Estórias das Corridas: O acidente de António Ruão: “Troféu sim, guerra não!”

Por a 26 Julho 2023 10:15

O título da peça diz tudo. E as imagens também: um Mini retorcido, em redor de um candeeiro de cimento, para iluminação pública, situado mesmo à beira do asfalto da pista do Circuito de Vila do Conde de 1978. Lá dentro, esteve António Ruão, nesse ano um dos candidatos ao triunfo no troféu Mini 1000. Foi retirado com vida, em estado comatoso, socorrido no hospital de Vila do Conde, depois transportado para o de São João, no Porto: “Teve de dar entrada no serviço de reanimação devido a problemas respiratórios causados pelas costelas partidas. Para além disso, Ruão teve fratura do maxilar inferior e fratura do temporal direito, não muito profunda.” A recuperação foi lenta, mas o piloto sobreviveu.

O acidente que o atirou para a cama de um hospital durante longas semanas, aconteceu na última curva da prova dos Mini, numa altura em que era ele o comandante, mas muito assediado por Costa e Sousa e Joaquim Santos, ambos pilotos da equipa rival no caminho para o título, a J.M.Costa, patrocinada pela Lopes Correia. Durante todo esse ano, a luta entre esta equipa e a Ruão Automóveis foi intensa – muitas vezes, para lá disso! O ambiente, em Vila do Conde, entre os elementos das duas formações – que incluía, na J.M.Costa, nomes como Joaquim Santos, Rui Lages, José Meireles Costa e José Luis Costa e Sousa e, na de Ruão, além do próprio, Rogério Moura, Artur Teixeira, José Carlos Fernandes e Álvaro Parente – era de cortar à faca.

E assim continuou durante toda a corrida, até que se deu o acidente (quase) fatal, na reta a seguir à cuva do Restaurante Praia Azul. Contou o AutoSport, na ocasião: “Com Ruão a comandar, assiste-se depois à tentativa deste em segurar o primeiro lugar, enquanto os dois homens do Team Lopes Correia lhe movem ataque cerrado, tentando a ultrapassagem. Até antes de se entrar na última volta, António Ruão aparece tocado na traseira, com Costa e Sousa praticamente colado. [Na última volta] … António Ruão surge à frente de Costa e Sousa e Joaquim Santos à entrada do ‘Praia Azul’ (…) Já com os Minis em reta, António Ruão é tocado por Costa e Sousa, que projeta o Mini deste para cima do passeio, desfazendo-se por completo a viatura ao abraçar um poste de iluminação. Os momentos vividos a seguir são indescritíveis por todos aqueles que chegaram ao automóvel de António Ruão. Dentro de uma amálgama de ferros e chapa retorcida, foi com bastante custo que se conseguiu retirar o piloto (…).”

A corrida terminou de imediato, com a vitória a ser atribuída a Joaquim Santos. Na altura, muito se especulou com esta “guerra absurda” entre as duas equipas, uma de Braga e outra de Paredes. Falou-se de muita coisa, incluindo a razão da gravidade de estado de Ruão se dever ao fato de ele usar um “roll-bar” em alumínio, ou até em cartão (!), coisa que mais tarde o próprio desmentiu de forma categórica. Então, o piloto foi acusado pelos seus rivais de ter andado toda a corrida “a tapar deliberadamente” os adversários que, em desespero de causa, terão tentado o tudo ou nada na última volta. Seja verdade ou mentira, a consequência foi quase fatal e, nesta segunda edição do Circuito da Costa Verde, o caso que atirou para a História esta corrida.

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jem
jem
3 anos atrás

Grandes corridas. É verdade que a rivalidade entre estas duas equipas foi algo nunca visto, e que julgo não se voltará a ver .Até a da Volvo/Rover era pequena face a esta. Era inacreditável, até na forma como corriam. Há histórias em todas as provas.

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