Elisabete Jacinto terminou projeto desportivo
Elisabete Jacinto decidiu terminar o projeto desportivo da sua equipa. O último África Race, que como se sabe culminou com o triunfo da equipa lusa nos camiões, foi a última vez que se viu o bonito MAN vermelho com decoração da Bio-Ritmo a percorrer as pistas do deserto.
Para a piloto: “Foi um projeto ambicioso, mas muito difícil, que conseguimos concretizar com sucesso mas com as condições mínimas. Dado que, de futuro, não é possível garanti-las, optámos assim por concluir este ciclo desportivo. Estamos agora a preparar-nos para dar início a um outro projeto”, disse a piloto que recentemente lançou um livro que retrata a sua carreira nos Camiões, chamado “100 Imagens. Algumas Histórias”.
Em associação com o fotógrafo Jorge Cunha publicaram o livro “Cem imagens. Algumas Histórias”, em que Elisabete Jacinto relata as suas aventuras e desventuras desde que passou a competir de Camião, numa obra de edição limitada que está à venda nas livrarias FNAC e Bertrand, e cuja receita reverte a favor da Associação Humanidades, instituição Particular de Solidariedade Social que apoia jovens mães em situações de risco assim como os seus filhos.
Foram várias as vezes em que
Elisabete Jacinto colaborou com esta associação e agora, através
desta publicação, a piloto está a contribuir para uma ainda maior
divulgação.
Este livro resulta da vontade de
Elisabete Jacinto contar as histórias por trás do projeto
desportivo que vão muito para lá das competições. Através desta
compilação de fotos de Jorge Cunha, um dos melhores fotógrafos de
ação nacionais, a piloto transporta-nos para o ambiente vivido nas
corridas e mostra-nos, com o auxílio das imagens, as experiências
que estão por detrás de cada foto: “As fotos marcaram desde
sempre a minha participação nestes ralis em África onde a solidão
é uma das principais características. Não só me permitem dar
conta da beleza das paisagens por onde passo e que no momento não
tenho condições de as ver, como também reviver momentos vividos
nas etapas e partilhá-los com as pessoas. As fotos constituíram
desde sempre a nossa forma de comunicar os nossos feitos, quaisquer
que sejam…”, contou Elisabete Jacinto.
Mas vamos às histórias…
A NOSSA HISTÓRIA
Foi em Janeiro de 2003, no rali Telefónica-Dakar, que participei pela primeira vez em camião, um Mercedes 1936 com muitos quilómetros e muitos anos de vida. Foi alugado a uma equipa espanhola, a quem não pareceu causar transtorno a minha falta de experiência na condução deste tipo de veículos. Na realidade, havia tirado a carta de pesados apenas há três meses e, este facto, valeu-me a vivência de algumas situações mirabolantes. Apesar das imensas dificuldades encontradas, achei que poderia ser bastante mais competitiva do que havia sido de moto. Essa ideia agradava-me bastante.
Precisava, contudo, de um veículo
competitivo e de uma boa equipa para atingir os resultados
ambicionados. Apesar da dificuldade, consegui, em pouco tempo, um
acordo com a Renault Trucks de onde resultou a formação de uma
equipa Ibérica, com o camião a ser produzido em Madrid, navegador e
mecânico de nacionalidade espanhola, piloto e principal patrocinador
português.
Foi assim, de Renault Kerax, que
iniciei a minha aprendizagem. Este projeto estendeu-se até Janeiro
de 2006 onde, numa das etapas da Mauritânia no rali Lisboa-Dakar, se
parte o eixo da frente obrigando-nos a passar dois dias e duas noites
em pleno deserto. A recuperação do Kerax foi extremamente difícil
e este só regressaria a casa em Junho, depois de uma sucessão de
histórias admiráveis. Chegou-se, por essa altura, à conclusão de
que não havia meios para continuar a adaptar o camião à competição
e o projeto terminou.
Alimentando o sonho de me tornar um
verdadeiro piloto de camião, marcámos uma reunião com a MAN com o
objectivo de conseguir o apoio técnico para que o nosso projeto se
tornasse viável…de forma nenhuma poderíamos partir sozinhos para
esta aventura! Nessa reunião teve início um relacionamento estreito
na qual “nasceu” o MAN M2000, que foi concebido e construído
para nós. Pintámo-lo de laranja e decorámo-lo com o logo da
Trifene 200®. Aquele foi verdadeiramente o “meu” camião com o
qual criei uma sintonia fantástica e fiz uma grande evolução como
piloto.
Chamávamos-lhe Princesa, nome
atribuído pelo mecânico Marco Cochinho e, de forma alguma, encarava
a possibilidade de o trocar. Contudo, numa das etapas do rali Dakar
Argentina-Chile em 2009, num acidente que envolveu o Buggy do piloto
Ivan Muller, em virtude das circunstâncias da prova, os dois
veículos incendiaram-se e desapareceram definitivamente sobre o
nosso olhar incrédulo.
