Porque Loeb troca de navegador? Filipe Palmeiro explica o que mudou na navegação do Dakar

Por a 18 Março 2021 14:44

Na sequência do que se passou com a saída de Daniel Elena de co-piloto de Sébastien Loeb, fomos tentar perceber junto de um experiente navegador português no Dakar, Filipe Palmeiro, o que mudou este ano no Dakar em termos de navegação que pode ter contribuído para que David Richards, a Prodrive, e Sébastien Loeb tenham preferido trocar de navegador, de modo a potenciar as hipóteses de vencer o Dakar no futuro. 

Filipe Palmeiro explica que a navegação se tornou muito mais complexa, tudo tem de ser feito muito mais de improviso, porque deixou de ter notas tão específicas, revelou o navegador português que este ano vai disputar a Taça da Europa de Bajas com Benediktas Vanagas, o seu piloto dos últimos Dakar

A menor experiência de Daniel Elena no TT pode ter sido decisiva, mas isso só pode ter explicação nesta nova forma de encarar a navegação no Dakar, pois em 2016, a dupla venceu quatro etapas, Peterhansel três, Sainz e Al-Attiyah duas, isto no primeiro ano, em 2017, ganharam cinco etapas e perderam o Dakar por cinco minutos, em 2018, desistiram cedo.

O futuro o dirá, mas só a equipa e Loeb saberão melhor a extensão das razões que levaram a esta decisão: “A experiência que eu tive neste Dakar, que não tive nos anos anteriores, é que a navegação foi muito intensa a tendência dantes eram notas muito distantes e apesar de haver notas confusas era mais fácil encontrar o  fio à meada. As notas agora são muito mais curtas, mas têm muito mais informação e se nós perdemos ali um pontinho, é muito mais difícil de corrigir. Agora é muito mais difícil de encontrar marcas porque o ritmo também é alto.

Quando é muito difícil a navegação, os pilotos devem reduzir o andamento para deixar menos margem para enganos. A preparação que era feita antes, feita duma forma completamente diferente com os homens dos mapas no Google Earth, hoje em dia os road book são entregues em cima da hora, pelo que não temos a mesma preparação e temos de ser mais rápidos a pensar.

Normalmente o que acontece hoje em dia é que seguimos numa pista e de repente percebemos que aquela pista vai para um CAP (direções da bússola expressas digitalmente. Este é C.90, Sul é C.180, Oeste é C.270, Norte é C.360 ou C.0, etc. Por exemplo, se estiver a viajar em C.50, e o roadbook diz-lhe para mudar para C.140, virará diretamente para a sua direita. C.50 para C.320 é uma curva diretamente à esquerda) e o problema é que se a pista nos leva a fugir completamente, por vezes temos que sair fora de pista para ir apanhar outra, que podemos não ter visto e pode ser aquela a correta.

Dantes havia mais descrição pista a pista, agora é muito diferente. Agora há zonas que são uma enorme confusão, por exemplo as saídas de rios secos, este ano tive algumas dificuldades em zonas dessas porque nunca sabemos se uma nota é para sair do rio ou não. Será que a pista para que estamos a mudar vai sair do rio ou não, até porque a ASO para dificultar as coisas, omite.

A navegação agora é muita intensa, há muitas mudanças de ritmo, há muitas notas intermédias dentro da própria nota, que são importantes, às vezes mais do que um desenho, numa mudança de um CAP. Quando se perde o fio à meada numa situação destas é muito complicado voltar a entrar no sítio certo, no ritmo.

Basicamente o que é mais complicado hoje em dia é a informação e a forma como a informação nos chega e a preparação”, disse Filipe Palmeiro, que neste momento está a rever o rali deste ano no Google Earth pois entendem-se melhor os erros e aprende-se com isso.

Talvez desta forma se perceba um pouco melhor as razões que levam à troca, mas a verdade é que é quebrada uma ligação de 23 anos, e o novo navegador que chegar, vai ter em cima o peso desta decisão. A troca é feita para Loeb ter mais hipóteses de vencer. Quem tem razão só o futuro dirá. 

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2 Comentários
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Scb2
Scb2
3 anos atrás

Um retrato de um especialista na área que nos revela um pouco do trabalho de navegação no Dakar. Excelente artigo. Fica a sugestão para o futuro de uma entrevista mais alargada com este especialista do(s) Dakar. Certamente será muito interessante.

Não me chateies
Não me chateies
3 anos atrás

O Dakar na América não deve ser a mesma coisa que o Dakar em África e no deserto da Arábia Saudita.

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