César Torres: Batalhador incansável


Alfredo César Torres viveu apenas 64 anos, mas deixou uma obra longa, que ainda hoje é recordada com saudade. A sua ligação ao automobilismo remonta a 1955, quando se estreou como piloto, no Rali a Sintra e, nesta atividade, conquistou sucesso assinalável. Disso são prova os títulos de Campeão Nacional de Ralis, em 1965, e de Turismo em 1967, ano em que venceu ainda a Volta ao Minho e o Campeonato Luso-Galaico de Ralis.

César Torres desde muito novo que se interessou pelos ralis, estreando-se, como já referimos, num Rali a Sintra, com um VW, tendo como navegador Pereira Gomes. Nessa altura, os patrocínios eram proibidos, com exceção das gasolineiras – e, logo aí, o seu espírito empreendedor e inovador emergiu, ao conseguir que a Shell o ajudasse. Anos mais tarde, assinou um acordo com a Sacor (hoje GALP), acordo esse que sempre o acompanhou ao longo da sua carreira. Em 1961, correu pela primeira vez no estrangeiro, alinhando com um Hansa no Rali de Monte Carlo e tendo a seu lado Baptista dos Santos. Foi 41º.

Depois de correr com VW, Renault e MG, decidiu comprar um Austin Cooper S, então um carro que começava a sobressair nas provas internacionais. Na JJ Gonçalves, encontrou em Carlos Gonçalves, um dos sócios da firma, um inesperado apoiante, que não hesitou em o contratar com piloto “oficial”, pondo-o a correr com Manuel Gião (pai) no Team JJ Gonçalves.

Com esta equipa, César Torres venceu o Campeonato Nacional em 1965 – e, pouco depois, as suas atenções viraram-se em definitivo para outro prazer: o de organizador. Antes disso, duas curiosidades: César Torres foi navegador do seu primeiro… navegador, Pereira Gomes e, mais tarde, da sua esposa, Teresa Torres. Piloto emblemático dos Mini Cooper S, abandonou esta carreira no início da década de 70, para se dedicar, de corpo e alma, ao dirigismo desportivo.

Senhor de um espírito de decisão notável e de uma convicção inabalável, para César Torres querer era, literalmente, poder. Foi graças a ele que o nome de Portugal passou a ser respeitado na elitista cadeira do poder do automobilismo desportivo; foi a sua devoção e força de vontade que garantiram o Rali de Portugal e o GP de Portugal nos Mundiais de Ralis e de Fórmula 1. Convidado para a Comissão Desportiva Nacional em 1972, tornou-se dois anos depois seu diretor, cargo que exerceu até ser eleito presidente da FPAK, em 1995. Manteve-se neste cargo até Maio de 1997, quando o cedeu a Vasconcelos Tavares. Aquando da sua morte, era presidente do ACP, desde 1980, e presidente-delegado da FIA para o Desporto.

Lutador incansável, César Torres deixou o seu nome essencialmente ligado ao “seu” Rali de Portugal, do qual foi diretor ao longo de várias edições. Durante esses anos, a nossa maior prova de estrada tornou-se um “ex-libris” internacional, tendo mesmo sido considerado por várias

vezes como “O Melhor Rali do Mundo”. Organização impecável, a prova trouxe reconhecimento internacional ao nosso país, que entrou então na rota turística dos amantes do desporto automóvel. César Torres, que esteve também ligado à imprensa escrita e à política nacional, pode enfim

descansar em paz: Quase 23 anos depois da sua morte, a ‘sua’ prova está muito bem entregue nos roteiros mundiais.

O organizador

César Torres é uma figura indissociável da história do Rally de Portugal. Numa altura em que as provas de estrada eram assaz diferentes do que são hoje, resultando em corridas de regularidade, com rampas, slalom a definirem os vencedores, as primeiras edições daquele que, a partir de 1967, se chamou Rallye TAP, foram apenas concentrações amigáveis de trabalhadores da transportadora aérea nacional. Tudo começou, na verdade, quando um antigo navegador de César Torres se lembrou de fazer a primeira edição dessa prova; pouco depois, a administração da TAP decidiu encarregar de todos os passos organizativos na pessoa de César Torres – perdeu-se aqui um (excelente) piloto; nasceu um (ainda mais) excelente organizador e gestor de homens e emoções.

A primeira edição ‘a sério’ do Rally TAP realizou-se em 1967 e foi ganha por José Eduardo Carpinteiro Albino, com um Renault R8 Gordini. Ao longo de 53 edições, a principal prova de estrada portuguesa foi considerada por cinco vezes como “O Melhor Rali do Mundo” pela FIA.

E por falar em FIA, César Torres depressa assumiu cargos de relevo no organismo máximo do desporto automóvel, defendendo sempre o bom nome de Portugal – e não apenas o “seu” querido Rally. Foi graça a ele, por exemplo, que o campeonato do Mundo de F1 regressou ao nosso país, com a reedição do Grande Prémio de Portugal em 1984.

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