Dakar: 5ª vitória de Nasser al Attiyah, 3ª da Toyota

Por a 16 Janeiro 2023 08:58

O que já se desenhava há algum tempo confirmou-se: Nasser al Attiyah ganha o seu 5º Rali Dakar, naquela que é a 3ª vitória da Toyota, todas com o piloto do Qatar. Sébastien Loeb (BRX Hunter Prodrive) foi segundo e o brasileiro Lucas Moraes (Toyota Hilux Overdrive) terminou no pódio.

Caiu o pano sobre mais um Dakar, o quarto na Arábia Saudita, uma prova que ficou praticamente decidida nos autos, antes da paragem para descanso. Com os atrasos dos melhores pilotos dos Audi, Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz, e ainda Sébastien Loeb, no BRX Hunter da Prodrive, Nasser al Attiyah ficou com o caminho completamente desbravado para vencer, o que conseguiu.

Para o piloto do Qatar, uma prova em que o binómio piloto/carro estiveram quase perfeitos, saíram incólumes da terrível segunda etapa e sem nunca cometer exageros o piloto que chegou à liderança apenas na Etapa 3, não mais perdeu a posição, consolidando o seu avanço à mesma medida que os adversários baqueavam atrás de si, fruto de uma grande demonstração de bom andamento aliado a uma consistência inigualável.

Sébastien Loeb (BRX Hunter) repete o segundo lugar de 2022, terminando a prova a uma distância bem menor do que a que perdeu na fatídica etapa 2, quando furou três vezes, ficou sem rodas e teve de esperar por ajuda. Problemas, todos têm, mas furar três vezes e perder quase hora e meia costuma ser um momento decisivo e foi-o para o francês, que ainda assim recuperou bastante, chegou ao segundo lugar, mas teve que adiar mais uma vez o triunfo no Dakar. Contudo, o francês provou que está pronto para vencer a prova, e o mesmo se pode dizer do BRX Hunter.

Sébastien Loeb bateu um enorme recorde nesta prova ao vencer seis etapas de forma consecutiva, um feito que fica para a história, entrando também diretamente para o top de pilotos com mais etapas ganhas num só Dakar, cuja liderança continua nas mãos de Pierre Lartigue, que em 1994 venceu 10 tiradas.

Espetacular terceiro lugar para o rookie brasileiro Lucas Moraes que com o experiente navegador Timo Gottschalk (Toyota Hilux Overdrive) fizeram um excelente Dakar, com o piloto a ser premiado com um fantástico pódio na estreia na prova.

É verdade que existiram mais abandonos/atrasos do que era normal, mas também existiam muito mais duplas com condições para terminar na posição, mas foi o brasileiro que com uma condução rápida e globalmente isenta de erros, fez história no Dakar.

Giniel de Villiers foi quarto e mantém o seu incrível registo no Dakar, agora de 20 presenças consecutivas no Dakar desde 2003, sem um único abandono, sendo este quarto lugar o seu melhor resultado desde 2018. Esta prova, mais dura, beneficiava o seu estilo, daí o quarto lugar, mas há muito que anda a aproveitar os que os outros não conseguem obter, pois já lhe falta andamento para o fazer em velocidade. O melhor que fez em etapas foi um quarto lugar.

Henk Lategan, sul africano, piloto oficial da Toyota Gazoo Racing, chega ao quinto posto no seu terceiro Dakar. Este foi o seu terceiro Dakar, é rápido, mas tem muito que aprender. Este ano teve apenas ‘retrocesso’ na sua evolução e aprendizagem, quando na etapa 12 capotou e perdeu meia hora, quando se estava a aproximar do pódio. Caiu para quinto e por aí ficou.

Martin Prokop foi sexto classificado e repetiu a posição de 2019. No seu oitavo Dakar, voltou a obter um bom resultado com a Ford Raptor RS T1+ fazendo uma prova muito cautelosa. Apanharam um grande susto na etapa 13 onde tiveram problemas com o diferencial, podia ter sido ‘fatal’, perderam 40 minutos mas resolveram o problema e mantiveram o sexto lugar.

Outra boa surpresa é o sétimo lugar do piloto argentino Juan Cruz Yacopini que apenas no seu terceiro Dakar alcança uma classificação de relevo. Com o experiente navegador Dani Oliveras Carreras ao lado e numa Toyota Hilux da Overdrive, parece ter já concluído a sua aprendizagem a este nível, e realizaram uma prova muito consistente.

O Chinês Wei Han (SMG HW 2021) terminou em oitavo da geral naquele que é o seu melhor resultado, no seu quinto Dakar. Foi 10º em 2020, agora elevou a fasquia. Consistência foi o segredo. Sebastian Halpern foi oitavo o ano passado, repetiu o nono lugar que obteve em 2019.

Na estreia com o Mini JCW Plus da X-Raid, o carro teve alguns problemas e a prova foi de descoberta. Ainda assim, um top 10 foi positivo para o piloto argentino.

Já Guerlain Chicherit (BRX Hunter T1+ GCK Motorsport) foi 10º, um resultado mau face à expetativa. O francês é daqueles pilotos impulsivos de tudo ou nada, e teve problemas logo na etapa 2. Tinha fundadas esperanças de um bom resultado, mas teve muitos problemas, furos na etapa 2 que o atrasou imenso, caindo para o 76º lugar. Recuperou até ao top 10, mas nesta sua segunda vida no Dakar enferma dos mesmos males que na primeira, 11 Dakar, cinco abandonos, quase metade.

Audi pior que em 2022

Mattias Ekstrom (Audi Team Audi Sport), foi o único Audi a terminar a prova. Foi 13º.

