Reformas antecipadas na Fórmula 1

Por a 18 Novembro 2022 15:10

Sebastien Vettel é mais um piloto de F1 que se vai ‘reformar’ este fim de semana, nos últimos anos já tivemos um pouco de tudo, o sai-regressa de Fernando Alonso, o abandono de Nico Rosberg, depois de ter sido Campeão em 2016, e a passagem de Kimi Raikkonen da F1 para os ralis, quando ainda tinha capacidade para vencer Grandes Prémios, como provou depois de regressar novamente à F1, são os caso mais recentes de um Campeão que perdeu a motivação ou a ‘força’. Mas não são casos únicos, mesmo se só Mika Hakkinen resistiu à tentação de regressar à F1 depois de a abandonar…

Nico Rosberg recebeu o prémio de Campeão do Mundo de Fórmula 1 na gala da FIA e anunciou o fim da sua carreira. Saiu em grande, com o título de Campeão, numa decisão que todos estranharam, mas que foi brilhante! Nico Rosberg andou vários anos a “levar na pá” de Lewis Hamilton, ganhou-lhe em 2016, com tanto mérito seu, quanto sorte, e saiu em grande, no topo, nunca mais ninguém vai poder dizer como seria daí para a frente, nunca mais ganhou um campeonato a Lewis Hamilton (ou a outro qualquer) mas também nunca mais perdeu. Foi uma decisão, que só por si, escreveu um capítulo inteiro da rica história da F1.

Kimi Raikkonen deixou a F1 com apenas 30 anos, depois de ter recusado as propostas que a McLaren e a Mercedes lhe fizeram para continuar nos Grandes Prémios em 2010. Sem lugar na Ferrari, pouco interessado em regressar a Woking, onde falhou dois títulos mundiais por falta de fiabilidade do material e não apreciou a forma de trabalhar de Dennis e Withmarsh, o nórdico nem quis ouvir a proposta da Mercedes e optou mesmo por ingressar nos ralis. Como se sabe, regressou dois anos depois em 2012, e nove anos depois ainda cá está…

Na altura dizia que “Na F1 a política interfere com a parte mais excitante do desporto; a atmosfera nos ralis é muito melhor e existe muito menos política. Nos ralis a pilotagem conta muito mais do que na Fórmula 1.”

DESENCANTO SÚBITO

Se nada se pode comparar à primeira paragem de Niki Lauda – que abandonou a F1 a meio dos primeiros treinos livres para o GP do Canadá de 1979! – Mika Hakkinen também perdeu a motivação de um momento para o outro, mesmo completando a temporada de 2001 por insistência de Ron Dennis.

O finlandês tinha sofrido um rude golpe no ano anterior, ao perder o título de 2000 para Michael Schumacher, e um mau começo de temporada no ano seguinte – marcou apenas quatro pontos em quatro corridas! – não ajudou à motivação. Tudo parecia regressar à normalidade quando dominou o GP de Espanha, pois liderava com 40 segundos de vantagem sobre Schumacher na entrada da última volta, mas a embraiagem cedeu a quatro quilómetros do final da corrida. Foi a gota de água, como Hakkinen contou: “Na altura aceitei o que aconteceu como parte das corridas, mas duas semanas depois, no Mónaco, percebi que a motivação tinha desaparecido. No final do primeiro dia de treinos disse ao Ron que queria parar de imediato, mas ele pediu-me para continuar, pois estava convencido que me bastaria um bom resultado para voltar a ficar motivado.”

Mas isso não aconteceu e triunfos em Silverstone e Indianapolis não mudaram nada: “Quando decidi parar também apontei para ganhar em duas pistas históricas onde não tinha ganho e, felizmente, consegui-o. Em Indianapolis deram-me uma motivação extra, depois do warm up, mas não era preciso….” Uma referência a uma penalização estranha por ter passado um sinal vermelho no início da sessão que o fez perder duas posições na grelha… e o deixou com ainda mais vontade de vencer.

O CANSAÇO DE JONES

Vinte anos antes, em 1981, Alan Jones também se tinha cansado de repente, abandonando a Williams e a F1 no final de um ano conturbado. A polémica interna com Carlos Reutemann, diversos problemas com o sistema de alimentação do FW27C e um erro invulgar em Zolder afastaram-no da luta pelo título, depois de ter ganho o Mundial no ano anterior.

