Quanto custa chegar à F1?

Por a 22 Abril 2023 11:12

O desporto motorizado é caro. É uma realidade inquestionável, mas por vezes as pessoas desconhecem o quão caro é estar no topo. Se as corridas sempre foram uma questão de dinheiro, cada vez mais esse fator ganha um peso tremendo. E o exemplo português é flagrante. Assim, resolvemos fazer uma pergunta simples: quanto custará chegar à F1? A resposta é esclarecedora.

Falando com pessoas que estão por dentro dos campeonatos de iniciação (F4,F3 e F2) e que conhecem muito bem os preços praticados, chegamos a valores muito próximos da realidade. Preparem-se que vamos falar de muito dinheiro.

A F4 é o primeiro passo para quem saiu dos karts e há duas referências nesta altura: A F4 espanhola e a italiana. A competição espanhola é ligeiramente mais barata do que a italiana, mas a italiana parece atrair os maiores talentos. De qualquer forma, quer uma, quer outra são excelentes rampas para uma carreira de alto nível. Mas as equipas de topo (indispensáveis para chegar aos primeiros lugares) querem fazer o Fórmula 4 UAE Championship que decorre nos meses de inverno e serve de antecâmara para as épocas nos campeonatos principais. Assim, e contando que se quiserem um lugar nas melhores equipas têm de participar no campeonato do médio oriente, uma época numa equipa italiana pode custar um milhão de euros, e 750 mil euros no campeonato espanhol. Para andar no meio da tabela de um campeonato espanhol, será preciso desembolsar 400 mil euros, com poucas esperanças de andar no topo.

A F3 acompanha a F1 com um calendário de dez fins de semana (duas corridas por fim de semana). Aqui, o valor sobe para 1.5 milhões de euros. Com 1.2 é possível fazer F2, mas os primeiros lugares estarão mais longe.

Na F2, o valor sobe consideravelmente, e o último degrau antes da F1 custa entre 2.2 a 3 milhões de euros, sempre com a premissa de que quanto mais investir, maiores as probabilidades de chegar ao topo.

Não é à toa que se diz que o desporto motorizado está muito caro e basta ver o exemplo dos karts. A realidade nacional mostra-nos bem quanto custa fazer competição na base do desporto automóvel. Uma época de karting para um miúdo que se inicia pode custar à volta de 15 mil euros. Estamos a falar das categorias de pilotos muito pequenos que ainda agora começaram a correr. Os valores podem subir até aos 50 mil euros por época nas categorias superiores. Pensar em competições internacionais faz os custos subirem em flecha e os pilotos que correm nos campeonatos do mundo não poucas vezes têm de investir à volta de 750 mil euros por época para correr ao mais alto nível.

Não é, portanto, descabido pensar que um piloto nos karts, até chegar ao topo, gaste à volta de um milhão e meio a dois milhões, numa estimativa algo cautelosa. Em condições quase ideais, um piloto precisa sempre de uma época de adaptação para entender a nova realidade, por isso colocamos duas épocas nas fórmulas de iniciação neste cenário. Falamos assim de 11 milhões de euros para fazer a “escada” dos fórmulas. Juntando os 2 milhões dos tempos dos karts (que até podem ser mais) o preço para chegar às portas da F1 é de 13 milhões de euros.

Qual a probabilidade de termos um piloto português na F1?

Olhando para estes números? Muito baixa. Já não se trata apenas de talento, mas é preciso talento e bolsos fundos. Os patrocínios são cada vez menores e num paddock de F4, onde já se gastam largas centenas de milhares de euros, há muito investimento pessoal feito. E essa é uma realidade que a maioria dos pilotos portugueses não pode suportar. O caso de Guilherme Oliveira é um exemplo perfeito. Toda a gente que trabalha com ele reconhece o seu talento e não estaremos longe da verdade se dissermos que vemos nele um futuro Félix da Costa ou Filipe Albuquerque. Mas o jovem de Gaia não tem orçamento. Lembram-se quanto custava fazer a F4 a meio da tabela, que foi o que ele fez na sua primeira época em 2021? Pois. Com esse valor conseguiu lutar pelo título em LMP3 no ELMS (uma época custa 250 a 350 mil euros). Não admira, portanto, que os pilotos jovens nacionais estejam a migrar para a resistência. As condições são melhores, há mais oportunidades e os preços são mais acessíveis. Mas também são onerosos, pois uma época no ELMS em LMP2 custa 750 mil euros, podendo chegar ao milhão no WEC.

Há a esperança de vermos um programa de jovens pilotos apostar num talento nacional, como aconteceu com Félix da Costa, Albuquerque que estiveram no programa de jovens da Red Bull. Mas até isso agora parece mais longínquo. E mesmo que tenhamos um piloto às portas da F1, a não ser que seja um predestinado como um Verstappen, baterá sempre à porta do Grande Circo ao mesmo tempo de outros pilotos. E quando se medir a importância dos mercados, ficaremos sempre a perder. Lembram-se de Daniil Kvyat? Não conseguimos ver um parâmetro em que o russo (que tem muito talento) seja claramente melhor que Félix da Costa. Mas o mercado russo era, na altura, muito mais apelativo. O português perdeu, mas ainda ficou com alguma esperança, pois a Red Bull fez contratos trimestrais com Kvyat, tentando sentir o pulso do jovem. A AFC foi dito para se manter preparado, pois podia entrar em qualquer altura. A primeira época de Kvyat foi boa e a oportunidade esfumou-se.

Assim, é difícil imaginarmos um piloto luso a chegar ao topo do automobilismo em breve se vemos até talentos nacionais que não correm nas competições por não terem dinheiro para isso (e há tantos exemplos). O desporto motorizado está a ficar demasiado caro. Já o era, mas agora chegam-se a níveis quase absurdos e enquanto assim for, não teremos grandes chances de ver a bandeira portuguesa na F1. 

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1 ano atrás

O Kvyat conseguiu melhores resultados na F3 que o Sainz e o Felix da Costa. Agora na F1 isso não quer dizer nada, nunca saberemos se o nosso António, Filipe ou Álvaro seriam equivalentes ao Sainz.

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