CPR 2020: OS HOMENS DO VOLANTE

Por a 17 Janeiro 2021 15:54

O Campeonato de Portugal de Ralis teve como Campeão Armindo Araújo, num ano em que acabaram por ser ele e Bruno Magalhães a lutar pelo título até ao fim. Mas houve muito mais para além disso, e é o que vamos recordar fazendo uma pequeno resumo do que foi a época dos nossos principais pilotos de ralis.

Armindo Araújo

Venceu o campeonato depois de triunfar em metade das provas. Em Fafe, Armindo Araújo e Luís Ramalho estiveram perfeitos com o seu novo Skoda Fabia R5 evo. Entraram ao ataque num rali que nunca tinham vencido e no início do segundo dia a diferença de Araújo para Teodósio já era de 21.8s. Mais tarde, já era Bruno Magalhães (Hyundai i20 R5) o segundo a mais de um minuto. Um rali irrepreensível, andando sempre numa ‘mudança’ acima de todos os adversários nacionais. Mostrou ao que vinha em 2020 depois de ter preparado muito bem a prova. Depois veio a interrupção e a competição prosseguiu em Castelo Branco, onde voltou a estar imperial. Atacou nos momentos certos e depois geriu, reagindo sempre aos ataques de Bruno Magalhães.

Na Madeira as coisas correram mal. O acidente do rali de preparação na Calheta, tramou-o pois teve de trocar de carro e esse tinha o diferencial desadequado para a prova madeirense. Armindo Araújo lutou contra o carro e mesmo assim salvou um terceiro lugar entre os concorrentes do CPR, perdendo muito da vantagem que tinha construído no campeonato. No Rali Alto Tâmega, Armindo Araújo perdeu o rali não só devido ao furo que sofreu na PE5, mas essencialmente porque Bruno Magalhães foi mais forte, pois só num troço não comandou a prova. Araújo chegou líder ao fim do primeiro dia, mas Bruno foi mais forte no segundo dia e o furo acabou com as esperanças de levar mais longe a luta. O campeonato mudava aqui de líder. No Rali Vidreiro, Araújo era quinto quando o rali foi interrompido. Teve um furo lento e a prova assim ficou, embora tenha contado pouco para o campeonato. Por fim, tudo se decidiu na Aboboreira, embora na altura isso não se soubesse. Armindo Araújo venceu após uma grande demonstração de classe, ao terminar com uns expressivos

32,4s de avanço sobre Ricardo Teodósio, e passou a líder do campeonato. A ideia era tornar mais fáceis as contas do título. Mais tarde soube-se que tudo ficaria decidido ali.

Bruno Magalhães

Bruno Magalhães foi vice-campeão. Depois de lhe ter corrido mal o Rali Terras d’Aboboreira, Bruno Magalhães pretendia levar a luta para o asfalto do Algarve, onde o seu Hyundai i20 R5 é mais competitivo, mas a pandemia trocou-lhe as voltas e o campeonato acabou subitamente. Até aí, aproveitou o momento menos bom de Armindo Araújo para subir à liderança após o Rali do Alto Tâmega, mas a terra d’Aboboreira foi-lhe ‘fatal’.

Em Fafe andou na luta com Ricardo Teodósio, suplantando-o no último troço do rali. Sempre com dificuldade quando os pisos estiveram mais secos. Mesmo assim, foi segundo. Em Castelo Branco venceu três troços, mas as dificuldades nas partes mais ‘sujas’ não lhe permitiram fazer melhor e foi novamente segundo. Na Madeira a primeira vitória do ano, recuperando muitos pontos no campeonato. O piloto da Hyundai chegou ao fim do primeiro dia de prova com 22.8s de avanço, e a partir daí passou a controlar o andamento, vencendo facilmente para o CPR. Na Madeira, Bruno Magalhães sempre foi forte e voltou a demonstrá-lo. Nesta altura estava basicamente ‘empatado’ com Armindo no campeonato. No Rali do Alto Tâmega, Bruno Magalhães entrou forte, não cometeu erros, não falhou afi ações, tirou tudo o que o Hyundai tinha para dar e venceu com todo o merecimento, chegando à liderança do campeonato. Grande luta com Armindo Araújo, que lhe foi favorável, e a partir daqui as coisas mudaram de figura no campeonato. No Rali Vidreiro, Bruno Magalhães foi apenas quarto, mas como se sabe o rali foi curto. E valeu pouco para o campeonato. Na Aboboreira, Bruno Magalhães foi quarto classificado, terminando a mais de um minuto do vencedor, depois de passar o rali inteiro a ‘lutar’ contra a maior fraqueza do Hyundai i20 R5, a falta de tração. Quando os troços eram mais rápidos, Bruno Magalhães andou melhor, mas nas partes mais enroladas, perdia muito. Nem sequer conseguiu bater Miguel Correia nesta prova e com isso perdeu a liderança do campeonato para Armindo Araújo. Como se soube depois, definitivamente.