Estreou-se no Dakar em 2021 com um SSV T3, abandonou, o ano passado surgiu integrado no projeto Audi, terminando o Dakar em nono, vencendo uma etapa pelo meio. Tem ainda muito caminho a fazer no Dakar. Rapidez não lhe falta, mas sim consistência. Este ano e quando já era o único Audi em prova, capotou na etapa 7 quando era quinto da geral e acabou com as já poucas hipóteses da Audi conseguir um bom resultado este ano. Caiu para 35º, recuperou até 13º, um resultado bem pior que no ano de estreia da Audi.

Aí, era desculpável, este ano foram passos maiores que a ‘perna’. Três carros perdidos ou muito atrasados por acidentes é ‘tentar’ demasiado.

Yazeed Al Rajhi (Toyota Hilux T1+, Overdrive Racing), estreou-se no Dakar em 2015, foi melhorando de ano para ano, em 2017 foi 7º com a Mini, no ano seguinte 4º com a Toyota, o ano passado terceiro. Fez-se um belo piloto no Dakar, é muito consistente e alia isso à rapidez, mas este foi um ano-não. O saudita estava novamente na senda de um bom resultado, era segundo no final da etapa 3, caiu para terceiro na etapa 5 atrás de Peterhansel, mas na sexta foi um dos muitos que teve contratempos mecânicos, e com isso atrasou-se muito. Entre tantas Toyota, alguma há-de avariar. Calhou a al Rajhi.

Orlando Terranova (Bahrain Raid Xtreme), sonhava melhorar o quarto lugar de 2022, tinha carro para isso, mas cedo as suas esperanças foram ao fundo. Na etapa 3, quatro furos, no quilómetro 60, já não tinha pneus, caiu de quinto para o 20º lugar e no dia seguinte, algo ainda pior: regressou mais cedo ao bivouac com uma dor nas costas após uma grande aterragem no dia anterior, a dor voltou em maior grau, foi visto pelos médicos e aconselhado a abandonar.

Esperava-se muito de Kuba Przygonski (X-Raid Mini JCW Team), mas o novo Mini JCW Plus era uma incógnita e pelo que se vê dos resultados, há ainda muito caminho pela frente para o carro ser competitivo, apesar de alguns bons sinais.

Kuba teve problemas mecânicos no carro logo na etapa 2, caiu para o 117º lugar, depois na etapa 4 sofreu com os amortecedores, e por isso, depois, só lhe restou testar, rodar, e alcançar os melhores resultados possíveis em etapas, fez dois quintos, dois sextos e um sétimo, na segunda metade da prova, resultados que não dizem o mesmo do que se fossem obtidos na primeira semana onde toda a gente anda mais depressa.

Na segunda, já andou tudo a olhar para o final da prova e o aspeto mais positivo foi o carro não ter apresentado outros problemas de maior.

Quanto a Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz, o ano passado na estreia do Audi, perderam muito tempo, muito cedo na prova, deixou-os logo muito atrás, este ano a Audi durou até à etapa 5, quando Peterhansel era segundo a 20 minutos da frente e Sainz quarto pouco mais de meia hora. O francês desistiu na etapa 6 e Sainz teve um acidente que o fez perder…um dia, acabando por desistir mais à frente devido a novo acidente.

Os veteranos estão a ficar velhos para isto? Provavelmente, como é lógico a idade não perdoa, mas como sucede com muitos atletas, apesar da idade o que trazem de bom sobrepõe-se na maior parte das vezes ao menos bom, e a verdade é que se a Audi não lhes tem acenando com este projeto, se calhar já não corriam os dois.

Seja como for, em condições normais, sem os ‘azares’, provavelmente iriam obter um bom resultado, mas convém não esquecer que Peterhansel ganhou em 2021 e em dois anos não se perdem todas as faculdades, embora se possam perder algumas. Daí para cá o projeto Audi parece bom na teoria mas os resultados, passados dois anos, ainda não apareceram.

Quanto a Carlos Sainz, venceu em 2020, foi terceiro em 2021, e com a Audi, algo semelhante a Peterhansel. Bom andamento, mas nada de resultados. Vamos ver se voltam para o ano, Sainz acreditamos que sim, Peterhansel, já duvidamos mais, até pelo susto que atirou com Edouard Boulanger para o hospital.

Tal como disse David Castera no final, este foi um bom Dakar entre o que foi o equilíbrio do efeito da dureza na prova. A única crítica que que se faz à prova na Arábia Saudita é que tem sido mais do mesmo, não há de perto a mesma variedade que era possível na América do Sul, muito menos a de África. Talvez um dia a prova lá volte, mas para já como Castera assegura, a Arábia Saudita é um verdadeiro parceiro sem o qual o Dakar não seria o que é hoje.

Classificação

1 Nasser Al-Attiyah Toyota Hilux Gazoo Racing 45hr03m15s

2 Sebastien Loeb BRX Hunter Prodrive +1hr20m49s

3 Lucas Moraes Toyota Hilux Overdrive +1hr38m31s

4 Giniel de Villiers Toyota Hilux Gazoo Racing +2hr31m12s

5 Henk Lategan Toyota Hilux Gazoo Racing +2hr36m23s

6 Martin Prokop Ford Raptor T1+ +3hr40m44s

7 Juan Cruz Yacopini Toyota Hilux Overdrive +4hr27m09s

8 Wei Han SMG +4hr29m38s

9 Sebastian Halpern Mini JCW Rally Plus +4hr42m38s

10 Guerlain Chicherit BRX Hunter Prodrive +5hr22m10s

FOTOS RedBull ContentPool; DPPI/ASO: J.Delfosse; F.Gooden; C.Lopez

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