Quanto vale o GP de Portugal de F1? A Secretária de Estado responde

Por a 25 Outubro 2020 10:29

A Fórmula 1 regressa este fim-de-semana ao nosso país, após uma ausência de 24 anos, assumindo o Autódromo Internacional do Algarve o testemunho do Autódromo do Estoril.

A Secretária de Estado do Turismo, Rita Marques, considera que o Grande Prémio de Portugal é um evento estratégico para a região do Algarve e para o país, não negando uma eventual manutenção da prova no futuro.

A categoria máxima do desporto automóvel estava afastada do nosso país desde 1996 e parecia continuar assim durante muitos mais anos, uma vez que os mais de 30 milhões de euros que são precisos desembolsar para os cofres da Formula One Management para ter o direito de organizar uma prova da categoria eram uma barreira intransponível para qualquer organizador privado que tivesse o sonho de edificar um Grande Prémio de Fórmula 1 no nosso país.

A elevada quantia exigida, mais as despesas decorrentes de uma prova deste género, mostravam-se difíceis de cobrir, quando a única fonte de rendimentos dos organizadores de uma prova do campeonato máximo do automobilismo são as receitas de bilheteiras.

Para percebermos o desafio que a Parkalgar, empresa que gere o Autódromo Internacional do Algarve, teria de enfrentar, com cem mil lugares no circuito, teria de assegurar que todos os bilhetes, com um custo médio de 300 euros, fossem vendidos apenas para não ter prejuízo relativamente à taxa para poder ter um Grande Prémio, faltando ainda os custos da edificação do evento.

Contudo, os tempos de crise trazem também oportunidades e, com a pandemia da COVID-19, abriu-se a possibilidade de a Fórmula 1 regressar a Portugal.

Os responsáveis do Autódromo Internacional do Algarve aproveitaram o cenário que se lhes apresentava, mas o Governo de Portugal rapidamente percebeu que uma prova da categoria máxima do desporto automóvel poderia trazer benefícios ao país. “É uma prova que não passa por Portugal há 24 anos. Por outro lado, é uma prova que se realizará no Algarve, geografia fortemente impactada (n.d.r.: economicamente) por esta pandemia.

Por fim, é um evento que ajudará à redução da sazonalidade.

O Autódromo Internacional do Algarve concluiu que Portugal poderia ser uma localização interessante para a organização, também em resultado da auscultação do público internacional, que pediu que esta prova pudesse regressar a Portugal”, afirmou Rita Marques.

É evidente que, para os adeptos do automobilismo, ter um Grande Prémio de Fórmula 1 no seu país é algo de muito emotivo, quase visceral, pesando a racionalidade muito pouco.

Mas quem decide a realização de um Grande Prémio analisa aturadamente todos os dados, alguns objetivos e, outros nem tanto.

Contudo, a Secretária de Estado do Turismo sublinha que o retorno esperado do Grande Prémio de Portugal justifica plenamente o investimento realizado. “Estamos a falar de um evento global que vai muito além das provas em si e é, por isso, muito importante que o destino anfitrião o saiba capitalizar.

Existe, assim, forte expetativa de impacto no que concerne à sua projeção mediática em meios de comunicação social internacional e ao seu contributo para a notoriedade e para o posicionamento de Portugal enquanto destino turístico palco de grandes eventos desportivos de âmbito internacional, para a dinamização da economia local e para a redução da sazonalidade do destino Algarve.

Relativamente ao Turismo, acreditamos que o impacto será no mínimo de 30 milhões de euros, o que inclui receitas provenientes de alojamento, alimentação e agências de viagens”, apontou Rita Marques.

Mas se o impacto financeiro é importante, o que um Grande Prémio de Fórmula 1 pode fazer pela imagem do país é mais duradoiro, graças a uma audiência de 471 milhões de pessoas, só via televisão, distribuídos por 200 países diferentes. “Trata-se de uma das modalidades mais mediáticas e que move milhões globalmente.

Trata-se, portanto, de uma oportunidade única para Portugal, enquanto destino turístico de excelência, de retirar partido deste volume de seguidores para promoção e reforço da posição enquanto melhor destino do mundo, nunca descurando as medidas de segurança sanitária que a pandemia impõe”, afirmou a nossa interlocutora.

Face a estes números, o investimento direto do estado é quase irrelevante. “Tratando-se de um evento de grande impacto internacional, o Turismo de Portugal apoiará a prova de F1 com um montante na ordem dos 1,5 milhões de euros, valor que resulta da orçamentação efetuada para a repavimentação do autódromo”, sublinhou a Secretária de Estado do Turismo.

Mas e o futuro? Haverá a possibilidade de a Fórmula 1 visitar o Algarve e Portugal nos próximos anos?

Rita Marques prefere não dar uma resposta direta, apontando que, antes de mais, é preciso garantir o sucesso do Grande Prémio de Portugal de 2020, mas o seu silêncio quanto à possível continuidade da prova não coloca de parte uma presença sustentada do Autódromo Internacional do Algarve no calendário da categoria máxima do desporto automóvel. “Estamos inteiramente focados no sucesso desta edição, uma edição com muitos desafios, pelo contexto global que vivemos”, concluiu a Secretária de Estado do Turismo.

Com a expansão do número de Grandes Prémios que se prevê nos próximos anos, Portugal poderá emergir como uma possibilidade para um “calendário da nova normalidade”, desde que o Estado assegure o seu apoio, até porque a quantia exigida para a organização de uma prova de Fórmula 1, mais de 30 milhões de euros, é facilmente recuperável através do retorno direto.

Segundo diversos estudos, o impacto económico local de um Grande Prémio de Fórmula 1 ronda os 100 milhões de euros, o que significa receitas para o estado de vinte e três milhões de euros só em IVA…

A manutenção do Grande Prémio de Portugal de Fórmula 1 é, portanto, uma questão de oportunidade e vontade política.

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