Opinião: Agora percebem porque gostamos disto?

Por a 13 Dezembro 2021 16:30

O que vimos ontem em Abu Dhabi foi mais do que uma luta pelo título que acabou de forma polémica e dramática. Foi mais do que um campeonato intenso que terminou da mesma forma. Foi a confirmação que a F1 está bem viva, sempre esteve e tem agora condições para crescer ainda mais.

A F1 é um desporto curioso, complexo e apaixonante. Mas tinha um problema. Não estava acessível a todos. Desde que as corridas deixaram de dar em canal aberto, algo que coincidiu com um momento de menor fulgor da competição, houve uma espécie de desapego geral da F1, que foi perdendo espaço. Mas a F1 nunca deixou de ser interessante.

Um caso prático disso é um amigo meu, que deixou de ver a F1 há muitos  anos e que à força de me ouvir e ao Pedro André Mendes falar do assunto, começou a interessar-se de novo. Tinha vivido as gloriosas lutas dos anos 80 e 90, mas desde a hegemonia Ferrari que perdeu o interesse. Mas voltou a tentar ver uma corrida. Disse-me na altura que não tinha gostado muito, que era tudo muito confuso, com DRS, vários compostos de pneus, undercuts, overcuts… Mas foi vendo mais uma e outra vez, numa altura em que a F1, ainda no tempo de Bernie, não fazia esforço nenhum para explicar o que se passava. O tempo foi passando e o que era algo  pouco interessante passou a ser o ponto alto do fim de semana, e esse tal amigo passou a ver de forma fervorosa a F1. Acabou por não ser difícil ele se apaixonar outra vez pelo Grande Circo.

A chegada da Liberty trouxe muitas coisas boas, uma delas foi o maior acesso a conteúdos, mais informação durante as corridas. É muito mais fácil para quem quer começar a ver, entender a mecânica das provas, entender quem são as estrelas, quem são as promessas para o futuro, quem são os melhores e os piores e o que está a acontecer em pista. Os ingredientes estavam todos reunidos mas faltava algo… algo que convencesse as pessoas a olhar a sério para a F1 e não apenas durante 10 episódios do Drive To Survive. A resposta chegou em 2021.

Depois de sete épocas de domínio absoluto da Mercedes e de Lewis Hamilton, a Red Bull deu finalmente a Max Verstappen um carro capaz de lutar pelo título e o resultado está à vista. O campeonato mais renhido de sempre, disputado até ao último metro, decidido na última volta, com polémica, drama e tudo a que um desporto à escala mundial tem direito. 

Não foi o final que desejávamos? Certamente, pois os erros da direção de corrida e dos comissários, que se repetiram durante o ano, ensombraram um espetáculo tremendo. Mas prefiro esquecer esse “pormenor” (a ser desenvolvido noutros textos) e focar-me no positivo. Ontem, toda a gente falou de F1. Toda a gente vibrou com a corrida, uns festejaram a vitória de Verstappen, outros lamentaram a derrota de Hamilton. Quem vencesse, seria o justo campeão e embora os números pendam a favor de Verstappen, a recuperação de Hamilton nas últimas corridas foi notável. A melhor solução era a que Fernando Alonso propôs, cortar a taça ao meio e entregá-la aos dois. E era merecido, pelo talento das duas estrelas, pela forma como nos envolveram este ano nesta luta tremenda e acima de tudo, por terem colocado a F1 onde merece.

Nunca vimos tantas publicações nas redes sociais sobre a F1, nunca vimos tantas discussões, uma de pessoas já com muitos anos de F1, outras que claramente acabaram de “chegar”. As estatísticas de ontem terão sido avassaladoras e a F1, por um dia, sobrepôs-se ao resto. Alguns diziam que nunca mais veríamos grandes rivalidades na F1. Vivemos a primeira grande rivalidade da F1 transmitida via redes sociais onde todos podem e querem opinar e mostrar o seu ponto de vista. 

Mas esta luta foi muito mais do que Lewis vs Max. Graças a esta luta que ficará para a história, o mundo pôde descobrir também Lando Norris, Charles Leclerc, George Russell, pôde apreciar os últimos momentos de Kimi Raikkonen, o regresso de Fernando Alonso, o novo capítulo de Sebastian Vettel, a nova rivalidade Toto Wolff vs Christian Horner. Nomes como Ricciardo, Sainz, Ocon, Schumacher passaram, ou voltaram a ser referidos. A luta pelo título 2021 escancarou a porta deste desporto e mostrou um mundo novo (para quem não conhecia ou se tinha afastado), de novos ídolos, novos pilotos, gente de caráter forte, posições vincadas. A F1 deixou de ser tão reservada, tão politicamente correta. A F1 sem filtros conquistou o mundo. Li algures que é fácil gostar de F1. Não podia estar mais de acordo e prova foi dada este ano. Quem não gostava viu, quem gostava adorou e quem não conhecia ficou a querer mais. 

2022 traz uma nova era, com carros que vão dar os primeiros passos e a experiência mostra-nos que as primeiras épocas com novos regulamentos não são tão entusiasmantes. Mas deixemos de lado o discurso de Velhos do Restelo e olhemos para o que aconteceu ontem. A F1 pode ser isto e muito mais. Imaginem uma luta pelo título em que juntamos outros nomes? É muito fácil gostar de F1! Foi um privilégio acompanhar esta época. A quem chegou… bem vindos! Vamos ter mais para vos mostrar. 

