Andreas Mikkelsen (Parte 2): como chegou à alta roda dos ralis…

Por a 30 Novembro 2023 13:31

Andreas Mikkelsen foi entrevistado no WRC Backstories, com a Becs Williams, com o norueguês a contar a história e ‘estórias’ da sua já longa carreira. Na primeira parte que poder LER AQUI, contou como tudo começou, nesta segunda parte, como teve a sorte de ser notado e chegado à alta roda dos ralis…

Becs Williams: Como olhas para aquele período inicial? Aqueles primeiros anos pós 2006, 2007, 2008? Quando olhas para trás agora, quais foram os destaques desses anos?

Andreas Mikkelsen: “Fizemos muitos eventos e eu diria, até aí eu estava a fazer apenas provas na Grã-Bretanha, em 2007, fiz mais ralis e também alguns em 2008. Diverti-me muito. Mas foi muito difícil entrar no WRC. Tentando aprender a velocidade deles. Fiquei chocado. Lembro-me de quão rápido eles andavam. Sim, foi difícil para mim imaginar que um dia eu poderia andar a essas velocidades. Nos testes eu estava a andar bem. Mas era tão difícil fazê-lo em provas! Também andei muito na Irlanda…

Já que falaste na Irlanda, como foi a tua experiência?

“As ilhas são um lugar especial para fazer ralis e sabem como são as provas de asfalto lá, certo? São estradas incríveis, mas também acho que a atmosfera lá é muito particular, um tipo de troços muito particular e os adeptos, também. São tão apaixonados e eu lembro-me que eu tinha 17 anos na época…”

Conta como foi aquele primeiro evento do WRC no Rali da Grã-Bretanha no País de Gales em 2006. Competiste muito ao longo do ano no Reino Unido e estavas acostumado com esse tipo de terreno, digamos, com a atmosfera da Grã-Bretanha, mas então ao mesmo tempo fazias o teu primeiro evento do WRC…

“eu não conseguia dormir. Estava muito nervoso. Quando comecei a primeira etapa não pensei em ser rápido. Acho que fomos os 12º mais rápidos ou algo assim, nada mal. Mas depois saí de estrada. Na última curva do troço, depois no seguinte a mesma coisa.

Aí eu percebi o quão difícil era aquele campeonato, quanto tempo duravam os troços, quanto tempo durava o rali? E não foi um evento particularmente fácil também com a lama e a chuva e o nevoeiro, não foi confortável no início do rali. Meu Deus, que batismo de fogo…”

Mas fez parte do processo de aprendizagem, não é?

“Absolutamente. Definitivamente faz parte do jogo e sim, depois disso, percebi que havia muito para aprender, apesar de fazer alguns ralis nos eventos nacionais no Reino Unido.

Não era exatamente o que esperava ao entrar no campeonato mundial. Mas sim, eu percebi. Estava num caminho muito errado, e tinha muitas coisas para aprender.

Mas, como disseste, fazia parte do processo de aprendizagem, tudo isso…”

Como estava a tua família a lidar com tudo isso, como era o apoio de casa? Os teus pais, a tua família apoiava muito o que estavas a fazer. Sentias isso, tinhas o teu pai em todos os eventos?

“Sim, meu pai era apaixonado por mais desportos e também ralis. A minha mãe, não sabia muito sobre isso. O meu pai vinha a todos os eventos, então éramos mais ou menos eu e ele viajando e tentando tentar melhorar e alcançar nossos objetivos nos ralis. Foi muito movimentado em 2007 e também em 2008, muitos eventos no Mundial e também no Reino Unido.E aprendi muito. Os nossos resultados também estavam a melhorar muito rapidamente.

Depois vieram mais provas do WRC?

Sim, continuei com a Stobart VK Ford Rally Team, fui 10º na Noruega, 10º em Portugal. Os resultados gerais nos ralis não foram particularmente bons, mas vimos flashes de velocidade logo no início, como alguns bons tempos em troços.

Mas era muito difícil para mim forçar o andamento consistentemente sem cometer erros em três dias, sem conhecer os ralis. Naquela altura demorei muito para ser rápido e consistente.

Depois, em 2009 e 2010 trocaram muito de carro. Qual era o pensamento de toda a equipa naquela altura sobre para onde ias? Havia alguma frustração? Não havia muitos lugares no nível mais alto, disponíveis, e isso deve ter sido uma grande frustração?

“Sim. Mas naquela época eu não era bom o suficiente para chegar a uma equipa de fábrica. Ou talvez se eles tivessem orçamento para contratar um júnior, isso era bom.

Ainda por cima, em 2008, veio a crise financeira e o meu pai não teve a oportunidade de me ajudar da mesma forma que antes. Ele disse-me para parar de correr e ir para o exército, voltar para a escola, obter o meu diploma universitário, tinha que encontrar outra coisa para fazer. Mas, naquele ponto, eu estava, tão apaixonado pelos ralis e eu acreditei em mim mesmo, que tinha capacidade para ser bom. Então para mim foi muito difícil colocar o capacete na prateleira. Eu queria continuar, mas não tinha dinheiro, nada.

E eu lembro-me de ter uma reunião com o Eric Veiby naquela época porque houve uma oportunidade de fazer o Rali da Austrália no final do ano, no Citroen WRC, mas claro que precisava de levar orçamento e o Eric estava a ajudar vários pilotos naquela época.

Então perguntei-lhe se ele me queria ajudar porque poderia haver algumas oportunidades com a Citroën no futuro se eu tivesse um bom resultado. Sim, mas ele disse que não achava que esse fosse o caminho a seguir. Queria ajudar, mas queria fazer de outra forma. Então nós, ele e algumas outras pessoas na Noruega, decidiram ajudar-me na minha carreira, mas voltando ao básico. Fomos fazer a Subaru Cup, um carro básico, porque ele queria que eu provasse o meu talento no carro, que na verdade era pior que o dos meus concorrentes.

E então era como construir a carreira do zero. Antes disso, se eu pedisse um par de esquis, ao meu pai eu tinha-os e quando pedi um carro de ralis, tive dois carros. Jogou tudo em mim. Depois eu passei a ter que lutar por isso e ao olhar para trás agora, estou muito feliz pois a transição aconteceu porque eu fiquei com muita fome do meu próprio sucesso.

Eu estava a pilotar nos meus próprios termos e se quisesse ter sucesso, teria que lutar por isso. Eu tive que merecê-lo, e de uma maneira completamente diferente.

Então começamos a testar este carro na Noruega e tudo estava a ir muito bem. E depois surgiu a oportunidade com a Hankook no IRC em 2010 junto com a M-Sport, e com o Ford Fiesta S2000. Foi um ano desafiador, mas tivemos alguns bons resultados.

E isso colocou-me na mira da Skoda UK, e eu aproveitei o impulso…

Foi assim que voltei ao cenário internacional dos ralis com a Skoda UK, inscreveram-me em 2011, mas foram os meus amigos na Noruega que fizeram a diferença…

Se eles não interviessem, eu provavelmente não o faria porque era impossível conseguir patrocinadores em 2008. Portanto, eu tive muita sorte, felizmente, de conhecer as pessoas certas…

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