Ricardo Teodósio

Ricardo Teodósio foi terceiro do campeonato, mas teve um ano complicado já que nunca se conseguiu entender com a nova máquina, o Skoda Fabia R5 evo, tão bem quanto tinha feito em 2019 com a versão anterior do carro. Logo em Fafe se perceberam as dificuldades, pois quando o vimos ao fim de quatro troços a 21.8s de Araújo, depois de ceder 13.3s em duas PE, algo não estava bem. E com a chuva que caiu em Fafe de sexta para sábado tudo piorou pois Teodósio não teve confiança para andar mais. Ainda assim, terminou no lugar mais baixo do pódio, mas a 1m30.5s do vencedor, que tinha um carro igual.

Em Castelo Branco, um susto logo no primeiro troço refreou-o, perdendo confiança. No segundo dia, falta de potência do motor impediu-o de fazer melhor. Novo pódio, longe dos dois da frente. Na Madeira Teodósio nunca andou muito bem e 2020 não foi exceção. Foi quarto no CPR, muito longe da frente. No Rali do Alto Tâmega, Ricardo Teodósio voltou a não ter andamento para fazer mais e obteve um pódio lisonjeiro. Três terceiros e um quarto lugar não deixam lugar a dúvidas, o ano não estava a correr bem a Teodósio. Desta feita, tudo começou no troço de abertura, pois apanhou um cão na estrada, desconcentrou-se e perdeu 25.8s. No Rali Vidreiro um erro na PE2 permitiu que Pedro Meireles passasse para a frente. O rali acabou pouco depois… Na Aboboreira, bem tentou, mas as coisas voltaram a não sair. Fez das melhores exibições do ano, e também resultado, sem que isso lhe permitisse melhor do que ficar a mais de 30s de um Super-Armindo.

José Pedro Fontes

Não correu bem a época a José Pedro Fontes, que terminou em quarto no campeonato. O melhor resultado que fez foi o segundo lugar na Madeira, em Castelo Branco estava a lutar na frente até danificar uma suspensão. Este ano, nem mesmo no asfalto conseguiu melhor. Logo no arranque em Fafe não conseguiu acompanhar o ritmo dos da frente. Ao cabo de dois troços já estava a 40.5s, quase dois minutos no fim da manhã de sábado. Ainda assim foi quarto. Em Castelo Branco esteve azarado. Atrasaram-se no início do segundo dia, quando estavam a 1.1s dos líderes. Um corte duma berma levou à quebra de um apoio da suspensão, e com isso a prova ficou estragada. Atrasaram-se penalizaram, e não foi possível melhor que o 10º lugar. Perceberam ter andamento, mas o resultado foi mau. Na Madeira, Fontes andou às voltas com a afinação do carro, começando cedo a perder tempo, e quando a margem já era 22.8s nada mais havia a fazer. Preferiu resguardar o segundo lugar. No Alto Tâmega foi quarto, mas o acidente na qualificação condicionou a ordem na estrada e isso significou a estrada bem mais suja. Em dois troços já estava a 11.8s dos líderes. Bem tentou, deu tudo, mas um pião na penúltima especial, atirou-o para o quarto lugar. No Vidreiro foi terceiro, e na Aboboreira teve nova prova muito abaixo do esperado, com o pior resultado do ano num rali em que não teve problemas. Um ano difícil, mas vem aí o C3 R5 novo e isso pode ajudar a catapultá-lo novamente para a frente.

Miguel Correia

Miguel Correia foi uma das boas surpresas do campeonato, terminando em quinto logo atrás dos candidatos do ‘costume’. Um quinto lugar a abrir em Fafe e um pódio a fechar na Aboboreira. Em Fafe teve uma bela luta com Manuel Castro. Um toque em Montim atrasou-o nessa luta, chegou a estar a 34.1s de Manuel Castro, mas ainda foi passar o outro Skoda na classificação, na penúltima especial da prova. Em Castelo Branco foi sexto e teve uma boa prestação, agora com António Costa ao lado. No Alto Tâmega voltou a mostrar bom andamento, mas ainda mostra, naturalmente, inconstância. Aqui, lutou com João Barros o que diz muito do que já anda. Na Aboboreira, a melhor exibição do ano, levando o Skoda Fabia R5 ao terceiro lugar da geral, o primeiro pódio do jovem que só tem três anos de ralis,

e este o segundo num R5. Manter atrás de si Bruno Magalhães e José Pedro Fontes é obra. Promete mais e melhor em 2021.

Pedro Meireles

Precisa que as coisas lhe corram a 100%, mas quando isso sucede é ainda dos melhores. Tem um excelente carro e apesar de ter sido uma prova curta, ganhou o Rali Vidreiro. Em Fafe teve um problema mecânico e em Castelo Branco não teve ritmo para os homens da frente, num rali novo para si. Já na Madeira, foi quinto a ‘apertar’ Teodósio numa prova onde costuma andar bem. No Alto Tâmega, a mesma posição, o quinto lugar. Quando está bem anda perto do top 4, e neste rali, apesar da posição, Meireles fez um pião no primeiro troço do segundo dia, em que só aí perdeu 13 segundos, o que prova que o seu ritmo com o Polo foi bom. No Vidreiro, o triunfo, num rali que gosta. Liderou desde a PE2, e o rali acabou no troço seguinte… Um ano positivo, mas devia ter terminado à frente de Miguel Correia. Foi sexto no campeonato.

