Dakar 2023: Expectativa versus realidade, o antes e o depois…

Por a 14 Janeiro 2023 11:26

À partida do Dakar as expectativas dos concorrentes estão sempre em alta, tem mesmo que ser assim, de modo a que a motivação se eleve aos píncaros, mas a dura realidade que é o Dakar, coloca tudo no seu devido lugar.

Olhando para o que se anteviu claramente Nasser Al-Attiyah, Sébastien Loeb, Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz eram os pilotos donde se julgava poder sair o vencedor deste Dakar e a verdade é que essa probabilidade é neste momento quase 100%, pois al Attiyah está muito perto do conseguir.

Quanto a Sébastien Loeb, teve um Dakar normal, com uma exceção. Problemas, todos têm, mas furar três vezes e perder quase hora e meia costuma ser um momento decisivo e foi-o para o francês, que recuperou, chegou ao segundo lugar, mas tem que adiar mais uma vez o triunfo no Dakar, a não ser que algo inesperado suceda no último dia de prova.

Quanto a Stéphane Peterhansel e Carlos Sainz, o ano passado na estreia do Audi, perderam muito tempo, muito cedo na prova, deixou-os logo muito atrás, este ano a Audi durou até à etapa 5, quando Peterhansel era segundo a 20 minutos da frente e Sainz quarto pouco mais de meia hora.

O francês desistiu na etapa 6 e Sainz teve um acidente que o fez perder…um dia, acabando por desistir mais à frente devido a novo acidente.

Os veteranos estão a ficar velhos para isto? Provavelmente, como é lógico a idade não perdoa, mas como sucede com muitos atletas, apesar da idade o que trazem de bom sobrepõe-se na maior parte das vezes ao menos bom, e a verdade é que se a Audi não lhes tem acenando com este projeto, se calhar já não corriam os dois.

Seja como for, em condições normais, sem os ‘azares’, provavelmente iriam obter um bom resultado, mas convém não esquecer que Peterhansel ganhou em 2021 e em dois anos não se perdem todas as faculdades embora se possam perder algumas. Daí para cá o projeto Audi parece bom na teoria mas os resultados, passados dois anos, ainda não apareceram.

Quanto a Carlos Sainz, venceu em 2020, foi terceiro em 2021, e com a Audi, algo semelhante a Peterhansel. Bom andamento, mas nada de resultados. Vamos ver se voltam para o ano, Sainz acreditamos que sim, Peterhansel, já duvidamos mais…

A surpresa é claramente o brasileiro Lucas Moraes, que sendo estreante, está muito perto de ficar no pódio na sua estreia no Dakar. são muito poucos os pilotos que se podem gabar disso. É certo que vários pilotos candidatos ao pódio se atrasaram muito ou desistiram, mas há muitos bons pilotos que podiam estar no lugar do brasileiro e não estão…

Para Giniel de Villiers, com 19 presenças consecutivas no Dakar desde 2003, sem um único abandono, esse recorde deve ser aumentado este ano, e o quarto lugar é o seu melhor resultado desde 2018. Esta prova, mais dura, beneficiava o seu estilo, daí o quarto lugar, mas há muito que anda a aproveitar os que os outros não conseguem obter,já que não tem andamento para o fazer em velocidade. O melhor que fez em etapas foi um quarto lugar.

Henk Lategan, sul africano, piloto oficial da Toyota Gazoo Racing, está a ser formado no seio da equipa, e dentro de algum tempo deverá ocupar o lugar que agora detém Giniel de Villiers, como número 2 da equipa. este é o seu terceiro Dakar, é rápido, mas tem muito que aprender. Este ano parecia finalmente ter aprendido, mas teve um ‘retrocesso’ na etapa 12 quando capotou e perdeu meia hora quando se estava a aproximar do pódio. Caiu para quinto e daí já não deve sair.

