Entrevista a Sébastien Ogier: “MANTENHO A VONTADE DE ME RETIRAR EM 2020”

Por a 19 Junho 2019 14:18

Há dez anos que Sébastien Ogier espalha talento pelas Classificativas do WRC e, nos últimos seis, não deu hipótese aos seus adversários, somando outros tantos títulos de campeão do mundo ao seu palmarés. Conhecido pela forma aguerrida como sempre se entregou aos ralis, o francês tem aliado uma invejável frieza ao volante com momentos de impulsividade aos microfones. A poucas horas do arranque do Rali de Portugal, prova que tão boas recordações lhe traz, quisemos saber o que mudou na forma como Ogier olha para competição e por que razão mantém a ideia de abandonar o WRC em 2020 desperdiçando a oportunidade de bater os recordes do seu compatriota e rival Sébastien Loeb.

Por Nuno Branco

A fama e o sucesso são faces da mesma moeda. A exposição mediática é consequência inevitável de um percurso triunfante. Em dez anos de participação no campeonato do mundo de ralis, Sébastien Ogier mantém a combatividade e o engenho que fizeram de si o melhor dos pilotos da atualidade mas será um homem diferente em alguns aspetos. Um deles, por sinal bem notório, é a sua postura durante as entrevistas. Longe vão os tempos da timidez, do semblante fechado e de algum nervosismo. O hexacampeão do mundo encara hoje os Media com desconcertante tranquilidade e revela sentido de humor, respondendo às questões com um sorriso estampado no rosto. O que mudou na forma como o francês vive e encara a sua profissão, foi o que procurámos saber…

Que balanço fazes destes seis meses na equipa Citroën?

Neste momento lideramos o campeonato de pilotos (ndr, a entrevista foi feita quando isso era verdade, agora já não é), logo, o balanço tem que ser positivo. Sabíamos que tínhamos pela frente uma concorrência muito forte e que a luta com o Ott [Tanak] e com o Thierry [Neuville] iria ser bastante renhida, por isso, chegar a esta altura do ano a discutir, taco a taco, com eles deixa-me satisfeito. No entanto, temos ainda muito trabalho pela frente e ainda nos ralis mais recentes pudemos constatar que, em determinadas condições, temos algumas dificuldades em acompanhar o ritmo da Hyundai e da Toyota. Neste momento, toda a equipa está a trabalhar arduamente para conseguir progredir e tornar-se ainda mais competitiva na segunda metade do campeonato.

Quais são os pontos em que o C3 WRC terá que evoluir para melhor se adaptar a teu estilo de condução?

Tecnicamente falando, temos que trabalhar no comportamento do carro nas secções mais lentas ou onde existe menor aderência. Estas são as áreas onde ainda não somos suficientemente rápidos. A equipa está também a introduzir melhorias no chassis para tornar o Citroën mais fácil de conduzir mas, essencialmente, os principais pontos estão relacionados com a aderência ao solo e com a melhoria da tração, o que implica desenvolver o chassis e a transmissão.

Estás de regresso à Citroën, uma casa que conheces bem, depois de uma saída algo atribulada no final de 2011. Nessa altura, a saída da equipa francesa afetou-te emocionalmente?

Na altura, surgiu a oportunidade de me juntar à equipa Volkswagen e eu estava certo de que tomara a decisão correta. No entanto, não escondo que a parte mais difícil de gerir prendeu-se com a necessidade de correr com o Skoda S2000 durante a temporada de 2012. Nesse período, não era fácil encontrar a motivação e cheguei a sentir-me frustrado. Hoje sei que todo o trabalho desenvolvido valeu a pena mas tenho que confessar que, nos dias que antecederam o primeiro rali de 2013, voltei aos níveis de ansiedade que vivi no início da minha carreira e até tinha dificuldade em adormecer. Estava verdadeiramente feliz e aliviado com o regresso à categoria principal do WRC.

