W14 pode ser o menor dos problemas da Mercedes

Por a 18 Fevereiro 2023 18:11

A Mercedes passou em 2022 pela sua pior temporada desde 2013, mas a formação de Brackley apresentou um carro que demonstra que está convicta das suas capacidades e aponta para a luta pelos ceptros deste ano, o que poderá criar alguma acrimónia entre os seus pilotos.

Depois de quinze títulos consecutivos, a formação do construtor de Estugarda falhou completamente a entrada do novo regulamento técnico, introduzido na temporada passada, ficando arredada de ter uma palavra no desfecho dos campeonatos em liça.

A outrora formação imbatível ficou à mercê das melhores equipas do Segundo Pelotão, tais os problemas que afectavam o malfadado W13, demasiado propenso ao ‘porpoising’, o que obrigava os técnicos da Mercedes a aumentar a altura ao solo do seu monolugar, perdendo apoio aerodinâmico e performance.

Apesar de todas as dificuldades, a equipa de Brackley conseguiu responder e, no final do ano, era capaz de incomodar a Ferrari consistentemente e até a Red Bull, pontualmente, acabando George Russell por conquistar a vitória no Grande Prémio de São Paulo, algo que a dada altura parecia uma impossibilidade.

Os flancos do Mercedes W13 foram um dos grandes temas de conversa no paddock, com seu conceito ‘zero-sidepod’, sendo inúmeros os analistas que os apontaram como a causa para os problemas que Lewis Hamilton e Russell sentiam com as suas montadas.

A teoria apontada defende que, com tanta área exposta na parte superior do fundo, este flecte, provocando o início do fenómeno do ‘porposing’.

Havia uma grande curiosidade quanto ao W14 e se a equipa manteria o conceito de 2022, até porque os homens da Mercedes sempre sublinharam que estavam seguros de que a origem do problema não era os reduzidos flancos do seu monolugar.

A equipa liderada por Toto Wolff manteve-se fiel aos seus princípios e o seu contendor segue a filosofia iniciada pelo seu antecessor, exibindo uns flancos muito reduzidos que representam uma evolução do conceito estreado o ano passado.

O facto de manter a filosofia – muito embora esta fosse ou não a fonte dos problemas é um risco, basta perceber que ninguém seguiu este caminho – demonstra uma segurança profunda no que a equipa está a fazer, sobretudo se levarmos em consideração que é uma estrutura habituada a questionar tudo que faz, o que levou ao mais longo período de sucesso da história da Fórmula 1.

A Mercedes sempre mostrou uma capacidade de análise bastante elevada e, ao apostar, novamente, no conceito ‘zero sidepod’, a avaliar pelos últimos anos, é porque chegou às conclusões que lhe permitiram seguir pelo caminho assumido o ano passado.

Para além disso, a capacidade de desenvolvimento que revelou ao longo de 2022, tornando um carro sofrível num capaz de lutar consistentemente por lugares do pódio evidencia que a Mercedes tem um entendimento do que se passava com o seu monolugar, tendo sempre apontado que era a suspensão traseira a origem de todas as questões.

Para este ano, este componente foi amplamente modificado, o que deixa os homens da Brackley esperançosos no regresso à luta pelos títulos.

Se partirmos do princípio de que a Mercedes continua com um departamento técnico competente, apesar das saídas do último ano e meio, não existem razões para não acreditar que o W14 não será competitivo, permitindo a Hamilton e a Russell estarem na luta pelos títulos deste ano.

Mas aqui poderá residir um dos problemas da equipa – a luta entre os seus dois pilotos.

O heptacampeão é visto, justamente, como o líder em pista da formação que defende as cores do construtor de Estugarda. Hamilton conquistou seis títulos com as cores da Mercedes e as suas prestações em pista não parecem ter desvanecido.

O facto de ter sido batido no Campeonato de Pilotos de 2022 pelo seu colega de equipa deve-se muito mais a circunstâncias que não jogaram a seu favor que a qualquer abaixamento competitivo e, seguramente, que esta temporada quererá restabelecer aquela que ele considera ser a ordem natural das coisas, principalmente, se tiver nas mãos um carro competitivo.

Mas do outro lado da boxe está um piloto que não está disposto a assumir o papel que foi desempenhado por Valtteri Bottas ao longo de cinco anos.

Russell não está a Mercedes para ser segundo piloto, como foi o caso do finlandês, e já mostrou ser capaz de incomodar o seu ilustre colega de equipa, aproveitando os dias em que Hamilton, por um motivo ou por outro, não está em situação de liderar em pista

O jovem inglês está na Mercedes para vencer, tal e qual como quando Hamilton entrou na McLaren para fazer equipa com Fernando Alonso, e vai bater-se para ser ele o homem que levará a equipa de regresso aos títulos, não sentindo que tem de respeitar o seu conterrâneo como o ‘chefe de fila’.

A forma como a relação entre os dois ingleses evoluir, num contexto de luta pelo título, poderá definir o sucesso ou insucesso da Mercedes ao longo da temporada e Toto Wolff já mostrou que poderá não conseguir gerir bem uma situação destas, basta recordar o que aconteceu durante a convivência de Hamilton e Rosberg na equipa.

Dois pilotos podem-se dar muito bem, mas quando estão num nível semelhante e têm um carro capaz de lutar por títulos, a amizade passa imediatamente para segundo plano e a gestão da relação entre Hamilton e Russell poderá revelar-se um desafio ainda maior que tornar o conceito do carro de 2022 competitivo em 2023.

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