Sou incapaz de descrever o quanto
sofremos e considero este um dos momentos mais difíceis por mim
vividos. Acreditei que a minha carreira tinha chegado ao fim, assim,
de uma forma prematura e, naquelas chamas, vi arder todo o trabalho
levado a cabo ao longo daqueles anos e todo o meu sonho de me tornar
um grande piloto.
Por circunstâncias fantásticas e
francamente inesperadas, reuni as condições necessárias para
adquirir o novo (na altura) modelo da MAN, o TGS, com um motor de
doze mil centímetros cúbicos e já com mais de seiscentos cavalos
de potência. Apesar de mantermos o modelo de série, fomos fazendo
pequenas alterações de modo a torná-lo mais competitivo. Bastante
mais difícil de conduzir que o anterior, o meu progresso foi-se
fazendo a par com a evolução técnica. Com ele venci e cheguei ao
pódio de várias corridas onde participei.
A ÚLTIMA CONQUISTA
Recordo o momento em que desejei profundamente terminar as etapas do rali ainda durante o dia. Tinha saudades de chegar ao acampamento ao entardecer e gozar com tranquilidade as últimas horas antes de escurecer, como fazia quando era piloto de moto… mas tal nunca acontecia. Pelo contrário, era frequente chegar de madrugada ou mesmo depois do sol ter nascido. Estávamos em 2003 e eu participava no Dakar pela primeira vez de camião.
Atingido este objetivo, concentrei-me
de corpo e alma na realização do meu desejo mais profundo:
tornar-me piloto de topo em camião, com resultados de pódio. Um
sonho que tinha todos os ingredientes para não se realizar.
Arrastei para este desafio o Jorge,
que prescindiu de muito para estar sempre ao meu lado e tive o Marco
Cochinho como suporte durante todo este tempo. Juntos fomos
trabalhando e, em muitos momentos, tivemos de ser extremamente fortes
e determinados para enfrentar todas as dificuldades e ultrapassar
adversidades. Aparámos os golpes de má sorte e seguimos construindo
o caminho para chegar aos bons resultados desportivos. Em muitos
momentos sentimo-nos cansados, frustrados, desanimados… mas,
encorajados pelo objetivo que nos guia, nunca nos deixamos abater.
Ao meu lado tem estado sempre o
laboratório Medinfar que, com as três marcas, Trifene 200, Oleoban
e Bio-Ritmo, me permitiu lutar pela realização do meu sonho,
constituindo um bom exemplo de como a associação ao desporto pode
ser uma boa estratégia de marketing.
A equipa é demasiado pequena e, por
isso, cada um de nós tem de trabalhar muito e em várias áreas. Da
minha parte, confesso que gosto da gestão da equipa e encaro
qualquer outra tarefa menos simpática como o preço a pagar para
poder participar em corridas… e faço-as com agrado!
Sempre que o camião desliza a
velocidades que não perdoam o mais pequeno erro, como se estivesse
montado sobre um carril… sempre que o silêncio é o cantar do
motor ao ritmo das acelerações e das passagens de caixa… sempre
que a tranquilidade da voz do Zé a ditar notas cria uma perfeita
sintonia entre os quatro… aí sim!…sinto que valeu a pena todo o
esforço para estar ali!… e o prazer é ilimitado.
Algumas conquistas foram difíceis e,
confesso, a condução sobre as dunas foi uma das últimas.
Imprevisíveis, traiçoeiras, dificultadas pela grande altura do
camião ao solo que impede uma boa leitura do terreno, as dunas
tiveram desde sempre o condão de me enervar. Perseguia-me o medo de
virar o camião, o que acabou por acontecer por duas vezes.
Curiosamente, dos maus momentos vividos em cada uma destas situações,
resultou uma experiência de vida fabulosa, permitindo-me aprender e
amadurecer.
E para quê tanto esforço, tanto
trabalho, tantas concessões? Para realizar o meu objetivo e com isso
provar a mim própria que não há impossíveis, não há obstáculos
que não se consigam vencer e que somos, afinal, muito mais capazes
do que pensamos ser. Que a verdadeira força está dentro de nós e
que a capacidade para sonhar, trabalhar e acreditar são os
ingredientes para chegarmos onde quisermos. Para servir de inspiração
a todos aqueles que vacilam perante estereótipos e pressões sociais
e se sentem incapazes de “arregaçar as mangas” para trabalhar e
concretizar o seu sonho. Afinal, eu sou só uma mulher igual a tantas
outras!
Não esqueça! As receitas do livro
“Cem imagens. Algumas Histórias”, à venda nas livrarias FNAC e
Bertrand, revertem a favor da Associação Humanidades, instituição
Particular de Solidariedade Social que apoia jovens mães em
situações de risco assim como os seus filhos.
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