WRC: Como vai terminar esta época atípica?

Por a 19 Novembro 2020 11:46

Não há paralelo na história, como não há paralelo nas nossas vidas, o que tem sido este ano de 2020. A Pandemia de Covid-19 afetou fortemente o Mundial de Ralis que se arrisca a terminar apenas com seis provas, já realizadas. Caso o Rali de Monza avance, o título vai resolver-se entre Elfyn Evans e Sébastien Ogier. Nas equipas, tudo pode acontecer entre a Hyundai e a Toyota.

Apesar dos responsáveis da ACI e do Rally de Monza continuarem a trabalhar para a realização da prova, não é 100% certo que esta se realize, embora a cada dia que passe tudo indique que o WRC vai mesmo resolver-se na estrada, ainda que num evento muito diferente do que são habitualmente as provas do Mundial de Ralis. Há cerca de um ano era confirmado um calendário de 14 ralis para 2020, e para que se perceba melhor a extensão do drama, apenas seis se realizaram e entre eles, dois deles completamente fora da caixa, Estónia e Turquia, soluções que a FIA encontrou para dar a dignidade possível à competição.

Chegou inicialmente a pensar-se que seria possível realizar oito provas, mas esta ideia cresceu numa altura em que a primeira vaga da Covid-19 tinha acalmado. Apesar dos avisos constantes da comunidade científica para a tão propalada segunda vaga, eis que esta surgiu bem em força, acabando com as esperanças da realização de várias provas.

Ainda em maio, Yves Matton, responsável máximo pelos ralis na FIA, dizia que sete eventos iriam permitir um calendário razoável, e depois da recente anulação de Ypres, o calendário ficou exatamente com sete provas.

Mas afinal, como evoluiu toda esta situação? Ainda no ano passado, quando ainda não se imaginava que o mundo iria ser abalado por uma pandemia, ainda que esta já tivesse ‘nascido’ na China, o Rali do Chile foi cancelado, por razões políticas, devido a motins que tinham lugar na capital do País, devido… à subida do preço dos transportes, nomeadamente o Metro. Logo aí, o WRC 2020 perdia uma prova.

Nessa altura, a Organização Mundial de Saúde admitia a possibilidade duma pandemia. O Sars-Cov2 já era conhecido, e apesar de estar ainda ‘confinado’ `China, admitia-se que a semente já tinha sido levada para muitos outros lados. Era uma questão de tampo. E foi!

O Rali da Argentina avançou uma semana, para 23 de abril. No início de fevereiro, o Rali da Suécia esteve a um pequeno passado de ser cancelado, mas não por causa da Covid 19, mas sim por causa da falta de gelo e neve nas estradas. A prova realizou-se, muito encurtada e ficou sem o famoso troço de Vargåsen, e por inerência, o Colin’s Crest. A prova pareceu-se mais com o Rali da Finlândia do que a habitual Suécia.

Nessa altura os casos de Covid-19 reportados fora da China eram apenas 176, e duas semanas depois tudo ‘rebentou’.

Em Itália e Espanha a pandemia cresceu desalmadamente, numa questão de dias, e num ápice os casos do mundo chegaram aos 100.000. A primeira prova verdadeiramente afetada pela Covid-19 foi a Argentina, que adiou a sua prova, depois do governo local proibir eventos desportivos no País. O inicial adiamento para julho redundou depois num efetivo cancelamento.

Seguiu-se o Rali do México, e já havia vozes a colocar em causa se a prova faria sentido. E Europa já era o epicentro da pandemia, e o receio das equipas não conseguirem voltar normalmente a casa era grande. Disputaram-se dois dias de prova, e na madrugada do último dia, veio a informação do cancelamento, para que todos fossem para casa mais cedo.

Duas semanas depois, começou uma catadupa de notícias. Uma praga de gafanhotos a 23 de março colocou em causa o Rali Safari, mas não seria essa a razão da anulação da prova. No dia seguinte, Portugal e Itália adiaram as suas provas, uma semana depois o ACP anunciou o cancelamento do Rali de Portugal. Foi o primeiro efetivamente cancelado, pois a Argentina e o Safari tinham sido apenas adiados. Mas este último não durou muito mais. A 15 de maio, o Rali Safari foi cancelado. Ninguém queria lá ir, ninguém sabia como lá chegar nem como de lá sair.

Restavam 11 provas. No início de junho, caiu a Finlândia.

Pouco depois foi a vez do Rali da Nova Zelândia. Claro que por esta altura tudo estava posto em causa, e a Primeira Ministra do País deixou claro que as fronteiras não iriam abrir para o desporto.

Mais uns dias, mais uma prova, a Grã-Bretanha, um evento que desde 1930 só tinha caído por causa da 2ª Guerra Mundial, e mais duas vezes por motivos sanitários e políticos em 1957 e 1967. Ficavam oito provas.

