Como é a vida nos ‘regionais’ de Ralis, by Fábio Santos

Por a 27 Abril 2020 15:15

“A minha primeira vitória é sempre estar na lista de inscritos”. É desta forma que Fábio Santos, piloto do Campeonato Centro de Ralis nos resume o que é a sua luta para alimentar uma paixão que é comum a muitos: disputar ralis.

Os Ralis em Portugal, como em todos os cantos do mundo, não são feitos apenas com as melhores equipas, carros e pilotos. Há uma base imensa de gente apaixonada pela modalidade, em que o mais importante é correr com o que quer que seja. Muitos nunca tiveram ou ponderam vir a ter, oportunidade de fazer um campeonato nacional, devido aos meios necessários, ou por vezes mesmo disponibilidade de tempo e dinheiro que estão envolvidos.

Para lá disso, a própria regulamentação assente em categorias FIA faz com que o valor dos carros seja bastante superior – o que é natural –

e também por isso os regionais são um porto seguro para muito alimentarem a sua paixão pelos ralis. Ali, fazem-se ralis pelo exclusivamente pelo gozo que proporcionam, e esse é o caso de Fábio Santos, um jovem de Leiria, que aos 31 anos corre nos ‘regionais’: “Dei os meus primeiros passos no desporto motorizado com apenas quatro anos no karting, onde fiz troféus em kartódromos, seguindo-se o campeonato nacional onde ganhei a Taça de Portugal em 1999, em iniciados.

Partilhei a pista com pilotos como Filipe Albuquerque, Álvaro Parente, Bernardo Sousa, etc. Sempre fomos uma família ligada ao desporto motorizado, o nosso dia a dia eram as corridas, em cada fim de semana nos encontrávamos num kartódromo diferente, Braga, Palmela, Baltar e no de casa onde passávamos grande parte do tempo livre, o Kartódromo de Leiria.

Contudo com os tempos difíceis que se aproximavam tivemos de interromper o nosso dia a dia nas competições, tendo o meu irmão feito ainda o Trofeu Honda e Datsun 1200” começou por contar Fábio Santos, que como tantos outros viu nascer e crescer-lhe um ‘bichinho’ que todos tentam alimentar como podem durante a vida: “Sempre ficou a esperança de voltar e de cumprir um dos meus grandes sonhos, que seria fazer ralis, mais propriamente o Rali do Vidreiro Centro de Portugal. Comecei a trabalhar com o intuito de atingir esse objetivo e voltar às provas pouco a pouco. E consegui-o!

Em 2012 fiz o meu primeiro rali ao volante de um Peugeot 205 GTI, o Rali de Carnide (Pombal), em 2014 vim a cumprir o meu sonho, ao disputar o Rali do Vidreiro. Ainda era tudo novo para mim na altura, tive a ajuda de uma equipa que já tinha alguma experiência.

Contudo o que pretendia era fazer uma época no Campeonato Centro de Ralis, mas para tal necessitava de tomar algumas medidas, foi aí que ‘fizemos’ o carro de raiz, um Citroën Saxo Cup, em que pretendíamos fiabilidade e baixos custos, de forma a permitir-nos fazer um campeonato.

Com alguns patrocinadores que nos tinham vindo a acompanhar ao longo do tempo, conseguimos montar um projeto, de custos contidos, e garantir as participações, o que por si só já era uma vitória. A minha primeira vitória sempre foi estar nas listas de inscritos, para mim sempre foi e será sempre uma felicidade. O resto vem automaticamente” revelou Fábio Santos, explicando bem o que se tem de lutar para alcançar os sonhos.

A melhor ‘equipa’, a família

Como é habitual nestes casos, e sucede em boa parte dos casos em que se luta para chegar a algum lado, é na família que na maior parte dos casos se consegue o suporte necessário para seguir em frente. E não falamos em dinheiro, ainda que muitas vezes seja esse o caminho: “A minha estrutura era a família que estava comigo desde o karting, 20 anos antes, o meu avô o meu irmão o meu Pai, amigos e o meu Navegador Ricardo Sismeiro, que tem tido um papel fantástico nesta caminhada”, explicou.

“A preparação das provas é feita na nossa garagem, onde criámos condições, vamos para as provas com duas malas, uma tenda e as rodas sobressalentes, e saímos sempre com a sensação que falta alguma coisa (risos). Não é fácil, sendo piloto, mecânico, conciliar tudo.

Não fosse ter esta paixão, não serial plausível o esforço que é necessário, até porque o meu trabalho não é na área dos carros, mas sim do ciclismo. É necessário preparar toda a documentação, verificar se o carro está em conformidade, preparar os troços reconhecer e montar a estrutura nas provas, que por norma têm dois dias, sábado e domingo, onde reconhecemos no sábado de manhã os troços, e montamos toda a estrutura de assistência, no sábado a noite, uma super especial citadina, e no domingo o resto do rali. Por norma com dois troços e tripla passagem ou três troços com duplas passagens, tudo se torna mais difícil quando o Regional é em conjunto com o Nacional (CPR), pois aí necessitamos de reconhecer no fim de semana anterior, temos de ‘tirar’ a sexta feira, onde todo o processo é mais complicado para uma equipa amadora”, disse.

