Opel Calibra V6 4×4 DTM/ITC: O contrapoder alemão

Por a 25 Junho 2020 08:55

A Opel, em 1993, decidiu tentar bater o poderio da AMG-Mercedes no DTM, competição em que davam cartas há alguns anos. Para isso, criou um projeto ambicioso, utilizando o elegante Coupé Calibra, na sua versão mais musculada, com um motor V6 turbo, capaz de desenvolver 500 cv. Não foi fácil – foram precisos dois anos para finalmente chegar o sucesso. Só que, com ele, acabou o sonho do DTM. Que, nesse ano, já nem tinha esse nome, mas sim ITC.

O Opel Calibra V6 4×4 estreou-se no DTM na última jornada de 1993, com Keke Rosberg e Manuel Reuter como pilotos, inscritos pela equipa Jöest, que preparava e assistia os carros. O resultado não foi famoso (Rosberg foi 7º na primeira corrida, mas Reuter correu e desistiu apenas na primeira e Rosberg não chegou ao fim na segunda), mas isso não pediu a Opel de manter o projeto para o DTM de 1994.

Neste ano, “John Winter” (na realidade, chamava-se Louis Krages e esse foi o seu penúltimo ano como piloto, refugiando-se nos Estados Unidos, onde com problemas fiscais e em depressão, veio a suicidar-se em 2001, aos 51 anos) juntou-se a Rosberg e a Reuter na já oficial Opel Team Jöest, mas os resultados não foram muito melhores. Apesar de tudo, Reuter conseguiu a proeza de vencer a segunda crida de Donington, para grande alegria dos homens da Opel e, no final do ano foi classificado no 8º lugar do DTM, com 89 pontos – menos quase rês vezes que o campeão, Klaus Ludiwg.

Ambiciosa, a Opel foi então buscar precisamente Ludwig para, em 1995, ter consigo aquela que então era considerada como a principal arma de ataque ao poderio da “estrela”: um piloto com a experiência e o palmarés de Ludwig, já então o melhor piloto que existia no DTM. Além disso, entregou os Calibra a mais que uma equipa (Team Jöest e Team Rosberg) e por isso foram seis os pilotos que correram com o carro, em 1995 – entre eles, o português Ni Amorim (ver caixa). Mas, infelizmente, o DTM era um campeonato cada vez mais condenado ao isolamento, com as marcas a investirem somas milionárias em tecnologia de ponta. Basta dizer que já então, os carros do DTM eram quase mais caros que os da F1 e tinham coisas que estes não tinham…

Meia dúzia de pódios não chegariam para salvar a temporada, que misturou as provas apenas do DTM e todas elas na Alemanha e o ITC, que foram as provas realizadas fora do país – mas esta terminou com uma dupla vitória na derradeira jornada, em Hockenheim, através, claro, de Klaus Ludwig, o que animou as hostes da casa de Russelsheim, que já então estava a preparar-se com afinco para o tudo ou nada no ano seguinte.

Finalmente o título

1996 foi um ano atípico – e o último do DTM, que nesse ano decidiu apostar numa quase “louca” internacionalização, saindo da zona de conforto europeia para correr no Brasil e no Japão, no final do ano.

Ano em que foram oito os pilotos que correram em todas as corridas separados por três equipas diferentes: Opel Team Jöest, Opel Team Rosberg e Opel Team Zakspeed. Além destes, outros quatro surgiram esporadicamente, em especial na terceira parte da temporada e dois deles apenas nas jornadas japonesa e brasileira. Favoritos à luta pelo título, eram Klaus Ludwig e Manuel Reuter. E não desiludiram.

Reuter começou logo a temporada a vencer, na primeira corrida de Hockenheim, repetindo o sucesso logo na segunda jornada, em Nürburgring. Ao longo do ano, a excelência do Opel Calibra V6 4×4, que foi totalmente renovado e evoluído no defeso, permitiu que pelo menos um dos oito pilotos “residentes” de uma das equipas oficial subisse ao pódio. Raras foram as exceções – Diepholz, um velho aeródromo militar de características atípicas e onde os Calibra nunca foram competitivos; a jornada de Verão de Nürburgring e as duas últimas jornadas, em São Paulo e Suzuka. Só que, então, o título já estava entregue a Manuel Reuter – que, ao longo do ano, venceu três corridas (duas em Hockenheim e uma em Nürburgring) e subiu por mais seis vezes ao pódio, pontuando em 19 das 26 vezes possíveis. Esclarecedor…

Mas o que provocou este súbito aumento da competitividade do Calibra? Simples: um motor (oriundo do Monterrey, mas com a cilindrada diminuída dos 3,2 litros para os 2,5) mais eficiente, uma aerodinâmica mais eficaz, uma maior robustez bem como um menor peso. Associando-se à Cosworth, a Opel tentou eliminar os pontos débeis que ficaram em evidência em 1995. Mas não era uma tarefa fácil; as regras eram muito rígidas – seis cilindros e 2,5 litros de cilindrada, sobrealimentação proibida e conservação dos materiais de série, bem como a manutenção das distâncias de série entre os cilindros.

Por isso, foi decidido homologar um novo motor, no início de 1996. Em alumínio, tinha um maior ângulo de colocação dos cilindros, agora aberto para 75º, o que permitia uma menor altura do conjunto e, logo, diminuir o centro de gravidade. Além disso, as válvulas eram de maior diâmetro e acionadas pneumaticamente, melhorando a taxa de compressão. Com as rotações limitadas às 12.000, podia-se no entanto reduzir o curso e logo, a velocidade dos pistões diminuindo assim as perdas por inércia.