Manuel Castro

Manuel Castro foi sétimo no campeonato, só fez quatro provas e correu bem a estreia com o Skoda Fabia R5. Foi sexto em Fafe, no que foi o seu melhor resultado do ano, em Castelo Branco foi sétimo depois de ter começado mal o rali. No Alto Tâmega foi sétimo lugar, longe da frente. Sem testar muito, não é fácil fazer melhor face ao contexto atual do campeonato.

Gil Antunes

Gil Antunes teve um ano de aprendizagem com o seu novo Dacia Sandero R4. Muita coisa para aprender para quem veio das duas rodas motrizes, um carro cheio de ‘manhas’ que a equipa tem vindo a aprender e a evoluir. Um trabalho que dá gozo, mas também pode ser frustrante. Não teve muitas vezes o carro em perfeitas condições e isso logicamente refletiu-se nas classificações. Foi nono no campeonato e o melhor que fez foi um sexto lugar na Aboboreira. Logo em Castelo Branco vieram ao cimo questões que tinham a ver com o arrefecimento do motor do carro. Resumidamente, aprendeu muito em 2020 e agora sabe que o Sandero R4 é capaz de de mais.

Daniel Nunes

Daniel Nunes foi Campeão das duas rodas motrizes, no que é o seu segundo título em três anos, vencendo ainda a classe RC4 e o Challenge R2 & You. Trata o Peugeot 208 R2 por ‘tu’ e merecia conseguir pelo menos um Peugeot 208 Rally4. Ainda foi afetado pelo acidente de 2019, que o impediu de ser campeão e ainda o ‘chateou’ em 2020. Reagiu e depois de vencer em Fafe, passando o até aí líder, no último troço, ganhou embalo e voltou a ser campeão. Era bom vê-lo melhor ‘montado’, vamos ver…

Pedro Antunes

Pedro Antunes é outro dos destaques do ano e apesar do CPR2 não ser a sua prioridade, a cereja no topo do bolo veio com o triunfo na Peugeot Rally Cup Ibérica, que lhe vai permitir correr em 2021 com um Citroën C3 R5, prémio pelo triunfo Ibérico. Estreou o Peugeot 208 Rally4 em Castelo Branco, foi aí que começou a desbravar caminho para o prémio que ganhou no fimdo ano. No Alto do Tâmega venceram a Peugeot Rally Cup Ibérica, num prova em que houve sete Peugeot 208 Rally 4 no top 15.

Menções honrosas

Entre as menções honrosas, o nome de Luís Mota, Campeão dos RC2N, está à cabeça, a par de Adruzilo Lopes, pilotos que continuam a alimentar a nossa paixão. Aos 60 anos, Luís Mota, piloto português com mais ralis disputados, juntou ao seu palmarés o titulo de vencedor do grupo RC2N na primeira época a tempo inteiro no CPR. Quanto a Adruzilo Lopes, não temos espaço para tantos título, mas podemos lembrar alguns. Tricampeão Nacional de ralis absoluto, quatro vezes Campeão Nacional de Grupo N, três vezes Campeão Nacional F2 e uma vez Vice-Campeão Europeu de Ralis. Este ano, venceu todos os ralis em que participou e não foi campeão porque não foi a Castelo Branco e à Madeira. Outro nome que destacamos é Vítor Pascoal.

Competiu aos comandos do Porsche 911 GT3 Cup, nos R-GT e na Montanha, duplicando o espetáculo que deu com o Porsche nas estradas portuguesas. Paulo Neto estreou o Skoda Fabia R5 em 2020 no CPR e não teve vida fácil. Serviu de aprendizagem, vamos ver como surgem em 2021. João Barros fez duas provas em 2020. Em Castelo Branco estreou o seu novo Citroën C3 R5, e acusou, naturalmente, falta de ritmo. A rapidez não ‘morreu’, esteve foi sem ritmo. Já no Alto do Tâmega, teve uma boa luta com Miguel Correia, bateu-o, mas teve um duplo furo e abandonou.

Pedro Almeida e Hugo Magalhães tiveram um ano diferente, ‘recuando’ para o Peugeot 208 Rally4. Devem ter sido das duplas que mais ralis fez, 13, muita prova diferente, muita aprendizagem, nem sempre a velocidade foi boa, mas quando se está a mudar muita coisa, leia-se, dar um passo atrás para dar depois dois à frente, não é fácil tirar conclusões. O fruto do trabalho vai ver-se este ano de 2021. Ricardo Sousa continua a evoluir com calma, fez boas exibições e foi Campeão Júnior. Rúben Rodrigues é um piloto que já mostrou ser muito rápido. Na Madeira, já o dissemos várias vezes, é uma pena que Pedro Paixão não tenha mais oportunidades, pois quem luta pela vitória à geral no Rali Vinho Madeira tem que encontrar o seu lugar nos ralis em Portugal, um país que não se pode dar ao luxo de perder talentos destes.

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