Passaram já dez anos desde que te estreaste na categoria máxima do WRC. Em dez anos, e após seis títulos mundiais, o que mudou na forma como encaras a competição?

Em dez anos, mudei e cresci muito, quer como desportista, quer como homem. Obviamente ganhei experiência enquanto piloto e isso tornou-me muito mais competitivo do que era em 2009 mas, ao mesmo tempo, o sucesso que atingi permitiu-me encarar hoje a competição de uma forma mais tranquila e relaxada. Como pessoa, também evoluí, a minha vida mudou, sobretudo a nível familiar e isso também se reflete na minha forma de estar. Provavelmente serei hoje menos estúpido do que era quando cheguei ao WRC, controlo melhor a impulsividade e, se calhar, ainda tenho que melhorar nesse capítulo mas, emboras os ralis continuem a ser aquilo que adoro fazer e pelos quais tenho uma enorme paixão e me empenhe a 100%, a verdade é que, desde que constituí família, passaram um pouco para segundo plano, deixando de ser a principal razão da minha vida como acontecia no passado.

Depois de venceres seis campeonatos do mundo, é normal existir uma expectativa elevada relativamente ao teu desempenho. Digamos que a fasquia está sempre no nível máximo. Por esse motivo pergunto-te se a pressão é agora maior ou menor do que aquela que sentias quando começaste a correr no WRC?

A pressão é definitivamente menor. É claro que, quando atingimos alguma coisa, queremos sempre mais pois isso faz parte da natureza humana, mas a verdade é que eu já conquistei mais do que alguma vez havia sonhado e, repito, embora me empenhe a 100% como sempre fiz, o que quer que seja que aconteça daqui para a frente, já não irá mudar a minha vida e, por esse motivo, a pressão é agora muito menor, permitindo-me encarar a competição de forma muito mais relaxada.

Um dos teus pontos fortes enquanto a atleta é a mente, a forma como lidas com a pressão e isso reflete-se no reduzido número de erros que cometes. Sabemos que os atletas de alta competição são hoje sujeitos a rigorosos programas de treino físico mas gostaria de saber como treinas a mente para um rali?

Pergunta difícil! Não tenho um treino específico para a mente. Encaro o trabalho de forma muito profissional, tento analisar tudo o que me rodeia, dou atenção a todos os detalhes e procuro melhorá-los. Isso não mudou na minha forma encarar a competição. Relativamente à mente, esta forma de estar mais relaxada que adoto hoje em dia, permite-me desligar completamente do mundo dos ralis quando não estou a competir e isso permite-me regressar sempre com a mente fresca para cada prova. É uma estratégia que tem resultado muito bem comigo.

Nestes 10 anos, Portugal tem tido um significado especial para ti?

Sem dúvida. Portugal será sempre recordado como o país onde obtive a minha primeira vitória no WRC, em 2010. Depois desse momento, obtive outros sucessos importantes no rali português pelo que é sempre um país que me traz boas memórias e cujo rali encaro sempre com entusiasmo.

Quando assinaste pela Citroën, disseste que seria o teu último contrato no WRC, o que significa que, no final do próximo ano, poderás retirar-te dos ralis. Mantens essa ideia, ou seja, o fim da tua carreira no WRC poderá mesmo acontecer no final de 2020?

Completamente. Isso está completamente claro na minha cabeça. A esta distância, não gosto de dizer que será 100% certo porque nunca conseguimos prever o que a vida nos reserva mas posso afirmar com 99% de certeza que isso irá acontecer e só um acontecimento totalmente inesperado poderia fazer com que continuasse para além do próximo ano.

Apesar de existir a possibilidade de tentares bater os recordes de Sébastien Loeb, manténs o desejo de abandonar o WRC. Que motivos pesam nessa decisão?

Ao longo destes anos, tive a oportunidade de viver momentos maravilhosos neste desporto. Continuo a adorar os ralis mas está na altura de fazer outras coisas na vida, procurar novos interesses, outros projetos e sobretudo dedicar mais tempo à minha família…

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