Mas segundo o australiano, o fator decisivo para a sua paragem foi outro: “Depois de oito anos em Inglaterra estava farto de chuva e nevoeiro e queria voltar para casa. É claro que não estar a ganhar corridas ajudou a tomar uma decisão, mas ainda estava em forma, pois ganhei em Las Vegas sem dar hipóteses a ninguém! Uma semana depois liguei ao Frank para lhe dizer que iria parar… e ele não ficou nada satisfeito!”

Um ano mais tarde Jones voltou a mudar de ideias: “Estava no meu trator, na quinta, quando vi um avião a passar e fiquei a pensar para onde é que ele iria… Estava farto de estar em casa e acabei por voltar a correr, primeiro a nível nacional e, depois, novamente na F1. Parei pelos motivos errados, mas na altura estava mesmo farto de viver na Europa.”

O DILEMA DE SCHUMACHER

Já Michael Schumacher decidiu parar de correr no final de 2006 ao ser confrontado com uma escolha complicada: manter-se na Ferrari tendo Kimi Raikkonen como companheiro de equipa e com estatuto semelhante ao seu – ele que era primeiro piloto indiscutível em Maranello desde 1996 – condenando o seu amigo Felipe Massa a voltar para a posição de piloto de testes; ou abandonar os Grandes Prémios e ficar como consultor da marca do Cavalino Rampante para o resto dos seus dias, com envolvimento no programa de F1.

Como se sabe o alemão optou pela segunda solução, mas tal como Alan Jones não resistiu muito tempo à tentação de voltar a correr e fê-lo com a Mercedes.

SAIR POR CIMA… OU QUASE!

Só cinco pilotos abandonaram a F1 imediatamente após se terem sagrado Campeões do Mundo e apenas três o fizeram de forma totalmente voluntária: Mike Hawthorn, Jackie Stewart e Nico Rosberg. O inglês cumpriu a sua ambição em 1958, mas estava desgastado pela morte do seu amigo Peter Collins e preferiu parar de imediato. Faleceu poucos meses depois num acidente de estrada perto de sua casa. Stewart, em contrapartida, preparou bem a sua retirada, mantendo com Ken Tyrrell e Walter Hayes (da Ford) um segredo tão bem guardado que nem a sua mulher, Helen, descobriu antes da última corrida de 1973.

A história de Nico Rosberg é recente. Depois de ter conseguido derrotar Lewis Hamilton em 2016, estava de tal modo esgotado, física e psicologicamente, que preferiu ‘sair por cima’, despedindo-se da F1.

Já Mansell e Prost abandonaram a Williams no final de 1992 e 1993 respectivamente, o primeiro por não querer ser companheiro de equipa do francês e ainda por cima com um salário inferior, e este por não pretender correr com Senna a seu lado, apesar de ter contrato com a equipa de Sir Frank para 1994.

Scheckter e Lauda recusaram Renault

Campeões em 1979 e 1984, respetivamente, Jody Scheckter e Niki Lauda retiraram-se definitivamente no final das temporadas seguintes, recusando ambos, numa interessante coincidência, ofertas milionárias da Renault para continuarem em ação.

O sul-africano perdeu a motivação face à falta de competitividade do Ferrari T5 e nem os milhões de francos que lhe foram oferecidos o fizeram mudar de ideias. Lauda, por seu turno, teve uma temporada de 1985 para esquecer, pleno de problemas de fiabilidade enquanto Prost, no outro McLaren, caminhava para o título e chegou a ter conversações avançadas com a Renault. Mas quando os sindicatos franceses reclamaram contra a possibilidade do austríaco receber um salário milionário, terminou os contactos com uma frase muito típica: “Se nem conseguem manter em segredo uma negociação, como é que vão fazer um carro competitivo sem ninguém saber os seus segredos?”

Hill em pista até aos 46 anos

Graham Hill fez exatamente o oposto de Kimi Raikkonen e ficou nas pistas até ser demasiado óbvio que já não era competitivo. O inglês nunca recuperou de um violento acidente sofrido no final de 1969, mas manteve-se em ação até falhar a qualificação para o GP do Mónaco – prova que ganhara por cinco vezes! – em 1975. Nos últimos três anos da sua carreira Hill teve mesmo de formar uma equipa para continuar a correr, mas quando passou a construtor, em 1975, percebeu que ao manter-se ao volante, quando já tinha 46 anos, estava a comprometer o futuro daquela estrutura e acabou por retirar-se. O seu último pódio datava do início da temporada de 1969, num caso evidente de obstinação face às evidências.

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