Profissões da F1, Peter Burger: Técnico de capacetes

Por a 26 Abril 2023 17:00

“Sempre me interessei pelo automobilismo e corri no karting quase até aos 30 anos. No final da minha carreira, em 1991, competi contra Fisichella, Trulli, Verstappen, Takagi e outros, conseguindo alguns resultados decentes. Mas era muito mais velho do que eles, grande e pesado, pelo que o quarto lugar no Europeu de 1991 foi uma boa maneira de terminar a minha carreira.

Enquanto pilotava interessei-me pelos capacetes de Arai, que eram diferentes de todos os outros e acabei por fazer negocio com eles, usando os seus produtos e ajudando-os a criar uma rede de pilotos. Isto foi em 1985, o que quer dizer que trabalhamos juntos há 32 anos! Com a minha namorada criamos um serviço profissional de assistência no karting, depois passei para o DTM em 1995 e acabei por chegar à F1 quando o técnico que eles tinham foi trabalhar para a Bridgestone.

Estou na F1 desde 1997, não tinha quem me explicasse o que fazer e tive de aprender tudo por conta própria. Nas pistas o meu trabalho consiste em fazer um pouco de tudo: tenho de garantir que os capacetes estão limpos, que têm o número de películas sobre as viseiras que cada piloto quer ter antes de cada sessão ou corrida, instalar o sistema de rádio de cada equipa e garantir que tudo vai funcionar na perfeição antes de entregar os capacetes a cada piloto. Se as condições mudam de uma sessão para a outra isso pode implicar mudar todas as viseiras, o que não é obra fácil, pois cada piloto tem as suas exigências e entre sessões tenho uma hora para tratar de dez ou 12 capacetes!

Para alem disso tenho de tentar angariar mais clientes, não só na F1, mas também na GP2 e na GP3, mas já todos me conhecem e, na verdade, sou mais procurado do que ando à procura de clientes. No principio tive de começar do zero, mas agora faço parte da família e é tudo mais fácil.

Se ninguém tem exigências especiais a minha vida não é muito complicada mas, por exemplo, há uns anos, dias antes do G. P. do Brasil, o Lewis Hamilton decidiu que queria ter o interior do seu capacete no verde que o Ayrton Senna costumava usar. Mas na Arai não tínhamos essa cor disponível, foi preciso ir comprar a um fornecedor externo e tudo ficou pronto à última da hora.

O capacete chegou a São Paulo na quinta-feira à tarde, mas quando abrimos a caixa, o exterior não estava pintado no amarelo que o Lewis queria…. era mais dourado que amarelo. Por isso tive de encontrar um especialista local que trabalhou durante 20 horas seguidas, pintando, secando, retocando, para lhe entregar o capacete, como ele o queria, a tempo do treino de sexta-feira à tarde!

Mas o dia mais complicado da minha vida foi o GP do Canadá do ano passado, em que tive de limpar, retocar, colocar novas viseiras e películas em todos os capacetes com que tinha de trabalhar enquanto a corrida esteve parada, sem saber quanto tempo tinha para acabar tudo. Acho que nunca trabalhei tão depressa na minha vida….

Para trabalhar na F1 é preciso muita paixão, mas também muita capacidade de trabalho e muitos conhecimentos na área em que vais trabalhar. A vida privada é prejudicada, porque passas um terço do ano longe de casa e nem todas as famílias suportam isso. Mas é o preço que tens de pagar para seguir a tua paixão.”

Subscribe
Notify of
3 Comentários
Inline Feedbacks
View all comments
chicanalysis
6 anos atrás

Pensei que era o gajo que servia os hamburguers.

Cágado1
6 anos atrás

Engraçado! É nestes detalhes que o AS se pode concentrar para trazer um bocado mais de valor aos leitores.

breno_mascarenhas2020_hotmail_com
breno_mascarenhas2020_hotmail_com
11 meses atrás

O especialista brasileiro que repintou o capacete de Hamilton é o Alan Mosca, cujo pai, Sid Mosca, criou capacetes para muitos pilotos, como Fittipaldi, Piquet, Senna.

https://www.youtube.com/watch?v=5eJNFQ7LBW0

últimas AutoSport Histórico
últimas Autosport
autosport-historico
últimas Automais
autosport-historico
Ativar notificações? Sim Não, obrigado