WRC, Rali da Suécia: Mundo ao contrário

Por a 16 Fevereiro 2020 13:38

Se alguém lhe dissesse antes do rali que a Toyota iria vencer, ter três carros no top 4, Rovanpera no pódio e Ogier fora dele, não era fácil de acreditar. Mas foi exatamente o que aconteceu…

Há fins de semana assim, em que a lógica é uma batata. Foi o que sucedeu neste Rali da Suécia em que numa prova completamente atípica, curta, difícil e com pisos diferentes de tudo o que já tinha sido visto no WRC, tudo ficou baralhado e quem levou a melhor foi quem menos ‘odds’ tinha nas casas de apostas.

Elfyn Evans venceu o Rali da Suécia e Kalle Rovanpera terminou no pódio no seu segundo rali com um WRC. Feliz, pensativo e talvez algo confuso, deve estar Tommi Makinen “Porque é que fui buscar o Ogier?”. Brincadeiras à parte, o líder da Toyota Gazoo Racing pode dar-se por muito feliz por todos os motivos e mais alguns. A sua equipa conseguiu desenvolver um carro que já era bom, e que parece ser ainda melhor, ao permitir aos três pilotos da equipa colocarem os seus três carros nos primeiros quatro lugares.

Elfyn Evans já tinha dado bons sinais no Rali de Monte Carlo, que se estava a adaptar bem ao Toyota Yaris WRC, mas num rali difícil como este na Suécia, provou-o em toda a linha, mostrando-se fora do alcance dos seus adversários, vencendo e convencendo.

Esta prova serviu também para que Ott Tanak afastasse o ‘mau olhado’ do Monte Carlo e recuperasse, pelo menos boa parte, da confiança.

Este foi um rali terrível para as equipas, já que o piso andou sempre entre a lama, terra e algum gelo e neve por cima, em alguns locais. Condições que não são nada usuais e que colocaram grandes desafios às equipas. A aderência foi mesmo muito complicada.

Provavelmente, uma espécie de Rali de Monte Carlo II, que ao invés de ter asfalto por baixo, tinha terra.

Evans fantástico

Grande vitória e mais um grande dia na carreira de Elfyn Evans/Scott Martin (Toyota Yaris WRC) no Rali da Suécia. O galês esteve sempre muito confortável aos comandos do seu novo carro, mostrou estar sempre no controlo, exceção feita a um pequeno susto depois duma grande atravessadela no final do segundo dia de prova. Mas esteve realmente um degrau acima de toda a concorrência. Perdeu o Rali de Monte Carlo já perto do fim, depois de ter liderado, mas agora na Suécia mostrou-se sempre muito confiante, sendo que, pelo que se viu até aqui nestas duas provas, temos que dar a mão à palmatória e inclui-lo no lote dos candidatos ao título.

Este é o seu segundo triunfo no WRC, o primeiro desde o Rali da Grã-Bretanha de 2017. No final do primeiro dia liderava com 8.5s de avanço para Ott tanak, mas nunca permitiu veleidades ao estónio, chegando ao final do segundo dia com 17.2s de avanço. E a partir daí só faltava a Power Stage em virtude da anulação da primeira passagem por Likenas.

Depois do seu forte acidente no Rali de Monte Carlo, Ott Tanak/Martin Jarveoja (Hyundai i20 Coupe WRC) recuperaram confiança, terminando no segundo lugar o Rali da Suécia. Ainda sem estar totalmente adaptado ao seu novo carro – para além do que não guiou no Monte Carlo – o estónio esteve bem nesta prova, e o melhor argumento é olhar para o que fez Thierry Neuville, descontando o facto do belga abrir a estrada no primeiro dia. Tanak bem tentou mas nunca se conseguiu aproximar de Evans, bem antes pelo contrário.

No entanto, foi consistente, mas nota-se que ainda não está tão confortável com o carro como já estava com o Yaris. Seja como for, fez um rali bem sólido: “O carro tem a velocidade, eu é que preciso do aprender um pouco melhor”.

Fez-se história

Grande rali para Kalle Rovanperä/Jonne Halttunen (Toyota Yaris WRC), que depois do quinto lugar no Rali de Monte Carlo, foram terceiros na Suécia, e ainda venceram a Power Stage. O jovem finlandês chegou ao derradeiro troço a 0.5s de Ogier, e bateu-no por 3.9s na Power Stage. É o melhor elogio que se pode fazer ao jovem finlandês, que, recordamos, faz apenas o segundo rali da sua carreira num World Rally Car. Um fantástico pódio para o jovem finlandês, que cometeu alguns erros pelo caminho, mas o ritmo e a consistência que já exibe, é extraordinário, face ao ponto em que está na sua carreira. Não esqueçamos que tem apenas 19 anos.

