24h Daytona: Os heróis portugueses

Por a 26 Janeiro 2023 16:41

Daytona. Um dos palcos mais desejados do endurance mundial. Uma pista mítica que recebe a primeira grande prova mundial de resistência. As 24h de Daytona. Uma prova onde os portugueses já puderam festejar os triunfos das estrelas nacionais.

O conceito de tempo, tal como o entendemos hoje, foi desenvolvido ao longo de milhares de anos por diferentes culturas e civilizações. Inicialmente dependentes de fenómenos naturais, o engenho do Ser Humano permitiu chegar a uma era onde o tempo passou a ser medido por instrumentos mecânicos. É preciso recuar até ao século XIV para encontrarmos os primeiros relógios mecânicos. Definiu-se que um dia tem 24 horas e que cada hora tem 60 minutos e que cada minuto tem 60 segundos. O dia passou a ser visto não apenas como o tempo que vai desde que o sol se levanta até que ele se põe. O dia passou a ter sempre exatamente 24h.

O que se pode fazer em 24h? Esta pergunta é muitas vezes feita em vários contextos, mas no das corridas, desde que os veículos motorizados começaram a competir (diz a lenda que a primeira corrida foi feita assim que se fez o segundo carro) que o Homem se questionou quantos quilómetros poderia percorrer em 24h. E essa pergunta foi respondida pela primeira vez no dia 12 de maio de 1923, 24h depois da partida de uma prova no circuito francês de La Sarthe, em Le Mans. O fascínio pelas corridas de resistência, em que homens e máquinas são testados ao limite, foi galgando fronteiras e em 1966 essa mesma pergunta foi feita pela primeira vez no Circuito de Daytona.

Desde então, a história tem sido escrita a cada ano, sempre com a mesma pergunta, mas com pilotos, máquinas e equipas diferentes. O mundo das corridas mudou radicalmente, mas pretende responder todos os anos a uma das mais elementares perguntas. E os pilotos tornam-se heróis, pois não é preciso ser apenas rápido. É preciso velocidade, resiliência, fiabilidade mecânica e… um pouco de sorte. Uma fórmula nem sempre fácil de encontrar. 

De Portugal, saíram alguns pilotos que encontraram essa fórmula. Talentos nacionais que por força do seu talento, triunfaram numa das provas mais prestigiadas do mundo. O primeiro nome que vem à cabeça quando se fala em Daytona é o de João Barbosa. O piloto português é uma das maiores referências da prova, saboreou o primeiro triunfo em Daytona em 2003, um triunfo na sua categoria (GTS). João Barbosa chegou a ter a corrida hipotecada, quando a três escassas horas do final da prova, problemas de arrefecimento no motor do Mosler MT 900R provocaram uma paragem imprevista nas boxes. No entanto, regressou à pista, para uma surpreendente “ponta final” gloriosa, assumindo o comando da categoria GTS a meia hora do final e vencendo com o Mosler MT 900R. Uma vitória bem suada, portanto.

Mas o desejado triunfo à geral chegou em 2010, quando Barbosa tornou-se o primeiro português a ganhar as míticas 24 Horas de Daytona.  Depois de duas épocas com a Brumos, lançou-se à aventura e aceitou fazer parte de um novo projecto Action Express Racing. Os pilotos eram experientes, o chassis tinha rodagem, os mecânicos vinham da equipa que ganhou Daytona em 2009… só havia uma incógnita, o novo motor, um Porsche V8 desenvolvido pela Lozano Bros, sem apoio da casa-mãe. Mas este não causou problemas. Aliás, o Riley-Porsche quase não deu problemas nenhuns. Foi apenas nas últimas três horas que a embraiagem e o pedal do acelerador mostraram sinais de fadiga, mas nessa altura já Barbosa e os seus colegas tinham aprendido a controlar o seu novo carro e chegaram ao fim da prova com vantagem suficiente para serem os primeiros a ver a bandeira de xadrez.

A coleção de relógios Rolex, marca que patrocina a prova desde 1992, de Barbosa aumentou em 2014 quando conseguiu o segundo triunfo à geral. Com uma corrida quase perfeita, em que não se deixou derrotar nem com uma penalização que lhe custou uma volta, e onde esteve bem acompanhado por dois outros talentosos pilotos, Christian Fittipaldi (que também já tinha vencido em 2004) e Sébastien Bourdais, um dos poucos pilotos conseguiu combinar carreiras simultâneas nos monolugares e na resistência.

Mas depois de Bourdais recuperar a volta de atraso, foi Barbosa a passar para o volante do Corvette DP da Action Express Racing na última hora. Após construir uma pequena vantagem sobre o carro idêntico da Wayne Taylor Racing, uma intervenção do safety car acumulou todos os carros da frente e obrigou Barbosa a atacar a fundo nos momentos finais da corrida americana para se afastar da pressão da concorrência.

Como não há duas sem três, Barbosa venceu em 2018 à geral pela terceira vez, desta vez com a companhia de um compatriota, Filipe Albuquerque (com a ajuda de Christian Fittipaldi). A vitória inquestionável, de um carro americano com uma tripulação luso-brasileira, um ano depois de no mesmo palco, um incidente a menos de 10 minutos do fim roubar o sonho à dupla portuguesa. Uma espécie de justiça poética tão mais saborosa. Uma corrida sofrida em que a vantagem ganha depois de uma luta acesa com os Acura, foi gerida com pinças, com os motores americanos a acusarem o esforço com temperaturas acima do ideal. 

Foi a terceira vitória de Barbosa à geral e o primeiro relógio Rolex para Albuquerque que, tal como Barbosa, já tinha vencido a corrida à classe (GT), logo na sua primeira visita, em 2013. Em 2016 fez a primeira corrida na classe principal com a Action Express, ao lado de Barbosa, no último ano dos DP, antes da entrada dos DPi.

Albuquerque voltou a vencer a prova em 2021. Um recital de condução dado pelo piloto luso, na última hora da prova em que segurou de forma imperial a liderança da prova, no seu primeiro ano na Acura, adaptando-se a um carro novo e uma equipa nova. Os ataques dos adversários sucederam-se, mas nada perturbou a estrela portuguesa, que conquistou assim Daytona pela terceira vez, segunda à geral.

Hurley Haywood e Scott Pruett são os pilotos com mais vitórias em Daytona (cinco cada). Barbosa está numa ilustre lista que conta com nomes como Derek Bell, Juan Pablo Montoya, Scott Dixon e Christian Fittipaldi com três triunfos à geral. Albuquerque, com duas, iguala os registos de Ken Miles, A. J. Foyt, Al Unser Jr., Kamui Kobayashi, Hélio Castroneves entre outros. 

Este ano, a representação lusa em Daytona conta com João Barbosa que vai tentar vencer em Daytona, mas desta vez na categoria LMP3, enquanto Filipe Albuquerque vai tentar igualar o feito de Barbosa, tentando trazer o terceiro relógio Rolex. Guilherme Oliveira vai juntar-se à lista de piloto lusos que participaram na prova americana que conta com nomes como Pedro Lamy, Álvaro Parente e António Félix da Costa.

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