José Pedro Fontes – Uma visão para o futuro

Por a 18 Março 2022 10:15

José Pedro Fontes dispensa apresentações. Com 30 anos de carreira no desporto automóvel, é um dos nomes mais respeitados a nível nacional por tudo o que conquistou nos circuitos e ralis. O seu talento ao volante fê-lo voar alto e colecionar campeonatos e um currículo invejável. Mas quem se habitua a vencer, inevitavelmente quer mais e Fontes tratou de levar a sua veia vencedora para o outro lado das corridas. A Sports&You é a imagem dos seus timoneiros. Nesta nova corrida, Zé Pedro junta-se a Abel Fernandes, outro nome incontornável das competições em Portugal e juntos lideram o projeto da Sports&you no terreno, cada um nas suas áreas. A ambição da equipa está sempre presente, a vontade de vencer é inesgotável e os sucessos vão sendo cada vez maiores. Fontes tem a responsabilidade comercial de guiar uma empresa de créditos firmados, com uma posição sólida a nível nacional e internacional e que quer continuar a crescer.

Na apresentação da época 5 da Peugeot Rally Cup Ibérica, Zé Pedro sentou-se com o AutoSport para falar do presente e acima de tudo do futuro. A visão comercial de Fontes permitiu que o nome Sports&You se afirmasse no panorama internacional e, como tal, essa visão deve ser escutada.

Começando pela Peugeot Rally Cup Ibérica, Fontes mostrou-se satisfeito pelo nível que a competição atingiu, realçando os pontos forte do troféu, que se tornou referência no lançamento de jovens talentos Ibéricos:

“Alguém que é ambicioso quer sempre mais e quer sempre aumentar o nível. Acho que conseguimos algo importante, que foi criar o primeiro verdadeiro campeonato Iberico, o que antes da Peugeot Rally Cup Ibérica nunca se tinha conseguido de facto. Alguns dos maiores talentos dos dois países passaram pelo nosso troféu. Do lado português, vimos talentos como o Diogo Gago e o Pedro Antunes. Do lado espanhol, Jan Solans, Dani Berdomas Robert Blach, Alejandro Cachón , são exemplos outros exemplos dessa qualidade. Estamos a conseguir consolidar a nossa posição como referência nos troféus monomarca, que abrem as portas para algo maior. Com o Pedro Antunes viabilizamos um projeto importante de Rally2, o Alejandro Cachón é agora piloto oficial em Espanha, com um programa muito completo. Damos 23 mil euros em prémios por rali, fazemos um calendário equilibrado com seis provas, o que nos parece um número razoável, apoiamos também as equipas, que são o pilar do nosso negócio e os nossos maiores parceiros. Apoiamos os pilotos para darem o salto para uma realidade competitiva superior, que é um programa num Rally2 ou uma época no europeu de Rally4, para quem tiver ambições internacionais. Somos a única competição que oferece estas valias todas e o passo seguinte.

Temos assistido à criação de outros troféus monomarca, o que Fontes vê com satisfação, pois o piloto / empresário acredita que um desporto forte beneficia todos:

“É importante que as marcas se associem ao desporto e, como tal, é importante que mais marcas apareçam. É muito importante que cada competição ocupe o seu lugar e que se complementem. Da nossa parte há total abertura para falar com todos os agentes envolvidos no desporto, para nos ajudarmos mutuamente e fico contente que apareçam mais competições pois isso ajuda o desporto. Quanto maior o desporto, mais sucesso terá quem for competente. Eu acredito no mérito, na competência e o que eu quero é um desporto cada vez mais forte para que empresas como a nossa possam crescer”.

A sua estrutura ganha cada vez mais relevo e o orgulho por poder desenvolver um projeto destes em Portugal é difícil de esconder:

“Quando decidi deixar de ser apenas piloto para estar envolvido num negócio como este, o meu sonho sempre foi estar envolvido numa equipa de nível europeu, sediada em Portugal. Foi essa ideia que apresentamos a muita gente que ainda agora trabalha aqui, connosco. Conseguimos criar uma equipa com uma dimensão que nos permite viver e trabalhar na nossa paixão, fazer os campeonatos que gostamos, mas ao mesmo tempo não perdemos as nossas raízes e podermos à segunda e à terça estarmos em nossa casa, com os nossos. É difícil ter uma atividade tão variada num país que tem a dimensão no motorsport que conhecemos. Mas isso leva-nos a um novo desafio que é fazer crescer a dimensão nacional, formar pessoas e trazer mais gente para este meio. Fazermos nós a nossa escola, para deixarmos de ter a necessidade de contratar fora, como era no passado. Neste momento, já ganhamos provas do campeonato do mundo com uma estrutura totalmente portuguesa. Isso sim é motivo de orgulho para nós. A Sports&You é um conjunto de apaixonados pelo que faz, com muita vontade de ganhar, de fazer bem e acima de tudo que os seus clientes desfrutem também da sua paixão de uma forma intensa, pois eles são a razão de existirmos”.