Um erro aqui, outro ali – por exemplo quando deixou o motor do Yaris WRC calar-se em Torsby Sprint 1. Resumindo, foi rápido e consistente. Curiosamente, há 19 anos, o seu pai venceu este rali e agora o filho faz uma exibição destas…

Sébastien Ogier/Julien Ingrassia (Toyota Yaris WRC) terminaram fora do pódio, depois de serem batidos na derradeira especial por Rovanpera. Ogier realizou a fase inicial da prova no quarto lugar, já aí o ‘teenager’ Rovanpera deu-lhe ‘água pela barba’, e no fim o francês não conseguiu resistir. A Suécia nunca foi um grande rali para Ogier, exceção feita ao tempo da VW, nota-se que ainda anda um pouco ‘às aranhas’ com as afinações do carro. Mas está a melhorar, e ele próprio o admite. Ainda que os estejamos a comparar com os colegas de equipa, a verdade é que Evans e Rovanpera é que estiveram excelentes, enquanto Ogier nem tanto, ainda assim, bem melhor que outros candidato.

Bom rali de Lappi

Esapekka Lappi/Janne Ferm (Ford Fiesta WRC) lograram manter Thierry Neuville atrás de si, ainda que por somente 1.4s. Mais um bom rali para o finlandês, que depois de ter sido quarto em Monte Carlo termina em quinto na Suécia. Ainda tem espaço para melhorar, mas já está a andar melhor ao cabo de dois ralis, do que fez em todo o ano passado com a Citroën, com uma ou outra exceção. Está claramente cada vez mais entrosado com o carro e promete para os ralis de terra, pois tal como disse no final “este foi um bom passo para o futuro, estamos constantemente a aprender pequenas coisas que afetam o meu feeling do carro e isso vai permitir-se forçar mais o andamento.”

Antítese de Monte Carlo

quando venceram em Monte Carlo, Thierry Neuville/Nicolas Gilsoul (Hyundai i20 Coupe WRC) já sabia que não iam ter vida fácil no Rali da Suécia que se antevia. Terminaram em sexto, e não era esta a posição que aspiravam depois da vitória na abertura do WRC 2020. No final do primeiro dia, já tinham cedido 23.6s, mas no segundo não recuperaram muito, e isso nem sequer lhes permitiu subir na classificação, o que pensavam poder fazer. Com um rali tão curto o belga não conseguiu fazer melhor, mas também nunca deu sinais de rapidez suficiente para o conseguir. Nem passar Lappi logrou conseguir.

Craig Breen/Paul Nagle (Hyundai i20 Coupe WRC) terminaram em sétimo, nunca mostrando ritmo para fazer muito melhor. Exceção feita a uma super especial, nunca fez melhor que um sexto posto em troços cronometrados, pelo que nunca poderia aspirar a muito mais.

Se a ideia era repetir o segundo lugar de 2018, muita água correu sob as pontes depois disso, e o irlandês esteve na antítese desse fim de semana. O ritmo atual do WRC impede cada vez mais que alguém que dispute um rali de vez em quando, brilhe. Veja-se Loeb, vamos ver Sordo no México. Não se pode dizer que esteve mal, o seu problema é que temos que o comparar com o que os outros fizeram e esse é o seu maior problema. Ainda por cima, à sua frente estava Thierry Neuville e a última coisa que podia fazer era atacá-lo.

Teemu Suninen/Jarmo Lehtinen (Ford Fiesta WRC) teve outro fim de semana difícil e tarda em confirmar os predicados que o trouxeram até aqui. É um bom piloto, mas demasiado inconstante. Para que se perceba como Suninen está a marcar passo, veja-se o que fez Rovanpera nesta prova. Chega ao fim do segundo dia e diz uma coisa destas: “Temos que analisar e ver o que estamos a fazer mal”. Há muito que diz o mesmo.

Takamoto Katsuta/Daniel Barritt (Toyota Yaris WRC) está aqui para aprender, esteve bem em Monte Carlo, mas não tão bem neste rali tão difícil. Ainda por cima, no segundo dia, era o primeiro na estrada e por isso não se podia pedir muito. Teve sempre muitas dificuldades com a aderência, mas nem sequer seria de esperar outra coisa. De qualquer forma, se os japoneses querem à ‘força’ um bom piloto para o WRC, para o tempo que já leva de aprendizagem, podia já estar um pouco melhor. no fim do ano far-se-á o balanço, mas não acreditamos que melhore muito mais do que mostra agora.

Com estes resultados, Elfyn Evans e Thierry Neuville lideram ex-aequo o Mundial de Pilotos, com mais cinco pontos que Sébastien Ogier. Depois de ter obtido o primeiro pódio da sua carreira no WRC, Kalle Rovanpera é quarto classificado.

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