Renault: Cyril Abiteboul entre a espada e a parede

Por a 15 Maio 2020 13:53

No mercado de 2020, para já, a Renault está a perder face à concorrência. Cyril Abiteboul não escondeu a azia de ver Daniel Ricciardo sair e terá agora de ser muito inteligente na próxima jogada.

A saída de Sebastian Vettel da Ferrari no final desta época foi uma bomba com ondas de choque a fazerem-se sentir na McLaren e na Renault, “casa” dos dois favoritos ao lugar na Scuderia em 2021. A lógica, se é que podemos falar nela quando nos referimos a este tipo de negócios, dizia que Vettel teria na McLaren a casa ideal para o último capítulo da sua carreira, uma equipa com uma base cada vez mais sólida e um projeto cada vez mais interessante.

Assim, a McLaren ganhava um tetra campeão e a Renault ficaria com Ricciardo, a sua estrela que faria com Esteban Ocon uma dupla muito interessante para os próximos anos. Mas a grande surpresa foi mesmo a saída de Ricciardo para a McLaren, uma possibilidade que foi referida, mas que não parecia ser a mais provável.

Uma saída indesejada

A decisão foi como um murro no estômago em Abiteboul e na Renault. O francês, que não é conhecido por manter a compostura em situações de maior pressão, respondeu com um comunicado onde a azia da decisão do australiano ficou clara, falando em compromisso e união (ou da falta dela) em tempos de crise.

É que esta saída complica a vida da Renault em vários sentidos. Primeiro, é claramente um golpe no ego de uma equipa, ver aquele que deveria ser o porta-estandarte da marca assumir a saída, apenas um ano após a sua entrada. Isso coloca em cheque o projeto e é um claro sinal de que algo não agradou a Ricciardo. Esta saída fragiliza o projeto e obviamente a chefia do mesmo. Segundo, a Renault fica com a tarefa de substituir Ricciardo e apesar das muitas escolhas, tal pode ser difícil.

Mas é essa mesma escolha que poderá jogar a favor da Renault e virar o jogo. Quando a Renault foi buscar Ricciardo à Red Bull, tratou-se de uma jogada de mestre pois foi buscar uma das estrelas da F1 para o seu projeto, dando-lhe mais força e visibilidade, ao mesmo tempo que dava um golpe na Red Bull, com quem as relações foram azedando desde o começo da era híbrida. Agora precisa de uma jogada do mesmo calibre para não perder credibilidade.

Tentar virar o jogo

As opções em cima da mesa são Sebastian Vettel, Fernando Alonso e Nico Hulkenberg. Mas desta equação não podemos esquecer Valtteri Bottas que não tem certezas se ficará na Mercedes ou não. São quatro nomes interessantes. Hulkenberg é o menos interessante pois seria mais do mesmo, colocando a equipa e o próprio piloto numa situação algo estranha, num regresso após uma dispensa que deixou o alemão sem lugar na F1. Valtteri Bottas seria um nome mais interessante dada a sua experiência na Mercedes mas não traria o entusiasmo necessário. Com Vettel ou Alonso… seria outra história.

Convencer qualquer um dos campeões nesta lista seria uma jogada tremenda por parte da Renault, que faria esquecer de forma rápida e eficaz o trauma de perder Ricciardo. Vettel é a opção mais indicada, pois aceitando o desfio, saberia como ajudar a fazer evoluir a equipa, talvez com mais paciência do que poderia fazer Alonso, que gosta mais de resultados imediatos, embora não pudesse esperar por isso na Renault. Resta saber se Vettel quer mesmo continuar com a Renault ou se pretende sair de forma definitiva (ou temporária). Ou se Alonso irá contra a sua palavra, ele que disse que só regressaria para uma equipa que lhe permitisse lutar pelo título. A verdade é que o espanhol tem reagido às publicações da Renault nas redes sociais, aumentando ainda mais a especulação e as notícias dão conta de um possível acordo já alinhavado entre a Renault e o espanhol.

O que fará Abiteboul? Esta é a grande questão. Será capaz de trazer um nome sonante, ou terá de se sujeitar a um nome mais modesto, até porque a crise económica que afeta o mundo do automobilismo pode ter consequências na Renault? Uma coisa parece clara, não tem sido por falta de qualidade dos pilotos que o projeto Renault não tem avançado.

O problema não tem estado nos pilotos

A lista de pilotos desde 2016 conta com Kevin Magnussen, Jolyon Palmer, Nico Hulkenberg, Carlos Sainz, Daniel Ricciardo e agora Esteban Ocon. Destes seis pilotos, apenas Palmer pode ser encarado com alguma desconfiança, apesar de ter chegado à F1 como campeão do GP2. Não tem faltado talento e potencial ao volante dos Renault. Tem faltado algo mais… falta consistência, estabilidade e um plano sólido para o futuro que seja seguido sem desvios.

O primeiro ano seria sempre difícil, com a a Renault a ter de aproveitar o trabalho feito até então pela Lotus, que não deixou uma herança com pouca qualidade. 2017 foi de evolução com a subida de nono para sétimo, um passo agradável, embora abaixo do que se tinha sido prometido. 2018 deu um quarto lugar arrancado a ferros. Nessa altura percebeu-se que a Renault conseguiu o quarto lugar porque a Haas era inexperiente, a Force India esteve prestes a fechar, sobrevivendo por pouco e a McLaren continuava com os problemas. Não se pretende tirar o mérito do trabalho feito pela Renault, mas certamente que o salto até ao top3 parecia mais longínquo do que as chefias queriam fazer parecer, uma realidade que se evidenciou em 2019 com a McLaren a apresentar um nível muito melhor, para o qual a Renault não teve argumentos, ficando a Toro Rosso a apenas seis pontos dos franceses.

As constantes mudanças, as promessas falhadas, a ambição que não corresponde ao nível atual da equipa têm dificultado o caminho a uma Renault com um grande potencial, que infelizmente ainda não o conseguiu mostrar em toda a sua plenitude. E é esse problema que a Renault terá de resolver. Tal como a Ferrari, o grande problema não está na peça entre o volante e o assento, mas sim na instabilidade. Veja-se a Mercedes e a Red Bull, estruturas estáveis, com uma filosofia bem enraizada em toda a equipa, capaz de superar desafios sem vacilar, algo que a McLaren começa a ter . É isso que falta à Renault e que Abiteboul, juntamente com Alain Prost, precisam encontrar para encontrar o tão desejado sucesso.

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Pity
Pity
3 anos atrás

Começo por “O que fará Abiteboul?” Não sei o que fará, mas sei o que deveria fazer: demitir-se e levar com ele o Prost.
Para o lugar do primeiro, a Renault poderia ir buscar alguém mais cotado. Porque não o Horner, que parece que não está muito seguro na Red Bull? Aquela conversa do Marko sobre quererem continuar com ele traz água no bico.
Para o lugar do Prost, poderiam ir buscar o Alesi. Pior do que Prost não acredito que fizesse.
Com a casa arrumada, podiam contratar o Vettel.

afmota
afmota
3 anos atrás

E se de repente voltasse a dupla Alonso-Briatore?…

Pity
Pity
Reply to  afmota
3 anos atrás

só se o Briatore jurasse pela saúde da família toda, ele incluído, que não voltava a fazer trafulhices…
(just joking)

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