Rali do Algarve: A história da prova…

Por a 15 Março 2024 00:02

Era habitual que se festejasse o Campeão de Portugal de Ralis, no Algarve. O destino ‘quis’ que as coisas mudassem, a prova saiu do calendário, regressou em 2023, novamente com pisos de terra. Recordemos um pouco da história mais antiga da prova algarvia.

Tradicional prova de encerramento do CPR, durante muito tempo, o Rali Casinos do Algarve é também uma das mais antigas do calendário nacional. A sua história começa quando um grupo de jovens entusiastas se junta para formar o Racal Clube de Silves. Desde logo puseram em marcha provas de Perícias mas o grande fito era organizar um rali. E assim o fizeram em 1970, apelando às boas vontades regionais, organizando a primeira edição da, então, Volta ao Algarve, ainda em modo concentração turística. Os vencedores foram os algarvios Horácio Santos/Real Dias no Austin Mini Cooper S já bastante conhecido nas perícias da região. Esta primeira edição também contou com um participante estrangeiro, o dinamarquês Erik Ansbacknum Volvo P1800.

A prova entrou no calendário do campeonato português em 1972, sendo que o evento sempre teve fama de ser uma prova dura e poderia ser que o Datsun 240Z de António Carlos Oliveira/’Barata’ fosse o mais resistente de todos mas a hecatombe deveu-se a uma paragem do BMW 2002 de Jorge Nascimento/Jorge Alves numa ribeira do troço da Bordeira, não permitindo a passagem dos outros concorrentes, acabando todos excluídos por excesso de penalização e com a organização a eliminar a terceira etapa, fazendo uma espécie de complementar de ‘consolação’ na Praia da Rocha.

Em 1973, a primeira vitória duma equipa estrangeira, os italianos Alcide Paganelli/Nini Russo num Fiat 124 Abarth. em 1974 não houve Rali do Algarve, tal como sucedeu com o Rali de Portugal, devido à crise petrolífera de 1974.

Em 1976 existe já um grande leque de pilotos estrangeiros à partida, depois do Racal Clube colocar a prova no Europeu de Ralis. No ano seguinte, Mêquêpê/Miguel Vilar tornam-se na primeira dupla portuguesa a vencer uma prova desse campeonato.

A estreia do Audi Quattro

1980 é, talvez, o mais marcante Rali do Algarve por dois grandes motivos: o primeiro porque decidiu o título europeu desse ano, disputado entre o francês Bernard Béguin e o espanhol Antonio Zanini, ambos ao volante de Porsche 911 SC. Santinho Mendes sagrou-se pela primeira vez campeão português de ralis. O outro grande motivo de interesse desta edição foi a vinda, como carro 0, do Audi Quattro, naquela que foi a sua primeira grande aparição pública, com Hannu Mikkola/Arne Hertz aos comandos. O público presente no Algarve teve o privilégio de assistir a um momento de mudança nos ralis e os cronómetros oficiosamente disseram que se os tempos do Audi valessem, teria ganho por larguíssimos minutos.

Durante a década de 80, para além das estrelas nacionais havia sempre um piloto estrangeiro com algum destaque na lista de inscritos. Malcolm Wilson (1981/82), TerryKaby (1984, ano da sabotagem a Joaquim Moutinho), John Bosch (1986), Attila Ferjancz (1987) ou Saeed al-Hajri (1989).

Em 1983 dá-se uma das edições mais exigentes da prova, recheada de lama de sotavento a barlavento.

O título nacional estava por decidir entre os Ford Escort de Joaquim Santos/Miguel Oliveira e José Pedro Borges/Rui Bevilacqua enquanto da Bélgica vinham Robert Droogmans e Patrick Snijers, havendo ainda os Citroen Visa Chrono do desafio internacional promovido pelo double chevron e os pequenos Peugeot 104 ZS, que já nos visitavam desde 1981. Perante a sucessão de infortúnios e incidentes que atingiram o pelotão, chegamos ao final com a surpreendente vitória dos franceses Olivier Tabatoni/Michel Cadier em Citroen Visa Chrono, seguidos dos locais Inverno Amaral/Joaquim Neto em Visa Trophée. Joaquim Santos sagrou-se campeão e Patrick Snijers conseguiu pontos importantes para se sagrar campeão belga pela primeira vez no Rali do Condroz.

Já 1985 vê a outra grande estreia ocorrida em solo algarvio: o batismo de homologação do Lancia Delta S4. Aliás, o carro foi verificado um dia antes da entrada em vigor da homologação, uma vez que a Direcção de prova entendeu por bem que se o carro ia ficar legal, podia-se adiantar esse passo… MarkkuAlen/IlkkaKivimaki foi a dupla escolhida pela Lancia para a estreia, mas acabariam por desistir na segunda etapa depois do carro não aguentar o esforço exigido pelos duros troços algarvios. Ainda assim foi recuperado e serviria de carro 0 na última etapa, aproveitando para acumular mais uns quilómetros de experiência. Nota ainda para 1987, em que depois da primeira edição, voltava-se a ver uma dupla algarvia no lugar mais alto do pódio, com o feito a pertencer aos recém-coroados campeões nacionais Inverno Amaral/Joaquim Neto com o Renault 11 Turbo oficial, mesmo tendo a oposição de máquinas teoricamente mais fortes.

