WRC 2020: Quem tem o Ás de trunfo?

Por a 20 Janeiro 2020 11:03

O Mundial de Ralis de 2020 arranca no fim de semana com o Rali de Monte Carlo. Numa época em que se baralhou e voltou a dar, com os últimos dois campeões a trocarem de equipa, os ‘suspeitos’ são os do ‘costume’. Há menos um ‘naipe no baralho’, mas não vai faltar emoção…

Por José Luís Abreu

FOTOS @World/André Lavadinho e Oficiais

Já lá vai o tempo das ‘vacas gordas’ no Mundial de Ralis, quando a competição apresentava seis equipas oficiais. Este ano, ficou reduzida a três. A Citroën decidiu sair, devido à nova estratégia ‘eletrificada’ do Grupo PSA, que para já deu primazia ao regresso da Peugeot no Endurance, mas a Hyundai, Toyota e M-Sport/Ford têm tudo para permitir que o WRC volte a ser uma disciplina interessante e muito bem disputada.

Hyundai e Toyota terão sempre, no mínimo, três pilotos a correr, sendo que a Toyota irá ter quatro em pelo menos seis provas.

Quanto à M-Sport/Ford, dois pilotos estão garantidos a tempo inteiro, Gus Greensmith vai juntar-se-lhes em nove desses ralis.

Irá igualmente haver alguns programas parciais, por exemplo para Jari-Matti Latvala, com a Toyota, mas a verdade é que para já só tem previstos dois ralis. É este o ‘filme’ do WRC 2020. Não é o cenário ideal, mas não deverá faltar a frescura e emoção que têm marcado a competição nos últimos anos. E com a dança de cadeiras – já lá vamos – a temporada deste ano tem tudo para voltar a ser muito renhida, já que os acontecimentos de 2019 marcam muito o que pode ser esta época de 2020. Quer saber como? Vamos a isso!

Hyundai i20 WRC, Toyota Yaris WRC e Ford Fiesta WRC

Dança de cadeiras

A primeira boa notícia é que ninguém faz a mais pálida ideia, com todas as ‘trocas e baldrocas’ do defeso, do que vai acontecer.

Nesta autêntica dança de cadeiras, quando a música, cujo título era “Adeus Citroën”, parou, sobraram só oito lugares para ocupar, dez se formos otimistas. Três na Hyundai, três na Toyota e dois na M-Sport Ford. Os outros dois são o quarto carro na Toyota para Takamoto Katsuta e o terceiro na M-Sport para Gus Greensmith. Ott Tänak saiu da Toyota e foi para a Hyundai, equipa que manteve Thierry Neuville, Dani Sordo e Sébastien Loeb, com os dois últimos a partilharem o terceiro carro.

Sem o ‘seu’ campeão, Tommi Mäkinen mudou tudo, e não renovou os contratos de Jari-Matti Latvala e Kris Meeke. Contratou Sébastien Ogier, Elfyn Evans e foi buscar a jovem promessa, Kalle Rovanperä, à Skoda.

Na M-Sport, Teemu Suninen continuou e um ‘barato’ Esapekka Lappi era bom demais para ser verdade.

Agora, vamos ver como esta autêntica revolução fica no Parque de Assistência.

Ott Tänak vai para o seu terceiro carro em quatro anos, Sébastien Ogier para o seu quarto carro diferente em cinco temporadas, o mesmo sucedendo com Esapekka Lappi. Mais importante que perceber como lhes ficam as novas cores é como se estão a adaptar às novas equipas e carros.

Ano novo, vida nova

O ano passado por esta altura escrevemos na antevisão do WRC algo assim: “Cá na casa não fazemos a ‘coisa’ por menos. Atribuímos o favoritismo do WRC 2019 a Ott Tänak, sabendo que Sébastien Ogier e Thierry Neuville terão uma palavra a dizer”. Sem tirar nem pôr. Tänak ganhou e Neuville e Ogier lutaram quase até ao fim. Agora, muito honestamente, com estas trocas todas não é fácil fazer nova aposta. E isso é positivo.

Obviamente, não nos enganaremos muito se dissermos que o trio que irá lutar pelo campeonato será o mesmo e não nos admiramos que o desfecho possa ser exatamente igual em termos de ordem final, mas as novas incógnitas complicam bem a equação de 2020.

Quando Tänak saiu da Ford e foi para a Toyota, muitos acharam que tinha feito mal, porque o Ford era um carro ganhador, mas o estónio sabia o que estava a fazer. E provou-o nos dois anos em que esteve na Toyota. Ganhou 10 ralis em dois anos! A dúvida agora é: se ao trocar de equipa vai manter a mesma bitola ou as coisas vão sorrir melhor para Thierry Neuville, que já conhece perfeitamente a equipa, o carro e tudo mais na Hyundai Motorsport. Temos mesmo que esperar para ver, mas desconfiamos que Tänak está um degrau acima de Neuville e se não o provar na primeira metade da época, prova-o na segunda.

