O combustível que alimenta a paixão pelas corridas de Pedro Salvador é o gosto pelo desafio que surge em cada corrida, ao entrar numa competição nova… o desafio de se superar a si próprio:

“Gosto do desafio. Não o de levar a melhor sobre quem quer que seja, mas sim o que me imponho a mim, de ser capaz de superar uma nova competição, num novo mundo que pode até ser desconfortável. Um exemplo mais recente disso foram os Caterham, nos Super Seven. Tinha a noção que ia para uma competição extremamente competitiva, com bons pilotos, com técnicas muito próprias que temos de aprender rapidamente, seja a estratégia de corrida, gerir os cones de ar, os timings certos… encarei isso de coração aberto, mas verdadeiramente desejoso de ter um novo desafio, num campeonato em que arrancar de primeiro ou de décimo não faz grande diferença, mas onde a luta é leal mas dura, como eu gosto. Esse desafio é o que me faz gostar de provas de montanha, por isso gostaria também de ter feito ralis a sério, pelo desafio que exige ao piloto de se adaptar a vários tipos de condições e de terrenos.”

Estar na competição é buscar a glória e os bons momentos. Para Salvador a lista de momentos altos é grande, mas com destaque para alguns em especial:

“Tenho vários momentos bons que fizeram todo o esforço valer a pena. Felizmente também não tenho muitos maus, o que é ótimo. Mas guardo com particular carinho a primeira vez que venci em Vila Real, que foi um momento incrível. A Boavista, em 2013, quando fiz a pole no protótipo e no Porsche… E depois a própria corrida, com a Boavista cheia de público, com o ambiente fantástico que se viveu em 2013 e a performance que conseguimos alcançar com o António Nogueira, numa participação isolada com um bom carro, mas com uma estrutura radicalmente diferente da concorrência. Outro momento alto foi o primeiro título, que pude dedicar a um dos meus bons amigos que faleceu num acidente no ano anterior, que me deixou com o sentimento de missão cumprida. São vários momentos e sinto-me um privilegiado por ter conseguido o que outros pilotos contra quem corri na Fórmula Ford e na Fórmula Novis, que era belíssimos pilotos, mas que por circunstâncias diversas não conseguiram. Não penso no que poderia ter sido a minha carreira… continuei a fazer o que gosto, continuei a ganhar corridas e há imensa gente que também o podia ter feito e que tinha todas as condições para o fazer também, mas ou não tiveram a sorte ou não puderam ter o privilégio de o continuar a fazer. Sou muito grato por tudo o que conquistei até agora.”

Como em tudo na vida, há um momento que marca a diferença. Um momento em que entendemos que somos capazes de cumprir o nosso potencial. Para Salvador esse momento veio em 1997, com a ajuda de uma pessoa:

“O primeiro momento que marca a diferença foi em 1996 inicio de 97, a primeira vez que tive a oportunidade de trabalhar com um engenheiro de corrida a sério, que além de me ter entregue um carro com um nível de competitividade completamente diferente do que tinha tido até então, me fez evoluir muito. Em 94 e 95 podia ter tido o melhor carro do mundo, mas não tinha experiência para tirar partido dele. Faz parte da aprendizagem e todo piloto que quer fazer competição tem de estar consciente que há um período de aprendizagem que é duro e que não demora dois meses. Pode treinar o que quiser, mas vai ter de viver essa experiência. Mas em 96 conheci o Ken Bowes, que além de afinar o carro, afinou-me a mim. Trabalhou comigo aquela parte que em competição é fundamental, a parte mental. O físico é importante, mas o mental é que nos permite estar preparados para qualquer situação e o Ken foi uma peça fundamental, pela forma como me educou e pela abordagem que me ensinou, que é a mesma que uso desde então, adaptando-a e tentando evoluir sempre. Conheci-o em 96 em Spa e posso dizer que desde aí até 2002, devo ter terminado duas vezes fora do pódio. E antes de o ter conhecido, fui ao pódio duas ou três vezes.

Pedro Salvador: “Tenho vários momentos bons que fizeram todo o esforço valer a pena”

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