‘Rally Star’: FIA procura futuros campeões do WRC

Por a 8 Fevereiro 2020 11:10

Por José Luís Abreu

A FIA irá apresentar em junho uma iniciativa denominada ‘Rally Star’ que visa encontrar uma nova geração de pilotos de ralis. A ideia passa por combinar duas disciplinas: ralis e eSports.

Lembra-se do Pirelli Star Driver, iniciativa que visou apoiar jovens pilotos no início das suas carreiras nos ralis, levada a cabo pela Pirelli, como patrocinador, e pela FIA, que trouxe ao mundo dos ralis alguns nomes importantes como por exemplo Craig Breen, Hayden Paddon e Ott Tanak?

Adaptado à era moderna, a FIA está a criar um sistema de deteção de jovens talentos, que começa nos eSports, e a ideia é abrir-lhes o caminho através da pirâmide dos ralis.

Hoje em dia é cada vez mais difícil a um piloto cumprir todo o percurso desde a base da pirâmide dos ralis, até ao topo, sem que pelo meio não tenha dificuldades, da mais variada índole.

Não vale a pena lamentar os eventuais talentos que tiveram que arrumar o capacete e as luvas, porque em determinando momento enfrentaram caminhos com demasiadas pedras, que não foram capazes de ultrapassar.

Os exemplos são mais que muitos, o mais recente será talvez o de Pedro Paixão, um talento emergente dos ralis madeirenses que decidiu parar por não conseguir apoios para avançar. E todos já vimos os que nos últimos três anos foi capaz de fazer, abanando com o status quo no Campeonato da Madeira e fazendo boas exibições no continente.

Não é só em Portugal que existe este problema, talvez no nosso país esta questão seja ainda mais difícil de ultrapassar.

Por isso, tem de ser visto de forma muito positiva a ideia de procurar talentos em iniciativas bem suportadas e de alcance global.

Quem conseguir passar por todo o processo, levará uma bagagem que sozinho teria muita dificuldade em transportar.

Claro que para avançar será sempre necessário a cada piloto ir descobrindo o seu próprio suporte – não há almoços grátis – mas a história diz que é sempre muito mais fácil dar nas vistas quando inseridos em programas ‘fortes’.

Veja-se a quantidade de bons pilotos de ralis em Portugal que passaram pelos imensos troféus existentes ao longo da história.

O modelo inicial baseia-se no bem sucedido programa da FFSA, Federação Francesa de Desporto Automóvel, o Rallye Jeunes, que ajudou a lançar a carreira de campeões mundiais como Sébastien Loeb e Ogier.

O trajeto de um piloto de ralis deve ser bem sustentado, e a FIA decidiu agora olhar com outros olhos para a base da pirâmide, e vai mesmo mais longe, ao pensar numa forma de recrutamento de pilotos para alimentar a ‘cadeia’ do WRC.

A ideia, em termos globais, é boa, pois quanto maior e mais forte for a base, mais e melhores pilotos poderão ser capazes de chegar ao topo.

E para isso, a FIA pretende dar oportunidades a jovens que provem ter talento, fazendo-os cumprir as primeiras etapas sem que para isso sejam necessários rios de dinheiro, fazendo uma triagem inicial de talento em bruto, que irá tornar mais fácil a evidente o caminho que se seguirá. É aqui que ‘entra’ o Rally Star…

Rally Star

O programa chamar-se-á Rally Star, provavelmente com Pirelli atrás, e pretende ser o suporte para os primeiros anos de um jovem piloto nos ralis. Será anunciado no próximo verão, e passará por uma busca global de jovens talentos, que ao contrário do que sucedeu até aqui, poderão ser ‘descobertos’ ainda antes de se sentarem pela primeira vez num verdadeiro carro de ralis.

E como se descobre um potencial talento antes deste ter sequer ter guiado um carro? Nos eSports! No sofá, na Playstation, como lhe preferir chamar.

Se gosta de futebol, sabe que a única coisa que pode nascer de um grande jogador dos jogos de vídeo, FIFA ou Pro Evolution Soccer é um grande apaixonado pela modalidade e nunca um grande futebolista, mas no caso dos eSports não é tanto assim.

Na última década multiplicou-se por todo o mundo a existência de ‘autódromos’ virtuais, e com um investimento que não tem de ser enorme, é possível ter em cada casa um bom jogo de vídeo e um bom conjunto de volante, pedais e caixa de velocidades.

A tecnologia de hoje já permite sistemas que ‘obrigam’ os adeptos desses jogos, que muito provavelmente já são também adeptos dos ralis, a utilizar alguns dos predicados que irão precisar quando guiarem um carro de ralis a sério. Num jogo de vídeo de ralis, acelera-se, trava-se, guia-se, ouvem-se notas, em suma, afinam-se muito do que pode ser necessário no futuro.

E há outra coisa muito importante, alimenta-se a paixão pelos ralis: “Estamos a trabalhar com Codemasters e com a Bigben (que desenvolvem os jogos DiRT e WRC 8) e aguardamos as suas propostas” disse disse Jerome Roussel, o líder do projeto FIA Rally Star, que também esteve envolvido no Rallye Jeunes: “Procura-se uma forma de mudar os parâmetros do jogo, para acrescentar dificuldade. Com isso, pretende-se que seja possível encontrar potenciais bons pilotos e não apenas bons jogadores”, concluiu.

Apesar de haver muita gente cética, é possível triar quem se destaque neste particular e dar-lhe a oportunidade de perceber se é capaz de subir degraus e ir mais longe.

Não se sabe como vai ser o modelo, como já referimos, será apresentado no verão, mas sabe-se que a FIA vai criar algo a que vai chamar ‘motorkhana’. Ou seja, depois de descobrir os melhores nos eSports, dá-lhes a oportunidade de colocar os projetos-de-piloto num carro, fazendo com que mostrem o que são capazes num circuito delimitado por cones. Uma espécie de troço cronometrado sem perigos.

A chegar a esta fase, por todo o mundo, deverão ser muitos os milhares a tentar a sua sorte e será a partir de aqui que o funil se irá ‘apertar’ significativamente: “Só vamos precisar de 20 segundos para perceber que são bons o suficiente para seguir em frente”, disse Jerome Roussel.

A FIA está neste momento a desenvolver o ‘Rally Star Toolkit’, que será levado a cabo pela federações nacionais, entre elas, claro está, a portuguesa.

Este ‘kit’ visa mostrar às federações os procedimentos do processo de seleção, a ‘tal’ motorkhana, uma gincana em quatro rodas. Quando for apresentada a iniciativa serão conhecidos os pormenores, mas a ideia da FIA passa por juntar os finalistas numa final europeia. Deverão ser escolhidos seis pilotos, entre eles obrigatoriamente uma Senhora, que terão depois um ano de testes e treinos, ao mesmo tempo que disputam seis a oito provas regionais e nacionais na Europa.

Depois, os três melhores pilotos desse grupo de seis, irá avançar para um programa de dois anos no Mundial de Ralis Júnior, e se um deles conseguir o título, avança para o WRC 3, já com um R5.

O financiamento inicial deste programa virá do fundo de inovação da FIA, sendo que a FIA está neste momento à procura de parcerias e investimento para tornar sustentável o Rally Star.

Tal como sucedeu entre 2009 e 2011, a Pirelli, que no próximo ano voltará a ser a fornecedora oficial de pneus para o WRC, deverá ser confirmada como patrocinador principal do Rally Star. Como bem sabemos, o programa Pirelli Star Driver, ajudou ao ‘arranque de um futuro Campeão do Mundo de Ralis, já que Ott Tanak fez parte da iniciativa em 2010.

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