Com cada vez mais projetos a surgirem e com a Sports&you cada vez mais forte, Fontes começa a ter mais dificuldades em dedicar-se a 100% à sua paixão que é a competição. Mas as responsabilidades não o desmotivam a continuar e enquanto se sentir competitivo, Fontes vai continuar a correr:

“Cada vez é mais difícil conciliar a gestão desta empresa com o papel de piloto. Mas enquanto me sentir competitivo e me divertir, vou querer viver a minha paixão. Não foi este ano ainda que parei, vamos ver como as coisas se desenrolam ao longo do ano. Eu sei que não é fácil, sei o que é ser piloto profissional e estar completamente focado nisso. Também sei bem o que é ter um rali daqui por três dias e nem saber muito bem os troços porque ando de apresentação em apresentação ou de rali em rali a trabalhar. Mas gosto de pensar que isso ajuda a concorrência [risos].”

No CPR, os últimos anos não têm sido tão positivos quanto gostaria. No entanto para este ano a ambição é a mesma de sempre, esperando que o azar deixe de pregar partidas:

“Podíamos ter ganho o campeonato em 2019, mas um acidente estupido em Mortágua tirou-nos trinta pontos, que no final dariam para ter estado na luta. Em 2020 não estivemos tão bem. Em 2021 não estivemos tão bem em dois ralis de terra, mas depois no asfalto estivemos sempre na luta pelas vitórias. Em Mortágua, estivemos na liderança da prova, o que nos mostrou que também sabemos ser competitivos na terra. Se conseguirmos na fase de terra estar na luta pelo pódio, depois no asfalto creio que podemos ter alguma vantagem. Se na terra há outros mais favoritos, no asfalto acredito que sou dos mais favoritos. É esse equilíbrio que temos de encontrar. O campeonato nacional é muito competitivo, mas o fator sorte é muito importante e nos últimos dois anos faltou-nos alguma sorte em certos momentos. Não há bem que nunca acabe, nem mal que sempre dure.”

A Sports&You tem uma presença forte nos ralis, mas vai voltar a olhar para os Circuitos, com um possível regresso à vista. Há muitos projetos em andamento e outros que podem surgir:

“Além dos ralis, temos o sim racing e estamos a voltar a olhar para os Circuitos pois, além da Stellantis, temos uma ligação muito forte com a Hyundai e estamos a analisar o que podemos fazer no Campeonato Nacional, sempre com TCR. Neste momento temos um Elantra TCR para colocar a competir, que não tem projeto ainda definido, mas que espero possa estar a curto prazo. Nos ralis, creio que estamos muito bem, com presença nos principais campeonatos. Há algo que ainda queremos tentar fazer que é ser campeões do mundo de WRC2, mas estamos nos campeonatos que devemos estar, com equipas competitivas, com boa representação. Temos também um projeto nas Canárias que é algo muito interessante onde teremos mais um troféu com cerca de 12 carros. Vamos também fazer um troféu nas Astúrias. Nos ralis estamos bem, mas queremos voltar a focar-nos na velocidade pois está no nosso ADN e isso será com a Hyundai. E também no TT, onde já fomos campeões, temos o Miguel Barbosa e vamos ver o que mais pode surgir. Há algumas ideias que no futuro poderão passar do papel para a realidade. “

O momento dos ralis é forte, com um campeonato competitivo. Mas o futuro não parece ser tão risonho com poucos jovens para assumir o lugar das estrelas do presente, onde se inclui Fontes, que não escondeu a preocupação:

“Encaro o futuro dos ralis com preocupação. Se antes não via preocupação por parte das pessoas, já começo a sentir esse cuidado e já há um programa da Federação que é um passo nesse sentido. Temos de nos virar para os jovens e pensar como os podemos apoiar. Temos feito a nossa parte com a Peugeot Rally Cup Ibérica e muito me entristece que não haja mais jovens a apostar neste tipo de competição, querendo entrar logo para as categorias de topo. Eu também corri nas competições monomarca no começo da minha carreira. Não podemos querer ir logo para a Universidade. Entristece-me que alguns jovens não façam uma aposta séria neste tipo de troféus para mostrar a sua valia com armas iguais, para depois dar o salto. Por vezes, em Portugal, há a mentalidade de começar pelo topo e isso acaba por ser contraproducente. A Federação deve pensar num programa de incentivos para os jovens, as equipas têm de ajudar a fazer esse trabalho, as marcas também têm de ajudar. Vai haver uma grande mudança no desporto, com a eletrificação e talvez possamos ter os meios necessários para fazer programas de apoio na base, para os jovens. Vêm lá uma mudança e as mudanças podem trazer muitas coisas.”