O Racal Clube sente já algumas dificuldades em colocar a prova na estrada em 1990 e 1991, com a distância e dureza e a recorrente necessidade de colaboradores fora do Algarve, assim como as exigências do caderno de encargos do Europeu de Ralis levaram a que a edição de 1992 não tivesse lugar, com a Comissão Desportiva Nacional a passar a organização para o Clube Automóvel de Loulé (CAAL). 1993 tem a curiosidade de contar para o Europeu de Ralis e não para o nacional, com a vitória a ir para Carlos Carvalho e José Alves (Mitsubishi Galant VR4). De regresso ao campeonato nacional em 1994, o Algarve vê Fernando Peres conseguir a primeira das suas três vitórias consecutivas, sendo que em 1995 se dá a última edição em que ambos os lados do Algarve eram visitados. As constantes queixas sobre a dureza da prova e o custo de implantação levam o CAAL a passar do piso de terra para asfalto e retirando a prova do Europeu no final de 1996.

Inicialmente localizada a sotavento, aproveitando estradas de Tavira e Vila Real de Santo António, a prova passa a designar-se Rallye Casinos do Algarve em 1997, naquela que é a mais antiga relação entre uma prova e o seu ‘title sponsor’ no automobilismo nacional.

Depois dos anos de domínio dos WRC e Kit-Cars a sotavento, a prova muda-se para a sua localização actual no barlavento, com os troços da serra de Monchique a constituírem um dos grandes desafios dos ralis em asfalto portugueses. Entre WRC, S1600, S2000 e Gr.N a prova viria a consagrar nomes como Miguel Campos, Armindo Araújo ou Bruno Magalhães e via o despontar da estrela local Ricardo Teodósio, que é o mais rápido na edição de 2011 com o Mitsubishi Evo IV com que disputava o Regional Sul, mas a não ser podido reconhecer como o vencedor à geral, por força dos regulamentos nacionais (Carlos Martins repetiria esse feito no ano seguinte). Dá-se também o regresso das vedetas estrangeiras, como foi com a participação do ex-piloto de F1 StephaneSarrazin na edição de 2007 (e Pedro Lamy a conduzir o carro 0). Foi esta a toada até 2013, ano em que a prova mais uma vez é o palco decisivo das contas do campeonato (vitória para Ricardo Moura) mas é afastada por motivos pouco claros do campeonato português de ralis.

A equipa do CAAL não virou as costas à luta e aceitando o desafio que a FPAK lhe lançou, fez a primeira Taça de Portugal de Ralis em 2014, com o rali a acolher veículos das mais variadas homologações, indo também pela primeira vez ao concelho de Lagos na fase mais recente do rali. A vitória acabaria por ser de Carlos Fernandes/Valter Cardoso em Mitsubishi EVO VI, num rali onde estiveram presentes R5’s, R-GT’s e Mitsubishis mais recentes que o seu. 2015 vê o regresso ao Campeonato Português de Ralis e também aos pisos de terra algarvios, com o rali a acabar por decidir in extremis a favor de José Pedro Fontes depois de Ricardo Moura ter visto as suas contas estragadas pelos golpes de teatro que aconteceram aos adversários. Fontes fará também a festa do título no Algarve no ano seguinte, com o alcatrão da serra de Monchique e o Hotel Algarve Casino a voltarem a ser o centro da ação, com o rali a voltar a ter estatuto internacional com a sua integração no FIA European Rally Trophy (ERT).

2017 é marcado por mais uma decisão em tons épicos do título de campeão nacional com Carlos Vieira a fazer uma enorme exibição e a passar Pedro Meireles na tabela final do campeonato. Este ano fica também marcada pela primeira das duas finais do FIA ERT que acolheu pilotos oriundos dos 6 troféus regionais europeus FIA, dando um colorido diferente à prova, trazendo até nacionalidades novas a disputar a prova, como foi o caso da Turquia, presente com três equipas, com a dupla YagizAvci/Bahadir Gucenmez a terminar levar o troféu.

Fruto do bom trabalho demonstrado, a FIA volta a nomear o Rali Casinos do Algarve como final do ERT, em 2018, sendo que mais uma vez se volta a ter uma presença estrangeira bastante heterogénea mas com o título a ficar desta feita em Portugal, mais precisamente para Alexandre Camacho. De sublinhar que nas cinco edições desta Final, nenhuma reunia tanta quantidade e qualidade como as realizadas no Algarve. Quanto às contas nacionais, elas faziam-se entre Teodósio e o regressado Armindo Araújo, com o piloto algarvio a ver o seu motor a “entregar a alma ao criador” e assim Armindo batia o recorde de Joaquim Santos e Carlos Bica, ao conseguir um histórico pentacampeonato.

Mas das fraquezas se fizeram forças e um ano depois, 2019, o piloto de Albufeira, depois de suster os golpes bem ‘dados’ por Bruno Magalhães, conseguiu os pontos necessários para se sagrar pela primeira vez campeão nacional com uma onda amarela fluorescente a tomar conta do pódio quando Inverno Amaral lhe entregava o troféu que simbolizava esse momento em que pela segunda vez um algarvio conquistava a mais importante competição automobilística nacional.

A prova não se realizou em 2020, devido à pandemia e em 2021, quedou-se pela Taça de Campeões Regionais Sul, os GT, Clássicos, tendo em 2022 sido a Taça de Portugal de Ralis. Em 2023, o regresso dar-se-á em pleno e logo novamente em pisos de terra…

Estes são alguns dos episódios que marcam 50 anos de história a Sul!

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1 Comentário
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sergio.figueiral
sergio.figueiral
1 mês atrás

Muito bem escrito, sucinto e importante na relevo dado a cada uma das etapas destes anos.
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