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13 Comentários
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garantia4
garantia4
2 anos atrás

Há que respeitar esta opinião Mas o Fábio Mendes com certeza também não ignorará que para muitos milhares de adeptos, novos e velhos, este campeonato, que começou sob os maus auspícios logo no briefing do Bahrain ( e como esquecer como a interpretação da mesma regra mudou na corrida seguinte??) , como não seria de esperar o contrário teve um final , visto e considerados os precedentes ao logo do ano, à Hollywood. Um campeonato que com regras claras límpidas e uma Direcção de Corrida à altura deveria ter ficado fechado aritmeticamente alguns GP antes e a favor do Verstappen.… Ler mais »

Last edited 2 anos atrás by jo baue
manuel moita
manuel moita
Reply to  garantia4
2 anos atrás

Gostou do GP da Bélgica então gosta de Golpistas e Corruptos a atitude e sua eu não gosto

jcf
jcf
2 anos atrás

Fábio Mendes é um adepto do NASCAR e dos Stock Cars USA, está visto. Há quem goste mas não é a minha onda. Quando a F1 é como o Nascar, a F1 não é F1. Porque gostamos disto, pergunta o Fábio? Isto o quê, Fábio? F1 ou palhaçadas Nascar?

Cágado1
2 anos atrás

Não, não percebo, não gostei nem um pouco disto. Quando se chega à última corrida com o título por decidir, quer-se que ele seja decidido por quem tiver mais unhas. Não tinha um preferido, mas à volta 55 era claro quem era o piloto que tinha tido mais unhas, era ele que merecia ganhar a corrida (e com isso ganharia o campeonato, embora não me atreva a dizer qual dos 2 merecia mais ganhá-lo). Não ganhou por intervenção de um árbitro, que resolveu fazer parte do jogo. NÃO GOSTO NADA DISSO!!! O mais curioso é que não fui só eu.… Ler mais »

garantia4
garantia4
Reply to  Cágado1
2 anos atrás

Boa questão essa dos mais jovens. A Netflix a esfregar as mãos de contente …Demasiada procura de “espectáculo” a todo o custo para magnetizar a nova geração. No fim , isto pagará?…. Volta 55. Um árbitro com autoridade não tem medo de ir contra o costume e a crítica, assume as sua responsabilidade e faz aquilo que é certo fazer mesmo que contra a letra do regulamento, mas no entanto insindicável…. Quando se diz que um erro convoca facilmente outro, e depois um outro ainda, até que não se consegue quebrar a cadeia… ontem provavelmente o erro do Masi de… Ler mais »

Daniel Sousa
Daniel Sousa
2 anos atrás

Na minha vida ponho a justiça e a ética humana à frente da competição e do espetáculo, portanto, achei este ano uma grande desilusão e um péssimo exemplo do que deve ser o desporto e as relações humanas.

nvg
nvg
2 anos atrás

Transcrevo um comentário que li num outro site: “Tanto Lewis quanto Max mereciam esse título pelo campeonato que fizeram! Dito isso: O que aconteceu ontem não respeitou o Regulamento e isso é uma tristeza! O real problema deste final foi que, seguindo o regulamento tinham duas opções: 1) terminar em safety car (por causa dos pilotos que tinham uma volta de atraso) 2) bandeira vermelha com 4 voltas de competição direta.   Mas a FIA escolheu criar a sua própria opção! Vamos supor que após o acidente, o Masi aplica VSC, o que iria acontecer? 1) Hamilton continuaria mais de… Ler mais »

manuel moita
manuel moita
Reply to  nvg
2 anos atrás

Mas ele o Masi não tem culpa nenhuma ele é um mero empregado dos Corruptos que dirigem a FIA basta ver como foi eleito o NaPoleao e as afirmações que fez sobre o GP da Arábia que não se podia misturar política com desporto mas é e pois foi uma vergonha o que se passou com as bandeira vermelha para puxar o Max o Mais para a Frente possível já não Falo da ultima pois so podia ser assim senão tinham que devolver muitos cheques

917/30
2 anos atrás

Já gosto disto desde 84 e sempre soube porquê! E ao fim e ao cabo, tudo está bem quando acaba bem, ou seja com o justo vencedor! O resto é azia causada pelo melão…

*RPMS*™
Reply to  917/30
2 anos atrás

Azia causada pelo melão, e pela cebolada também… hahahaha

Cumprimentos

NerdVinnie
NerdVinnie
2 anos atrás

Respeitando a sua opinião parece-me perigoso entrar por ai. Se vamos ignorar as regras em detrimento do espetáculo estamos a abrir uma porta perigosa. Decidam no final de cada época quais as regras que devem vigorar. Agora não se pode andar a olhar para as regras como “detalhes” ou “pormenores”. Se não existem regras e se vale tudo para existir espetáculo mais vale deixarem isso bem claro. Agora não se podem apregoar regras e pagar bem a um colégio de comissários para analisarem se as mesmas são cumpridas para depois ignorarem as mesmas sempre que dá jeito. E repito que… Ler mais »

MC
MC
2 anos atrás

O problema do reinicio da corrida e fazendo um paralelo com o futebol, é que o Masi não foi simplesmente um árbitro que não msrcou um penalti, foi um árbitro que marcou um golo!!!

pneu-quadrado
pneu-quadrado
2 anos atrás

Tudo muito giro mas a unica coisa boa com a chegada da liberty media foi o halo
Aliás muitos dos que chegaram são nabos que viram a drive tô survive pensam que já têm años e anos de experiencia a ver f1 é ridículo.
Sprint races são boas?
Não, não são!!!
Nao fazem parte do DNA do desporto.
Por ultimo a f1 é uma daquelas coisas que se gosta ou não se gosta não há meio termo.

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