feitos”.

Apesar disso, sublinha que foi um ano em que evoluiu muito como piloto e como pessoa. “Foi um ano onde aprendi muito. Nos momentos mais adversos é onde consigo crescer mais”, admite, referindo que essa evolução é notada tanto por quem trabalha com ele no dia a dia como por quem o acompanha fora de pista. Cada qualificação difícil, cada corrida passada a “vir de trás” funcionou como laboratório forçado de gestão de risco, leitura de corrida e resistência mental.

Barcelona, Mónaco e a confiança de que “pertence ali”

O ponto alto do ano foi a vitória em Barcelona, conquistada numa fase em que o trabalho com a equipa começava a reduzir o fosso de andamento para os homens da frente. Ivan não esconde o peso simbólico desse momento. “Conseguimos fazer história, ganhar em Barcelona é algo que me vai ficar para sempre – para mim e para a minha equipa”. No Mónaco, num dos palcos mais exigentes do calendário, o resultado interno dentro da estrutura também foi muito positivo, reforçando a confiança do grupo.

Depois desse pico, seguiram-se dois fins de semana marcados por problemas em qualificação – episódios que muitos adeptos não veem. “Houve corridas em que fiquei parado nas boxes na qualificação. Quem está de fora não percebe esses detalhes, mas quando começas lá atrás, passas o resto do fim de semana a correr atrás do prejuízo”, resume. Ainda assim, encerrou o ano a rodar consistentemente no ritmo do grupo da frente: em Monza, esteve muito perto da pole, com setores roxos nos dois primeiros parciais, ficando apenas um pequeno erro na última chicane a afastá-lo da volta perfeita.

Link para o vídeo da vitória AQUI

Qualificação: o maior desafio

Se tivesse de escolher o capítulo mais desafiante da época, Ivan Domingues aponta claramente para as qualificações. “Com a falta de testes, havia sempre uma incerteza enorme sobre o que ia acontecer na qualificação”, explica. “Gerir essa incerteza, estar ali entre os 98% e os 100% – sem passar o limite, mas também sem ficar aquém – foi onde tive mais dificuldade.”

A natureza do carro e dos pneus de F3 amplifica essa sensibilidade: a janela de temperatura ideal é estreita, o pico de aderência aparece em muito poucas voltas e qualquer pequeno erro na preparação da volta representa filas de posições na grelha. Para um piloto que chegou com “metade ou menos” do tempo de pista dos adversários, esse contexto tornou cada sessão cronometrada numa espécie de exame em condições desiguais. Ainda assim, o facto de ter terminado o ano a lutar de igual para igual nos circuitos mais rápidos do calendário dá-lhe a certeza de que o caminho está certo.

“Nos outros campeonatos que fiz, mesmo com menos testes, consegui ‘apanhar o comboio’, mas na F3, o carro é muito específico, assim como a gestão dos pneus. No final do ano já me sentia capaz de andar ao ritmo dos mais rápidos, como em Monza. Mas foi preciso um ano de adaptação para chegar lá.”

Ser português: orgulho e desafio extra na busca de apoios

Questionado sobre se a nacionalidade o prejudica na escalada das fórmulas internacionais, Ivan recusa vitimizações, mas não foge à realidade. “Gosto muito de ser português, tenho orgulho em representar o meu país. Mas em Portugal há pouca visibilidade para tudo o que não seja futebol”, reconhece. Essa falta de exposição mediática dificulta a captação de patrocínios e recursos para competir com pilotos de países onde o automobilismo tem outra tradição e outro peso nos orçamentos de marcas e estruturas.

Ao mesmo tempo, sabe que alguém tem de abrir caminho. “Tem de haver uma primeira vez para trazer visibilidade a outros desportos”, diz, lembrando que Portugal começa a ter atletas de topo mundial em modalidades como golfe, NBA ou ténis, que começam a mostrar novas modalidades ao público luso. No seu caso, recusa transformar isso em missão pessoal declarada: vê-o antes como consequência natural de um projeto bem construído e de resultados em pista.

“Não diria que é a minha missão. Claro que é algo que vai aconteceu naturalmente com o avançar do projeto. Espero que traga a visibilidade e que permita facilitar a tarefa das próximas gerações dos pilotos estão agora a vir dos karting para as fórmulas”.

Objetivo: ser profissional, com próximos passos “muito bem pensados”

Sobre o futuro, Ivan Domingues admitiu que a época 2026 está praticamente definida, mas a seu tempo anunciará qual o plano. O sonho de criança era – e continua a ser – chegar à Fórmula 1, mas o objetivo que coloca hoje em primeiro plano é tornar‑se piloto profissional, com um percurso sustentável no mais alto nível possível. “Os próximos passos vão ser muito bem pensados e muito cautelosos”, sublinha, consciente de que cada escolha de categoria, equipa e calendário pode acelerar ou comprometer a carreira.

Entre a necessidade de garantir quilómetros em carros competitivos, a limitação de orçamento e a vontade de continuar nas fórmulas internacionais, o português entra no defeso com a sensação de ter dado um passo em frente importante em 2025: ganhou uma corrida num campeonato de referência, mostrou velocidade pura em traçados icónicos e provou a si mesmo – e ao paddock – que, com as mesmas armas, pertence ao grupo dos que lutam lá à frente.

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