WRC: Adiar novas regras pode ter consequências

Por a 6 Abril 2020 13:53

Por José Luís Abreu

FOTOS @World/André Lavadinho

Apesar de, em teoria, este ‘confinamento’ e ausência de provas poder permitir que se chegue a um consenso relativamente ao detalhe das novas regras do WRC, mais rapidamente, pelos vistos, os efeitos da pandemia estão a atrasar do processo. E já há quem deixe avisos…

Hoje em dia a prioridade de todos é lutar contra o COVID-19, mas dentro de algum tempo o foco muda para a luta contra o seu impacto.

Entre um momento e outro há situações que têm de ser rapidamente resolvidas, sob pena de se estar a colocar em risco projetos futuros.

As novas regras do WRC estão previstas ver a luz do dia no início de 2022, e sob pretexto nenhum, elas podem ser adiadas, ao contrário do que já sucedeu com a Fórmula 1, que adiou a entrada em vigor dos novos regulamentos por um ano. A razão é simples: existe o risco de perdermos equipas num futuro próximo.

A FIA já decidiu que irá manter os atuais motores dos World Rally Car como base, a que se irá juntar tecnologia híbrida, tendo para isso aceitado a proposta da empresa alemã Compact Dynamics, que será a fornecedora dos componentes híbridos das novas motorizações, onde se incluem a bateria e o motor elétrico, e agora é tempo de trabalhar na redução de custos, que se pretendem reduzir drasticamente sem que isso influa no espetáculo que os adeptos já se habituaram.

Mas existe alguma urgência em avançar com as decisões, o que nesta altura parece ser algo complicado, devido à pandemia que se vive e por isso as próximas semanas serão cruciais para perceber o eventual impacto que a COVID-19 poderá ter na finalização das regras e consequência começo da construção e desenvolvimento dos novos Rally1 de 2022 (não esqueça que vão deixar de se denominar World Rally Cars).

Recentemente, Malcolm Wilson, líder da M-Sport, referiu que um dos quase inexistentes pontos positivos decorrentes desta pandemia é que há mais tempo para decidir os detalhe das novas regras, pois há pela frente muitos pormenores essenciais com que lidar.

Mas pelos vistos não parece estar a ser fácil avançar, o que é no mínimo estranho, pois nunca o mundo foi tão tecnológico como é hoje em dia e por todo o lado se fazem reuniões diárias de trabalho. Não há tempo perdido em deslocações, há simplesmente um horário que se combina, e desde que a tecnologia colabore e a internet funcione, não há desculpa para avançar.

Por isso soou um pouco estranho quando se percebe que o diretor técnico da Toyota, Tom Fowler diga algo como isto: “Este tipo de projetos complicados são difíceis sem pelo menos algumas reuniões cara-a-cara. As reuniões online funcionam geralmente bastante bem e podemos partilhar alguns dados através da internet, mas quando nos sentamos em torno de um computador, avançamos muito mais depressa. Já vimos isto muitas vezes em diferentes projetos e por vezes temos mesmo de fazer um esforço mas conseguimos realmente fazer as coisas”.

Este é apenas um exemplo, lógico, mas se calhar não era mal pensado à partes esquecerem as ‘dificuldades’ e focarem-se nas soluções.

Pode não ser fácil, mas nada é fácil para quase ninguém hoje em dia…

Richard Millener, diretor da equipa M-Sport, admite que a finalização das regras pode ser complicada pelo trabalho à distância, não só em termos de tomada de decisão mas também devido à existência de restrições governamentais, que complicam o processo de tomada de decisões quanto a prazos: “O impacto do coronavírus tornar-se-á evidente para as equipas e fornecedores e para a FIA nas próximas semanas”, disse à DirtFish o diretor técnico da Toyota, Tom Fowler.

A indefinição quanto ao tempo que a pandemia vai continuar a afetar o Mundial de Ralis não se reflete só no escalonamento do calendário, pois com a Europa praticamente parada, pior, sem saber durante quanto tempo, de uma forma ou doutra afeta. Resta às equipas encontrarem formas de minimizar a questão.

Seja como for, para o diretor de Hyundai Motorsport, Andrea Adamo, as novas regulamentações, que adotam a tecnologia híbrida no WRC, não podem ser adiadas por causa da pandemia coronavírus (COVID-19). Para o italiano, este novo conjunto de regras deve ‘ir para a estrada’ dentro dos tempos previstos: “A situação em que vivemos neste momento faz com que a nossa vida seja complicada, porque há coisas mais importantes com que nos preocupar. Assim, estamos a desenvolver o próximo carro a partir de casa e testar componentes fica muito complicado. Mas é igual para todos. Se por acaso tivermos de adiar as regulamentações de 2022 para 2023, eu ficarei numa situação muito desagradável, pois a nossa administração pode assumir que estamos a correr com um carro que não nos interessa e abandonar o programa do WRC. O meu trabalho tem de estar em linha com a Hyundai, de modo a oferecer produtos e campeonatos, garantindo fluxo económico. A decisão quanto às novas regras híbridas no WRC fez com que os três fabricantes presentes hoje em dia no campeonato garantissem o seu lugar no futuro”, disse Adamo, que teme poder haver alterações a essas tomadas de posição caso o WRC faça o mesmo que fez a Fórmula 1 ou mesmo o Mundial de Endurance, que continua envolto em indefinições quanto ao futuro próximo.

Essa situação pode levar a que a Hyundai e Ford, marcas que há muito deixaram clara a necessidade dos híbridos no Mundial de Ralis o mais rapidamente possível, recuem. Reparem que a Fórmula 1 tem tecnologia híbrida desde 2014 e já antes tinha o KERS. O Mundial de Endurance começou bem mais cedo que isso, e o WRC em 2021 ainda não terá nada híbrido. É muito tempo e o risco é grande.

Para a Toyota esta questão não é tão problemática, pois quando se tem um Toyota Prius híbrido desde 1997, não há tanta urgência em comunicar essa tecnologia. Nesse aspeto, para a Toyota, algo novo e completamente diferente até seria bem mais interessante.

Para os que defenderam tanto tempo a manutenção do ‘status quo’ da combustão a ‘solo’, talvez agora comecem a perceber melhor que não há o nível de ralis que vimos nos últimos anos sem forte investimento das marcas, e estas só investem se a competição tiver relevância para a sua comunicação e marketing. Os ‘Velhos do Restelo’ têm que aprender isto de uma vez por todas…

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas Newsletter
últimas Autosport
newsletter
últimas Automais
newsletter
Ativar notificações? Sim Não, obrigado