Falámos até aqui no que deve ser o top 5 final deste Dakar, mas agora é a vez dos desafortunados’: Mattias Ekstrom (Audi Team Audi Sport), estreou-se no Dakar em 2021 com um SSV T3, abandonou, o ano passado surgiu integrado no projeto Audi, terminando o Dakar em nono, vencendo uma etapa pelo meio. Tem ainda muito caminho a fazer no Dakar. Rapidez não lhe falta, mas sim consistência. Este ano e quando já era o único Audi em prova, capotou na etapa 7 quando era quinto da geral e acabou com as já poucas hipóteses da Audi conseguir um bom resultado este ano. Caiu para 35º, tem vindo a recuperar, mas a um dia do fim da prova é 15º e provavelmente a Audi vai terminar com resultados ainda bem piores que em 2022. Aí, era desculpável, este ano foram passos maiores que a ‘perna’. Três carros perdidos ou muito atrasados por acidentes é ‘tentar’ demasiado.

Yazeed Al Rajhi (Toyota Hilux T1+, Overdrive Racing), estreou-se no Dakar em 2015, foi melhorando de ano para ano, em 2017 foi 7º com a Mini, no ano seguinte 4º com a Toyota, o ano passado terceiro. Fez-se um belo piloto no Dakar, é muito consistente e alia isso a rapidez, mas este foi um ano-não. O saudita estava novamente na senda de um bom resultado, era segundo no final da etapa 3, caiu para terceiro na etapa 5 atrás de Peterhansel, mas na sexta foi um dos muitos que teve contratempos mecânicos, e com isso atrasou-se muito. Entre tantas Toyota, alguma há-de avariar. Calhou a al Rajhi.

Orlando Terranova (Bahrain Raid Xtreme), sonhava melhorar o quarto lugar de 2022, tinha carro para isso, mas cedo as suas esperanças foram ao fundo. Na etapa 3, quatro furos, no quilómetro 60, já não tinha pneus, caiu de quinto para o 20º lugar e no dia seguinte, algo ainda pior: regressou mais cedo ao bivouac com uma dor nas costas após uma grande aterragem no dia anterior, a dor voltou em maior grau, foi visto pelos médicos e aconselhado a abandonar.

Esperava-se muito de Kuba Przygonski (X-Raid MINI JCW Team), mas o novo Mini JCW Plus era uma incógnita e pelo que se vê dos resultados, há ainda muito caminho pela frente para o carro ser competitivo, apesar de alguns bons sinais.

Kuba teve problemas mecânicos no carro logo na etapa 2, caiu para o 117º lugar, depois na etapa 4 sofreu com os amortecedores, e por isso, depois, só lhe restou testar, rodar, e alcançar os melhores resultados possíveis em etapas, fez dois quintos, dois sextos e um sétimo, na segunda metade da prova, resultados que não dizem o mesmo do que se fossem obtidos na primeira semana onde toda a gente anda mais depressa.

Na segunda, já anda tudo a olhar para o final da prova e o aspeto mais positivo e o carro não ter apresentado outros problemas de maior.

Guerlain Chicherit (BRX Hunter T1+ GCK Motorsport) é daqueles pilotos que, ou vai, ou racha. E ‘rachou’ logo na etapa 2. O francês tinha fundadas esperanças de um bom resultado, mas teve muitos problemas, furos na etapa 2 que o atrasou imenso, caindo para o 76º lugar. recuperou até perto do top 10, não foi mau, mas nesta sua segunda vida no Dakar enferma dos mesmos males que na primeira, 11 Dakar, cinco abandonos, quase metade. Três deles nas últimas quatro participações. Não é um piloto para o Dakar. Especialmente para quem dizia que queria dar a si próprio uma hipótese de vencer a prova. É que nem em sonhos…

Portanto, como se vê, entre o que se espera e o que ‘devolve’ o Dakar, vai uma grande distância. Sempre foi assim e sempre assim será…

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