Por esta altura começou a falar-se da possibilidade Ypres e Yves Mattion, sendo belga, tinha aí bons contactos. Os responsáveis do Rally Liepaja também fizeram saber que poderiam receber o WRC, mas as negociações não vingaram. Não houve Letónia, mas houve Estónia. No início de julho, ficou a saber-se que o Rali da Estónia iria fazer parte do calendário e seria a primeira prova no regresso do WRC, no início de setembro.

No pólo oposto, o Rali da Argentina era formalmente cancelado. Já o Rali da Sardenha foi confirmado no fim de outubro.

Os organizadores do Rali da Alemanha lutavam para ter a prova, mesmo sem público. Pensaram-na apenas para Panzerplatte, na região de Baumholder, uma zona militar que seria facilmente fechada ao público, embora tivesse havido uma tentativa de ter um determinado número controlado de espetadores. Mas não havia garantias e as negociações prosseguiam.

No fim de julho, outra boa notícias. O Rali da Turquia poderia realizar-se uma semana mais cedo de modo a facilitar a entrada do Rali de Ypres, que procurava uma data no primeiro fim de semana de outubro. Por esta altura já só o Rali do Japão não tinha sido ‘mexido’. Mas não seria por muito tempo. A meio de agosto ficou a saber-se que o Rali de Ypres iria substituir o Rali do Japão, uma prova que iria regressar este ano depois de 10 anos de ausência do WRC. O último dia da prova belga seria no circuito de Spa-Francorchamps e a PowerStage na pista de ralicross que serviu de palco ao WorldRX. O WRC iria ‘passear-se’ pelo mítico Raidillion.

No final de agosto, chegou a confirmação que o Rali da Alemanha não se iria, afinal, realizar, não foi autorizado, nem sequer sem público.

Quem aproveitou foram os italianos para colocar a sua prova numa data mais propícia, 8 a 11 de outubro, isto para Itália poder receber nada mais nada menos do que três corridas de Fórmula 1.

Seis meses depois do Rali do México o WRC regressou no início de setembro com o Rali da Estónia. Até teve espetadores! Ott Tanak venceu a prova, mas quem se destacou verdadeiramente no campeonato foi Elfyn Evans, que venceu no Rali da Turquia, aproveitando provas menos boas dos rivais mais diretos, e com cinco provas realizadas, falava-se na possibilidade do Rali de Monza fazer crescer o campeonato, algo que foi confirmado dias depois. Dani Sordo vencia o Rali de Itália/Sardenha, Evans ‘sobrevivia’ em quarto, dois segundos lugares consecutivos não fizeram muito pela aproximação de  Thierry Neuville ao líder do campeonato enquanto que o abandono de Sébastien Ogier na Turquia deixa Elfyn Evans numa posição muito boa para chegar ao título, embora nessa altura ele não pensasse muito nisso pois não se sabia quantas provas ainda teria pela frente.

A segunda vaga da Covid 19 chegou em força e a meio de outubro começou a duvidar-se que o Rali de Ypres se pudesse realizar. Os sinais eram demasiado fortes para ignorar. Na última semana de outubro, duas provas de preparação para Ypres foram descartadas, o Rali do Sul da Bélgica e o Hemicuda Rally, e o Rali de Ypres ‘quinou’ no fim do mês.

O WRC ficava com sete provas, e neste momento, o Rali de Monza é a prova que falta. O tempo passa, os números subiram imenso, quintuplicaram o que foi visto na primeira vaga e neste contexto poucos se importam que o Rali de Monza se possa não realizar.

A FIA já confirmou que, se a prova for anulada, os seus resultados serão suficientes para atribuir títulos de Pilotos e Construtores. Como já referimos, a uma semana do evento, há esperanças que este vá em frente, mas não há certezas.

Até aqui, realizaram-se os ralis de Monte Carlo, em janeiro, Suécia, que foi encurtado, em fevereiro, México, também encurtado, em março, e depois de seis meses, já em setembro, a Estónia e a Turquia. Em outubro realizou-se o Rali de Itália e por aqui ficámos. Monza é a última esperança.

No campeonato de Pilotos, com a prova a valer 30 pontos (25, 1º lugar, 5 pontos da PowerStage), Elfyn Evans soma 111 pontos, mais 14 que Sébastien Ogier, que tem 97. Dez pontos mais atrás está Thierry Neuville, que soma 87. Recuperar 24 pontos, para o belga parece quase impossível, mas matematicamente ainda é. Até para Ott Tanak que tem 83 pontos. Realisticamente, só Ogier pode bater Evans, e ironicamente, a Elfyn Evans dava imensamente jeito que Neuville e/ou Tanak, ou mesmo Sordo, como já sucedeu em Itália, ficassem à frente de Ogier. Se o galês fizer uma prova cautelosa e se mantiver pelo quarto lugar, que pode chegar sem ter que arriscar demasiado, só tem que gerir a posição em que está Ogier. Uma coisa é certa. Nada está decidido. A não ser que a Covid-19 decida até lá…

No Campeonato reservado aos Construtores, tudo pode acontecer entre a Hyundai e a Toyota, com os coreanos a manterem sete pontos de avanço para os japoneses.

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