Quanto à questão dos ‘regionais’ correrem juntos com o CPR ou separados, Fábio Santos tem um opinião curiosa, já que o facto de correrem juntos tem vantagens e desvantagens. Do ponto de vista dos adeptos, há logicamente mais gente nos troços quando a prova é com o CPR, são vistos por muito mais gente, mas depois quando chegam ao parque de assistência esse mesmo público quer saber é do CPR, o que já não sucede quando as provas dos campeonatos se fazem ‘sozinhas’. Têm menos público mas mais atenção. É um ‘trade off’: “Existe também uma diferença no impacto que temos quando o campeonato se destina apenas aos regionais, ou nos juntam ao nacional, por exemplo ao nível de espectadores no troço, o impacto para as equipas é superior quando corremos isolados, existe sempre mais aficionados nos troços e também outro interesse pelas equipas no parque de assistência. Aí sentimos que somos os ‘atores principais’ daquele espetáculo”, explicou, referindo-se depois ao facto de não ser fácil a quem quer começar, o dinheiro que tem de gastar para poder correr: “Para participar necessitamos (e bem) de ter todas as normas de segurança válidas, desde cintos, bacquet, capacete, luvas, roupa interior, Hans. Para nós, felizmente não tem havido grande dificuldade, pois temos sempre vindo a fazer provas aos longos dos anos, pelo que o investimento se dilui no tempo, nunca é muito grande, mas para quem quer iniciar-se nas provas, ou já não corre há algum tempo, podemos estar a falar de quantias bem avultadas”.

Um dos grandes problemas dos concorrentes dos ‘regionais’ é o custo das inscrições, mas neste caso é sempre complicado pois há dois lados de um problema. Os clube têm custos fixos muito significativos nas suas provas logo a começar com o policiamento e os bombeiros, que com ose calcula levam a grande fatia da despesa. Isto tem que contrabalançar com os apoios, que na maior parte dos casos vêm das Câmaras Municipais, um ou outro clube tem alguma ajuda de um patrocinador maior, mas na maior parte dos casos são mesmos as Câmaras Municipais o patrocinador principal. Depois há um conjunto de apoios ‘locais’, que na maior parte dos casos são em géneros, prémios, combustível, representantes de marcas que emprestam carros à organização, hotelaria, alimentação. E o dinheiro que o clube recebe para organizar uma prova vem apenas de três ‘lados’: Inscrições, apoio das Câmaras Municipais e outros (mais pequenos) patrocínios. Quanto menos forem os inscritos, menor a receita para o Clube e é este equilíbrio que é difícil de fazer: “De momento o Campeonato Centro de Ralis recomenda-se, mas um dos pontos menos positivos é sempre o preço das inscrições, pois para muitos torna-se o muito difícil, e para mim não é exceção.

Os valores Este ano (2020) rondam os 500 euros o que se torna muito complicado, pois o campeonato é constituído por 10 provas em média, muitas provas para a nossa realidade, penso que seria preferível haver menos provas e encontrar um equilíbrio no preço das inscrições, assim como a divulgação também ser muito pouca para o parque automóvel e qualidade de pilotos que em nada fica atrás de um ‘nacional’ ou prova de montanha. Com mais divulgação, preço de inscrições e redução de provas teríamos um campeonato perto dos 50 carros, a meu ver.

Outro facto é que os campeonato são constituídos por provas de terra e asfalto, e as equipas que fazem o misto de provas é bastante reduzido.

Existem muitos pilotos que fazem só terra e outros só asfalto, daí os números de participantes no campeonato também se tornar mais reduzido.

Por exemplo, lá fora dividem em duas frentes, o que leva a haver mais pilotos no campeonato de terra e de asfalto”, disse.

Em termos competitivos, como se sabe, de repente, tudo parou: “A nível competitivo este ano apenas efetuámos uma prova, o Rali da Bairrada em Vagos, onde alcançámos o quinto lugar à geral no Campeonato Centro de Ralis, segundo lugar nas duas rodas motrizes, primeiro lugar do Grupo X, primeiro lugar do Desafio Kumho, Divisão 2. Esperávamos com toda ansiedade o Rali Vila Medieval de Ourém que para nós é bastante especial. Como objetivo pretendemos lutar pela primeira posição nestas frentes, mas agora com toda esta incerteza devido à situação atual devido à pandemia, tudo está incerto. Vamos ver quando será possível levar o nosso Citroën, que está bastante competitivo, de volta ás estradas”, concluiu.

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