O ‘Bentanen’ português

Por a 25 Dezembro 2023 16:00

Os finlandeses tiveram o Ari Vatanen. Nós, portugueses, tivemos o Bento Amaral, mais conhecido pelo ‘Bentanen’. Recordamos a carreira de um piloto sempre bem-disposto, sempre profissional, sempre de ‘estória’ ao canto da boca.

Sempre foi conhecido por isso mesmo, por um destes três apelidos. Todos eles, carinhosos mais ou menos, eram significado de uma forma peculiar de estar na vida… dos ralis.

Sempre a fundo, sempre bem-disposto, sempre profissional, sempre de ‘estória’ ao canto da boca, no mesmo sítio onde outros tinham pendurada a beata mal apagada.

De tal forma que o nome Bento Amaral é, ainda hoje, símbolo de um certo inconformismo e, também, de muita coragem e outro tanto espalhafato. Começou pelo Troféu Datsun, depois ganhou ‘Onde Está o Ás?’, fez ralis e até foi piloto oficial da equipa Renault GALP e acabou no todo-o-terreno “porque não tive ‘graveto’ para passar para um quatro rodas motrizes e o TT era a melhor forma de o poder fazer…” Mas vamos à sua ‘estória’ de vida.

Um começo fífio, Bento Amaral começou no Troféu Datsun, na década de 70: “Foi um ameaço. Sempre gostei de corridas, de competição. O meu primeiro carro foi um Datsun 1200 e, então, decidi fazer o Troféu. Ainda fiz duas corridas, no Autódromo [do Estoril]. Na primeira, acabei a meio da tabela. Na segunda não passei dos ‘S’. Tudo, porque eu na altura não conhecia o travão. Para mim, andar depressa era nunca travar. Claro que andava sempre de lado e dava espetáculo mas isso não fazia os tempos…” Hoje adepto confesso das trajetórias e da “pilotagem limpa”, bem como de “troços de coração e que me diziam alguma coisa” Bento Amaral teve no ‘Onde Está o Ás?’ o trampolim para uma carreira substantiva nos ralis: “Apenas fiz velocidade – sem ser a Fórmula Ford que teve outras razões (ver Caixa) – por causa de Vila Real.

Dava-me gozo fazer a descida [Mateus] a fundo num Grupo N, com médias iguais às de um Fórmula Ford no Estoril. Isso não havia em mais lado nenhum!”

Bom, mas voltemos aos ralis. A seguir ao ‘Ás’, foi vice-campeão de Grupo A com o Ford Escort XR3i da Ford/Diabolique, “que não passava de um ‘mini-Grupo’”. Nesse ano, 1984, foi batido por Joaquim Jorge, enquanto o campeão absoluto foi um tal de Pedro Leite Faria, “um grande piloto”. No ano seguinte, “com o [Ford Escort] RS 1600i do J. Mendes Coelho, fiz o ‘Nacional’. Nas Camélias, bati quando seguia na frente [do Grupo N] e no Rali de Portugal, consegui acabar, mas com o carro todo desfeito. Fazer São Lourenço nessa altura, com um Grupo N, significava que o carro se partia todo.

No Estoril, quando o [Luís] Sales Grade veio ter comigo para eu fazer

o ‘slalom’, eu disse-lhe que o motor podia cair [no chão] a qualquer momento e que, se isso acontecesse, eu deixava o carro logo ali, com a chave lá dentro e tudo!” E a vitória em casa do ‘inimigo’ Em 1986 e 1987, fez ralis “com o [Renault] 5 GT Turbo do [João] Anjos e da Publiracing. Na primeira prova, o Sopete, saltou a correia da ventoinha antes do almoço e depois passei a tarde toda a recuperar até 2º do Grupo N. Só não passamos o [Rui] Lages que ganhou. Mas o Toyota dele que era o do troféu, não era um verdadeiro Grupo N. Todos sabíamos isso, o João [Anjos] também, mas ninguém quis apelar e as coisas ficaram assim.”

Em 1987, fez o campeonato todo, com um Renault 5 GT Turbo nas provas de asfalto e um 11 Turbo nas de terra: “Só não fomos campeões porque desistimos no Alto Tâmega e o João [Anjos] não foi ao [Rali do] Algarve, onde só ia se sabia que iria ganhar à geral.” E, no ano seguinte, foi substituir o Manuel Mello Breyner na Renault GALP, a equipa oficial da marca francesa: “Perdi nas Camélias para o Inverno [Amaral, o seu colega de equipa] porque o motor não pegou depois de reabastecer – não se devia parar o motor quando se chegava e tudo estava em brasa, mas só havia uma chave para o depósito e não tive alternativa – e, ao deixar descair o carro para pegar, a marcha-atrás encavalitou-se na 1º!”

A ‘vingança’ serviu-a bem fria, no Rali do Algarve, a prova “de casa do Inverno, que era algarvio.” Foi a sua única vitória à geral no Campeonato Nacional de Ralis que, nessa altura, pontuava também para o ‘Europeu’. Depois desse ano quase glorioso, Bento Amaral fez mais três anos completos com carros de Renault (mas sem ser na equipa oficial) e, a partir de 1992 correu esporadicamente, em 1993 pela primeira vez com um ‘não-Renault’ – no caso, um Peugeot 309 GTI.

A partir de 1994 e durante cerca de dez anos correu no TT, onde se tinha estreado em 1989 [“com o Nuno Rosa”] “por diversão” pois, apesar de “sempre gostar de guiar limpinho”, a adrenalina das “quatro rodas motrizes” foi demasiado irresistível. Correu de Opel Frontera, de Mitsubishi Strakkar, de Suzuki Vitara – e fez três anos seguidos “o Troféu [Nissan] Terrano. Fui sucessivamente 4º, 3º e 2º, no último ano, 1999, em luta com o [Francisco] Esperto.”

Subscribe
Notify of
0 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
últimas Autosport Exclusivo
últimas Autosport
autosport-exclusivo
últimas Automais
autosport-exclusivo
Ativar notificações? Sim Não, obrigado