Fontes não tem medo da adversidade e encara a eletrificação como uma oportunidade que deve ser aproveitada. Relembrou que no desporto motorizado tudo muda depressa e a adaptação é palavra chave:

“Sou piloto há 30 anos, todos os anos estava despedido ao final da época e todos os anos continuei a correr. A nossa vida no motorsport é assim. Todos os anos temos de enfrentar crises de todos os tipos e o desporto vai-se reinventando. Acima de tudo, tem de haver uma estratégia clara dos desafios que temos pela frente e como ultrapassá-los. Vamos continuar a ter corridas de automóveis sejam elas de que tipo forem. Fomos a primeira equipa a trazer um carro totalmente elétrico para competir num rali. Fizemos um rali regional da Catalunha com um Corsa elétrico. Em 2009 já tinha proposto um troféu elétrico a uma marca. Um piloto de automóveis vive de conduzir rápido e ganhar. Se usamos gasolina, gasóleo, hidrogénio ou baterias isso não preocupa. Quando o diesel foi introduzido falou-se em sacrilégio, depois toda a gente queria guiar os diesel de Le Mans ou os Mini do Dakar e agora ninguém se importa com o diesel. A eletrificação vai percorrer o mesmo caminho.”

Desafiamos José Pedro Fontes a fazer um balanço da velocidade. O diagnóstico é claro e as soluções devem ser implementadas, para voltarmos a ter a velocidade que já tivemos. Mas só se conseguirá com uma mudança profunda e uma organização clara:

“Eu acredito nos circuitos. Mas primeiro tem de haver uma clara pirâmide das classes onde podemos competir. Essa pirâmide tem que ser hierarquizada do ponto de vista económico e baseada em carros modernos. Temos de apostar no desporto moderno e não fazer mais categorias de carros clássicos, que têm obviamente lugar no nosso desporto, mas que não podem ser a sua base. O nosso desporto tem de ter como base carros modernos, contando obviamente com uma classe histórica, que faz todo o sentido. E temos de pensar na progressão dos pilotos. Tem de haver uma fórmula como a Fórmula 4 e essa tem que ser ibérica. Tem de haver um troféu monomarca de entrada, como é o Kia Picanto, tem de haver um troféu monomarca intermédio, como tivemos o Troféu Clio no passado e depois tem de haver uma categoria rainha que, a meu ver, tem de ser os TCR e os GT4, porque são os carros que neste momento têm mercado na Europa. Quanto mais apostarmos em categorias que tenham um mercado internacional mais fácil será o plano de negócio. Além disso, devemos ter uma visão Ibérica. Se queremos voltar a ter campeonatos de velocidade profissionais com qualidade, como já tivemos no passado, com massa crítica, temos de apostar em competições ibéricas, pois a realidade económica é Ibérica. Conheço a realidade dos dois lados, o trabalho feito pelos presidentes das duas federações e sei que Portugal tem uma mentalidade aberta a competições ibéricas. Espanha também tem, mas é mais difícil porque tem muitas regiões. Mas é preciso fazer um projeto bem pensado, credível, que envolva marcas e que tenha argumentos para convencer quem decide. Não tenho dúvidas que nos circuitos, apenas campeonatos Ibéricos poderão ter a dimensão necessária. “

Além de uma pirâmide clara e bem definida, Fontes afirmou que é preciso defender e ouvir quem aposta, quem investe no desporto motorizado e acima de tudo, não se devem dispersar meios:

“É preciso construir uma pirâmide sólida e dar estabilidade às empresas que queiram investir num desses degraus. A minha convicção é que se, por exemplo, a CRM ou a KIA apostam em fazer um troféu, não pode haver espaço para outro troféu semelhante. Temos de proteger quem existe e não ter medo de o assumir, caso contrário estamos a dispersar meios e não deixamos as competições criarem dimensão. Sem dimensão, os recursos serão escassos para se fazer bem. Assim, temos de planear a progressão, apostar em competições, protegê-las e, por fim, ter uma visão ibérica, atenta à nova realidade que se aproxima, pois trata-se de uma oportunidade que pode e deve ser aproveitada.”

O caminho da Sports&You está bem traçado. Uma estrutura cada vez mais forte, com cada vez mais presença em vários campeonatos de renome. Uma estrutura que leva a nossa bandeira mais alto e que assim deverá continuar a fazer pois os planos estão delineados e a vontade de vencer é a de sempre.

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