O belga vai voltar a ter uma época muito forte, e o facto de ter um dos seus principais adversários na luta pelo título na equipa, tanto pode ser muito bom, como muito mau. Se Tänak começa a batê-lo rapidamente, Neuville terá problemas, mas, sinceramente, acreditamos que a luta pode ser equilibrada. Lá está, a equação tem muitas incógnitas.

Por outro lado, Ogier foi para a equipa que nos últimos dois anos mais ralis ganhou, a Toyota. Onze no total, face a sete da Hyundai e quatro da Citroën e da Ford. Claro que, neste caso, sabemos que os pilotos têm muito a ‘dizer’ nesta questão. A Ford só ganhou porque lá teve Ogier (em 2019, nem um triunfo para a M-Sport). A Citroën, quase. Portanto, Tänak e Ogier devem continuar a ganhar nas novas equipas. Podem é não vencer tanto.

Como sempre, com o WRC a abrir com o Monte Carlo e Suécia, aí não vamos perceber na totalidade como poderá ser o resto do campeonato, mas no México já teremos uma ideia bem melhor, com os pilotos mais adaptados às equipas e mais feitos aos carros. Aí sim, as coisas começam a definir-se e isto pode significar que vai ser uma competição muito aberta.

De qualquer forma, acreditamos que dificilmente a luta pelo título fugirá a Tänak, Neuville e Ogier, pois o nível atingido por estes três pilotos está um bom bocado acima dos restantes.

‘Outsiders’

Basta olharmos para as classificações dos dois últimos campeonatos para perceber que a Toyota pode ter feito uma excelente operação ao contratar Elfyn Evans, pois o galês é o piloto que mais perto está de se chegar ao trio da frente. Jari-Matti Latvala e Kris Meeke saíram da Toyota porque não confirmaram o que prometiam. O finlandês é irregular há muito, o britânico, é muito rápido, mas muito regular a ter acidentes. Demasiado.

Em resumo, acreditamos que quando se adaptar ao carro, se tudo correr bem, Evans vai fazer pódios e provavelmente vencer. Mas não acreditamos que lute pelo título.

Outro caso estranho é o de Andreas Mikkelsen. Todos lhe auguravam, quando estava na VW, um futuro melhor do que o que tem tido. Teve enormes dificuldades em lidar com a nova era do WRC, de 2017 para cá, e a prova disso é que a época arranca sem ele. Acreditamos que se Lappi não tivesse um dote tão interessante, Mikkelsen seria o escolhido de Malcolm Wilson, mas Lappi ainda tem margem para fazer melhor do que tem feito. Tem é que o provar com resultados e na M-Sport está na equipa perfeita para isso, já que a pressão é muito pouca e qualquer vitória é uma dádiva. Caso seja capaz.

Esapekka Lappi vai dar vitórias à Ford? Esta é uma grande questão para 2020. Não nos parece. Na Citroën foi difícil vê-lo contente, portanto, pode ser que recupere a alegria que chegou a ter em 2018, mas que depressa perdeu. Das duas uma, ou exige demasiado de si próprio e está frustrado por não conseguir mais, ou já percebeu que não dá mais que aquilo. Este ano será uma boa oportunidade para se perceber “quem é Esapekka Lappi?”

Ainda não falámos de Sébastien Loeb e Dani Sordo. Basicamente vão fazer os mesmos papéis dos últimos anos, e, nesse capítulo, qualquer um deles é capaz, no fim de semana ‘certo’, de vencer um rali. Loeb até mais do que isso.

Na M-Sport, Teemu Suninen tem ‘patinado’ um pouco e não evoluiu o que se pensava dele. Mas dizia-se o mesmo de Tänak há uns anos e agora veja-se. Pelo menos tem que fazer melhor do que em 2019 e isso significa somente não ser tão irregular. Talvez nem repita o segundo lugar da Sardenha de 2019. Gus Greensmith tem mais nove ralis para mostrar que se pode fazer um bom piloto de WRC, ‘coisa’ que ainda não é.

Falta ainda falar de Kalle Rovanperä. Estreia-se no WRC, e espera-se muito dele. Se calhar espera-se demais para o que pode fazer já em 2020. Até aqui, para ele, tudo foi ‘peanuts’. Mas agora não vai ser. Agora é que tem de mostrar se tem fibra de campeão, o que acreditamos ter, mas tem que a mostrar. Será um dos pilotos no qual vamos ter mais atenção. Próximo finlandês a ser Campeão do Mundo de Ralis lá para 2023/24? Daqui a um ano já lhe diremos mais alguma coisa quanto a isso…

A Toyota vai também dar oportunidade a Takamoto Katsuta no WRC, mas sendo um piloto razoável, não parece que seja desta que o Japão consegue ter um piloto para lutar no top 5. E não estamos a falar de 2020. Mas sim de 2025!

A grande questão do ano é: Será que Ogier consegue ser Campeão no ano da despedida? Têm a palavra Ott Tänak e Thierry Neuville.

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