A carroçaria, quase toda em fibra de carbono, era mais baixa que a de série e o chassis foi também modificado, para poder receber o novo motor. Os radiadores eram maiores e permitiam mais refrigeração, o que foi também melhorado com novas entradas de ar. Os radiadores foram ainda colocados longe das zonas críticas em caso de colisão (nunca foram esquecidas as imagens do acidente quase fatal de “John Winter” em AVUS, em que o Calibra se desintegrou e explodiu em chamas, em 1994).

O resultado não dia ter sido melhor, pois, à terceira tentativa, finalmente a Opel venceu o DTM. Perdão! O ITC – o DTM já não existia enquanto tal. Regressou mais tarde, em 2000, com nova imagem e novas regras.

Ni Amorim, piloto oficial Opel

Ser piloto oficial é o sonho de qualquer piloto. Isso aconteceu com Ni Amorim, que foi piloto oficial da Opel desde 1993 e, em 1995, foi “convidado” pela marca a disputar o DTM, com o Calibra V6 4×4. Amorim tinha 33 anos e foi colocado no Team Rosberg, que não era porém a equipa principal da marca e isso refletiu-se nos seus resultados. Difícil de pilotar, o Calibra 4×4 era quase um “monstro, mas acabava por ser muito interessante de pilotar nos limites. Infelizmente, o Calibra da equipa gerida por Keke Rosberg tinha outro problema: era muito frágil mecanicamente e nem sempre chegava ao fim das corridas.

Quarto piloto da equipa, onde a estrela era o próprio dono, Keke Rosberg, mesmo assim Amorim teve ardorosas batalhas com os seus outros dois colegas de equipa, Yannick Dalmas e JJ Lehto, que tinham antes sido pilotos de F1 e tinham mais experiência internacional que o português.

No toal, Ni Amorim disputou 16 corridas do DTM/ITC com o Opel Calibra V6 4×4 do Team Rosberg. Desistiu em cinco e obteve o seu melhor resultado logo na jornada de abertura, em Hockenheim, onde se classificou no 8º lugar na segunda corrida. No final do ano, conquistou um total de 5 pontos no DTM, que terminou em 21º lugar.

CARATERÍSTICAS TÉCNICAS

Carroçaria: em fibra de carbono, com caixa de segurança tubular, coeficiente aerodinâmico (cw) entre 0,33 e 0,43, dependente das afinações aerodinâmicas

Motor: Dianteiro, longitudinal; V6 a 75º, 4 v por cilindro, 24 v, 2.498 cc; distância ente os cilindros (mm): 102; quatro árvores de cames à cabeça; Diâmetro x curso (mm): 94 x 60; Relação de compressão: 12,5:1; injeção electónica Bosch Motronic MS 1.9

Potência máx. (cv/rpm): 500/11.650

Binário máx. (Nm/rpm): 310/9.000

Transmissão: 4×4; caixa de seis velocidades longitudinal, com relações desportivas; modo sequencial; embraiagem de três pratos em carbono, bloqueio diferencial mecânico ou electro-hidráulico

Tanque de combustível: dividido em três secções (uma na traseira, duas sob o lugar dos bancos traseiros), 140 litros de capacidade

Comp./Larg./Alt. (/mm): 4.673/1.756/1.385

Distância entre eixos (mm): 2.605

Vias (mm): 1.570 (dianteira e traseira)

Suspensão: duplos braços, molas, amortecedores e barras de torção funcionando por “push rod” e “rockers” amortecedores ajustáveis; barras estabilizadoras de ajuste hidráulico; direção assistida hidraulicamente; triângulos duplos

Travões: Bremsen, assistência hidráulica, duplo circuito; ABS de competição, de 4 fases, Bosch; 6 pistões dianteiros monobloco em cada roda com duas ligações por roda; pinças em fibra de alumínio reforçada; braços ventilados internos em aço; diâmetro (mm): 380 (frente); 313 (atrás)

Jantes/pneus: BBS em magnésio forjado, 19”; pneus Michelin

PALMARÉS

Carro: Opel Calibra V6 DTM

Anos: 1993-1996

Corridas: 38 (DTM/ITC)

Primeira corrida: ADAC-Preis Hokenheim, 19/09/1993

Última corrida: ITC Suzuka, 10/11/1996

Vitórias: 12 (Klaus Ludwig, 6; Manuel Reuter, 4; Hans-Joachim Stuck, 2)

Primeira vitória: Donington Gold Cup, 17/07/1994 (Manuel Reuter)

Última vitória: DMV-Preis Hockenheim, 13/10/1996 (Manuel Reuter)

Pódios: 39

2º lugares: 12

3º lugares: 15

Pontos: 1.124

Pilotos: Keke Rosberg e Manuel Reuter (1993); Keke Rosberg, Manuel Reuter, “John Winter” (1994); Klaus Ludwig, Manuel Reuter, Keke Rosberg, JJ Lehto, Yannick Dalmas, Ni Amorim (1995); Manuel Reuter, Hans-Joachim Stuck, Uwe Alzen, JJ Lehto, Klaus Ludwig, Oliver Gavin, Alexander Wurz, Yannick Dalmas, Gianni Giudici, Volker Strycek, Masanori Sekiya, Tony Kanaan (1996)

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