MEMÓRIA: Hélène Delangle, De stripper a Rainha Bugatti


Hoje quase desconhecida, Hélène Delangle foi uma personagem fascinante que nos anos 20 e 30 conduziu carros velozes e fascinou homens ricos com a mesma paixão. Loira, olhos azuis e de figura atraente, Delangle fez tanto sucesso nas pistas como fora delas.

O epíteto de “mulher mais rápida do mundo” ganhou-o à média de 198 km/h, tripulando um Omega-Six na oval francesa de Montlhery. Só que a história de Hélène Delangle – ou Hellé Nice, como era conhecida – vai muito além da sua destreza ao volante.

Por trás de uma piloto corajosa e audaz estava uma ex-bailarina do Casino de Paris, eufemismo pomposo para… “stripper”.

Tudo começou quando Hellé deixou o marasmo da vila de Aunay para rumar à cosmopolita Paris em busca de oportunidades. Bela e vivaz, integrou-se de forma promíscua entre o “jet set” das corridas parisienses, aparecendo em espectáculos de ballet, peças de teatro e “shows” de striptease. Amantes ricos e poderosos não faltavam.

Alguns deles acabariam mesmo por morrer nas pistas, como o aviador Henri de Courcelles, um piloto de caça distinguido na Primeira Guerra Mundial e que faleceu no circuito de Montlhery em 1927. Também o conde Bruno d’Harcourt e o herdeiro da família Bugatti, Jean, tiveram o mesmo destino trágico após pertencerem à lista de “amigos íntimos” da mulher fatal. Antes disso, as proezas de Hellé ao volante do Omega-Six já tinham chamado à atenção de Ettore Bugatti, o fundador da marca com a qual a ex-stripper alcançou glória nas pistas e manchetes nos jornais.

Em 1936, participou no GP de São Paulo onde sofreu um grave acidente a 150 km/h que a deixou em coma durante três dias. No acidente, o Alfa Romeo Monza colheu mortalmente um espectador, mas Hellé seria absolvida de qualquer responsabilidade.

A fama que entretanto granjeou em terras brasileiras foi responsável pelo registo do galicismo “Helenice” nos cartórios civis de São Paulo. Mais tarde envolveu-se com um oficial das SS e teve de lidar com a acusação de ser uma espia ao serviço do governo nazi. Morreria sozinha e falida, num apartamento de Nice. Mas a sua existência de altos e baixos foi recuperada pela biógrafa inglesa Miranda Seymour num livro apropriadamente intitulado: “A Rainha Bugatti”. No livro, Seymour revela- nos casos de outras pioneiras do desporto automóvel sendo um dos mais surreais o de Violette Morris. Vencedora das 24 Horas de Bol d’Or de 1927, Morris submeteu-se a uma cirurgia para remover parte dos seios pois alegadamente estes estes estorvavam na condução do seu Donnet.

Ativar notificações? Sim Não, obrigado